quinta-feira, 18 de novembro de 2010

BILLY THE KID EDIÇÃO 13, JÁ SAIU!


BILLY THE KID, UMA NOVA OPÇÃO
PARA OS APRECIDORES
DOS BONS GIBIS DE WESTERN!



BILLY THE KID #13 JÁ ESTÁ A VENDA!

Mais uma edição da revista Billy The Kid e Outras Histórias,
acaba de sair do prelo. Prova cabal do tremendo esforço que
tem feito Arthur Filho, editor
do selo Opção 2, do Sul do país, que heroicamente foi o
pioneiro em resgatar um título de western,
totalmente produzido no Brasil, num mercado que há mais
de 50 anos só via cavalgar Tex, o ranger criado
na Itália pelos Bonellis, nas bancas brasileiras. Depois do
 lançamento de Billy The Kid, surgiu Apache -
pela editora As Américas-, Chet, do escriba Wilde Portella -
pelo selo Ink and Blood Comics,
também do Sul e até a poderosa Panini entrou no samba ao
 lançar em nossas bancas o fantástico Jonah
 Rex, para os apreciadores do gênero.



Coincidência ou não, o fato é que só depois da iniciativa do
 Arthur é que os demais editores decidiram seguir pela mesma trilha.
Uma revista independente,
 Made in Brazil, chegar a sua décima terceira edição?
Sem dúvida, trata-se de um ato heróico.
Parabéns a todos os envolvidos neste projeto democrático,
onde surgem artístas profissionais, que há muito tempo não
encontravam espaço para publicar seus materiais de
westerns e que também dá oportunidade aos iniciantes na arte das HQs,
para poderem desenvolver seus personagens e
todo o seu talento .
Muita gente boa tem se revelado bons de traço
e de roteiro ao lado de nomes consagrados
das histórias em quadrinhos
brasileiras.
Abaixo, Jymmy Olho de Vidro, uma
criação de Airton Marcelino.
Vale a penas conferir!

Nesta sensacional edição desta revista de faroeste, que está
fazendo história, tem uma capa espetacular do eclético Airton
Marcelino. Logo de início você vai poder curtir uma HQ
diferente do mesmo autor da capa, chamada: Jimmy Olho de
Vidro; a arte do editor Arthur – num flash que resume a
vida do lendário Billy The Kid; Posada de Las Flores, de
Antonio Carlos Moreira.

Abaixo, No One, um novo personagem criado por
Antonio Carlos Moreira, um dos assíduos colaboradores
da Billy The Kid.

Chet, que foi um grande sucesso de público e de crítica nos tempos
da editora Vecchi, também faz parte desta edição de BTK. 

Mais um capítulo dos Irmãos Sanders também está
nesta imperdível edição.
UM CONVIDADO PRA LÁ DE ESPECIAL
ESTA EM BTK ED. # 13!

 Chet – criação imortal dos irmãos Watson e
Wilde Portella -, com idéia de Arthur Filho e roteiro e arte de
Fabio Chibilski – também editor da Ink and Blood Comics-;
 O Forte das Sombras, com texto e arte do Arthur; Correio do Billy,
onde podemos ler as cartas enviadas pelos leitores; mais um
episódio dos Irmãos Sanders, por Sandro Marcelo e Milson Marins,
do estúdio Campana; uma espetacular matéria sobre o lendário Edmundo
Rodrigues e seus trabalhos em HQs de westerns, feita por Worney
Almeida de Souza, um grande batalhador e divulgador das HQs
tupiniquins; Lobo da Noite, uma HQ resgatada do antigo acervo
do Edmundo Rodrigues – um dos mais prolíficos desenhistas nacionais
 e, por fim, Vingança Tardia, com desenhos e história também do editor.

E TEM MAIS: Como se não bastasse as diversas HQs
citadas acima, a edição #13 de Billy The Kid, desta feita
 fecha com chave de ouro e brinda seus leitores com uma
pintura espetacular do polivalente Antonio Carlos Moreira,
escritor, desenhista e artista plástico.

Vale a pena conferir!

LANÇAMENTO: Billy The Kid & Outras Histórias – Ed. # 13

FORMATO: 13,5 x 20,5 cms

EDIÇÃO: Com 48 págs de miolo (P&B) + Capas em cores em papel couchê de qualidade.

PREÇO DE CAPA: R$ 7,00

COMO ADQUIRIR?

Você pode comprar Billy The Kid & Outras Histórias Ed. #13
escrevendo diretamente para o e-mail do editor: arthur.goju@bol.com.br


IMPORTANTE: Billy The Kid & Outras Histórias – a revista nacional de
 faroeste que está fazendo história – está aberta a todos aqueles
que desejam publicar HQs de westerns e não tem como
viabilizar a coisa. Os interessados deverão entrar em
 contato, via e-mail, com o editor Arthur Filho.
Participe! Esta pode ser a sua grande chance!
Let’s go, cowboy! O que você está esperando?


segunda-feira, 15 de novembro de 2010

ENTREVISTA COM FERNANDO IKOMA


FERNANDO IKOMA:
UM DOS GRANDES ÍCONES
DAS HQs NACIONAIS!



A entrevista a seguir começou a ser
 realizada uma semana antes das
 eleições presidenciais de 2010, que, 
no segundo turno culminou com a
 eleição da primeira presidenta do 
Brasil, Dilma Rousset –, que venceu
 outro pretendente ao cargo: José Serra .
 Este delicioso bate-papo se
prolongou até duas semanas depois 
do segundo turno eleitoral e veio
 totalmente fragmentada, aos
 poucos, visto que o meu entrevistado
 além de ter dificuldades para 
digitar as respostas – que segundo ele,
 foram digitadas com apenas dois dedos -, 
também dedicou total atenção a dar
 seu depoimento de forma minúsciosa, sem 
abster-se da verdade e respeitando a ordem 
cronológica dos fatos.

Editar esta entrevista também foi 
uma novela, um verdadeiro quebra-cabeça.
 Principalmente, devido a falta absoluta 
de tempo. Porém, por fim, depois de
 dois dias trabalhando em cima
 desta edição, afinal pude postar 
esta (no dia 15/11/2010) que é, 
sem dúvida, uma das mais 
esperadas entrevistas pelos fãs 
e amigos deste grande mestre das
 HQs nacionais, que há muito
vem militando nas artes plásticas, 
com sucesso, e que tanto contribui 
com sua excelente produção
 diferenciada dos demais autores 
contemporâneos nos
 tempos da editora Edrel.

Mas, tudo isto, valeu a pena... pois
 sua obra é imortal e entrou para 
os anais da historia das HQs tupiniquins.
A seguir... leia o bate-papo – via e-mail,
 graças ao bengala-friend da 
confraria dos Bengalas Boys
 Club, Sir Lancelott -, que precedeu 
esta polêmica e reveladora 
entrevista. Confira...


Tony: É um imenso prazer poder entrevistá-lo para 
este Blog e poder conhecer um pouco mais 
sobre você, mestre Ikoma, uma pessoa que, 
na época, inovou o mercado com suas 
fantásticas criações, com temáticas que
 faziam a diferença dos demais textos.
Ikoma: Olá, Tony, tudo bem?
 É um prazer conhecê-lo também!
Principalmente porque ambos começamos
 com o Minami Keizi e partilhamos da 
amizade do Lancellott e ainda porque atuamos
 um bom tempo na mesma área que são as HQs.
Nesses últimos meses, tenho tentado 
responder a várias entrevistas e tudo tem
 ficado pela metade , porque não é fácil
lembrar-me de tudo , ainda mais que já 
se passaram mais de 30 anos.
Tenho cometido alguns deslizes de datas e
 cronologia, alguma coisa tem ficado na
 frente da outra, mas coisas sem muita importância...
Tony: Sem problema... de vez em quando
 também me dá uns brancos... acho que é 
coisa da idade... (Rsss...). Eu e você, mestre,
fizemos muita coisa no setor editorial e fica 
difícil, realmente, a gente lembrar de tudo 
cronológicamente... isto é normal... 
preparado? Então vamos lá...
Ikoma: Vamos...



COM FERNANDO IKOMA, LENDA
VIVA DAS HQs NACIONAIS!

