quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

ENTREVISTA COM O GENIAL MESTRE WATSON PORTELA! QUE TEM BOAS NOVAS E MUITAS HISTÓRIAS PARA CONTAR!


PRESTIGIE OS QUADRINHOS
ESTRANGEIROS
E TAMBÉM
OS AUTORES NACIONAIS!

Este país tem tudo para ser um dos mais criativos 
do mundo, pois é um verdadeiro celeiro de
talentos quer seja na música, no futebol, 
na publicidade ou no mundo das Histórias 
em Quadrinhos. Nem mesmo as décadas em 
que este povo guerreiro sofreu com o terrível
regime militar ou louca inflação
conseguiram boicotar o talento
latente desse povo guerreiro.

No passado, gente criativa como: Ziraldo, 
Mauricio de Sousa, Henfil, Benício, Sergio
Macedo, Alan Voss, Cláudio Seto, Fernando
Ikoma, Mozart Couto, Watson Portela, Rodval
Matias, Seabra e outras feras fizeram sucesso
no Brasil e até lá fora. Hoje, inúmeros são
os brasileiros que trabalham para editores da 
América e do mundo.

Isto prova a competência dos nossos profissionais,
que apesar de terem nascido num país 
onde o acesso a cultura sempre foi caríssimo,
para a grande parte da população,
superaram as dificuldades e se destacaram
no cenário nacional e internacional.
O mercado das HQs no Brasil sempre
foi inócuo devido a enxurrada de quadrinhos
americanos que abundam nossos pontos 
de vendas desde a década de 30.
Mesmo assim, ao longo dos anos não faltaram
iniciativas de gente criativa e talentosa, 
que insistiram em abrir espaço, na base da
porrada nesse difícil segmento, e que
conseguiram publicar seus trabalhos, seus 
personagens. Essa garra, esse espírito de luta,
essa perseverança e tenacidade incrível,
com certeza, devemos a miscigenação 
que ajudou a formar esta nossa raça 
maravilhosa, esta grande nação.

O Brasil é um verdadeiro continente, onde 
se fala a mesma língua de norte a sul,
coisa rara pelo mundo. Infelizmente, 
muitos desses talentosos artistas, por absoluta 
falta de campo de trabalho em seu próprio 
país, acabaram se refugiando nas agências
de publicidade ou trabalhando para editores 
do exterior para sobreviver. Poucos foram 
aqueles que se mantiveram firmes no mercado. 

Atualmente, apesar das baixas vendas 
pós-informática, uma nova casta de jovens 
e talentosos artistas estão por aqui, batalhando,
editando seus próprios produtos, seus personagens,
e dessa forma evitando que o bom e 
velho quadrinho brasileiro não morra. Porém,
nesse mar turbulento e fantástico, chamado
setor editorial nacional, que já há alguns
anos foi invadido também pelos mangás 
(quadrinhos de origem nipônica), muitos 
dos nossos mais criativos autores 
acabaram sumindo do mercado.
O nosso entrevistado de hoje é um dos mais
cultuados autores do século XX. Trabalhou 
para diversas editoras nacionais e do exterior
e até para a poderosa editora Abril, que na época 
dominava incontestavelmente o mercado 
das histórias em quadrinhos publicando 
os mais famosos personagens Made in America. 
Graças ao seu filho, Rafael, após um rápido 
bate-papo pelo Skype, é que tomei conhecimento 
do seu blog e da boa notícia: O fera está na
ativa outra vez. E também foi graças ao Rafa  –
 é que consegui agendar a entrevista a seguir.

O entrevistado, desta feita, é um cara que 
sempre fui fã dele e do seu incrível trabalho.
Saiba mais sobre o querido bengala brother, 
que eu sempre chamei carinhosamente de
Magrão, desde o dia em que o conheci 
quando residia no Rio de Janeiro e trabalhava
para a extinta editora Vecchi. 
 Saiba mais sobre o genial...

WATSON PORTELA,
AUTOR DE PARALELAS!
UM CLÁSSICO DAS 
HQs NACIONAIS!

