domingo, 11 de janeiro de 2015

UDIGRUDI: OS QUADRINHOS UNDERGROUNDS DO BRASIL!




O AGITADO MUNDO
DOS ANOS 90!
(BREVE RELATO)
Década de 90 - Ela foi a última década do século XX.
 Começou com o colapso da ex-poderosa União 
Soviética que, após a Segunda Grande Guerra dividiu
 o mundo com os Estados Unidos, país que depois
 passaram a hostilizar, por ser capitalista, dando 
início a chamada Guerra Fria. No período 
pós-guerra essas nações dominaram o mundo
 e esperavam obter a paz implantando o terror,
 construindo centenas de ogivas nucleares que
 circulavam em órbita do nosso planeta em 
satélites militares que ameçavam deflagar,
 a qualquer momento, a 
Terceira Guerra Mundial, o holocausto.
UM MUNDO EM CRISE


O mundo vivia sob tensão. Portanto, com a
 falência declarada da União Soviética se 
consolidou a democracia, a globalização e
 o capitalismo. Outros fatos relevantes desse
 período foram: a Guerra do Golf, a popularização
 do computador pessoal e da Internet. Apesar
 do otimismo geral, devido ao colapso do
 comunismo, surgiram diversas manifestações
 de terroristas nas regiões denominadas
 como “Terceiro Mundo”. 



Enquanto isso, os países do 
Primeiro Mundo mantiveram
 suas economias estáveis durante toda a década. 
O Reino Unido, depois de sofrer, em 1991 e 
1992, séria recessão por causa da 
desvalorização da libra esterlina conseguiu
 se restabelecer. Países de menor representatividade
 econômica também evoluíram. Entretanto, a
 economia americana ficou estagnada na 
primeira metade da década.
A democracia estava prosperando, porém, na
 África, guerras e o aumento de casos de AIDS
 alarmavam o mundo. Os antigos membros
 dos países do Pacto de Varsóvia, após 
deixarem o regime totalitário imposto pela
 União Soviética, diminuíam a expectativa de
 vida de suas populações e o crescimento 
econômico dessas pequenas
 nações não acontecia.
A década de 90, que muitos profetizavam
 que seria uma nova era de prosperidade, de
 repente, virou o caos. Crises financeiras
 assolaram os países em desenvolvimento
 depois de 1994. Eventos trágicos passaram 
a acontecer, como: as guerras dos Bálcãs,
 o genocídio de Ruanda, a Batalha de Mogadiscio
 e a Primeira Guerra do Golfo promovida
 por George Bush, pai, que era
 presidente da América. 




 

 
No que tange a vida social, a cultura jovem aceitou
 o Grunge como mídia e o ambiente social 
foi subdividido em inúmeras tribos, como
 os punks, punks anárquicos, skins heads, etc.
 O modo de se trajar, o uso de piercings,
 tatuagens e de drogas diferenciavam essas
 tribos. Ligado à cultura da música eletrônica 
surgiu o ectasy, poderoso alucinógeno, e
 o consumo da maconha se alastrou
 pela classe média.


NO BRASIL



Após a eleição de Fernando Collor de Mello à 
presidência da República – ele foi um dos 
candidatos À presidência da República mais 
votados de toda a história do país - ,
 os anos 90 iniciaram com preocupante 
instabilidade econômica. A ministra da 
economia, Zélia Cardoso de Mello e sua equipe,
 subitamente decidiram confiscar o dinheiro –
 sem lastro - que o povo tinha aplicado nas
 cadernetas de poupança e em contas bancárias, 
sem aviso prévio. Conclusão: Muita gente
 dormiu rico e acordou pobre. Até casos de
 suicídio foram registrados naquela época
 turbulenta do país. A inflação 
comia solta – 50% a 60% ao mês.


Para tentar suportar os altos
  índices inflacionários foi 
criada a indexação, invenção brasileira.
 Assim, diariamente, todo o comércio 
remarcava seus preços. Algum tempo 
depois de Collor assumir a presidência 
da República, o movimento denominado 
“Caras Pintadas” – apoiados por uma
 forte mídia - foram às ruas protestarem 
exigindo o impeachment do jovem
 presidente, por causa de seus negócios 
escusos. Apesar de tudo, Collor abriu as portas
 do país para as indústrias internacionais, 
promovendo assim, inicialmente, a 
desestabilização e até a falência de 
empresários que não estavam preparados
 para concorrer com empresas oriundas de
 outras nações, que ofereciam bons produtos
 a preços módicos. Apesar do impacto
 negativo social inicial, essa medida de
 Collor tornou-se benéfica com o tempo, 
porque obrigou a indústria 
nacional a se modernizar. 
 
