terça-feira, 24 de maio de 2011

ENTREVISTA COM BETO, AUTOR DE SPRINGVILLE, NOVA SÉRIE DA REVISTA APACHE EDIÇÕES # 6 E 7! NAS BANCAS!


SPRINGVILLE - Série publicada nas edições 6 e 7
da revista Apache, uma publicação da ed. As Américas,
criada pelo entrevistado da vez.

Ele veio de Olinda, Pernambuco – 
região Nordeste do país -, para São Paulo, 
na década de 80 e foi parar 
na porta do meu estúdio, na avenida 
Jabaquara, em São Paulo. Tornou-se, 
aqui em São Paulo, um ilustrador muito 
requisitado, muito respeitado,
principalmente, nas agências de 
publicidade.  
Foi assim que nos tornamos 
grandes amigos. 
Fizemos alguns quadrinhos juntos –
e até co-criações -, mas depois nossas 
vidas tomaram rumos diferentes.
 Eu, como sempre, fiquei com um 
pé no desenho de HQs e na publicidade, 
enquanto ele decidiu ir atrás de fortuna 
e glória no mundo da publicidade. 
Mas, como era de se esperar,
 o bom filho à casa torna. 
E, em 2010, ele decidiu 
voltar a fazer um pouco de quadrinhos – 
nas horas vagas -, sua antiga paixão.
O entrevistado de hoje é...

ALBERTO JORGE DE 
ALMEIDA LIMA (BETO),
Desenhista que trabalhou nas séries Fantasticman e
Fantasma Negro, no passado.



1-      Tony: E aí, Albertinho, tudo na santa paz? 
É um grande prazer poder entrevistá-lo e saber 
que você está de volta ao
 mundo das HQs, finalmente... (Rsss...). 
Precisamos, sempre, de mais 
guerreiros como você.

Beto: Beleza, Tony!

2-      Tony: Mas, pra variar, vamos começar do 
princípio... você nasceu em que dia, mês e ano? 
E, em que lugar de Pernambuco?

Beto: 01/10/60, em Recife.

3 -Tony: Leu muito gibi, quando era criança 
e adolescente? Quais eram os favoritos?

Beto: Li bastante. Fora algumas 
coisas da Marvel e Dc comics, pocketbooks,
  sempre gostei muito do material mais 
sério, tipo Príncipe Valente, 
Flash Gordon, Wes Slade, Gunsmoke,
Modesty Blaze, O Sombra, suspense...etc.

Arte deste fantástico ilustrador feita em acrílico

 3- Tony: Quais eram seus autores de HQs favoritos?

Beto: Tem vários. Sempre preferi aqueles que 
fazem um trabalho de muita qualidade.
 Estes sempre foram bem vindos.
Saia um material chamado Krypta, 
que aparecia roteiristas e ilustradores
 maravilhosos!

4- Tony – Bem lembrado... os espanhóis
 eram feras. 
Também colecionei Kripta. Era show de bola.
 Você começou a desenhar, com que idade? 
É autodidata?

Beto: Logo cedo, não lembro exatamente, 
mas vivia rabiscando na escola e em casa!

Técnica perfeita
5- Tony: Como, quando e por quê, você decidiu 
fazer as malas e vir para São Paulo, com a 
cara e a coragem? Isto é típico do povo da
região nordeste, admiro essa gente de raça.

Beto: Já trabalhava em publicidade 
em Pernambuco, mas o campo não era 
grande e resolvi pular mais
alto em busca de novas coisas!

6- Tony: Como foi que você descobriu o 
meu estúdio, na época?

Beto: Passei na Young para tentar algo e lá 
conheci Salatiel, que me deu o teu endereço. 
Como tinha acabado de chegar 
em São Paulo e tudo era novo, daí 
resolvi conhecer o mercado editorial. 
Foi uma aposta legal!


Apache - Pintura em acrílico
7- Tony: Trabalhamos juntos, fazendo 
Fantasticman Fantasma Negro, no tempo 
da ETF -, e pra falar a verdade somos 
co-autores do Fantasma Negro. 
Eu criei a idéia e os primeiros roteiros. 
Você criou a imagem do personagem e
depois chegou até a escrever algumas 
HQs dele contando a origem 
do personagem, 
coisa que eu jamais pensei em fazer.
Muitos leitores comparam seu traço 
das suas HQs de super-heróis, daquela 
época, a Neil Adams.
 O que você tem a dizer sobre isto?