Rafael Portela e o paizão Watson
Tony 1 – Grande, Magrão! Grande fera do traço! 
Há muito, muito tempo não nos falávamos... Que honra poder 
entrevistá-lo nesse nosso cantinho da WEB que, aos poucos, 
está conquistando audiência pelo mundo afora, graças a
vocês, nossos célebres entrevistados. Você é um cara que
sempre admirei. E o melhor ainda, foi saber que você está 
de volta ao mercado... muita gente ao saber 
disso vai ter um orgasmo (Rsss...).
Watson : Só se eu fosse um “símbolo sexual’’,
que nem de longe é o caso! Rssss...

Tony 2 – Essa foi boa, começamos bem (Rsss...)... Graças ao
Rafael, seu filho, é que hoje estamos aqui podendo trocar
ideias nesse nosso talkie show virtual. Ter um filho que
batalha assim pelo pai é fantástico. Todo mundo quer 
ter um filho assim, com certeza (Rsss...). Posso começar
a fazer as perguntas? Você está pronto para responder 
na bucha as questões, sem frescura, doa a quem doer?
Watson: Ele é mais que um filho... é um amigo verdadeiro, 
como minhas filhas! Vai doer neles (editores) !!! 
Rsss... Manda ver!



Tony 3 – Então, vamos lá... simbora... nome completo, 

cidade, estado onde você nasceu, dia mês e ano...
Watson: Simbora... Watson Portela, direto do Recife: 
Nasci as 18:00 h. numa casa em Camaragibe (Município
de Pernambuco), no dia 18/10/50. Por tanto, 
61 anos atrás! Uau! Faz tempo!
Recife - Pernambuco - Região Nordeste - Praia de Boa Viagem
 
Camaragibe - Recife - Municipio de Pernambuco
Camaragibe - Centro da cidade (Foto: Rodrigo Holanda)


 
Tony 4 – Somos legítimos bengalas boys (Rsss...)... 

pra não dizer sobreviventes de uma era jurássica (Rsss...)... 
É óbvio que este seu talento nato foi um dom divino, 
uma dádiva, que deve ter se manifestado na infância,
influenciado por HQs gringas que você deve ter lido 
na infância, OK?  Pergunto: Quando foi exatamente a 
época em que essa vontade de desenhar se
manifestou e quais foram os autores
que o influenciaram?
Watson: Eu já rabiscava aos 7 anos! Aos 9, fazia HQ em 
caderno escolar e meus leitores eram os colegas de 
colégio! Eu copiava Jack Kirby e 
mais tarde, Will Eisner.
Tony 5 – A coisa rolou precocemente... Ao contrário da
maioria dos desenhistas tupiniquins que seguiram 
a linha americana de fazer quadrinhos você 
enveredou por outra vertente, ou seja, a influência 
das HQs européias são nítidas no seu fantástico traço. 
Para mim, você é o nosso Jean Giraud (Moebius).
O que você tem a dizer sobre isso, bengala friend?
Watson: Moebius foi a influência mais direta, porém, 
havia um pouco de Blanc-Dumant e Mézierès, daí, parei! 
Vi os trabalhos de um Japonês (não lembro o nome) 
que tinha os traços bem limpos e
fazia hachuras fantásticas 
(época da Grafipar). 

Jean Giraud (Moebius ou Gir)

NOTA:  Michel Blanc-Dumant (Foto acima) e Jean-Claude
Mézières foram dois grandes artistas franceses
de quadrinhos, que marcaram época.
Moebius (Jean-Giraud), assim como Watson,
também buscou inspiração nos trabalhos
desses grandes mestres.

 

Por: Blanc-Dumant
Arte de Blanc-Dumant - Le Petit Chaperon Rouge 2
Blanc-Dumant
Por Blanc-Dumant








ACIMA: Os autores da série: Valérian and Laureline - Da esquerda
para a direita: Eveline Tranlé (cor), Pierre Christin (escriba)
e Jean-Claude Mézières (ilustrador)

Arte de  Mézières - Valérian, Agent Spatio-Temporel
Valérian and Laureline - por: Mézières
Absorvi isso! Mas não curto 
este lance de “Moebius Brasileiro”, não! Aquele 
trabalho lá na revista do Mauricio de Souza me 
pegou de surpresa (Estou em meio projeto oposto)
e saiu por instinto, ou seja, nem fiz estudos pra me
“Atualizar’’. Tempo curto, sacou? O Giraud foi 
grandioso demais e eu sou “Pouca sombra”. 
É uma comparação meia exagerada, bengala! 
Deixa eu ser só “Watson”, ok?