ITAMAR E FERNANDO
 HENRIQUE


Com a saída de Collor assumiu a presidência
 o mineiro Itamar Franco, que propiciou
 ao país uma certa estabilidade econômica
 e relativo crescimento com a implantação
 do Plano Real, por Fernando Henrique 
Cardoso, que era Ministro da Fazenda.
Devido as suas bem sucedidas medidas 
econômicas Fernando Henrique Cardoso
 foi eleito, por duas vezes, presidente da 
República, naquela década, com o aceite
 popular, após ter implementado o Real,
 uma moeda forte e estável.
Após a implantação do Real as classes
 mais pobres ganharam poder aquisitivo,
 mas a chamada “Classe média” perdeu o 
poder de comprar. No final da década a 
pobreza tinha aumentado no país. Quando
 as reservas câmbiais brasileiras foram 
comprometidas, a moeda se tornou flutuante
 em janeiro de 1999, após não ter suportado
 as pressões especulativas gerado pela
 crise russa que aconteceu em 1998.
Nesse período, a cultura no Brasil passou a
 ser valorizada. Os cinemas e teatros 
ressurgiram, enquanto os músicos do
 país eram bem recebidos no exterior. 
O esporte também se deu bem, ganhamos
 25 medalhas olímpicas e títulos mundiais
 no futebol masculino e no basquete feminino.


 
NAS BANCAS DE JORNAIS




A poderosa editora Abril, que dominava 
o mercado de revistas e de histórias em
 quadrinhos, lançava O Edifício, a primeira
 Graphic Novel, desenhada e escrita por
 Will Eisner, destinada ao público adulto, 
revolucionando, de vez, o mundo das HQs.
 Porém, a revolução definitiva desse 
poderoso meio de comunicação ocorreu
 ao ser lançada a Graphic Novel Batman,
 O Cavaleiro das Trevas, com um incrível
 roteiro do genial Frank Miller. 





 
Ainda nessa década o jornal a Folha de S.
 Paulo promoveu um concurso para descobrir
 novos talentos. Chargistas e desenhistas de 
todo o país se inscreveram. Mas, o contemplado
 foi Arnaldo Angeli Filho, mais conhecido 
como Angeli, um paulistano nascido em 1956,
 que se tornou um dos mais conhecidos
 chargistas brasileiros, no estilo underground.
 Graças a Angeli, teve início nessa década o... 
 
GRANDE BOOOM DAS
 REVISTAS UNDERGROUNDS 
(COMIX) NO BRASIL!

Enquanto as HQs Made in 
America apresentavam
 um trabalho mais sofisticado com as 
Graphic Novels, os artistas brasileiros,
 graças ao talentoso Angeli, enveradava
 pelo mundo das HQs undergrounds, 
dando origem a uma serie de revistas
 nessa linha. O movimento denominado
 underground aconteceu nos Estados
 Unidos na década de 60, cujo precursor foi 
Robert Crumb, artista gráfico e ilustrador 
que ganhou notoriedade por suas HQs nesse
 estilo rebuscado, agressivo e que abordava 
temas como drogas, sexo e rock and roll.

ROBERT CRUMB


Tudo começou nos anos 60, quando Crumb
 e a mulher dele resolveram imprimir a
 revista artesanal chamada Zap Comix e
 começaram a vendê-las pelas esquinas de
 Nova Iorque. De imediato, os trabalhos de 
Crumb caíram nas graças do movimento
 hippie, que pregavam a paz e o amor e
 criticavam severamente a guerra do Vietnã,
 que se alastrará e ceifava muitas vidas. 
Marcaram época e toda uma geração
 uma tira produzida por Crumb chamada
 Keep On Truckin’ e os personagens Mister
 Natural (uma sátira do yogi Maharish Mahesh,
 visto que na época a moda era consultar 
os gurus espirituais indianos que invadiram
 a América. Fritz, o gato, surgiu para derrubar 
toda falsa moral americana implantado pelo
 famoso Comics Code (Código de Ética, que
 durou de 1954 até 2011 e que infantilizou as
 HQs americanas), criado pelos próprios 
editores para censurar HQs que propagam as
 drogas, o sexo, a violência ou insinuasse
 homossexualismo. Esse código foi implantado
 no país após a publicação do livro Sedução dos
 Inocentes, publicado pelo psiquiatra
 Frederic Wertham, em 1954, que alegava 
que as HQs provocavam a delinquência
 juvenil. Fritz era um gato vagabundo, louco 
por drogas, rock e muito sexo – 
um escândalo na época.