Beto: Na verdade a comparação com 
Neil Adams é totalmente injusta, com ele... 
acho que foi em uma 
conversa de boteco, que eu não lembro 
onde foi, que alguém falou que o meu
 traço parecia um pouco 
com o dele, coisa que eu nunca achei
 nem tentei fazer.
 Nesta época estava muito ligado
 em trabalhos de ilustração do Bob Peak,
 John Berkey e por aí vai!

Um expert em hiper realismo
9 – Tony: Bob Peak e John Berkey... 
esses caras faziam artes fantásticas. 
Poucos conhecem esses magos 
da ilustração, exceto os publicitários.
É pena que, hoje em dia, muita gente não
 conhece o trabalho desses feras. 
Não enrola, bengala
friend... responda: Você, de fato, seguia
 o estilo do Neal Adams? O povo quer saber...
Sempre foi fã dele? (Rsss...).

Beto: Como todo fã sempre tem 
tendência a seguir algum artista e depois 
consolidar um estilo próprio,
 pode-se dizer que sim, mas havia outros
 nomes que eu sempre admirei também, 
como... John Buscema,
Alex Raymond, Joe Kubert, Al Willianson,
 Harry Bishop (desenhista inglês 
que fazia as tiras
da série Gunsmoke), Jose Ortiz, 
Frank Bellamy, Jack Kirky,etc.

10 – Tony: Parabéns, pelo bom gosto, Albertinho. 
Só feras... Ao longo dos anos, conheci
 muita gente que começou fazendo HQs e
 que acabou indo para a área da publicidade,
 por ser mais rentável.
 Este também foi o seu caso,
bengala brother? A grana falou mais alto?

Beto: Não. Comecei aos 16 anos 
trabalhando em estúdios de agências de 
publicidade fazendo direção 
de arte e quando vim para cá queriam 
apenas que eu fizesse estágio e eu não 
queria perder tempo
 começando tudo de novo, então parti
 para ilustração.


11- Tony: Foi uma sábia decisão, bengala fiend...
o país ganhou um grande ilustrador e um ótimo
quadrinhista... (Rsss...).
 Como eu também já fiz e, de vez em 
quando, ainda faço alguma coisa na área
 publicitária, sei que um artista
 ganha, ou melhor, ganhava muito dinheiro
 fazendo ilustrações para as agências 
de propaganda.
 Mas, parece que só isto não basta, correto?
Isto não satisfaz. Estou certo? 
Por quê, esta insatisfação, na sua opinião?

Beto: Acho que um ilustrador não 
precisa atuar em uma área só. 
Tem o editorial, publicidade, enfim,
 um leque enorme de coisas para explorar.



12 - Tony: Concordo, há mil e uma atividades 
onde os desenhos podem ser aplicados 
profissionalmente. Aliás,
tudo antes de se tornar real necessita 
de uma arte.
 Porém,  para se chegar lá há muitos caminhos, 
com certeza. Cada um faz sua melhor opção
em determinadas carreiras
 conforme sua aptidão.
Você sabe que os áureos tempos 
de se ganhar um bom dinheiro no mundo 
das agências também
 já passou - apesar delas ainda pagarem 
o bem mais do que determinados setores 
editoriais -, ao meu ver.
Quando entrei nesse mercado, na década de 80, 
a gente ganhava dinheiro a rodo, apesar do 
esquema ser puxado, pauleira,
 onde tudo era pra ontem.
Mas, tudo mudou muito nos últimos anos. 
Após a era da informática
os bambas da área - artistas consagrados
 que eram muito bem remunerados-,
 que não se adaptaram ao Macintoch 
foram para a rua, perderam o emprego e 
o mercado também virou
no avesso. Você também sentiu na 
pele esta brusca mudança?
Ou seja, teve que se adaptar rapidamente?

Beto: Sempre fui a favor de mudanças, pois 
elas sempre nos trazem novos desafios, 
que precisamos enfrentar, superar.

Tony 13 -  Sei que hoje você faz suas
 “manchas” na base do tablet, com perfeição.
 Quais são os programas que
você mais usa, para facilitar a 
vida ao fazer storyboards?
O pessoal que também "rabisca" quer saber.

Beto: Uso o Painter e raramente 
o Photoshop, não gosto muito. Ele é 
um programa pra retoques.