Tony: Ainda me lembro muito bem... eu era
 garoto quando pela primeira vez vi uma revista 
da extinta e saudosa editora Edrel, na casa de 
um amigo. Esta lendária casa editorial tinha
 uma gama imensa de títulos dos mais
 diversos gêneros, inclusive mangás. 
Muitos anos depois - na década de 70 -, 
entrei para o ramo, via M&C Editores, 
dos queridos Minami e Cunha, e então tive 
a grata satisfação de saber que o Minami era
 um dos ex-sócios da Edrel. 
Como você o conheceu?
 Como era o seu relacionamento, com o mestre 
Minami, escritor, desenhista e editor?
Naquela época, eu jamais poderia imaginar 
a importância da Edrel ou do Minami - o cara
 que me deu a primeira oportunidade -, 
e de todo o time de excelentes profissionais 
que compunham aquela casa. 
Você fez parte deste time e deve ter 
muitas histórias para contar... 
Quantos desenhistas formavam a
grande equipe naquela época?
Ikoma: Quando eu cheguei na Edrel, os grupos 
já estavam formados . Tanto o Seto como o 
Fukue e o Fabiano já eram veteranos lá . 
Eu entrei por acaso, mas como eu também
 sou descendente de japoneses , deu- se a 
impressão que comecei junto com a turma
 do mangá, que aliás não manjo nada.
 Na minha região, que era Alta Sorocabana, 
tinha muitos nisseis, mas eram todos "fajutos", 
porque ninguém conversava em japonês e 
os nossos gibis eram os tradicionais da época .
 Acho que ninguém da minha família 
chegou a ver um mangá.
Tony: O interessante é que todos associam seu
 nome aos mangás tupinquins... mas, agora a
 coisa foi esclarecida. “Nisseis fajutos”? 
Japoneses do Paraguai? (Rsss...). Esta foi ótima... 
Grande mestre Fernando Ikoma, 
aonde você nasceu?
Dia, mês e ano?

Ikoma: Nasci em Martinópolis, SP. Perto de
 Presidente Prudente, no dia 22 de janeiro de1945. 
Mas eu não acredito... penso que ainda sou um 
garotão e gosto muito de esportes ( pratico alguns
 deles) e a s vezes sonho que estou jogando 
num estádio lotado, vestindo a camisa do 
Borússia Dortmund . Por que Borússia? 
Nem eu sei! Não tenho a mínima afinidade 
com o futebol alemão . 
Se fosse o Barça ou o Milan... até vai.
Não decifrei o meu sonho ainda.


Tony: Mais um caipira-cabeça no mundo 
das HQs... (Rsss...) isto é maravilhoso... 
Quer dizer que há um craque do futebol 
adormecido aí dentro, mestre? (Rsss...). 
Os espíritas diriam que esses antigos
 registros mentais dos seus sonhos são 
resquícios de sua última “encadernação” (Rsss...).
 Digo, encarnação. Sou adepto da filosofia espírita. 
Pra mim, Alan Kardec era o cara... perdemos
 um craque, mas ganhamos um gênio das HQs... 
muito bom... mas, pergunto:
 Como e quando surgiu o 
interesse por quadrinhos?

Ikoma: O interesse por quadrinhos
 veio através da leitura.
 Nada mais do que isso. 
Queria ter muita grana para comprar gibis,
 mas como a gente era durango, ficava muito feliz
 quando conseguia trocar alguns, em frente ao 
cinema nas matines. O interesse para fazer quadrinhos 
não foi espontâneo... um camarada que punha fé em mim... 
ele insistia o tempo todo para que eu fizesse gibis. 
Coisa que eu acreditava que jamais faria, porque
eu é que não botava fé em mim.

Tony: Este cidadão, que botava fé em você, 
merece uma medalha. Ele tinha visão... 
graças a ele pudemos conhecer o seu trabalho...
 Deus salve esta boa alma... (Rsss...). Quem eram
 seus ídolos ou revistas, da sua época de
 infância e adolescência?
Ikoma: Meus ídolos eram aqueles que faziam 
as histórias que eu e meus irmãos curtíamos: 
Mandrake / Fantasma / Nick Holmes /Jim Gordon /
 Capitão Marvel / Recruta Zero/ Os Sobrinhos do
 Capitão / Pinduca / Big Ben Bolt, etc. 
Mas o desenho que mais me marcou foi o 
rosto e o jeitinho elegante da Branca de Neve 
e os Sete Anões. Não sei quem desenhou, 
mas posso dizer que foi a minha primeira 
grande paixão. Dormia com o gibi debaixo 
do meu travesseiro e senti uma dor de corno 
bem grande quando alguém afanou a revista.
 Nunca mais vi essa edição e como quase sempre 
acontece, a nossa fantasia aumenta a qualidade
 do desenho e a beleza da Branquinha de Neve.
Claro que já superei tudo isso. 
Só não acredito como eu poderia ser tão ingênuo
 e idiota aos 13 anos! ... Meus filhos, quando tinham
sete ou oito anos já iam dormir debaixo
 das cobertas das vizinhas.
Tony: Pois é... nossa geração era babaca, esta 
é que é a verdade... (Rsss...). A turma hoje
 nasce antenada, ligeira... olha, também curti 
muito os gibis citados por você, mesmo
 pertencendo eu a uma geração depois da sua...
Voces – a galera da Edrel -, foram os precursores 
do mangá no Brasil, apesar de você ter afirmado 
que unca jamais pensou em fazer mangás. 
Mesmo assim, gente como você, Paulo Fukue, 
Cláudio Seto e outros, fizeram um trabalho
 super importante na época, ao meu ver. 
Porém, referindo-me especificamente 
aos mangás...
Naquela época remota (anos 60\70) 
a garotada – todos nós -, 
já era apaixonada por Nacional Kid, Ultraman, 
Patrulha Fantasma, Speedy Race e outras poucas 
séries japonesas que passavam a TV. Mas, 
a gente nem sonhava em ver este estilo tipicamente 
nipônico nas bancas. Quando os primeiros mangás
 tupiniquins surgiram - feitos pelos "nossos
 japoneses", ou seja, pelos descendentes dos 
orientais-, foi um orgasmo total.
 Naquela época essas inovadoras publicações
 vendiam bem? Tem idéia das tiragens e 
vendas alcançadas por esses produtos
 vanguardistas da época?

Ikoma: Quanto aos mangás, já expliquei que 
sempre estive por fora. Só fui ver alguma coisa 
e de montão na Edrel. Mas como não sei ler japonês,
 nem me interessei, mas o pessoal lá curtia
 bastante. ... Talvez, por isso, meus personagens
 e histórias eram diferentes do que o pessoal 
produzia lá. E talvez por isso mesmo o 
Minami tenha se apegado a mim, pois 
eu já vinha liberto das raízes orientais e no fundo 
acho que era isso que ele também procurava ,
 pois o seu personagem Tupãzinho
não tinha nada à ver com mangá.
Guardei algumas reportagens elogiosas de 
Minami a meu respeito e guardo isso com
 muito orgulho, pois partindo dele, dono e 
editor da Edrel, teve muito mais peso do que 
muitas reportagens que se sucederam 
no decorrer dos anos. 
Quando lancei a Sibelle, A Espiã de Vênus,
 ela foi matéria da página dupla no caderno 
B do Jornal do Brasil. 
O jornal falou sobre a minha Espiã de Vênus na 
página central, dupla, do Jornal do Brasil. 
Isso foi bom para o personagem, foi bom para
 mim e foi bom também para a Edrel, 
que aproveitando o gancho fez uma matéria
sobre a matéria da reportagem.

Fikom - Personagem criado por Fernando Ikoma para a
editora Edrel, que marcou época,
Tinha um texto criativo, que diferenciava o
personagem dos demais títulos daquela casa
editorial paulista. 
Tony: Você tem razão, se analisarmos
 bem seu trabalho e o do Minami 
nada tinham a ver com mangás... 
muita gente associam voces ao estilo mangá, 
mas pensando bem os “mangáseiros” eram 
os outros...(Rsss...) quanto a Espiã de Venus, 
comprei um exemplar. Era um ótimo material. 
Sempre gostei do seu estilo.
 Era corrido, mas muito bom, pra variar... 
Lembro-me do famoso Curso Comics... cheguei até
 a comprá-lo. Quem bolou aquilo,
foi o Cláudio Seto?


Ikoma: O Curso Comics foi assim... os 2 ou3 
primeiros fascículos foram feitos pelo Seto e 
pelo Fabiano. Não sei porque carga d'água o
 Minami passou o bastão para mim e à partir 
do 4º (5º?) e até o 12º foi totalmente feito por
 mim e longe da EDREL, já que eu 
morava em Curitiba. 
Se você tiver o curso completo vai notar que
 houve uma mudança de estilo.
 A única coisa que tenho do curso é o catálogo
 a cores , com várias ilustrações que fiz na 
época , com muita pressa , e que se fosse 
hoje teria caprichado um pouquinho mais.
Também não tenho o livro A Técnica Universal 
das Histórias em Quadrinhos e praticamente
 nenhuma revista que escrevi.
O que considero uma falta grave, pois quando 
meu filho nº 4, fez 16 anos, ele veio me 
perguntar se era verdade que eu já tinha feito HQ.
 Respondi que sim e ele saiu meio que duvidando.
O meu contacto com o Lancellott e com tanta 
gente boa que acabei conhecendo nesses
 últimos meses só aconteceu porque 
comecei a rastrear meus personagens 
e tentar localizá-los na WEB. Na verdade
 eu gostaria de saber quem está com meus 
originais e se eles ainda existem. 
E também estou procurando as revistas 
com as histórias avulsas de sátiras e ficção
 que andei escrevendo, intercalando
com as séries de Fikom, Satã, 
Play-boy, Paquera, etc.