NAS ESQUINAS DA BIG APPLE

Segundo consta, quando Crumb e a
 sua mulher vendiam as HQs artesanais 
pelas ruas da Big Apple foi descoberto
 por um editor que, ao farejar o sucesso, 
o contratou e colocou aquelas HQs desenhadas
 de formas rústicas no circuito editorial 
comercial, profissional. Resultado: 
Apesar dos protestos contra aquele 
tipo de leitura, feita pelos conservadores, 
as Hqs de Crumb fizeram absoluto sucesso,
 porque inovaram o mercado.
Em 1970, Crumb, em parceria com o roteirista
 e arquivista Harvey Pekar, de classe média
 baixa, de Cleveland, realizou alguns 
trabalhos incríveis. Pekar escrevia sobre 
sua visão do mundo de forma crítica
mostrando o tedioso modo de vida da
 classe média americana, uma realidade
 até então que jamais tinha sido mostrada
 numa história em quadrinhos, isso 
causou muita polêmica na época. Porém, 
os trabalhos do cartunista caiu nas graças 
da juventude e se tornaram
 fenômenos de vendas.


Crumb e sua esposa, Aline Kominsk, 
desenharam juntos HQs incríveis que 
foram publicadas na revista The New York.
 Esse material foi publicado no Brasil, há
 pouco tempo, pela revista PIAUÍ.
 
Em 2007 veio o merecido reconhecimento 
pelo conjunto de sua obra que revolucionou 
o mercado de HQs americano e internacional
 e que acabou influenciando muitos autores 
pelo mundo afora. Seu nome figurou no
 vigésimo lugar numa lista composta com
 os nomes dos 100 gênios da
 humanidade, ainda vivos.
Incentivado por seu editor, Crumb passou 
a adaptar obras literárias de autores de peso,
 como: Franz Kafka, Charles Bukowisk
 e Philip K. Dick. Em 2009, lançou Gênesis,
 um clássico baseado no famoso livro da
 Bíblia, em quadrinhos.
Atualmente esse genial autor de HQs para
 adultos mora no sul da França com sua
 esposa e filha, que também são cartunistas.








CRUMB INFLUENCIANDO
 BRASILEIROS

A primeira revista a lançar HQs undergrounds no país foi
a Grilo, da extinta editora Arte Nova.
Os primeiros artistas nacionais que demonstraram
 uma forte influência pelos trabalhos de
 Crumb surgiram no Brasil nos fanzines.
 Porém, um dos primeiros que se 
destacou nesse estilo, no país, foi Francisco 
A. Macartti Jr, um paulistano que nasceu em
 1962. Ele foi um dos legítimos precursores
 das HQs undergrounds no país. Seus traços 
tinham uma forte influência “Crumbiana”. 
Em 1980, graças a uma herança, Macartti 
comprou uma impressora offset de mesa
 Rex Rotary Modelo 1501 e se tornou 
um dos primeiros editores independentes
 do país. Com essa máquina jurássica fundou 
a editora Pro-C. Assim, passou a escrever,
desenhar, imprimir, dobrar, grampear, editar
 e vender, diversas revistas de sua autoria
 e de outros artistas amigos como Lourenço
 Mutarelli. Essas revistas em quadrinhos,
 que tinham forte influência do Papa dos 
Undergrounds (R. Crumb), tinham nomes
 inusitados, como: Lodo, Prega, 
Ventosa, Mijo etc.

Ao longo dos anos o ousado e criativo autor 
e editor também publicou seus trabalhos
 em outras revistas como Chiclete com Banana
 (de Angeli), Tralha, Monga, Casseta e 
Planeta e Mil Perigos. Macartti também fez
 belas capas para os álbuns da banda
 Ratos do Porão, de João Gordo
 (Anarkophobia e Brasil).
Em 2001, ele criou Frauzio, para uma revista
publicada pela editora Escala, que imprimiu 
e lançou 30 mil exemplares no circuito 
nacional. Infelizmente as HQs de Frauzio,
 em revista própria, teve breve
 duração: 6 edições.


 



Em 2003 voltou a lançar Frauzio, por conta 
própria, pela Pro-C. Em 2005 a editora Conrad
 lançou Mariposa, esta foi a primeira 
Graphic Novel desse autor. De repente, 
em 2007, Macartti decidiu deixar as HQs
 escatológicas e fez a adaptação de um
 clássico da literatura nacional, A Relíquia,
 de Eça de Queiroz, para a 
Escala Educacional.
Em 2008, Francisco A. Macartti Jr, se
 tornou colaborador da edição
 brasileira da revista Mad. 
 
ANOS 90, ANGELI SE
CONSAGRA COMO O
GRANDE MESTRE
UNDERGROUND!