Tony - 14:Gozado... cada um prefere 
determinado software. 
Eu uso muito o Photoshop, me adaptei
bem a ele, apesar de também utilizar o Corel
e o Painter, After Effect, etc. Acho que o ideal 
é trabalhar usando (misturando) todos os 
recursos deles. Mas, gosto não se
discute, bengala citizen.
Você não acha que nada substitui a velha
mancha artesanal, analógica?
 Não acha que nos desenhos digitais, 
 como as pinturas, a coisa fica meio 
pasteurizada? Tudo igual,
 sem alma ou estilo próprio?

Beto: Depende. O ilustrador tem que usar o 
programa como ferramenta e tentar 
tirar o máximo 
dela... igual ao pincel e o lápis.
 Tem trabalhos que eu vejo que precisam 
ser feito à mão,
então eu faço, mesmo hoje em dia.


Tony - 15: Há muito tempo as agências 
não pagam mais tão bem como antigamente 
e sei até que 
algumas andam dando  calotes e
 até “canceira” para pagar... os tempos mudaram, 
muito, infelizmente (Rsss...). Na sua opinião,
 o que está acontecendo com as grandes agências, 
que antes pagavam religiosamente em dia?

Beto: No geral, o mercado está estável. 
Mas,  como em tudo, existem
aqueles que não são sérios, 
então sujam onde comem.

Tony -16 : De fato, pícaros existem em 
qualquer ramo...
Muitas produtoras de filmes, atualmente, 
passam tabalhos de storyboards. 
Porém, seus preços, em geral, são 
inferiores aos das agências... pergunto: 
O que será que motivou as agências
a abrirem mão desse tipo de trabalho, 
que acabou ficando com as 
produtoras? Custo?

Beto: Para as produtoras é mais 
interessante e rentável.
Elas fazem a edição e toda produção 
dos animatics os storyboards em si ficam 
nas mãos dos ilustradores, 
daí os espaços de mercado ficaram menores. 
Pagam pouco ao ilustrador para fazer
 o material de animatics, coisa
que antes as agências passavam, 
esta parte de ilustração
dos frames, para os ilustradores direto
 e a edição de áudio
e montagem ficavam com as produtoras,
 que por sua vez abocanharam tudo. 
Cobram alto, ou seja, atravessaram sem 
pedir permissão.
Há também a questão de organização 
que a maioria dos
 ilustradores não têm e muitos
vivem ainda no passado. 
Sendo assim, fica difícil reinvindicar que as
agências  nos passe trabalho direto.

Tony - 17: Enfim, as produtoras com a mudança 
passaram a faturar mais e, nós, menos. 
Assim, quem sentou nessa história toda fomos
nós, que fazemos ilustrações publicitárias.
 Traduzindo: Sentamos na mandioca, 
literalmente, pra falar a verdade... 
(rsss...). Que merda, né?
Boa explanação.
 Apesar de não nos vermos mais
como antigamente, desde que você se 
casou e foi morar no interior, com a esposa, 
nos falamos sempre por  telefone ou via e-mail...
 Por que, de repente, você decidiu 
cair morar fora de São Paulo?

Beto: Cansei de cidades grandes e aqui
 encontro tempo para fazer muitas coisas.


Tony - 18: A cidade interiorana de Itú, 
quando comparada a São Paulo, na verdade,
 é um paraíso. Porém, há
muitos bairros de São Paulo que parecem
cidadezinhas interioranas, parceiro!
Quando fui visitá-lo não vi trânsito nem
 na hora do rush...incrível. 
Pensei que estava em outro planeta... (Rsss...).
Adorei esta vidinha pacata.
 Há tempos que você me dizia que 
queria voltar a fazer quadrinhos...  uma vez,
 você me pediu um roteiro,
 lhe mandei a nova série de Fantasticman
chamada Sobreviventes... mas, isto 
já faz uns 4 anos ou mais e até agora
 só saiu metade da história... (Rsss...).
 Será que essa HQ um dia vai sair, de verdade?
 Não acredito mais... (Rsss...).
 Tô que nem São Tomé, só vendo
Pra crer...

Beto: Vai sair, sim! Procuro uma maneira 
de produzir e não ficar igual a todas 
as revistas que  tem na praça. 
Ando na correria, por enquanto....quando 
abrir um espaço, termino.