Tony: Acho que não comprei o curso inteiro, 
só as primeiras edições... pensei que ele tinha 
sido feito só pelo Seto. Taí uma coisa que eu e
 talvez muitos desconheciam... o Seto começou 
o curso e você é que acabou assumindo a coisa...
 interessante... o livro A Técnica Universal das
 HQs acabei perdendo, na época. Sir Lancellott, 
meu bengala-friend? Este é gente fina, 
um grande pesquisador, assim como 
Dom Alavrez, e o cara fez o maior compêndio 
de super-heróis brasileiros, que já vi... 
Mas, de volta a vaca-fria... Fora as revistas
 de piadas, que eu achava geniais, os meus 
heróis preferidos daquela época, além de
 Fikom, eram: Pabeyma e Super Heros, 
do Paulo Fukue, que anos mais tarde vim a
 conhecer através do amigo Paulo Hamasaki.
 De quem foi a idéia de lançar
 heróis brasileiros?

Ikoma: Não sei se já existia algum personagem 
nacional na Edrel , mas desde que comecei, 
só foi com personagens que eu mesmo criei.
 Mas que poderiam ser criados em qualquer 
país, pois acredito que eles tenham uma 
linguagem universal. O Fikom foi noticiado 
pelo Correio da Manhã de Porto Alegre 
como o único personagem original brasileiro.
 Talvez por causa do autor ter nascido 
aqui na região, mas ele poderia ser ambientado
em qualquer lugar. Não acha?

Tony: Concordo, plenamente... 
ele fala a linguagem 
universal... sou defensor disto. 
Pra mim uma boa HQ deve ter
 linguagem universal... 
mas, tem uma galera que insiste em fazer 
personagens com fundo de pano regionalista, 
isto nunca funcionou. Além do mais, quando
 o pano de fundo é Brasil, agrada meia dúzia 
de leitores, o resto torce o nariz pra coisa...
 por outro lado tem uns babacas que dizem
 que sou americanizado por ter criado um 
super-herói chamado Fantatsicman e por
 assinar Tony e por estar fazendo Apache 
(uma publicação mensal da ed. As Américas), 
uma HQ de western, é mole? Quer dizer
 que uma banda nacional, não pode fazer 
rock and roll? Isto é babaquice. 
Quanto ao “Tony” – 
só pra esclarecer pros panacas- , isto
vem de família e não é americanizado 
porra nenhuma. 
Era assim que a nona – minha avó, por parte 
de mãe, que era italiana-, me chamava.
 Mas, vamos em frente... Quando li Fikom,
 pela primeira vez, notei que o personagem
 era maravilhoso e diferenciado dos demais
 produtos daquela casa editorial. Pirei,
 literalmente. Era uma proposta totalmente
 nova de HQ. Aqueles argumentos eram 
fantásticos... Como surgiu a ideia de criar 
este incrível personagem? Em que ano saiu a
 primeira edição e quando a série acabou?

Ikoma: O Fikom foi criado há 40 anos atrás. 
Na época eu havia escrito uns curtas de ficção 
e era muito ligado nesse tema, tanto é que 
mesmo após o Fikom e a Espiã de Vênus 
escrevi muitas histórias de ficção. 
Não de ETs, mas de teorias que
 sempre encucaram a gente. 
Por exemplo: "O Homem sem Sombra."
 Fui o 1º a escrever uma história nesse gênero
 a 40 anos atrás. Se hoje eu reeditasse essa
 história me chamariam de plagiador.
 " A moça da Janela da Frente " foi um título 
interessante em 1970, mas agora,
”O Vizinho do Lado”, o”Vizinho da Frente”, etc.
 Tem de montão por aí atualmente. 
As histórias de ETs que escrevi, acho que 
foram 3, mas não aparecia nenhum homenzinho
 verde, não. A 1ª história - veja que estou 
falando de 40 anos atrás-, por isso se 
alguma coisa soar meio familiar 
ou errado, dê um desconto.

Tony: Sem problema... gozado, também gosto
 muito de ficção-científica... Lincoln 
Ishida, ele tambem fazia
parte do cast da editora, né?
Ikoma: Olhe, não me lembro do Lincoln. 
Pode até ter sido meu companheiro, mas 
como já falei, em 40 anos a gente esquece 
alguma coisa. Talvez ele até fosse meu 
contemporâneo, só que eu morava em
 Curitiba e muita coisa que rolava na Edrel, aí em 
S. Paulo, eu não ficava sabendo.

Tony: Entendi, mestre... (Rsss...). Tupãzinho e
 as Gatinhas, criações do fantástico Minami Keize,
 também eram geniais. A garotada se matava
 lendo as Gatinhas, que eram super sexys, pra época. 
Não há dúvida de que os produtos
 criados por voces eram arrojados e 
inovadores. Garotas e Piadas, também era 
um dos títulos de voces? Qtos anos durou 
este verdadeiro "Boom" das
 HQs na editora Edrel?

Ikoma: Olha, isso não posso responder com 
certeza. Pois conforme já lhe expliquei, peguei 
o bonde andando e desci antes do ponto final.
 Então, é claro... perdi o começo e o final do filme.
Mas sei quem conhece o filme de cabo a rabo 
e até de detalhes surpreendentes. Li o livro 
do Gonçalo JR. “A Guerra dos Gibís nº 2” e o 
que eu pensava que era um livro de efemérides,
 era na verdade um documento
 histórico brilhantemente
contada pelo Gonçalo.
Vale a pena ler! São 500 páginas de pura emoção. 
Li de uma tacada só e posso dizer que
 através dele conheci um bocado do íntimo, 
da índole, das fraquezas e das ambições
 (ou ganâncias) de cada elemento que
 fazia parte da EDREL e também do universo 
de HQ daquela época. Como também fiz parte
 daquele conjunto (mas fora do redemoinho)
 senti em vários momentos a adrenalina subir
 por causa de muitas injustiças que
 fizeram com o Minami.

Tony: Sério? Não li este livro e vou procurá-lo, 
com certeza... muita gente me disse que 
sacanearam muito o mestre Miami. 
Zoaram um cara que jamais fez mal à ninguém. 
Ao contrário, ele ajudou muita gente, inclusive eu
 e você... Mas, como se diz por aí “fdps e 
Coca-Cola a gente encontra em qualquer 
parte do mundo”... (Rsss...). Em todos os
 ramos tem gente boa e ruim, o que salva
 é que tem mais gente boa do que cretinos.
 Anos depois, conheci o lendário editor
 Marcílio e o excelente desenhista Fabiano – 
este também foi um dos meus colaboradores
 no meu estúdio -, que também fizeram parte 
da editora. É verdade, que naquela época, a
 Edrel era maior do que a Abril?
 Ou isto é pura lenda?
 A Edrel tinha parque gráfico, 
caminhões, etc?




Lembro-me da última vez em que lá estive,
 ainda na sede antiga.
 Fiz, como de costume, pegava o último 
ônibus noturno em Curitiba e chegava
 em São Paulo de manhã. 
A editora estava vazia e eu fui 
entrando até chegar numa sala 
onde estavam reunidos o Marcílio, o Minami e
 o Jinky. Não sabia que eles tinham dispensado
 o pessoal para fazer aquela reunião que deveria 
ser importante para eles. Nem me toquei e como o
 Minami me falou para sentar, fiquei por lá ouvindo
 a conversa. O que deu para notar é que cada 
um estava puxando a brasa para a sua sardinha 
e o que mais se ouvia era: “...se não fosse eu “,
 ...ou ... “se não fosse a minha gráfica”... etc.
 Numa visível fogueira de vaidades. 
Claro que se o papo era esse, cada um estava
 se vangloriando do sucesso da EDREL.
Quando cheguei em Curitiba, falei para
 minha noiva que a Edrel estava se dissolvendo
 e foi isso o que aconteceu mais tarde. 
O que me deixou revoltado quando li o livro,
 foi que o Minami, o idealizador de tudo
 ficara com a parte podre da maçã.