Ele começou a trabalhar no setor editorial aos 
14 anos na revista Senhor. Além disso, colaborava
 com diversos fanzines. Em 1973 foi 
contratado pela Folha de S. Paulo, onde
 continua até hoje. Sua imensa galeria de 
personagens hilariantes, de humor 
anárquico e urbano, começou a ser
 desenvolvida nos anos 80. Rê Bordosa, Meia
 Oito e Nanico, Like e Tantra, Wood e Stock,
 Skrotinhos, Bob Cuspe, Mara Tara, Rhalah 
Rikota, Ritchi Pareide, Walter Ego e outros
 incríveis personagens criados por esse
 autor criativo e inovador marcaram época 
e ainda povoam a mente de seus leitores. 
Inicialmente esses personagens surgiram
 nas tiras de jornais, depois a Circo Editorial,
 do editor Toninho Mendes, em 1983, 
lançou a revista Chiclete com Banana, 
um fenômeno editorial. As primeiras edições 
tiveram a modesta tiragem de 30 mil exemplares.
 Em pouco tempo essa tiragem atingiu a casa
 dos 110 mil exemplares mensais. Chiclete 
com Banana é considerada uma das revistas
 mais importantes do setor editorial brasileiro, 
feita para adultos, que influenciou toda 
uma geração. Esse título que ganhou fama,
 principalmente entre os estudantes universitários,
 também contava com a colaboração de 
Roberto Paiva, Clauco, Luis Gê e Laerte 
Coutinho (Piratas do Tietê – um 
clássico das HQs nacionais). 
  
As geniais tiras com os personagens de 
Angeli também já foram publicadas na França,
 na Itália, na Alemanha, Espanha, Argentina e
 Portugal. Na terra de Camões as HQs de 
Angeli ganharam destaque quando a editora
 Devir, no ano 2.000, lançou uma compilação
 da vasta obra do autor. No mercado americano
 os célebres personagens de Angeli não
 emplacaram devido a agressividade dele e
 a menção a drogas e sexo, que contrariam a
 regra dos bons costumes, segundo
 editores locais.





ANIMAÇÕES NA TV



No mesmo ano, estreou uma serie de animações
 com seus personagens numa coprodução da TV 
Cultura coma produtora portuguesa
 chamada Animanostra.
Esse criativo autor, que acabou se
 transformando no Papa das HQs Undergrounds 
no país, também trabalhou na Rede Globo de 
Televisão, onde foi redator do programa infantil
 TV Colosso, entre 1993 3 1996.
 Na mesma emissora,
 entre 1995 e 2005, criou animações de 5 
segundos, que passaram a ser exibidas como 
vinhetas nos intervalos dos filmes e programas
 dessa importante rede de TV. Outros cartunistas 
também participaram desse projeto inovador.

LONGAMETRAGEM 
 
Como se não bastasse, em 2006, ele produziu
 um longametragem animado: Wood e
 Stock - Sexo, Orégano e Rock’n’Roll.
Nos anos 90 a editora Nova Sampa, do editor
Carlos Cazzamatta, lançou um remix da
 consagrada serie Chiclete com Banana,
 mas teve breve duração, infelizmente.

OUTRAS PUBLICAÇÕES
 UNDERGROUNDS

Na trilha do sucesso alcançado pelas
 HQs undergrounds de Angeli surgiram
 inúmeras publicações, que também
 podem ser consideradas desse gênero, 
que apesar de apresentarem traços mais 
refinados abordavam temas polêmicos,
 como: sexo, rock e drogas, 
como: Abutre (Flama Editorial), Porrada
 (Galvão Editora), Geraldão, Piratas do 
Tietê (Circo Editorial) e Udigrudi
 (Phenix Editorial).








UDIGRUDI – IMPRÓPRIA
PARA BUNDÕES



Eu sempre fui fã e colecionador da revista MAD
(que durante séculos teve como editor
 o querido e criativo bengala brother 
Otacílio D’Assunção Barros), e dos
 quadrinhos feitos por Robert Crumb. 
Apesar de apreciar MAD e seus artistas
 geniais, sempre achei o humor americano
 morno de mais. Desde os
 tempos em que eu trabalhava na editora
 Noblet sonhava em montar minha primeira
 empresa, meu primeiro estúdio, tive a ideia
 de fazer uma versão da MAD, mais
 apimentada, mais maliciosa, mais latina,
 mais adulta. Mas, faltava tempo para bolar
 a tal revista e oportunidade para publicá-la.