Tony 6 – OK, bengala brother Gir (Rsss...)!
Como sempre, você é um cara fantasticamente
modesto. E pensar que tem tanto 
nego convencido por aí... Prosseguindo... 
Num passado anti-diluviano eu era funcionário da 
editora Noblet e se não estou enganado a primeira 
vez que vi um trabalho seu foi pela editora Vecchi e 
devo confessar que adorei seu traço estiloso e 
diferenciado. Oficialmente, em que ano você 
começou a publicar sua primeira HQ? Antes disso, 
teve outras experiências em sua terra Natal?
Watson: Trabalhava no Caderno Dominical do Diário. 
Fazia tiras, etc... Oficialmente, deveria ter sido 
na Ebal, porém os originais (O Caçador de Esmeraldas) 
foram roubados de dentro da editora, história cabeluda
e que envolveu pessoas de baixo caráter. (Descobri tudo)!
 Assim,  “ O começo” ficou como estreia na 
Vecchi, não recordo o ano...74 ou 75, talvez.




Tony 7 – EBAL!? Originais surrupiados!? Caceta! 
Isto ninguém jamais poderia imaginar... Otacilio de 
Assumpção Barros – que ficou marcado como o cara 
da revista MAD -, foi muito importante na vida de 
muita gente. Nosso criativo bengala friend, além 
de comandar a MAD, durante séculos, era o editor
responsável pelas demais publicações do Lotário 
Vecchi. Dava uma tremenda força 
para os autores nacionais.
Como você o conheceu? 
Como foi o primeiro contato?

Watson: Enviei a HQ e esperei... 
Quando a Spectro chegou, 
havia um cheque no local da minha história 
publicada, o contato foi depois, via cartas...
Tony 8 – O cara tinha felling e logo reconheceu 
um grande artista, sem dúvida...  Quantos anos
você tinha quando decidiu enveredar pelo mercado 
editorial nacional? Foi fácil abrir espaço?
Watson: Uns 21 anos, quando iniciei as tentativas... 
Foram anos de desgastes total, lendo cartas de editores
estúpidos e uma minoria educada (que não era 
do ramo de HQ)! Alguns até conhecidos, me
escrotizaram nessa fase (Mas dei troco, quando 
me tornei profissional). Todo iniciante tem que 
ser pentelho, se não, nunca vai conseguir. 
Fui mais que um pentelho! Rsss...


Watson - Editora Abril
Tony 9 – Essa foi uma dica perfeita pros iniciantes! 
Concordo plenamente! Quem não pentelha não 
vai a lugar algum (Rsss...)... Certa feita, a Bloch
convidou o Paulo Hamasaki, que sempre foi 
conhecido como o Japa que começou com o 
Mauricio de Sousa, para fazer os gibis dos 
Trapalhões e Trapasuat, programas
cômicos que eram um sucesso na TV. 
O Hama me convidou para embarcar no projeto, 
visto que ambos éramos funcionários da Noblet
e nosso tempo era escasso. Nessa época, 
Edmundo Rodrigues estava 
no comando das publicações
da Bloch e o Shima e o Colin já estavam 
colaborando com aquela casa tradicional editorial.
O Shima fazia A Múmia e o Colin O Lobisomen, 
eu acho. Daí, eu e o Hama fomos para o Rio para 
fazer uma reunião com os diretores da Bloch. 
Chegamos no sábado e fomos diretos para
Jacarepaguá, pro “barraco” do Shima, que na 
época, estava a milhão produzindo cerca de
100 págs por mês também para a Grafipar.

O Edmundo apareceu por lá no domingo para nos
encontrar e avisou que o trabalho era nosso e
que era preciso fazer uma
 reunião reunião oficial e fazer um teste.
Tudo estava agendado para a segunda-feira.
Assim, ficamos acampados, no Rio, no Shima. 
 Ele nos levou para conhecer o casarão 
do Otta e depois rumamos para 
a sua casa, na periferia do Rio. Ao chegarmos na
sua casa encontramos você desenhando a pincel, 
cercado pela família. O Rafael estava lá. 
Era apenas um garotinho (Rsss...). Isso, bengala
friend, aconteceu há muito tempo e talvez 
você nem se lembre mais disso...