Tony: Pelo que me consta, quem comandava o 
parque gráfico era o Marcilio... Jinky, bem
 lembrado, este nome... conheci ele anos depois... 
tornou-se o bamba dos fotolitos lazer em
 São Paulo... Olha, quando o Fabiano – desenhista
 que fez muitos trabalhos para a Ed. Luzeiro, como:
 a famosa série de catecismo com a marca
 “Carreira” e milhares de outras séries, edições
 de piadas e, inclusive, Juvêncio, o herói do
 sertão, etc -, passou a freqüentar meu estúdio
 ele era um cara completamente abalado
 psicológicamente e vivia afogando as 
maguas na cachaça. Por mais que eu 
bronqueasse com ele por causa da “mardita”, 
não tinha jeito. Ele foi um grande profissional,
 pintava como ninguém, mas era, infelizmente, 
um dependente alcoólico terrível.
 Mas, tinha um bom coração, era uma boa pessoa. 
Chegava a ser ingênuo. Como eu tinha ouvido
 muitas lendas sobre Edrel e sobre o
 Marcílio, um dia decidi perguntar sobre 
essas lendas. Ao tocar no nome do Marcílio
 o Fabiano se transtornou. Começou a xingar
 e disse que odiava o cara que tinha sacaneado
 ele e acabado com a vida dele.
Revelou que ele – Fabiano - fora convidado
 para participar da sociedade - da Edrel -, 
quando ela estava indo pro saco, literalmente,
 e que quando a editora fechou todos os
 demais sócios sumiram – inclusive o Minami.
 Quando a bucha estourou, ainda segundo 
o Fabiano, a coisa explodiu no rabo dele. 
Me contou, também, que os oficiais de
 justiça foram bater na porta da casa dele, na
 Vila Maria, para retirar seus móveis alegando
 que tudo ia para leilão para pagar as dividas
 deixadas por seus ex-sócios. 
O Fabiano bravejava e chorava de raiva. 
Fiquei boquiaberto de ver e ouvir tudo aquilo, 
de gente que eu nem conhecia. 
Nunca disse isto a ninguém, mas fiquei 
impressionado de ouvir aquele relato. 
Daí, sempre fiquei com um pé atrás em relação
 ao tal Marcílio. Achei o cara um tremendo
 mau-caráter, o capeta, e até cheguei a 
questionar sobre o Miami, juro. 
Muitos anos depois, conheci o Marcílio 
pessoalmente. Era um senhor calvo, gordo, 
de meia idade, simpático, bom papo que, 
segundo me disseram - pós-Edrel-, ficara rico
 e que tinha se estabelecido numa cidadezinha
 do interior paulista. Quando o conheci estava
 quebrado e de volta a esta cidade. 
Ele não pareceu ser o monstro que eu imaginava. 
Até ficamos amigos e cheguei até produzir
HQs eróticas para ele – MED editora – coleção New Eros. 
Pagou direitinho. Enfim, pessoalmente não
 tenho nada contra ele. O homem ainda vive 
em São Paulo, tem uma editora e anda com 
sérios problemas de saúde. 
Seus tempos áureos já passaram. Um dia, 
perguntei pra ele sobre o Fabiano... 
ele enalteceu o cara, como um grande artista que,
 infelizmente, era alcoólatra.
 De fato, tempos depois o amigo Fabi acabou
 morrendo de convulsão alcoólica.
 E eu, até hoje, fico matutando aqui sobre aquela
 irada narrativa, sobre o Marcilio, Jinky e Minami...
 será que eles sumiram mesmo, e deixaram 
o pobre Fabiano na mão? Eterno mistério... 
Hmmm... desculpe-me, divaguei... me
 alonguei demais... o entrevistado aqui é
 você... Na sua opinião, o que levou a editora 
Edrel a quebrar ou a fechar?

Ikoma: Acho que com a resposta anterior já 
respondi esta. Mas afirmo, a bondade e o coração 
do Minami foi uma das causas. Se ele tivesse
 jogado duro acho que a história seria outra.


Tony: Quando surgiu no Paraná a editora Grafipar,
 com uma série de quadrinhos eróticos 
assinados pelo Seto, pensei:
 "Uau! O cara está firme ainda e, com certeza,
 vai tentar fazer desta editora uma nova Edrel”. 
Tive o prazer de conhecê-lo e trabalhar 
também para a Grafipar, fazendo "freelas",
 pois era funcionário da ed. Noblet, na época. 
De fato, em pouco tempo a Grafipar 
cresceu e era comum fazermos reuniões “mis”
 com desenhistas de todo o país lá no Bairro
 da Santa Felicidade em Curitiba, um paraíso 
gastronômico. Só faltou você por lá. O time
 reunido pelo Seto só tinha fera, como: 
Franco, Watson, Mozart Couto, Shima, 
Colin, e outros bambas. Não me lembro bem...
 mas, me parece que você não produziu
 nada para eles, correto? Por quê?


Ikoma: Tenho boas recordações da Grafipar
 porque eles editavam o jornal Correio de 
Notícias e eles fizeram algumas reportagens 
de exposições minhas. Reuni-me várias vezes 
com O Seto na Grafipar e também com e
 El Kathib de quem me simpatizei bastante.
Sempre fiquei de colaborar, mas eu não 
queria seguir uma linha somente erótica. 
Eu já estava nas artes plásticas e esse novo
 público era meio puritano e me aconselhava
 a ficar só na pintura. Claro que eu fazia o 
que eu queria e pensei várias vezes em voltar
 a escrever. Mas a arte e as aulas estavam
 tomando muito meu tempo. Mesmo assim 
escrevi uma única história que foi publicada
 na revista “FÊMEAS” e se intitulava 
" Olívia a Última Virgem". Curiosamente só
 esses dias passeando na Internet é que vi 
essa revista à venda e vi o meu título na capa.
 Eu achava que a historia tinha
 saído na Eros ou na Peteca.

Tony: Agora deu pra entender... você não quis 
misturar as estações e ter que dar explicações 
aos preconceituosos... mas, por fim, não resistiu 
(Rsss...) e acabou publicando na revista
 “Fêmeas”, isto eu não sabia... perdi 
este raríssimo exemplar que trouxe a primeira 
e única HQ erótica feita por você. Leram isto
 colecionadores? Esta raridade deve valer 
uma nota preta, hoje. Todos nós sabemos 
das dificuldades de se viver de HQs no país
 e no mundo. Aqui, a coisa é um pouco pior, 
principalmente para quem constitui família
 e quer levar uma vida normal.... Por isso, 
ao longo dos anos, o que vi
foram muitos exôdos... 
gente largando as editoras e correndo para
 a publicidade, área onde a arte é mais bem
 remunerada – umas 20 vezes mais.
 Isto também ocorreu com você?
Ikoma: Para mim ocorreu o contrário...
Tony: Deve estar brincando...

Ikoma: Fui um publicitário, um layout man e 
um diretor de arte que pirou e fui literalmente 
pastar de porta em porta das editoras durante
 mais ou menos 1 ano e ganhar uns 50 ou 60 “nãos”.
 Em media eu recebia de 5 a 10 “nãos” de cada editora.
Tony: Dá pra explicar melhor?

Ikoma: Explico: A única área que nunca me 
ofereceu resistência, onde sempre tive as portas
 abertas e uma ascensão meteórica, altos salários
 e convites, sem parar, foi na publicidade.
 E se foi uma coisa que jurei nunca mais 
por os pés foi numa agência de publicidade, 
e mantenho essa palavra até hoje.


Tony: Coisa de maluco... acho que ninguém 
podia imaginar que sua carreira começou numa 
agência e, de repente, virou para 
as editoras... continue...

Ikoma: Aqui, em Curitiba, trabalhei na Exclan e 
com 17 anos fiz um folder para a refrigeração
 Paraná (Prosdócimo), que era um livreto de 
umas vinte páginas totalmente ilustrada com
 muitas famílias e carinhas felizes que perdurou
 por mais de 40 anos como o manual de instruções
 das geladeiras Prosdócimo. 
Aos 19 anos tornei-me diretor de arte da equipe 
de propaganda daquela que era a maior 
agência do Paraná e detinha as 30 maiores contas
 do Estado. Dia e noite criava campanhas,
 logotipos e storyboards que se tornaram
 sucesso, mas me deixavam meio paranóico.
 Na verdade essa foi a 1ª etapa da paranóia.
 Acho que a mente tem um limite para a criação
 e nessa agência acho que tive no limiar desse limite. 
Eu era um garoto, de família pobre, e agora 
estava ganhando como um superstar. 
Era um prodígio na publicidade, mas estava 
a cada dia mais infeliz!
Tony: Caraca...


Ikoma: Só Freud explica! Como é que eu poderia 
estar pensando em largar aquela mina de ouro? 
Até então eu nunca tivera um salário digno e 
agora que podia amarrar o burro na sombra...
Quando pedi demissão, ninguém acreditou!
Tony: Nem eu to acreditando, mestre...
Ikoma: Meu patrão deu-me mais um dos 
inúmeros aumentos que ele me dera durante 
a ascenção da agência.
Mas eu estava irredutível.
O chefe do pessoal levou-me num canto e 
mostrou-me a contabilidade da agência
 e tentando mostrar a
 loucura que eu estava fazendo.


Tony: O cara foi descente...

Ikoma: Ele abriu a folha de pagamento e me 
mostrou um dado confidencial que soa
 inacreditável e até hoje parece mentira. 
Mas, que afirmo que é verdadeira.
 A agência tinha 31 funcionários, incluindo
 contatos, redatores secretárias, desenhistas
 e até pessoas de alto nível como Norton
 Macedo que se tornaria deputado estadual
 com uma expressiva votação, tempos depois.
O meu salário era igual a soma
 dos outros trintas reunidos.


Tony: Ô loco...
Ikoma: Só aí tive a dimensão do que eu 
representava para a agência. 
Mas eu estava doente e precisava ir embora.


Tony: Doente?

Ikoma: É. Eu já tinha um bom pé de meia e deixei 
a maior parte com meus pais e meus irmãos
 e fui embora para o Rio de Janeiro sem
 mesmo saber o porque.