SURGE A OPORTUNIDADE

CAPA: Wilson Borges (vulgo Carioca)



Nos anos 90 conheci o editor Fernando
 Mendes, da editora Ninja. O homem, de origem
 lusitana, um ex-jornaleiro, tinha a intenção
 de aumentar o número de seus produtos
 editoriais, visto que tinha uma única
 revista de artes marciais chamada Ninja. 
Falei sobre a ideia da Udigrudi e, de 
imediato, ele achou a coisa interessante. 
Porém, a revista só se materializou quando 
eu, Wanderley Felipe e Wilson Borges
 (vulgo Carioca, autor de Sapolino, 
personagem infantil), nos reunimos e 
decidimos tocar o projeto adiante, 
aproveitando a onda de total liberalismos
 que surgiram nas revistas de HQs 
nacionais cômicas dos anos 90. Chiclete 
com Banana estava bombando, assim
 decidimos seguir a mesma linha. 
Começamos a elaborar a primeira edição
 da Udigrudi. Eu escrevia a maior 
parte dos textos e todos nós desenhávamos,
 muitas vezes em parceria. 
 
A primeira edição lançada pela Ninja tinha 
o formato 20,5X 27,5 cms, 32 páginas de miolo
 em preto e branco. Para a primeira edição 
criamos: Alice, a Rainha da Chupetinha,
 Sací Gererê (de Wilson Borges) e
 Capitão Piroca, se não me falha a memória
 (infelizmente não tenho mais aqueles
 exemplares raros). Creio que lançamos 
umas três ou quatro edições 
pela editora Ninja.
O interessante é que na medida em que iam
 sendo publicadas as edições iam surgindo
 os colaboradores, como: Mauro, Décio
 Ramirez e Gilvan Lira...


Além da UDIGRUDI desenvolvíamos uma
 serie de outras revistas para a editora 
Ninja (quadrinhos eróticos, fotonovelas 
eróticas, Hqs de aventuras e até o clássico
 Pequeno Ninja, um fenômeno de venda, 
na época). Paralelamente atendíamos
 pelo estúdio Felipe-Fernandes (Fusão que 
fiz com Wanderley Felipe), a editora Onix, 
Nova Sampa e o Laboratório Catarinense, 
desenvolvendo o Almanaque Sadol (que
 era distribuído gratuitamente nas farmácias),
 rótulos e embalagens e campanhas 
publicitárias, como o da Abelhinha do xarope
 Melagrião, que foi veiculado, na época, nos
 programas da Xuxa, Simoni e Gugu. 
O ritmo de trabalho era pauleira.
Para dar conta do recado fomos agregando
 uma serie de colaboradores de peso, como: 
Salatiel de Holanda, Orlando Alves, 
Luciana (a única garota do grupo), Verde, 
Alexandre Dias, Alexandre Montandon
 e Jerônimo Souza.

O PEQUENO NINJA: MOTIVO
DE DISCÓRDIA


O Pequeno Ninja surgiu quando o editor
 Fernando Mendes, após assistir ao filme
 O Pequeno Samurai entrou em nossa sala 
(trabalhávamos em salas do mesmo 
andar) e propôs que desenvolvêssemos, 
em parceria, um ninja para crianças. 
De imediato, passei a desenvolver 
os roteiros e deixei a cargo do Wanderley
 Felipe (Vulgo Tulipa – apelido derivado 
do nome de uma personagem infantil 
criada por ele: A Taturana Tulipa), um
 especialista em desenhos infantis e 
excelente letrista, a responsabilidade
 para desenvolver a imagem
 do pequeno guerreiro. 
 