Um show de cores e bom gosto
Tony - 19: Isto é promessa? Tá danado, 
vou cobrar (Rsss...). Obviamente estou 
brincando, bengala friend... sei que seu 
tempo é escasso e que atender as agências
 é prioridade. Fantasticman (Sobreviventes)
é apenas um projeto,
pode esperar, com certeza.
Faz tempo que você sonhava em produzir um 
bang-bang – vivia me falando isso. Depois que
viu Apache parece que você ficou ainda mais
motivado e acabou fazendo mesmo. Achei isto
incrível. Por fim, Springville 
virou uma realidade...
 (Rsss...). A primeira parte da história saiu
 nas páginas da revista Apache 
(editora As Américas),
 edição 5, no mês de julho, deste ano.
Pergunto: Springville é uma homenagem
que você fez à série Gunsmoke? Explicando
melhor... Gunsmoke foi uma
 antiga e mais longa série de TV, de western, 
que acabou virando histórias em
quadrinhos e tiras de jornais. 
Sei que você é fã das tiras feitas pelo
 Bishop. Fale-me sobre isso...

Beto: Não é uma homenagem em si. 
Eu teria que melhorar muita coisa.
Mas o material seria uma muito melhor 
se tivesse sido  produzido no formato
 de tiras. Aí sim seria 
uma homenagem aos grandes artistas
 do passado - inclusive ao Bishop -,
 que poucos atualmente, conhecem.

 Tony - 20: Não enrola, Albertinho... até a cara do
 xerife de Springville parece com o ator que fazia
Matt Dillon, no seriado da TV. Quanto a 
desenhar em formato tiras, super ampliadas,
 de fato, dá uma qualidade excepcional. 
Não resta dúvida.
Certo dia, o nosso saudoso e querido 
bengala friend prof. Gedeone chegou no 
meu estúdio trazendo uma tira do Raymond, 
autografada, que o autor 
de Flash Gordon, tinha
mandado para ele, pelo correio. Cara, 
o original da tira era imensa. 
Daí a excepcional qualidade dos artistas
daquela época, que usavam até modelos vivo,
para obter poses naturais 
e um trabalho perfeito.
Naquela época jurássica, eles eram 
mais bem pagos do que aqueles 
que faziam os gibis.
Os grandes heróis do passado surgiram 
em tiras, que posteriormente eram 
montadas e se tornavam pocketsbooks, 
exceto Superman, que estreou na Action Comics
e emplacou. Mas, os desenhos inicias de 
Superman eram medíocres quando 
comparados aos do Raymond e outras
feras da época. O homem de aço emplacou 
porque era algo diferente, eu acho. 
O tema era inovador. Shuster e Schulz, 
antes de criarem o herói alado do 
planeta Krypton, fizeram muitas HQs pornôs.
 Voltando ao papo...
 A primeira história de Springville 
(Parte 1 e 2 – uma HQ de 20 págs), você
 levou quanto tempo para fazê-las?
E, quais foram os matériais que você
utilizou na arte final? Você fez ela 
com o tablet, ou foi no velho e bom 
original? Dá pra explicar?

Beto: Levei um tempão, tinha que 
esperar um espaço abrir para dar
 continuidade, mas quando abria, 
fazia uma ou duas páginas por dia. 
Springville foi feita no lápis,
 nanquim, pena e pincel.

21- Tony: À moda antiga. Captei vossos 
"sinais de fumaça",
mestre! Pretende continuar esta série?

Beto: Depende, existe o fator “aceitação”, 
mas agora estou começando outro projeto.

21- Tony: Entendi... se o público aceitar,
 prossegue. Caso contrário, não. Isto se 
chama insensatez. Um novo projeto de HQ? 
Beleza pura, Albertinho...
É sempre bom enveredar por novos temas. 
Um novo desafio sempre estimula a 
criatividade. Parabéns. 
Me avise quando ele estiver pronto.
Falando, ainda, de HQs... você, na verdade, 
pretende voltar ao ramo, de vez, e deixar 
as agências? Ou está fazendo a coisa
 apenas por diletantismo?

Beto: Dá pra levar os dois, numa boa, mas
 pretendo me dedicar mais aos quadrinhos.


Tony - 22: Isto é uma boa notícia. 
Quais são os seus projetos
profissionais para o futuro?

Beto: Produzir álbuns no formato de tiras,
 contos, suspenses, ficção, romances...etc.

23 – Tony: Legal. O mercado anda precisando 
de novidades e produtos de qualidade. 
Deu para faturar alto com as agências e
fazer um pé-de-meia? (Rsss...).

Beto: Ainda trabalho com agências.

24 – Tony: Esse "ainda" tem multiplos sentidos.
Quem for bom vai ler nas "entrelinhas"... (Rsss...).
Captei, outra ve,  vossos “sinais de fumaça”(Rsss...).
Você sempre preferiu fazer HQs com 
temas mais adultos e me parece que nunca
 gostou de desenhar super-heróis...
algum coisa contra esses seres ridiculamente
 bombados, que costumam vestir a cueca por 
cima das ceroulas? (Rsss...).