Tony: Surtou? Piração total, meu bengala-friend?

Ikoma: Eu já tinha estado no Rio, tempos atrás,
 com uma turma de amigos e tinha gostado
 e talvez por isso achei que lá eu poderia ser feliz. 
Pelo contrário. Passei uma solidão lá é só não
 voltei porque sou um pouco orgulhoso e 
não queria dar a impressão de que quebrei 
a cara e que estava arrependido.
Continuei por lá, morando no Hotel Martinique,
na rua Sá Ferreira posto 6...

Tony: Conheço esta rua... perdão, continue...

Ikoma: ... e a cada dia comia num lugar diferente. 
Meus amigos de conversa eram os porteiros e 
ascensoristas do hotel. Não sei quanto tempo 
morei no hotel, mas estava chato continuar lá.
Então mudei para o Leblon...

Tony: Grande bairro, classe “A”...

Ikoma: ... e fui morar com uma mãe e filha 
potiguar que aceitavam hóspedes. Os hóspedes 
eram: eu num quarto e o filho de um diplomata no outro.
 Nós dois bancávamos aquele enorme apartamento 
em troca de almoço e roupa lavada. 
Mesmo assim saia mais barato 
do que morar no hotel.
 Anos depois, fiquei sabendo que tinha sido 
vizinho de prédio do grande Carlos 
Drumond de Andrade.

Tony: Que bacana...

Ikoma: Um dia o dinheiro começou acabar. 
Eu nunca liguei para dinheiro, mas a falta dele 
me deixa um bocado preocupado. Nunca deixo
 ele acabar totalmente e antes que isso 
aconteça eu já começo a me virar.
 Minha cabeça já estava no lugar e resolvi 
procurar uma agência de publicidade.
Fui na Mauro Salles Interamericana 
de Publicidade...

Tony: Uma grande agência... trabalhei pra uma 
subsidiária dela aqui em São Paulo...

Ikoma: ...e mostrei alguns trabalhos. Incrível, mas
 fui aceito na hora e já comecei num cargo bom 
e com o salário praticamente igual ao que
 eu tinha abandonado. Lá também tive uma
 escalada acentuada, mas pirei de vez mesmo ! 
O meu local de trabalho ficava na rua da Passagem,
 em Botafogo, e era o caminho obrigatório
 de todos os ônibus que iam da zona 
sul para a zona norte e vice versa.


Tony: Conheço... aquilo é uma zoeira total...


Ikoma: Como o barulho era ensurdecedor a 
agência era blindada com vidros de polegada
 que praticamente substituiam as janelas da
 agência e isolavam um bocado o barulho de fora. 
Mas o inferno estava lá dentro. Eu era o único
 não fumante e as vezes a fumaça dos cigarros
 deixava tudo acinzentado lá dentro. 
A Mauro Salles era muito maior que a Equipe –
 nome da outra agência -, e só naquele setor
 acho que tinha umas quarenta pessoas.
 E todos fumavam.


Tony: Deve ter sido um sufoco, 
literalmente... (Rsss...).

Ikoma: Naquele tempo fumar era uma coisa
 bonita e era raro um cara que não fumava. 
Por isso no 3º ou 4º mês não consegui acordar. 
Estava com uma dor de cabeça incrível e o 
quarto começou a girar e a virar uma montanha Russa.
 Parecia um filme de pavor, tipo o Exorcista.

Tony: Minha nossa...

Ikoma: Essa agonia durou três dias e três noites. 
Não sei como as mulheres não notaram 
que eu não saí do quarto nem para almoçar. 
Estava tão mal que nem para 
esboçar um grito eu tinha forças. 
Meus braços estavam imobilizados e minhas
 pernas duras como pedra. 
Achei que iria morrer ali mesmo.


Tony: Cacilda... jamais pensei que a fumaça de
 cigarros poderia provocar tanto transtorno
 a um não-fumante...

Ikoma: Sorte que nem fiz xixi na cama, porque
 no quarto dia uma das mulheres entrou lá e 
vendo o meu estado saiu apavorada e foi buscar 
socorro. A 1ª pessoa que vi no quarto foi um padre. 
Pensei que ele veio me dar extrema unção, 
mas ele veio junto com um médico que me examinou. 
Uma semana depois eu já estava de pé. 
Segundo o médico, eu tive uma sinusite
 fulminante ocasionado pela inalação de
 muita fumaça de cigarro. Parece que sinusite
 é uma coisa banal, mas no meu caso 
foi quase mortal.

Tony: Eu também já tive sinusite, é fria... fiquei 
três meses de cama e fui probido de pitar... 
a merda é que ainda continuo fumando...

Ikoma: Então, o que aconteceu foi que decidi, de vez,
 a abandonar a publicidade e só a idéia de entrar
 naquela agência para acertar as 
contas já me dava calafrios.


Tony: Imagino...


Ikoma: Quando cheguei lá, pronto para dar 
umas boas respostas se me perguntassem
 por que faltei tanto, notei que alguma coisa 
tinha mudado lá. Lá também tinha havido uma 
revolução e alguma coisa estava acontecendo.
 No meu caso seria para melhor,
se eu aceitasse.
O diretor que me contratou não estava mais lá.
Não sei se tinha sido promovido para outra filial
ou se havia sido demitido. A pessoa que falava 
comigo naquele momento era um cara mais 
importante, mas nem sei quem era.
Contou-me que a agência estava em 
reformulação e alguns ajustes estavam sendo 
feitos e como eles estavam satisfeitos com 
os trabalhos que eu tinha feito para umas 
multinacionais e viam um potencial em mim
 queriam me dar aquele cargo que ficara vago.


Tony: Que convite maravilhoso... mas, e daí? Topou?


Ikoma: Olha, o cara falou pensando que eu
 fosse me exultar de alegria e ficar contente
com o cargo. Eu era um menino ainda e eles
 estavam me dando uma posição importante
 dentro de uma das grandes agências do 
Brasil. Eu não hesitei um momento sequer
 e disse que fui lá para acertar as contas.
 O cara era classudo e bem comedido e 
até fingiu que não ouviu bem e mostrou-me
 uma série de vantagens, que eu sem 
titubear recusei. Fui lá com a idéia fixa 
de publicidade, nunca mais!!! Então ele tinha
 umas cartas na manga e achou que aquilo
 resolveria o problema. Me disse:
" Diga o seu preço e não se acanhe" . 
Então, nos fitamos por
 um momento e a situação
 exigia que eu falasse alguma coisa...



Nota do entrevistador: aqui interrompemos a
 entrevista que seria retomada dias depois.
 Daí o mestre Ikoma me informou que talvez
 faltasse alguns detalhes importantes sobre
 a temática abordada acima. Ia pensar a 
respeito e retomaria o esclarecimento.



CONTINUANDO A ENTREVISTA, DIAS DEPOIS...

Tony: Algo a acrescentar sobre aquela 
história incrível da agência que você 
recusou ser recontratado, my dear bengala-brother?


Ikoma: Ainda vou pensar melhor
 naquele assunto... posso?


Tony: Ok... então vamos em frente...
Há quanto tempo você não faz HQs?

Ikoma: Não faço Hqs desde a época em que 
sumi do mapa. Ou seja, praticamente 40 anos!


Tony: O que tem feito esses anos todos, mestre? 
Dá aulas e pinta quadros?

Ikoma: Tenho feito o que lhe disse... 
artes plásticas. 
Conheci o céu e o inferno inúmeras vezes! 
Casei e descasei duas vezes! 
E estou no 3º casamento. 
Toda vez que descasei fugi do inferno.

Tony: Também já fugi deste tipo de inferno
particular uma porrada de vez... (Rsss...). 
Nem sempre o que reluz é ouro...


Ikoma: O plano econômico 
da Zélia acabou comigo!
 As demandas com separações também 
me atingiram em cheio, nas finanças.
Ganhei muito dinheiro e perdi muito dinheiro.
Fui recordista numa série de coisas! 
Já tive estabilidade financeira que
 parecia que nada mais me atingiria.
Tony: Já vivi esta ilusão, mas a grana acaba...

Ikoma: Na minha 2ª separação 
eu tinha dez imóveis. 
Alguns em regiões nobres. Mas devido a má 
condução da minha defesa
 perdi quase tudo de bandeja. 
Se não tivesse me defendido perderia somente 
o que a requerente estava solicitando, ou seja, 
bem menos da metade do meu patrimônio.


Tony: Mulher é que nem furacão, 
mestre... chegam
 com fúria e quando se vão deixam a gente na
 merda, sem nada ... alguém já me disse que
 elas não gostam de homens, mas, sim, de: 
jóias, ouro, diamantes, cartão de crédito, 
cheque em branco... (rsss...). Este amigo
que vive apregoando isto, ainda completa: 
“Quem gosta de homem é viado”. (Rsss...). 
E o pior, é que eu acho 
que ele tem razão... (Rsss...). 
Demorou, mas caiu a ficha (Rsss...). 
Fazer o quê? A gente gosta da fruta...
 quero morrer com este defeito... (Rsss...). 
Nada contra as fêmeas, mas que tem muita
 mulher sacana, tem... usam os filhos
 para saquear o marido... entretanto, também
 tem muita mulher gente fina. O duro é achar...