Mestre Watson  Portela- anos 80
Watson: É! Morei alguns meses lá! Me senti um macaco 
de zoológico, ”todos queriam me ver”. Rsss... Não me 
lembro, não, velho! Era muita gente no “zoo”... 
Cê se enganou, Bengala Boy! O Rafa nasceu anos 
depois, no Paraná! Eu só tinha 3 filhas!

Tony 10 – É mesmo!? Pensei que uma das três 
crianças fosse o Rafa, pô... Let’s go...  Na época 
seu trabalho já estava sendo endeusado por leitores 
e profissionais do ramo. 
Você, acho que também estava
trabalhando com a Grafipar, assim como todos nós. 
Os quadrinhos eróticos nacionais estavam bombando, 
graças ao mestre Cláudio Seto, que abriu espaço
para todos. As reuniões no Bairro da Santa Felicidade – 
região gastronômica da cidade cheia de restaurantes
de alto nível italianos-, em Curitiba, reunia 
esporadicamente uma centena de escritores e 
desenhistas dos quatro cantos do país. 

O mercado das HQs no país estava superaquecido 
e não faltava trabalho. Foi uma grande época. 
Conhecê-lo, pessoalmente – graças ao Shima-,
foi um imenso prazer, Watson, mas ao mesmo 
tempo foi decepcionante, quando vimos que
você morava numa casa humilde, de chão de
terra-batida. 

Ficamos injuriados e cientes de que 
o pessoal da Vecchi, na verdade, estava lhe
explorando, mano véio. Eles estavam faturando
alto com Tex – que vendia mais de 100 mil exemplares-,
as revistas de HQs de terror – Spectro, Chet, etc -,
além das tradicionais fotonovelas – que vendiam 
muito na época- e as demais publicações e, pelo 
visto, pagavam mal seus colaboradores. 
Dá pra falar um pouco sobre essa fase?



 
Watson: A Vecchi foi que me lançou e me tornou 
conhecido no mercado, mas cobrou um preço 
altíssimo! Eu sabia sobre minha popularidade, mas 
sempre fui humilde e ainda tinha muito o que 
aprender! Eles nem sabiam que eu já estava
na Grafipar. Quando avisei que iria morar
no Paraná, deixaram de pagar o último mês que
trabalhei lá! A Grafipar bancou tudo:
passagem, mudança e os 3 meses de depósito 
da casa que aluguei, já que eu não tinha fiador! 
Honestamente... nunca suportei editores, eles 
é que me aturavam, um preço por outro! Rsss...
Editor é o sujeito que tem “faro” para produto

“vendável”. É ilusão pensar que eles me
fizeram “Favor”. 
Quando faziam isso, já tinham 
lucrado e iriam lucrar mais com os meus trabalhos! 
Então qualquer tipo de favor foi pago! 
É só observar as minhas HQs que foram publicadas 
e republicadas aqui, nos EUA e na Europa! Fui o
ultimo a saber disso! Eles ficaram com 99% de 
meus materiais. Não cuspo pra cima, é pra baixo 
mesmo! Cada cuspida tem um 
alvo, ô fase pernóstica!

Tony 11 -  Os caras foram sacanas 
pra cacete, com certeza...
mas a vida é assim mesmo: vivendo e aprendendo... 
Exploradores sempre irão existir, infelizmente. 
Vamos nessa... Saímos, todos, da sua casa, revoltados 
com a Vecchi e passei a admirá-lo ainda mais ao 
vê-lo naquelas condições trabalhando cuidadosamente 
um imenso original a pincel. Pensei: “Meu Deus, esse 
cara tem um grande talento e precisa sair da mão 
desses picaretas”. Por sorte, a Grafipar começou 
a expandir seus títulos, o Ataíde foi pra lá também 
e você parece que se deu bem com eles e saiu 
das garras da Vecchi. Sempre houve muitos 
exploradores no mercado e cabe a cada um 
de nós nos valorizarmos. 
Não se deixar explorar.