Pouco depois, a primeira edição, em cores, 
estava pronta. Os originais forma feitos
 no formato A-3, com overlays como guia 
de cores pintados a lápis coloridos. As cores
 eram aplicadas em retículas no fotolito. 
A ideia inicial era lançar 150 mil exemplares
 a um preço acessível (tal qual a editora 
Abril fazia com suas edições) e explorarmos,
 juntos, o merchandising. De repente, 
o editor decidiu rodar 250 mil exemplares
 na gráfica Brasiliana que, na época era 
comandada por Hercílio, atual
 proprietário da editora Escala.
Fiz um planejamento de marketing e
 convoquei o amigo, fotógrafo e produtor 
de filmes para comerciais da TV, André Lima 
(porque já desenvolvíamos, juntos, algumas
 peças publicitárias para o Laboratório
 Catarinense, através da NKS- uma house
 da referida empresa, que estava situada e 
operando em São Paulo, sob o comando 
do diretor de marketing e saudoso 
amigo Laerte Batista.
Quando o filme ficou pronto fomos até a extinta
 Rede Manchete, canal de TV que pertencia
 a editora carioca Bloch Editores, na
 qual já veiculávamos diversos comerciais
 do laboratório, que também patrocinava
 o programa infantil da Simoni. Conheci
 o pessoal do laboratório de Santa Catarina
 graças ao amigo João Carlos Pacheco, 
da Magno Publicidade.
VOLTANDO AO ASSUNTO...
Fizemos um acurado levantamento dos 
picos de audiência analisando os índices
 do IBOPE de diversos programas
 daquela emissora e, por fim, descobrimos 
o programa ideal para inserirmos o comercial
 do Pequeno Ninja: O filme Ninja Jiraya
 (produzido no Japão) era líder de audiência
 daquele horário. Não deu outra. Tínhamos
 o filme certo para o público alvo perfeito:
 a garotada. Fechamos um pacote com 
3 inserções do comercial de 15 segundos 
para o lançamento da revista do pequeno
 guerreiro da seguinte forma: uma antes
 do inicio do filme, outra no intervalo e outra
 no final. Resultado da venda final da primeira 
edição, auferida pela DINAP (Distribuidora Abril): 
125 mil exemplares, de uma tiragem de 
250 mil. Um fenômeno de venda, se considerarmos 
que o personagem era 
totalmente desconhecido.
Empolgado com os números auferidos
 o editor decidiu nos passar para trás –
 sem aviso prévio - e acabou contratando
 para continuar a serie o estúdio do João
 Costa, que a assumiu com competência, 
devo admitir. Jamais conheci esse cidadão 
que está isento de culpa, é óbvio...
 Na verdade, creio que produzimos e desenhamos
 apenas 4 ou 5 primeiras edições do Pequeno 
Ninja. Nos sentimos traídos, afinal trabalhávamos
 com a Ninja há um bom tempo, sem contrato,
 mas até então ambas as partes tinham
 respeitado os acordos verbais.
Tal fato gerou atrito entre nós e o referido
 editor. Rompemos com ele, de imediato, e
 fomos procurar nossos direitos
 no I.N.P.I (Instituto Nacional de 
Propriedade Industrial). Segundo o advogado
 que nos recebeu a causa estava ganha. 
Prometeu enviar uma notificação de 
busca e apreensão de todas as revistas, 
em todas as bancas do país, que seria
 realizada pela Polícia Federal. Assim que
 foi notificado o editor amarelou e decidiu 
nos contatar propondo comprar os direitos, 
em suaves prestações. Aceitamos a proposta,
 que financeiramente era interessante, e 
assim decidimos abrir mão do personagem, 
que eu sabia que não venderia eternamente 
bem, e abrimos nossa própria casa editora:
 Phenix Editorial Ltda.
Nos últimos anos Fernando Mendes, da Ninja, 
lançou o pequeno guerreiro numa versão 
no estilo mangá, que não vingou (também 
feita pelo Costa). Mesmo assim, esse editor 
ainda saiu no lucro: Vendeu os direitos autorais 
do Pequeno Ninja, por R$ 50 mil reais para
 a editora On Line. A negociata foi feita por
 João Costa, que continuou a fazer a serie 
para essa casa editorial, mas o gibi não 
alcançou o mesmo sucesso do passado.
 Atualmente, Fernando Mendes, após 
inúmeras experiências editorias catastróficas, 
 é dono da editora Merfer, selo pelo qual ele7
4 lança inúmeras revistas de caças palavras 
e palavras cruzadas, com relativo sucesso.



UDIGRUDI, PELA PHENIX

 
Nossos primeiros lançamentos, pelo 
selo Phenix, foram 4 revistas posters: 
Duas do Bruce Lee, Robocop e Back To The Future
 (De Volta para o Futuro, o filme). Esses posters
 que foram impressos, na base do crédito,
 na extinta Gráfica e Editora Parma, fizeram
 sucesso. Só conseguimos crédito porque a
 equipe econômica do governo Collor
 tinha saqueado nosso rico dinheirinho e, 
todos nós acordamos, do dia para a noite,
 duros, sem dinheiro (com alguns trocados no banco). 
Estávamos, todos, começando do zero, do nada.
 Todos, ricos e pobres, no mesmo barco
 (pelo menos a grande maioria). Saímos 
com esses produtos exatamente no 
momento em que o país vivia um 
drama financeiro: o confisco governamental 
e ainda enfrentava uma inflação galopante. 
Alguém me disse: “Tony, você está louco?
 Isto não é hora de lançar porra nenhuma.”
Sempre acreditei que é preciso ser oportunista. 
Se o mercado estava estagnado em virtude
 do confisco, se poucas editoras estavam 
ousando lançar seus produtos, aquele era
 o momento certo, ideal, para “metermos
 o pé na jaca” e entrarmos com tudo no 
mercado. Ou a gente alçava voo ou quebrava a
 cara... Demos sorte, pois foi justamente
 naquele momento que os cinemas da 
cidade estavam lançando o primeiro Robocop 
e as filas, para assistí-lo eram enormes.
 Fomos os primeiros a lançar o pôster do
 filme, graças a uma matéria que li, numa
 revista importada, do tremendo sucesso
 que o filme estava fazendo pelo mundo.
 Na sequência saiu o álbum de figurinhas
 da Multi Editora. Resultado: 
Vendas garantidas.