Ikoma: Foi um golpe duro de assimilar. 
Fiquei revoltado e com muita desconfiança de tudo.
 Mas isso já passou. Como sempre, otimista 
e perseverante continuo minha luta.
Tony: Ainda bem... todo trauma é 
necessário, sabia?
 Afinal, só nos tornamos homens experientes, 
após fazermos inúmeras cagadas... (Rsss...). 
Quem não erra não pode jamais ser um homem 
experiente. Um sonho?

Ikoma: Um sonho? O de todo Brasileiro... ganhar uma 
“bolada” de repente e não se preocupar 
nunca mais. E aí sim realizar todos os sonhos
 que são muitos. Mas nada fúteis. Penso muito
 em caridade e nunca beneficiar quem não merece. 
Mesmo que essa pessoa seja próxima de nós. 
Me dou bem com todo mundo, mas consigo
 distinguir toda a fauna à minha volta. 
Até aqueles que se mimetizam com perfeição.
 Você sabe, temos ao nosso lado desde 
o cachorrinho fiel à hiena ou ratazana disfarçada
 de cordeirinho ou coelhinho.


Tony: Bota nego enrustido ao nosso redor, 
my old-bengala friend... talvez, por isso, a 
Bíblia diz: “Orai e vigiai”... Meu avô – por parte
 de pai-, que era descendente de espanhol,
 com ascendência moura, dizia: “Você 
deve tomar cuidado é com os amigos, 
os inimigos não chegam perto e não 
entram em sua casa”. A traição vem sempre
 do amigo... isto é bíblico. O velho sábio 
estava certo... (Rsss..). 
Alguma frustração em relação a arte ou a vida?

Ikoma: Muitas... mas também são muitas as 
alegrias e as realizações que nos marcaram 
e muito nossa vidas. Tenho 7 filhos maravilhosos, 
de 3 casamentos que se dão melhor entre
 si, do que se fossem de uma só união. 
Isso é um caso raríssimo. Minha atual esposa 
é a melhor amiga de minhas filhas e vice-versa. 
Se dão tão bem que muitas vezes
 estão unidas até comigo.


Tony: Planos para o futuro?

Ikoma: Claro que um camarada, que não se acertou 
em nada até os 50 anos, fica desesperado e quase 
não espera mais nada da vida. 
Claro que meu pai deve ter ficado desanimado,
muitas e muitas vezes.
Mas o segredo é continuar acreditando.
 Continuei lutando
e acabei me ajeitando, graças a Deus.
Por isso meus planos e meus sonhos
 ( velhos planos ou novos sonhos )vão continuar 
vivos e acontecendo enquanto eu existir.


Tony: Beleza, grande guru... sonhar é preciso...
 Fernando Ikoma por Fernando Ikoma?


Ikoma: Eu já falei tanto de mim, que essa 
pergunta acho que já foi respondida...


Tony: Deus? Qual é sua concepção Dele?

Ikoma: Toda vez que olho para o espaço
e tento imaginar o inimaginável... toda vez
 que testemunho o nascimento de uma 
criança, de sua evolução, dia a dia, e de 
como foi concebido e de como vai ser
 seu crescimento, uniforme, (unhas, cabelos,
 mãos, cérebro), todo seu sistema funcionado
 (rins , bexiga, coração, visão , pensamento
 e individualidade...), fico maravilhado e 
profundamente agradecido por ele ter
 me dado a vida e a oportunidade
 de conhecer esse mundo
maravilhoso.

Tony: Legal... também reverencio o “Chefe”,
lá em cima... e estar vivo é o maior de
 todos os milagres...


Ikoma: Contesto um pouco, alguns tipos de
 crenças e religiões, mas dentro de mim, 
nunca tive dúvidas de que um ser supremo
 e bondoso está, não só regendo 
minha vida, como todo o Universo.

Tony: Seitas e religiões, são um mal
 necessário, eu acho... 
Isto foi lindo meu bengala-friend... também
 não acredito nestas crenças e no pseudo-deus
 que foi criado pelo homem, para catequizar 
o povo, para justificar as mazelas, para 
proteger os poderosos senhores do sistema
 e para enriquecer os pseudos-profetas 
do “Chefe”... mas é inegável de que o inominável,
 o princípio inteligente existe e é ele que
 nos mantém ativos e rege todo o cosmos. 
Fazemos parte de um todo que é uma
 verdadeira maravilha da Natureza, a grande mãe. 
Aliás, acho que os patriarcas hebraicos
 mataram as antigas deusas com aquela lenda
 teológica sobre a traição de Eva, no Paraíso,
 para poder implantar o Deus-macho.
 Nas culturas antigas o Deus sempre foi fêmea,
 é óbvio... mas, isto fica pra outra vez...
 estudei muito teologia... Pergunta: Vamos falar
 sobre dois escribas da pesada e bastante
 produtivos para o mundo das HQs... Quero saber, 
o que você tem a dizer sobre os 
bengalas-boys: Gedeone Malagola 
e R. F. Lucchetti?

Ikoma: Conheço eles como mitos. 
Como uma legenda das HQs. Ouvi falar muito
 deles, mas tive pouco contacto, ou quase
 nenhum, pois na época que estive atrás
 de editoras, conheci outros desenhistas
 e quando finalmente comecei a publicar, 
não saia mais de Curitiba.

Nota do entrevistador:
Nesta altura campeonato, após repensar sobre 
questões anteriores, que já haviam sido
 respondidas, o mestre Fernando Ikoma, decidiu 
retomar... ou melhor, completar, a primeira
 pergunta que fiz à ele, no começo da 
entrevista: “Como ele conheceu Minami
 Keizi?”. Óbviamente, ele concluiu que
 havia faltado algum detalhe curioso, 
como de fato, você poderá constatar a seguir. 
Confira...

Ikoma: Antes de voltar a contar como conheci o
 Minami, vou falar um pouco da 
minha luta e dos “nãos”
que recebi nas editoras, Tony.


Tony: Ok. Fique a vontade, honorável
Bengala-friend...

Ikoma: Muitos deles foram sinceros e gentis
 comigo, muitas vezes. Porque não sei
 quantas vezes, bati nas mesmas editoras. 
Mas tinha um cara, que era um verdadeiro ogro
e só desse camarada guardei mágoa.



Tony: Um ogro, que te magoou? (Rsss...). 
Qual era o nome dele?

Ikoma: Não posso falar o nome dele, porque
 já não falei para o Gonçalo e como tenho um 
imã que atrai os processos mais esdrúxulos,
 tenho medo até de abrir a boca. 
Mas, o cara era razoavelmente conhecido no
 meio das histórias em quadrinhos.

Tony: Conta sobre o fulano, vou fiçar “ligado”,
 pra ver se consigo captar quem é o cretino, 
ou quem foi ele... manda bala...


Ikoma: O cara era desenhista e também uma 
espécie de porteiro da editora. Nada entrava 
sem passar pelas mãos dele e o sacana escondia 
e não mostrava os trabalhos da turma para o
 editor... isto é, aqueles que poderiam
 incomodá-lo ou fazer sombra para ele. 
Isto eu só descobri na última
 vez que fui falar com ele.

Tony: Em síntese, a criatura era um FDP, é? 
Temia os concorrentes... já vi muito disso... 
sempre tem uma peste dessas por aí, ainda...


Ikoma: E não foi só por isso. Ele era asqueroso
 e seu olhar era intimador e acho que
 ele se esforçava para deixar
 os outros desencorajados.
Muita gente boa e talentosa deve ter desistido 
por causa dele. Eu era um tímido, mas um 
tímido teimoso e razoavelmente audacioso. 
Eu sempre fui um campeão da teimosia.
 Minha teimosia suplantava a minha timidez
 e me levava muitas vezes além dos 
meus limites. ... mas eu estava 
desistindo também...



Tony: Conheci, ao longa da minha carreira, pelo
 menos uma dúzia desse tipo, mestre... vai ser
 difícil desvendar quem era ou é o personagem 
cruel... mas, vamos em frente,
 cowboy! Mas, suspeito de um...


Ikoma: Nesses últimos anos as HQs perdeu 
muita gente boa empreendedora, como 
o Minami, o Seto e tanta gente mais . 
O que é lamentável. O sacana parece 
que também foi para o outro lado.

Tony: Hmmm... “subiu o morro”... maravilha... 
um pentelho a menos no mundo editorial... (Rsss...)


Ikoma: Mas, ao contrário dessa gente boa que
 deve estar colhendo os frutos do que 
semearam por aqui, esse, acho que foi ser o
 porteiro de um lugar bem mais abaixo.
 Lá ele deve estar levando uma chibatada de 
cada cara que passa pela porteira. 
E como morre muita gente ruim também, 
deve ser um saco de pancadas e 
deve estar recebendo o que merece.