Watson: Sempre respeitei minha arte, indiferente ao
preço vulgarmente irrisório, todas
as casas ou sobradinhos que morei
eram simples.
Nunca gostei de “ostentação’’, mesmo 
quando eu estava na Abril. 
A “Boa energia” delas é que 
me atraiam! Curitiba foi a melhor fase, mesmo na 
“Super produção”. Morava em Três Marias, quando
o Rafa nasceu e o batizei na igreja de Santa Felicidade, 
bairro próximo. Depois, me arrependi do “padrinho” 
que escolhi pra ele... quando marcou a data do 
casamento, pediu cópia do batismo e o “Padrinho 
indesejável”, dançou! Na época ele não era editor... 
depois se tornou um! Cruz credo! Rsss...


Cidade de Curitiba, capital do estado do Paraná
Curitiba - esta cidade do Sul  tem a melhor qualidade de vida do país
Sonja, a guerreira, por Watson (ed. Abril)
Tony 12 – Não consigo imaginar quem 
tenha sido esse “Padrinho indesejável”,
mas deixa pra lá, Magrão (Rsss...). 
Grafipar... vamos continuar a falar sobre essa 
grande editora, que marcou época. Faruk El-Katib,
pelo que sei, era de uma tradicional família de 
plantadores de café no Sul no país e de repente 
se tornou um editor famoso, bastante conhecido, 
graças ao genial Seto e a derrocada da censura
prévia no Brasil, que culminou com a liberação das
revistas pornôs escrachadas e deu fôlego para
o crescimento dos inúmeros títulos de HQs 
eróticas no país. Gente de talento como você, o
Mozart Couto (nosso Raymond tupiniquim) e 
Rodval Matias tiveram grande evidência no 
tempo da Grafipar.  Pergunto: Em que ano você
começou a trabalhar para eles e qual foi
a primeira HQ que fez para a Grafipar?

Watson: Vou te contar um segredo:
Tenho anotado as datas de nascimento 
dos meus filhos e netos, 
“um casal”, pra não esquecer do aniversario deles. 
Nem sei a idade de cada um, só a minha!



Por Watson
Tony 13 – São coisas da idade, bengala Watson. Também
tenho esses lapsos de memória... Para quem não sabe, 
naquela época jurássica, existia a censura prévia no Brasil.
Nenhuma matéria jornalística ou publicação podia sair sem 
que os terríveis censores de Brasília – a serviço dos
nossos ditadores militares- aprovassem. Ninguém 
podia dizer um “A” contra o governo e muita gente 
acabou caindo nas garras ou sofrendo nas 
mãos do DOPS e do DOICOD – órgãos governamentais
criados para reprimir manifestações “anti-terrorismo” 
ou que apregoassem algo sobre ou
contra o governo. 

Assim, toda editora antes de lançar 
um título nas bancas tinha que enviar o “boneco”
da edição previamente para Brasília, que tinha 
 o poder absoluto sobre o que o povo poderia
ou não ler ou tomar conhecimento. 
Uma palhaçada.
Muita gente “despareceu”, foi assassinada ou foi
torturada, por se declarar contra o regime militar. 
Nesse período turbulento em que viveu esse país 
aqueles que não sofreram ou foram vítimas dos
órgãos repressores, que estavam de olho nas
movimentações artísticas e estudantis que se 
rebelavam contra o sistema, acabaram sendo 
deportados, expulsos do Brasil, principalmente
aqueles que tinham dinheiro ou lastro familiar. 

Quando a censura prévia acabou todos os editores 
respiraram aliviados e foram convocados para 
comparecer em Brasília para assinar um termo
de responsabilidade onde cada um (editor)
assumia a responsabilidade pelos seus produtos
e, obviamente, iriam responder judicialmente
pelos seus atos. As revistas de mulheres peladas, 
mostrando a genitália, por fim, estava liberada. 

Desde que estivessem em sacos plásticos.
Porém, os editores pequenos e médios ficaram 
apreensivos e temiam lançar esse tipo de produto
e sofrer alguma repressão. Nessa  época eu 
era redator-chefe e ilustrador das revistas Contos 
Excitantes e Hot Girls, da Noblet. A primeira empresa
que ousou mostrar uma mulher de perna aberta foi 
a Bloch Editores, na revista Ele & Ela. 
Empolgados e ávidos para vender mais os 
jornaleiros tiravam a revista do saco plástico e 
expunham de forma irresponsável os posters 
indecentes nos pontos de vendas ao lado de publicações
infantis ou infanto-juvenis. As vendas explodiram. 
A revista evaporou rapidamente das bancas.