Beto: Nada contra. Existem coisas mais 
criativas e interessantes pra fazer.
 
             Tony - 25: Também cheguei a mesma 
conclusão. Muitos amigos que vieram 
de fora para trabalhar em São Paulo City, 
oriundos de outros  estados, já me disseram 
que tiveram que enfrentar, no começo, 
preconceito para se enquadrar no
 mercado de trabalho paulistano.
 Você também 
sentiu isso na pele, alguma vez?

Beto: Dá um puta trampo se encaixar
 em qualquer lugar.

Nova série que está sendo criada por Beto,
em forma de tiras de jornais
Tony- 26: Com certeza, ainda existe muito
 bairrismo e preconceito, em relação aqueles 
que chegam de fora, em pleno século XXI.
Isto é lamentável, tem que acabar.
Outro dia, vi um cidadão implicar com
 um nordestino, que o tal cara chama de 
"planeta coco". O fulano
preconceituoso costuma dizer que
 São paulo virou merda
depois que um disco voador, do planeta
 coco, pousou
e deixou os nordestinos por essas bandas.
Quando perguntei de onde o cretino era,
 o cara me disse: "Sou paulista.
 Do interior de São Paulo."
Daí indaguei, por que é que um cara, que não é
paulistano - legítimo cidadão que 
nasceu na capital -, estava se doendo 
por uma cidade que não é dele?
Afinal, o sujeitinho nojento também é 
um suposto invasor, do planeta interior...
 (Rsss...). Aí o fulano
se tocou e saiu de fininho. É mole? 
Os maiores preconceituosos não são os 
paulistanos, como eu e
outros. Aliás, paulistano é coisa rara nesta
megalópolis caótica e maravilhosa.
De volta as questões...
Você deu sorte, pois a primeira agência 
em São Paulo com a qual você começou a 
trabalhar foi logo uma das grandes, a Almap. 
Você chegou ao conviver com os lendários
 João Cardarcci e a intrépida Almerinda?

Beto: João Cardacci, sim. 
Ele era chefe de estúdio.

Tony - 27: Esse cara fez história na Almap...

Beto: A Almerinda trabalhava como 
tráfego, mas trabalhei também com 
grandes ilustradores, como: Juvenal Ramos,
 João de Campos, Jesus Dias, Elias, e outros
 que passaram por lá.

Tony - 28: Johnny Cardarci e Almerinda... 
eles foram o "Casal Vinte" daquela conceituada 
e criativa agência. 
Você trabalhou ao lado de feras.E até o nosso 
querido bengala friend e old guerreiro, Ailton Elias –
Autor de Brigada das Selvas e João Durão -, também 
trabalhou por lá durante anos.
 Diga-me, Albertinho, my dear bengala brother, 
como foi que você conseguiu, 
logo de cara, entrar para uma
grande agência, como a
 Almap (Alcântara Machado)?
 Foi fácil? Fez testes? Alguém o indicou? 
The people wants know (Rsss...)!

Beto: Mostrei uma pasta de direção de arte 
com algumas ilustrações minhas. 
Resultado, gostaram, e pediram para 
ilustrar um cartaz.
 Não foi bem um teste, foi mais um 
free-lance.
Ninguém me indicou. 
Fui na cara dura. Deu certo!

Tony - 29: Cabra macho, cabra arretado... 
taí um grande exemplo de garra para 
quem quer entrar em 
qualquer ramo. Tá a fim? Tem que correr
atrás, partir para cima. Gostei.
 Olha, para ser sincero, eu não
 acreditava mais que você ia voltar
 a fazer HQs, principalmente depois 
daquele roteiro do
 Fantasticman que lhe mandei e
que não saiu até hoje... (rsss...).
 Quando vi Springville pronta, não acreditei. 
Parece que você decidiu levar 
a coisa a sério desta vez... 
"baixou o santo", isto é fato?


Beto: E vou fazer muito mais coisas.