UM DISTRIBUIDOR SACANA

Rodamos inicialmente 30 mil posters de cada.
 Porém, o distribuidor nacional exclusivo 
(Fernando Chinaglia, do Rio de Janeiro), uma
 semana depois, nos mandou de volta 
15 mil exemplares de cada alegando que os
 jornaleiros não queriam expor nossos produtos.
 Aquilo foi desanimador. O filme estava
 bombando e os jornaleiros não queriam 
expor os produtos? Aquela história 
estava mal contada. Era preciso encontrar
 uma saída, caso contrário como
 iríamos pagar a gráfica?

DEUS EXISTE

Por sorte, recebemos o telefonema de um
 distribuidor do estado de Minas Gerais,
 que me disse: “Vocês fazem o Robocop? 
Aqui em Belo Horizonte, capital de Minas,
 só chegaram 200 posters. O pessoal quer,
 mas não tem. Os jornaleiros estão feito loucos
 atrás do produto editorial de vocês! 
Compro um lote, qual é o preço?”
Mal pude acreditar naquilo que acabará
 de ouvir. Ao menos a referida distribuidora
 servia para alguma coisa: divulgar o produto. 
O pessoal pegava nosso telefone nas
 revistas e ligava pedindo mais.
Desconfiado, por não saber como funcionava
 esse sistema que passei a chamar de 
“Distribuição Alternativa”, dei um desconto
] de 50% do preço de capa (o mesmo que
 dávamos para a Distribuidora Chinaglia), passei 
ao homem o número de uma das nossas 
contas bancárias e prometi enviar-lhe o 
pedido assim que o dinheiro entrasse 
na conta. Tudo correu perfeitamente. 
Na sequência, outros distribuidores 
regionais, que eu também desconhecia, 
 também nos ligaram e compraram 
diretamente. Em pouco tempo tínhamos
 uma enorme carteira de clientes 
diretos de sul a norte do país. Resumindo, 
assim que a primeira edição se esgotou,
 nossos clientes pediram para 
rodar mais e mais. Foi incrível.

PHENIX EDITORIAL

 
Graças ao sucesso das nossas revistas
 posters nós decidimos lançar quadrinhos.
 Inicialmente mandamos imprimir, em
 rotativa, para baratear custos, o Almanaque
 Aventura, Almanaque Super Ação e a Udigrudi, 
tudo em formatinho com 132 págs cada edição. 
Tiragem: 30 mil de cada.





A receptividade foi relativamente boa. 
Alcançamos, em média, 40% de venda. 
Nada mal para HQs nacionais. Na medida 
em que as edições eram publicadas surgiam
 cada vez mais novos amigos e colaboradores, 
como: Kal, Roberto Guedes (autor de Meteoro),
 Bilau, Seabra, Jotah, Brito (Papa Anjo),
 Notre, Rodrigues, Timont, Antonio Sussex,
 Verde, Cláudio Vieira, Jean Okada, 
Fernando Aoki, Jorge Barreto, 
Ricardo Giasseti, Ivan Reis, José Geraldo, 
Mauricio Notre, Marcelo Pavan, Oberlan, 
Cacure e outros bambas 
do traço e do humor. 
 
De repente, o time de colaboradores cresceu
 e a revista que tinha nascido com uma
 proposta puramente underground adquiriu
 estilo próprio, abrigando uma infinidade
 de traços e estilos diferenciados, mas 
sem perder sua temática principal: Drogas,
 sexo, sátiras e rock and roll. A convivência
 com os artista era ótima. Atendíamos 
atenciosamente todos aqueles que nos
 procuravam. Mantínhamos dois times: um
 para produzir super-heróis e outros para 
criar sátiras para a Udigrudi, que passou a 
ter duas edições mensais de 132 páginas.
 O difícil era fazer a turma produzir na
 pauleira, apesar dos bons preços que
 pagávamos, graças ao suporte financeiro
 que obtínhamos com as revistas posters 
de Tom Cruise, Van Damme, Madonna,
 Chuck Norris, Indiana Jones,
 New Kids On The Bloch etc.