Com o sucesso da Ele e Ela os demais editores
também decidiram entrar na festa e timidamente
começaram a exibir cenas de sexo 
explícito em seus produtos.
Não demorou muito para que a polícia batesse 
na porta da editora em que trabalhávamos alegando 
que as nossas revistas eram pornográficas e queriam 
dar busca e apreensão. Fomos conduzidos a uma 
delegacia e interrogados. Em síntese, era só pentelhação 
o que os caras queriam mesmo era dinheiro. 
Com certeza essa gente encheu os bolsos às
custas de muitos editores como o meu, que amedrontado, 
acabou “pagando pau pros “zomes”. Uma puta 
sacanagem. Pergunto, bengala friend... no tempo
dos quadrinhos eróticos, vocês também sofreram
este tipo de abordagem sarcástica policial?

Watson: Eu nunca fui incomodado
pelos “zomes” gorduchos, achando que farda
tornam ele superiores a qualquer um. 
Minhas revistas eram recolhidas quase sempre 
(Barroso era abusado ), mas a editora assumia tudo. 
Pediam que eu “pegasse leve”, por um mês. 
Depois, tudo se repetia! O fato é que quando recolhiam 
a fatia maior já tinha sido consumida! Rsss...


Robo Gigante - Por: Franco de Rosa e Watson
Tony 17- Bela estratégia! Assim vocês 
davam um nó nos “zomes” - na polícia - (Rsss...).
Nessa época, era comum vermos 
nossas praças públicas e 
campus das universidades
transformadas em batalhas campais entre as
tropas de choques e o povo, que enfrentava
corajosamente com pedras e pedaços de paus 
os repressores, que munidos de escudos, capacetes,
cacetetes -  que davam choques elétricos-, cães e 
bombas de gás lacrimogênio, muitas vezes se davam 
mal nesses confrontos.

Por sorte, esse tempo acabou
e hoje até podemos eleger nosso presidente e 
representantes. A merda é que ainda nem tudo
são flores do lado de baixo do Equador e os 
corruptos ainda imperam em Brasília. Um dia, 
isso tudo tem que acabar. Qual é a sua opinião, 
sobre o momento político e sobre a boa performance
financeira do Brasil – aparente-, no 
cenário internacional atual?

Heróis da Tv\Marvel por Watson
Watson: Podemos eleger “fantoches”, né? Vivemos sob 
uma “ditamografia”, e quem viu o caso Tancredo, 
curiosamente esqueceu,  que  o dia Gloria Maria
(hoje, ex-apresentadora do fantástico). Vivemos numa 
grande mentira! Se o Brasil fosse um país sério 
e democrático ( de verdade) , a Globo já estaria de
portas fechadas. 
Afinal, a fatia maior da dívida  interna, é deles. 
Você viu algum ditador responder  por seus crimes?
Tenho mais perguntas do que respostas! 
Sim, eu acredito em Deus!

Tony 18 – “Ditamografia?” 
Nunca tinha ouvido esse termo
antes, juro... mas é interessante.  Sim, me lembro d o 
caso Tancredo e o famoso dia de glória da Glória Maria, 
mas duvido que o povo ainda se lembre disso. 
A galera, infelizmente, não tem memória... a Globo
cresceu graças ao dinheiro externo da Time Life. 
Na época rolou um puta buxixo, que não deu em nada.
Quanto aos ditadores: de fato, sempre saíram numa 
boa. Exceto Saddam Hussein, que estava na mira 
da família Bush, por interesse óbvios: petróleo... 

A própria América, que se autodenomina democrática, 
desrespeitou as normas da ONU –
entidade semi-morta-, e baseada numa mentira criada
por Bush: “Hussein tem armas químicas!” – que 
nunca existiram-, partiu pro pau aleatoriamente 
passando por cima das normas internacionais. 
Quando eles querem tomar o “doce” de alguém, não
são nada democráticos, bengala boy friend. 



Como conseqüência dessa luta inútil tai a América
balançando na beira do abismo, como a Europa.
Mas, voltando a falar da Grafipar...Eu sei que
caras como o Shima e o Flávio Colin tinham 
cotas para cumprir com a Grafipar. Isto é, 
cerca de 100 páginas mensais, e por esta produção
doida recebiam um preço especial por páginas,
tamanha era a necessidade da empresa de não
deixar faltar bom material 
nacional em suas publicações.
Você também estava nessa de cota de produção?
Quantas páginas, em média, você produzia
por mês, naquela época, Magrão?