Tony - 30:  Espero... Deus te ouça (Rsss...). 
 Além de trabalharmos
 juntos com HQs, também já tocamos
juntos – pertencíamos ao mesmo grupo
 musical -, e sei que você é eclético.
 Toca vários instrumentos 
musicais, como eu , canta, compõe, pinta 
quadros e adora marcenaria.
Você não acha que talvez, esse excesso
 de aptidões acabam não deixando 
muito tempo livre para você
 se dedicar às HQs? 
Digo, você tem que arrumar tempo
pra compor, tocar, fazer arranjos musicais, 
gravar, pintar telas, fazer publicidade, 
cuidar da família, administrar
 seu estúdio, etc. Daí o tempo fica escasso, 
mesmo e as HQs ficam para segundo plano...
 não é isto? Parei de compor há tempos e, de
 vez em quando, arranho um violão 
e um teclado, pra não enferrujar.
 Eu era tão maluco - no bom sentido -, 
quanto você. Fazia um zilhão de coisas
 ao mesmo tempo. 
Mas, decidi me concentrar,
ultimamente, nas HQs... (Rsss...). 
Meu “HD” andava lotado.

Beto: Dá pra organizar, Tony.

A maravilhosa arte inacabada para a nova série Fantasticman,
denonimada: Perdidos No Infinito (Sobreviventes)



Tony 30 – As vezes, eu acho... Alberto 
Jorge de Almeida Lima, por Alberto
 Jorge de Almeida Lima? Como você se
 auto analisa, bengala friend? 
Who are you, old bengala brother?

Beto: Nunca parei pra pensar sobre isso.

Tony - 31:  Isto é piada? Não acredito... 
é melhor pularmos esta... (Rsss...). 
Há quanto anos você não fazia uma HQ? 
Não acha que parando a gente perde o pique, 
de produção? 
Você sabe, fazer ilustração é
uma coisa... fazer HQ é outra. Fazer desenhos 
sequênciais da uma mão de obra danada...

Beto: Faz muito tempo mesmo que 
eu não faço HQs. 
Não vamos pensar em ilustração,
 que são feitas direcionada para um cliente 
ou coisa qualquer e depois vai para o
 lixo, mas em um trabalho que as
pessoas apreciem e guardem.
A diferença é muito grande. 
Quanto a questão de fazer quadrinhos
na correria, não pretendo fazer 
disso uma pastelaria e,
sim, um belo trabalho.

Tony - 32: Este é o meu sonho, que a cada 
dia fica mais distante, utópico, visto 
que temos que desenvolver quadrinhos 
em meio outros trabalhos,
 para outros tipos de clientes. Mas, um dia,
chegamos lá, espero... (Rsss...). 
As HQs, no país, ainda são muito mal 
remuneradas, nas pequenas
e médias editoras. Se o fulano não 
for rápido, não tiver pique de produção, 
tá lascado. 
Esta é que é a verdade. 
 Você está coberto de razão quando diz que 
o trabalho publicitário acaba 
indo parar no lixo. 
Eu e você até fizemos, juntos, alguns 
storyboards para os comerciais de TV da
cerveja Kayser Summer
(para a New Combates), que ninguém jamais 
soube que era nosso. A gente rabisca e pinta
um storyborad que serve apenas para o dono
do produto apreciar a idéia 
do filme e pro diretor do comercial se 
basear nas tomadas de cena. Depois,
a arte vai toda pro lixão. 
É... de fato, esta parte é frustrante pra 
qualquer cara de criação.
Na verdade, um storyboard só serve pro
artbuyer (antigo tráfego) convencer o cliente
a comprar a idéia do filme. 
Só isto e nada mais.
Bem, de qualquer forma, foi um
 grande prazer poder entrevistá-lo e 
poder ver, finalmente, uma nova
 série de HQ feita por você. 
Espero que novas HQs, como Springville, 
virem realidade. 
Aposto que seus antigos fãs – e os 
novos - vão adorar.
Alguma “mensagem psicografada” (Rsss...), 
em especial,  àqueles que acompanham 
seus trabalhos, há anos, e àqueles 
que sonham em um dia entrar nesse
 ramo altamente fascinante e oscilante das 
histórias em quadrinhos?
 Manda aí o seu recado, bengalone...

Capa feita na década de 80, por Alberto Jorge de Almeida Lima
Beto: Foi um prazer, Tony. 
E, para o pessoal, um grande
 abraço e que tenham, sempre, muita 
dedicação e amor naquilo que
 queiram fazer.
 Seja lá o que for...

Tony 33 – Valeu, bengala friend! Grato, por sua
 atenção e até a próxima, Betão. 
 Muito sucesso e milhares
 de novas idéias para criar e desenvolver 
novas séries, cowboy. 
See you later, bengala friend!

Beto: Até mais, Tony. Um abraço

Tony - 34: Prefiro um mano amplexo,
 Albertinho (Rsss...)!
Let's go! See you later, webreaders!


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