ARTISTAS E PERSONAGENS
QUE SE DESTACARAM
DA SERIE UDIGRUDI


Hoje, analisando friamente, vejo que demos
 sorte e criamos, sem querer, uma equipe
 genial. Orlando Alves criou verdadeiras
 pérolas para a Udigrudi como: Cornão, 
o bravo (sátira de Conan, da Marvel), Goste – 
Do Outro Lado da Vida (Sátira do filme Ghost), 
Juca Bação etc. Salatiel de Holanda, fã da série 
de TV chamada A Ilha da Fantasia, estrelada 
por Ricardo Montalban, criou A Ilha da Baixaria.
Outro personagem que marcou época foi:
Papa Anjo, um balzaquiano tarado
por garotinhas, personagem criado
pelo cartunista Mário Brito, que anos
depois foi um dos sócios da revista
destinada ao público masculino
 chamada Brazil. 

 Curiosamente, o Salatiel tinha boas ideias, 
mas não escrevia as histórias previamente.
 Bolava o roteiro na mente e saia desenhando
 a sequência. Me entregava os originais,
 no formato A-4, sem balões ou textos definidos. 
Deixava apenas os espaços em branco
 para o letreramento. Ele me contava a ideia
 da história que ele tivera e então observando
 a sequência eu desenvolvia os textos.
 Fizemos muitas HQs dessa forma. 
Todos os letreramentos (de super-heróis e 
da Udigrudi) estavam a cargo de Wanderley 
Felipe, devido a sua experiência em letrerar
 Disney, para a editora Abril. Uma ou outra HQ 
vinha já letrerada. Em geral, desenhistas 
são péssimos letristas. Eu sou o maior
 exemplo, apesar do bengala brother 
Marcos Maldonado, um especialista no 
assunto, ter me dado umas dicas
 na década de 80... Rssss...



OUTRA COISA INTERESSANTE:
O Salata, um gozador nato, além de apelidar
toda a galera vivia colocando a 
caricatura da turma em suas HQs.
Bastava observar bem os fundos.

 
Mauro – Este excelente profissional da arte 
e do texto também criou e desenhou obras 
primas que satirizavam super-heróis, como:
 O Quarteto Fantástico (Quarteto Fanático),
 The Flash (The Flechi), Os Simpsons 
(Os Simpisão) , Fantastic Man (Fantastric Trem)
 e criou Alex, o garotinho precoce etc.
Alice, a rainha da chupetinha, Capitão Piroca
 (feito em parceria com o W. Felipe), Alf,
 O Etesão, O Surfista Afrescalhado, Luke e 
Lokko, Asterísco, e as sátiras de Batman e 
Catwoman, Vic e Tô (um hippie milhardário
 criado por Cláudio de Oliveira) foram 
HQs que marcaram época e proporcionaram
 boas gargalhadas nos leitores da serie.


Numa parceria com o desenhista, ilustrador e 
especialista em desenhos animados, 
Cláudio de Oliveira, criei Gina, a aeromoça
 sexy que ficava tarada assim que a
 aeronave na qual trabalhava atingia
 determinada altura.
Enfim, a revista UDIGRUDI virou, em 
pouco tempo, sinônimo de bom humor 
para adultos e acabou inspirando muita
 gente boa como: Marcio Baraldi, Bira 
Dantas e outros cartunistas bons de
 traço e da arte do humor. “Fazer chorar
 é fácil. Fazer rir é uma arte”, dizia um antigo
 e desconhecido filósofo de boteco.
Nos últimos anos elaborei uma nova 
serie denominada UDIGRUDI – Reserva
 Especial, em cores, no formato 20,5 x 27,5 cms. 
Mas a atual situação mercadológica das
 revistas e livros em geral tem dificultado 
a negociação desse projeto que visa
 resgatar os bons e grandes momentos 
de bom humor e reunir diversos artistas. 
“A esperança é a última que morre”, dizia
 o sábio antes de ser enforcado. Portanto,
 vou continuar tentando, prometo. Rssss...

See you later, cowboys!
Happy New Year for all!
Be well! 
 
Por Tony Fernandes\Redação\Estúdios Pégasus –
Uma Divisão de Arte e Criação da Pégasus Publicações Ltda –
Copyright 2015 – Todos os Direitos Reservados.
OBS: As imagens contidas aqui têm o caráter 
exclusivamente ilustrativo e seus direitos
 autorais pertencem a seus autores ou 
representantes legais.

IMPORTANTE: Só foi possível elaborar
 essa matéria especial graças a colaboração 
do cartunista mais rock and roll do Brasil, 
Marcio Baraldi, que me enviou pelo correio
 algumas edições da revista UDIGRUDI
 (que ele tinha em duplicatas), pois eu
 não tinha mais um exemplar se quer, 
e os antigos fotolitos se deterioraram 
com o tempo. Thanks, Marcião!


A SEGUIR... RELEMBRE 
ALGUNS
BONS MOMENTOS 
DA UDIGRUDI...






 





























































































Capa que saiu esquisita, por erro gráfico