 
 
Watson: Rsss... A princípio, sim! Mas logo eu e o Shima 
começamos apostar quem fazia mais! Eu aprontava 
(“letreirada” e finalizada) 10 páginas por dia,  num
formato menor que o formatinho... Calcula aí, sem tirar
finais de semana,velho! De segunda a segunda. 
Fazia 6 capas por dia! Quer mais? Escrevia desenhava 
pra outros finalizarem! Nem mesmo eu tenho
noção de quanto produzia por mês. 
O Shima produzia pra caramba
sem perder a qualidade!

Tony 19 – Carambolas! A coisa era pauleira mesmo!
Voces, apesar de serem verdadeiras máquinas de
produção, conseguiam manter um bom nível. 
Coisa de maluco... Você participou de muitos
títulos da Grafipar... dá pra relembrar alguns?

Watson: “Memória”... Acho que eu participei de quase
todos, afinal. Fiz milhares de capas.
 
Tony 20 – Na real vocês não tinham tempo nem 

pra respirar! Estavam escravos da arte! Que merda!
Todos nós desejamos trabalhar, mas nesse pique aí
é foda... Vamos em frente... Paralelas! Este é o nome
de uma série de HQs clássicas sua, que é inesquecível, 
bengala brother... como e quando surgiu 
a ideia de fazer essa obra prima?

Watson: Em 73/74!  Na verdade eu tinha que desenhar 
HQS de terror, mas deu cinco minutos por conta de 
umas reportagens que li no jornais, sobre pessoas que 
estavam “sumindo” na frente das outras. 
Daí, comecei a desenhar o que o cérebro pedia. 
Concluído o trabalho, faltava o título...Tava rolando
no meu som a música “Paralelas”, com Erasmo 
Carlos, daí... pensei que a HQ não iria ser aceita, 
porque não era de terror. 
Mas, pensei errado.


Tony 21 – Na verdade, digamos, 
“baixou o santo”, depois que
você curtiu o noticiário (Rsss...). E, por fim, pra sua 
surpresa, a galera aceitou a HQ mesmo não sendo de
terror... que história incrível! 
Quem poderia imaginar? Mas, só há um detalhe:
Paralelas era música do Belchior e, não,
do Erasmo, bengala brother (Rsss...).
Nobody's perfect...

Prosseguindo, bengala magrão... Muitos artistas 
foram convidados para irem morar em Curitiba, na
época. Muitos se empolgaram com o franco
crescimento da empresa e partiram de mala e 
cuia para o Sul do país, região que sempre teve 
poucas opções de trabalho para os profissionais 
da área. Como nada é eterno, um dia o sonho acabou, 
a empresa foi pra cucuia e muitos bengalas brothers
sentaram na mandioca, literamente, e tiveram 
dificuldade de regressar às sua cidades. 
Você também passou por esse sufoco?

Paralelas - Um clássico campeão de vendas
Watson: Rrsss...  O que você acha de ficar numa 
cidade estranha, sozinho, com a família? Um editor 
cascateiro e uma editora falida?
Fui o último a sair e nem apaguei a luz.

Tony 22 – Que merda! Dá pra imaginar o sufoco... 

Apesar do imenso volume de produtos editoriais 
que a Grafipar tinha nas bancas, segundo o mestre\escriba 
Ataide Braz, as vendas despencavam vertiginosamente 
e aquele aparente crescimento não passava apenas de 
“tapa buraco”, para descontar títulos em bancos 
para pagar dívidas monstruosas, visto que era comum
editores baterem títulos no valor de 30% das mercadorias 
contra as distribuidoras. 

Assim, quanto maior 
o número de títulos, maior era a possibilidade de 
trocar esses “papagaios” (título podres) nos 
bancos ou agiotas para manter a empresa girando. 
Mas, qualquer empresa que entra nesse parafuso
uma hora acaba indo pro saco, principalmente 
quando seus títulos em bancas vendem menos 
do que os referidos 30%. Editores acabavam 
devendo para as distribuidoras,  para os bancos, 
agiotas e credores, na época– havia muitas 
empresas editoriais nessa situação caótica, 
obviamente (Rsss...).  Qual é a sua opinião, sobre 
a maioria dos editores brasileiros? 
Falta profissionalismo?

