segunda-feira, 20 de setembro de 2010

MARCOS E DOLORES MALDONADO - O CASAL 20 DAS HQs!


Ao longo dos anos - comecei a publicar oficialmente em 1973, pela editora Saber, a revista chamada Sargento Bronca, uma sátira militar a la Recruta Zero -, tive o prazer de conhecer, conviver e trabalhar, com gente que eu admirava e era fã.
Me considero um privilegiado de poder ter conhecido, convivido, e trabalhado com grandes nomes das HQs tupinquins, todos meus ídolos do tempo de garoto : Nico Rosso, Ignácio Justo, Edmundo Rodriguez, prof. Gedeone, Paulo Hamasaki, Shimamoto,Carlos Cunha, Minami Keizi, Franco de Rosa, Paulo Paiva,  Izomar, Primaggio, Igayara, J.B. Pereira, Jorge Kato, Otta, Zalla, Reynaldo de Oliveira, Jaime Cortez, e outros bambas. Mas, dentre estes um casal, que há muito eu admirava, se destacava: 

Marcos e Dolores Maldonado.
Dolores, só tive o prazer de conhecê-la pessoalmente na última FestComix realizada em São Paulo no ano passado (2010)
.

O DIA EM QUE CONHECI O FERA

Tive a honra de conhecer Marcos Maldonado quando eu era um garoto, um mero 
assistente de arte na extinta editora Noblet, na década de 70, onde eu vivia retocando a guache
os originais gringos, de: Akim, Vampirella, Carabina Slim, Mister No, etc,
ou escrevendo matérias para as revistas Hot Girls e Contos Excitantes, sob o comando
do velho bengala friend Paulo Hamasaki, que na época era o nosso diretor de arte.


Marcos Maldonado aparecia por lá uma vez por mês. Era free-lance e letreirava as 
publicações de HQs daquela casa editorial, como: Akim, Giddap Joe, Mister No, 
Vampirella, Carabina Slim e Tex Tom.
Saíamos, as vezes, da editora para ir tomar cafézinho - no boteco do Zé-, que ficava 
do outro lado da rua Almeida Torres, no Cambuci, com o ilustre colega, que era 
sempre humilde, na dele, e com uma competência incrível para fazer letrinhas, 
para desenhar os balõezinhos, tudo na raça, gente! 
Naqueles primórdios a gente nem sonhava com computador. 
Dá pra imaginar quantas mil paginas esse casal já fez?
As milhares de horas gastas para caprichar nas letrinhas?


REMINISCÊNCIAS...

Quantas vezes, quando eu era moleque (anos 60\70, faz tempo... (Rsss...), comprava os gibis e 
via nos créditos o nome desse casal, que fazia o que muitos desenhistas de talento não 
sabiam fazer: letreirar, fazer a "voz dos personagens". 
Um trabalho super importante e que, em geral, poucos comentam ou dão o devido valor. 
Se fala muito do personagem, da editora, do editor, do desenhista, do escriba, mas
raramente se fala de gente tão talentosa quando os grandes mestres do traço que dedicam 
suas vidas nesse mercado, de altos baixos, fazendo letras e balõezinhos. 
Afinal, uma HQ mal letreirada é horrível de se ler. 
Então, por que pouco se comenta sobre quem as faz?
Não dá para entender. 
Uma HQ, para ser concluída - editada - passa na mão de: editores, diretores de redações, 
tradutores, revisores, assisentes de arte, letristas, etc. 
Mas, toda essa gente fica quase que sem crédito, no anonimato.
E sobre essas pessoas, também brilhantes e talentosas, pouco se fala.
Fiquei anos sem ver esse incrível casal.



Civitelle, o desenhista de Tex, na FestComix, em 2010, em São Paulo




Já vi muito roteirista e desenhista narcisista se vangloriando de sua obra e 
nem se quer se referir a todos aqueles que colaboraram para que a 
tal "obra" ficasse publicável.
Pura injustiça.
Jamais vi qualquer um desses que ficam "atrás da cochia" se cabar do seu trabalho.


MUNDO PEQUENO

Há alguns meses atrás, num boteco que frequento aqui em S. Paulo, na rua Martins Fontes - 
pra tomar umas quatro ou nove (rsss...), pra tirar a neuras do dia-a-dia, 
fui apresentado para uma irmã de uma amiga minha.
Assim, conheci Dora, de Sorocaba, uma senhora super simpática, elegante e fina. 
Papo vai, papo vem... e acabamos entrando no assunto publicações e, por fim, quadrinhos. 
Então fiquei surpreso quando ela me disse: 
"O senhor é desenhista? Já foi editor? Trabalha há muito tempo com isso? 
Tenho uns amigos que fazem as letrinhas."
"Letrinhas?" - indaguei, intrigado.
- Hoje o pessoal faz isso no computador - respondi. - Mas, esta já foi uma grande profissão -
 completei.
Mas, ela insistiu: - Conheço um casal amigo que faz as letrinhas!
Então, perguntei se esses amigos, por acaso, não se chamavam Marcos e Dolores Maldonado,
que tinham um sítio em Sorocaba. Pois ela confirmou e me disse que eram eles mesmo.
Fiquei extasiado em saber que ela, de fato, os conhecia.