Tony: (Rssss...). Com certeza... genial... (Rsss...)


Ikoma: Nas artes plásticas, também 
conheci caras como ele e outros até pior ainda. 
Nas HQs, fora esse cara, depois que 
comecei a publicar normalmente , 
só fiz amigos.

Tony: Corno, também, é que nem Coca-Cola, 
mestre... tem em tudo quanto é canto... 
mas, o que salva é que há muita gente honesta, leal...


Ikoma: Nas artes plásticas, tem cara que te 
seca a vida inteira. E pior, leva para o lado pessoal,
 sem nunca ter te visto e sem nunca ter
 trocado uma palavra contigo. 
No meu caso, eu tinha duas coisas que eles combatiam. 
Eu vinha do mundo das HQs (que para eles 
uma arte inferior). E o meu maior pecado. ... 
Era autodidata.
Tony: São invejosos e mesquinhos esses acadêmicos... ser autodidata é dom, coisa divina... pelo visto, no mundo das artes plásticas há mais preconceito do que no das HQs... que merda...


Ikoma: Hoje tenho dois filhos formados pela 
Escola de Música e Belas Aartes do Paraná.
 Mas hoje o pessoal
não liga muito para isso.
Eu teria muito o que contar das artes plásticas,
mas voltemos as HQs...
Quando vi a sacanagem desse camarada -
 já contei como foi a história para o Gonçalo Jr. 
e para o Guia dos Quadrinhos e não quero
 ser repetitivo-, resolvi que não
 faria mais quadrinhos.
E para reforçar essa decisão, nesse mesmo 
dia, tomei uma decisão que iria mudar minha vida.
Antes mesmo de pegar o ônibus para 
Curitiba, eu já tinha resolvido que
seria vendedor de sapatos.


Tony: Vendedor de sapatos? 
Putz... sem querer desmerecer esta classe 
batalhadora e digna, mas, você, com 
este baita talento? Ninguém poderia imaginar 
uma coisa dessa... (Rsss...)


Ikoma: Foi assim, o tráfego intenso numa rua 
de São Paulo, não estava me deixando atravessá-la.
 Então quando olhei para o lado vi aquela oferta.
 Três pares de sapatos por apenas 10 reais. 
E eram muito bonitos.
 Poderia revendê-los em Curitiba e ganhar
 um bom dinheiro. Foi o que fiz. 
Comprei 6 pares e seguindo a nossa tradição
 para o comércio – desenhistas, em geral,
 são péssimos negociantes-, quebrei a cara. 
Só vendi um par e nunca o recebi. 
Os outros cinco ficaram encalhados.
Quando entrei na loja, naquele dia, eu tive 
que esperar um pouco porque o dono estava
 atendendo um cliente e vendendo-lhe um 
sapato que era novidade para a época. 
Até comprei um para meu uso pessoal.
 O sapato tinha um salto embutido e deixava
a gente 5 cm mais alto!



Tony: Devia ser o famoso salto carrapeto, 
usamos muito ele... era moda: calça boca-de-sino,
 cabelões e o tal salto... como éramos ridículos... (Rsss...).
 Mas, o que é que o tal salto, tem a ver com 
sua incrível história no mundo das HQs, mestre?


Ikoma: Notei isso no japonezinho que estava 
comprando o sapato e dava uma diferença
 acentuada na altura. Só que em determinado
 momento, o tal japonezinho dirigiu-se a mim... 
e para minha surpresa perguntou-me, 
num tom de afirmação:
 "Você desenha, né? "
Essa história também já contei e estou 
sintetizando ela um pouco.
" Te vi por aí !" – disse o japonezinho.


Tony: Quem era o tal japorunguinha, bengala-friend?


Ikoma: Foi assim que conheci o Minami.
 Ele me falou que era dono da editora Edrel, 
que eu nunca tinha ouvido falar e quando me 
citou uns nomes, comecei a ligar os fatos. 
Eu já estivera atrás de uma editora de japoneses,
 mas nunca tinha visto um japonês lá. 
Até pensei que eles ficavam desenhando num
 outro departamento e não tinham 
contacto com o público. 
Acho que o Minami me viu numa dessas
 ocasiões, porque ele tinha livre trânsito 
em todas as editoras, na época.
Confundi a Taika , como sendo ela, a editora 
dos japoneses. Conhecia uma japinha de 
nome “Taika” e meu irmão em japonês se chama Taká.
Então eu nunca estivera na Edrel e pela
 primeira vez, estava falando diretamente 
com o dono de uma editora.
O Minami perguntou-me se poderia ficar
 com o meu pacote que depois 
ele daria uma olhadinha nele.
Sem problemas. O pacote já tinha ficado 
um mês nas mãos do camarada que 
citei e nem me lembro qual era a 
editora que ele trabalhava.
Quando cheguei em Curitiba tentei vender
 os sapatos e comecei também a jogar xadrez.
 Um dia, saindo do clube de xadrez, fiz 
o que normalmente eu fazia. Entrei na banca 
do Zé para espiar as revistas, que naquela
 época não eram plastificadas.
Eu já havia reparado que a Edrel existia e 
tinha umas revistas em circulação. Só que desta vez vi uma coisa que eu conhecia e me chamou a atenção. Havia um gibi novo na praça. Era o Fikom !
Tony: Que grata surpresa...
Ikoma: Nem acreditei. Estava com planos de ir 
para São Paulo nos próximos dias, para ve
r o que o Minami tinha achado dos meus trabalhos... 
e naquela banca já estava a resposta. 
Corri para casa para mostrar a revista aos meus pais e comemorar a ocasião,
Naquele tempo ninguém tinha telefone e 
as surpresas aconteciam assim mesmo.... 
"de surpresa mesmo!"
E foi muito surpreendente, também, quando
 recebi uma carta dele... junto a ela havia um 
cheque e um aviso de que eu não iria 
mais trabalhar para a Edrel .
 E ele ainda me chamou de traidor.


Tony: Ué!? O homem publicou Fikom, te pagou,
 e te deu o cartão vermelho? E ainda, por
 cima, te chamou de traidor? Por quê?

Ikoma: Alguém buzinou para ele, mentirosamente, 
que eu tinha me bandeado para a editora 
La Selva e ele se queimou com isso.


Tony: Outro, FDP? Caramba...


Ikoma: Fiquei com a cara no chão. 
Mas resignado, me conformei.
Tony: Se fosse comigo, eu catava o maluco e...
Ikoma: Nunca foi do meu feitio me
 justificar das injustiças, por isso, 
como sempre, me calei.
Decidi começar tudo de novo...



Tony: Que história fantástica, intrépido
guru das HQs... valeu...



Nota: Dias depois, recebi outro e-mail que 
registrava mais alguns detalhes que o 
mestre Ikoma, na certa, havia se esquecido,
 ainda sobre Fikom e Minami Keizi. Confira...



Ikoma: Continuando...
Quando consegui publicar o Fikom achei que 
as portas finalmente se abriram. 
Mas era uma porta giratória que se fechou em seguida.
Vou contar aqui, uma bobagem...
Naquela época, tinha um morador das
 redondezas de casa , que era um bruxo 
de verdade e eu tinha medo dele - 
qualquer um teria.
Numa ocasião, ele andava jururú, porque 
as gurias tinham nojo de dançar com ele,
 pois sua mão ( a que segurava a mão 
da menina ) era cheia de verrugas 
e ele andava chateado com isso.


Tony: O cara era asqueroso, mesmo, né?

Ikoma: Um dia, depois de ir num centro, 
jogou uma mandinga em cima de mim. 
Chamou-me no muro e dizendo que queria
 ver a minha mão, agarrou-se à ela com 
força e balbucionou um monte de 
palavras estranhas. 
No outro dia ele estava com a mão limpinha. 
E eu com todas as verrugas dele.


Tony: Esse tal bruxo não era fraco não... ô loco...


Ikoma: Não sei como é possível isso! 
Até hoje não acredito como 
foi possível ele ter feito essa transferência... 
esse mesmo cara um dia secou a plantação
 de um conhecido nosso.
 As verrugas levei uns dois anos , queimando
 com ácido para me livrar delas.


Tony: Cacilda... isto dá um bom roteiro de HQ de terror... (Rsss...)


Ikoma: Numa outra ocasião ele foi 
protagonista de um
caso macabro que envolveu outras pessoas, 
com final trágico. Mas, esta história não vem ao caso...
No dia que eu estava correndo para casa com 
a revista do Fikom na mão fui interceptado por 
ele, que queria de todo jeito ver
 o que eu estava carregando.
Eu não queria contar o que era, mas estava
 tão eufórico que acabei contando. 
A reação dele, foi digna de um grande invejoso. 
Me fulminou com os olhos. 
Foi incrível, lançou um olhar de ódio.
Nada de me parabenizar!



Tony: O tal bruxo queria era te azarar, mestre... 
que sacana...