De repente, narrei fatos do passado à ela e disse o quanto eu os estimava e admirava.
Um mês depois, Dora voltou a S. Paulo, me procurou no tal boteco, mas eu havia viajado.
Quando ressurgi no tal boteco a irmã dela, uma advogada, super simpática e bonitona 
me encontrou e disse: "Minha irmã trouxe um cartão daqueles seus amigos de Sorocaba! 
Esperaí que vou lá no apartamento buscar."
A doutora mora num belo apartamento em cima do tal bar.


UMA GRATA SURPRESA


O cartão era do Marcos Maldonado. 
Além do e-mail, telefone deles, etc, também havia atrás um recado. 
Um convite para que eu, assim que pudesse, fosse conhecer o sítio deles na região,
 pois teriam um enorme prazer em me receber.
 Ainda tô devendo essa visita, meu amigo! Mas, vou. Te aviso antes.


Há poucos dias, antes da realização da FestComix, mandei um e-mail pra ele, visto 
que, apesar de procurar feito doido - não conseguia achar o cartão-comercial dele, que
estava literalmente perdido em meio aos papéis das minhas mesas. 
Quando recebi a resposta do Marcos, via e-mail, confesso que tive um orgasmo de
felicidade em saber que eles estavam ainda firmes nos quadrinhos, com a Mythos, 
com o Dorival e com o Tex, e que também tinham acabado de regressar de 
um evento da Bonelli - onde estava presente o Civitelli -, em Portugal. 
Eles foram com o Dorival, a convite dos realizadores, pelo que me parece. 
Uma homenagem mais do que digna e justa àqueles que durante anos
 vêm letreirando com amor e carinho todas as revistas da Bonelli Comics, 
aqui no Brasil.



Marcos Maldonado, Zeca Willer e Dolores, num
evento realizado em Portugal, em 2010




Daí pensei... esse casal merece destaque.
Merece ser reverênciado pelos anos de batalha em prol das HQs nacionais e internacionais. 
De imediato, pensei em escrever uma matéria no meu Blog. 
Então, decidi pedir pro Marcos uma foto deles e alguns dados, pois eu também 
não conhecia a fundo a verdadeira saga deles.

OUTRA SURPRESA AGRADÁVEL

No dia seguinte, ao comentar sobre eles com os amigos do Facebook tive outra boa
surpresa de ver as fotos do evento em Portugal, no álbum de um novo amigo - o cowboy
de além-mar Zeca Willer, um dos maiores colecionadores do mundo de Tex e dono do
blog mais popular da Europa, do velho e querido ranger- , 
onde eles - os Maldonados - estavam presentes, e também fiquei sabendo que estava 
para ser lançado um livro onde eles apareceriam em destaque. 
Achei genial. Esse "Casal 20", das HQs brasileiras e internacionais, 
merece todo o nosso respeito! 



Zeca Willer, Gege Carsan e o mestre Civitelle, na FestComix




São verdadeiros heróis, que há anos militam nesse difícil ramo de atividade.


É importante frisar que: os maiores e melhores artístas nacionais e estrangeiros 
tiveram a honra de ter seus trabalhos publicados no país graças ao talento nato dessa dupla, 
de escrever os textos dos balõezinhos que lemos.


Abaixo segue um resumo da vida profissional dessas feras da suada arte de letreirar!
Confiram!


SUA VINDA PARA SÃO PAULO

Em 1960, Marcos Maldonado decidiu vir morar na capital. 
Apesar de sempre ter uma boa caligráfia seu primeiro emprego, aqui, foi como 
torneiro mecânico, durante 9 anos. 
Sempre fôra fã de HQs desde pequeno, mas jamais havia pensado em trabalhar no ramo.

OUTRAS FACETAS

Ainda nos anos 60, Marcos conheceu Dolores e decidiram se casar. 
Foram produtores e astros de fotonovelas - publicações que vendiam bem na época, destinadas
 ao púbico feminino -, e até chegaram a encenar clássicos, como: O Alto Da Compadecida
 e outras peças de teatro. Pelo visto, a veia artística sempre foi um dom divino.