Ikoma: Então ele pôs a revista na testa e 
começou com a mesma sessão de voduísmo 
das verrugas. Tirei também com raiva a 
revista das mãos dele e só aí fui mostrar
 para a minha família que ficou contente. 
Eu também estava contente, mas
 com uma sensação estranha...


Tony: Acho que vou acabar escrevendo 
uma HQ baseada neste seu relato 
sui generis... (Rsss..), se me permitir...

Ikoma: Quando o Minami me dispensou, 
achei que a causa tinha sido o bruxo , 
pois foi uma coisa estranha mesmo.


Tony: Deve ter sido mera coincidência, eu acho...
 ninguém pode ser tão poderoso assim... acho que o cara te
impressionou... só isso.


Ikoma: Depois de um tempo, voltei à São Paulo.
 Estava à procura de um editor. 
Nem sabia por onde começar... só sabia 
que não deveria visitar a Edrel.
Da mesma forma que ele – o Minami -,
 achou que eu tinha pêgo o exemplar do Fikom 
para me bandear para a La Selva, eu
 também achei que a revista tinha sido 
um fiasco – em vendas -, e ele estava 
dando uma desculpa esfarrapada para 
se livrar de mim. 
Nessas horas a gente pensa até 
o imponderável.
Conhecendo depois o Minami melhor e ele a
 mim, descobrimos que nenhum de nós 
seria capaz dessas baixezas.
Tony: Que bom, eu tudo, por fim, foi
 esclarecido...
Ikoma: Dessa vez fui para São Paulo com dois pacotes.
 Uma de histórias e a outra de encalhe dos sapatos. 
Achei que se o cara fosse camarada e que 
poderia trocar para mim por outra coisa.
Levei também um exemplar do Fikom, 
mas tinha uma dúvida.
Mostrar ou não mostrar? Era uma faca de dois 
gumes , pois se me ajudava, por ter um 
exemplar editado... por outro lado , poderia 
ser o meu enterro, pois estava com medo
 mesmo, que as vendas dele 
tivessem sido um fiasco.


Tony: Que situação, hein?

Ikoma: A primeira coisa que fiz, depois de 
tomar o café na rodoviária, foi a de trocar 
os sapatos. Como o volume do pacote ia
 me atrapalhar, pensei em revendê-lo
 pela metade do preço.
Quando entrei na lojinha, fiquei sem jeito, 
pois a mesma cena estava se repetindo.
 Lá estava o mesmo dono. 
Atendendo o mesmo japonezinho.
Pensei em sair da loja ,mas eles já tinham
 me visto e ia ficar mais chato ainda.
Fiquei na minha. Não devia nada
 à ninguém, mas não queria que
o Minami me visse pedindo arrego para o
 dono da loja. Senti que seria um pouco humilhante. 
Eu fiquei um tempo meio cabisbaixo, mas 
quando levantei os olhos ele estava 
olhando para mim e sem cerimônia perguntou:
" Trouxe coisa nova, aí?"
Fiquei surpreso, mas respondi que sim.
 Depois perguntou-me se eu queria almoçar.
Entendi que aquele era um convite para
 “fumarmos o cachimbo da paz”.
 Pois era até meio cedo para o almoço. 
Aceitei o convite, mas antes o cara aceitou de
 volta os sapatos e devolveu-me o dinheiro na íntegra.
 Claro que o Minami tinha moral lá na loja
 e se não fosse a presença dele, 
acho que teria sido bem mais 
difícil a devolução.

Tony: (Rsss...) Se você não me contasse esta
 histótia toda eu jamais acreditaria nela.
 É muito esquisita... um bruxo, uma loja de 
sapato, um vendedor e um editor... 
é, parece que o destino trançou os pauzinhos
 pra você entrar no ramo, mestre e bengala-friend...
 que coisa incrível. Estava escrito nas estrelas... (Rsss...). 
Dá pra sentir como o Minami foi importante 
para nós... sem ele eu e você não existiríamos 
como autores de HQs. 
Foi um grande homem, apesar da baixa estatura.


Ikoma: Aquele foi o meu retorno à Edrel. 
O interessante é que nem durante o tal almoço 
e nem depois, jamais tocamos no assunto.
 Nunca falamos sobre o episódio... 
e mesmo que nos encontremos um dia, diante
 de Deus, sei que jamais um vai inquirir o 
outro sobre aquele mal-entendido. 
É como se fosse uma verdade 
que não precisa ser dita.
É uma pena, mesmo, que pessoas como
 ele e o Seto tenham nos 
deixado tão precocemente.



Tony: Sem dúvida. Fora as HQs o Minami escreveu
 milhares de livros usando pseudônimos.
 Fazer o quê, meu bengala-friend?Quando 
o “Chefe” chama, não adianta se esconder
 de baixo da cama... (Rsss...). Partiram pra 
uma melhor... a missão deles, nesta 
orbe estava completada, com certeza...



Nota: Um ou dois dias depois, eu acho, recebi 
outro e-mail do mestre Ikoma com um adendo
 sobre a questão que ele achou que ficou 
no ar sobre a agência de publicidade, da
 sua doença e do que o levou a atitudes 
tão radicais, como chutar boas propostas pro ar.
 Confira na íntegra o e-mail que recebi...



Ikoma: Sabe, Tony, também o motivo de eu dar 
uma respirada para responder as suas perguntas?
 Estou tentando encontrar algumas respostas
 que dei em outra entrevistas.
Não quero passar por mentiroso e 
nem quero cair em contradição
porque esse longo tempo, longe do tema 
abordado, pode trair nossa memória.
Veja bem, nesse momento estou me
 lembrando do que falei sobre o tempo da 
publicidade e me esqueci de contar 
uma coisa muito importante.
Sabe uma das coisas que mais me 
estressava e me machucava na publicidade? 
Era quando abortavam a sua criação mais genial!
Naquele tempo não era como é hoje. 
A agência não tinha autonomia e na
 verdade quem mandava mesmo era o freguês!
Não adiantava nada o seu chefe e a turma
 toda achar que foi uma tacada genial, 
porque lá na frente um camarada obtuso
não achava nada.
Só para ter uma idéia, um industrial queria
que a agência criasse uma marca para ele.
E a gente criava.
Quebrava a cabeça para fazer um logotipo
marcante e de visualização e memorização
rápida. As vezes, a gente alcançava 
tudo isso com dois ou três traços
 inovadores e quando chegava no veredito
 final que era dado pelo empresário, 
o cara já tinha idealizado um também
e era aquele que tinha que ser. 
A idéia genial dele era dos anos 1800 mais ou
menos. O"emblema" tinha que ter uns
 ramos de café ou oliveira , umas engrenagens
 que simbolizava trabalho e
 quem sabe , até a fotografia dele.
Era de doer mesmo!
Vai somando tudo isso , mais a pressão de
tempo e o acúmulo de trabalho. ...
A gente pira mesmo!
Outra coisa que eu gostaria de
 dizer em relação à entrevista
(referente a 40 anos atrás), é que sempre
 aparece um cara ou outro contando outra história.
Aqui em Curitiba a gente debate muito com
amigos, coisas referentes A política, esportes 
e coisas que vivenciamos juntos. 
Sabe que tem cara que é capaz de inverter
 tudo, lembrar tudo conforme a conveniência
 e fazer disso uma verdade? Já pensou
 pegar um cara desse para dar 
um depoimento?
Graças a Deus, mesmo 
tomando Dormonid
e Lexotan há mais de 13 anos continuo 
com uma memória boa e que já foi 
excelente nos bons tempos.
Vou enviar-lhe um depoimento do Seto 
de 15 anos atrás onde ele dá uma 
entrevista para um jornalista local e faz 
referência à essa minha memória . Muita coisa que eu desconheço da Edrel 
é porque eu não estava lá mesmo.
Nos tempos em que eu fazia HQs
 sempre morava em Curitiba.


Tony: Querido mestre e bengala-friend, 
Fernando Ikoma, que relato incrível... 
que entrevista memorável. 
Você se ateve a cada detalhe a cada minúscia 
tentando sempre mostrar a verdade. 
Respondeu tudo na bucha. 
Nesta sua memorável entrevista, você 
desabafou, primou por cada detalhe e, 
principalmente, abriu seu coração, 
para seus fãs e amigos. Genial... 
Foi uma honra entrevistá-lo. 
Bem, só me resta agradecer por essa honra
 de ter me concedido este belo e
 revelador depoimento. 
Que Deus ilumine sempre seus passos e os
 passos de sua bela família... 
e que um dia você volte a nos brindar
 com seus excelentes trabalhos para
 enriquecer ainda mais o mundo das HQs.
 Muito sucesso!


Ikoma: Bom, acho que tomei um pouco mais do
seu tempo. Um abração e até mais!

Tony: Valeu, my dear bengala-friend and warrior!
 A batalha continua... 
tcham-tcham-tcham-tcham!!!


Mestre Fernando Ikoma e família.
Atualmente ele vive de artes plásticas.




Mais entrevistas com os mestres das
HQs brasileiras você encontra em...


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