LETRAS: UM IRMÃO QUE INCENTIVOU

Graças a seu irmão mais velho, Antonio Maldonado -, que fazia inicialmente 
letreiramento para fotonovelas, foi que Marcos Maldonado Rodrigues, um ajustador, 
torneiro mecânico e fresador, nascido num sítio em Soroca, Estado de S. Paulo, 
começou a se interessar pelo ramo. Oficialmente, sua carreira como letrista -
 de fotonovelas da ed. Abril -, começou em 1969.


QUADRINHOS

Devido a perfeição da arte da escrita de Antonio Maldonado - que hoje é artísta plástico -,
este foi convocado para fazer letreiramento de HQs da Abril. 
Para atender a demanda Marcos começou a ajudar o irmão. 
Daí vieram mais e mais trabalhos para as revistas Disneys, super-heróis e para outras 
editoras, como: Giddap Joe, Akim, Mister No, Vampirella, Zagor, Chet -  todas 
as edições do cowboy do amigo bengala friend e grande escriba Wilde Portella foram feitas 
por eles. Também fizeram as revistas:  Sobrenatural, Spectro, Lobisomem, Combate, Fantasma, Mandrake, etc. 
Dolores, também já havia arregaçado as mangas e entrado na briga ao lado do marido. 
Suas letras eram muito uniformes e parecidas.
Formaram um par ideal na vida em comum e no ofício.
Um perfeito "Casal 20", das HQs.



Uma edição especial feita por Civitelle foi lançada na FestComix




TEX - O COWBOY MAIS POPULAR DO MUNDO

 Tex,  eles começaram a trabalhar com o ranger ainda no tempo da extinta e saudosa 
editora Vechhi (RJ), no dia 13 de março de 1980. 
Faziam o trabalho em casa e mandavam via malote para o Rio.
Tex mudava de editora e lá estava o "Casal 20" letreirando o velho ranger, outra vez. 
Há exatamente 28 anos eles letreram Tex, que atualmente tem diversos títulos e formatos 
lançados pela gloriosa Mythos, de Hélcio de Carvalho. 
Dorival é o editor chefe e o grande herói que trouxe de volta às bancas as movimentadas 
aventuras de Tex, que tem uma verdadeira legião de admiradores e colecionadores. 
Confira no portal TexBr um verdadeiro paraíso e ponto de encontro para 
os texmaníacos do país.


A ERA DA INFORMÁTICA

Habituados a trabalhar com aquelas canetinhas que eram muito usadas em engenharia 
e arquitetura - as famosas Rotring, de diversas numerações -, Dolores e Marcos
 Maldonado tiveram que se adaptar a nova realidade que havia chegado para ficar: os computadores. 


Segundo o Marcos, não foi fácil essa adaptação, e foi graças a insistência do Dorival e 
as dicas da Gisele, também uma grande letrista da Mythos -, que eles acabaram se 
dando bem em letreirar em computadores.
 Isso agilizou a produção das páginas das diversas edições de Tex que são lançadas 
pela Mythos. Segundo eles, é possível, agora, fazer uma edição do ranger em 
apenas uma semana. Coisa que demorava mais tempo no passado.



A palestra feita por Civitelle na FestComix.
O editor de Apache, Marco Antonio Faceto, também esteve presente


CIVITELLI NO BRASIL E NO MUNDO

Atualmente a expressão-Mor da arte contemporânea italiana do ranger chama-se: 
Aldo Civitelli, que está fazendo uma verdadeira excursão pelos países em que
 os leitores adoram as aventuras texinianas. 
Em São Paulo, um fabuloso evento que marcou o encontro dos fãs com o artista. 
Ele foi realizado pela Mythos e pela Comix, na já tradicional FestComix, no final do ano passado
(em 2010).  Marcos e Dolores Maldonado também estiveram por lá e finalmente pude
conhecê-la. Foi uma boa ocasião para rever os velhos amigos,como: Décio Ramirez, os Maldonados, e outros, que tanto fizeram e ainda fazem em prol dos Quadrinhos, e contatar  os novos que fiz via Facebook, como: Alvarez, Antonio Carlos Moreira, Zeca Willer e Gege Carsan, que durante o
evento se vestiu a caráter, como Tex.


O e-mail que recebi do Marcos, antes deste referido evento, terminava, mais ou menos assim...


"Apesar dos altos e baixos dos quadrinhos,sem eles seríamos 
como peixes fora da água, Tony!"
Com certeza, bengala friend, com toda a certeza...


Que Deus os abençoem e que durante anos e anos voces
ainda possam dar fala aos nossos heróis preferidos, Casal 20!


Um grande mano amplexo, proceis e à todos os web leitores!
See you later, cowboys!