Watson: Não. Falta caráter e honestidade!

Tony 23 – Gostei dessa! Você respondeu na bucha! Mas, 
também sou editor e como tal preciso defender a classe,
bengala friend. Afinal, não se pode generalizar a coisa. 
Afinal, toda regra tem excessão. 
Há editores pícaros e também há desenhistas e
autores pícaros, que não entregam originais
nos prazos, que copiam desenhos, etc...
Conheci muitos editores pícaros, porém também 
encontrei pelo caminho muitos
caras descentes, gente fina... Há quem diga que, 
além de sofrer graves quedas nas vendas a Grafipar 
acabou comprando um jornal esquerdista – que era 
contra o governo -, e que e isto teria acabado
de ferrar de vez a empresa. 
Você sabe alguma coisa a esse respeito?


Watson: Nunca soube disso! O Faruk  ferrou a  Grafipar no
dia em que assinou um contrato altíssimo com a “pentose”. 
Na noite de lançamento, ele pagou até pro Pelé aparecer. 
O próprio Claudio Seto afirmou: “Esse cara tá louco! 
Vai afundar a Grafipar!” A editora Abril (Playboy) e 
Bloch (Ele e Ela), boicotaram geral!  
Qualquer jornaleiro que ousasse comprar  a Penthouse,
perderia o direito de levar qualquer título de ambos! 
Os gringos vieram e tomaram tudo do Faruk, até 
sua cuequinha turca! Rsss... Só não levaram o
jornal, porque o seu pai excluiu seu nome do mesmo! 
Só restou o orgulho ferido dele! Quando tudo foi pago
voltou pra o jornal! Sabe como é... 
Sacana rico, nesse pais, são imunes !

A mulherada pelada fubecou o editor (?)
Tony 24 – Essa pra mim é novidade! Então foi o lance da 
Penthouse que fubecou tudo? Rola muitas coisas nos 
bastidores que os leitores nem imaginam, com certeza...
mas, esse papo de que os gringos vieram e tomaram até 
“a cuequinha turca”, do editor,  foi duka (Rsss...). 
Genial...não dá para parar de rir (Rsss...). 

Putz... vamos tentar continuar... essa foi demais! 
Valeu... valeu! Minha nossa... vamos nessa...
Como diz um amigo meu: 
“ Editor é que nem praga. Você mata um e 
aparece um monte na sequência (Rsss...).”
  Especialmente depois da tal era da informática. 
Vi muitos editores surgirem e desaparecerem –
inclusive eu (Rsss...).
Os grandes se dão bem, mas os pequenos só sifú... 
Não é fácil ser editor de pequeno porte num país
subdesenvolvido. Falo por experiência própria.

Você tem que bancar tudo, jogar os produtos nas
mãos dos distribuidores, consignado, e rezar
pros caras fazerem uma boa distribuição para que 
talvez você tenha uma venda razoável, que pelo 
menos pague os custos operacionais. Isso é um jogo 
perigoso que requer muito jogo de cintura. 
Atualmente a coisa piorou, quando a DINAP
(Distribuidora da editora Abril) comprou a Fernando
Chinaglia (com dinheiro dos Sul africanos, segundo 
dizem por aí) e monopolizou o mercado. 

Hoje, só há uma distribuidora no país 
chamada TRILOG. 
Eles ditam as normas, ditam tiragens ridículas, 
enfim,  mandam e desmandam nos editores, 
que são reféns desses caras e das gráficas, para 
variar. Para acabar de ferrar, fazem uma distribuição 
de merda e não adianta brigar com eles. Não há outra 
opção. Qual é o seu ponto de vista sobre esta 
caótica situação, bengala brother? 

Watson: Ô, velho! Essa situação parece 
“Sessão da Tarde!”
 A  Chinagua já ferrava com tudo aí, cê 
soma com Dinap mais Trilog =  Desista! 
Ou canta: “Na barriga da 
miséria, nasci brasileiro”. Quem disse que 
“ Deus é brasileiro” tava chapado e  de pileque! Rsss... 
Ah!  Editor é pior que praga de gafanhotos ! 
Só deixa o rastro de caca caótica! Rsss...

Pra ser sincero ( e pode apostar que sou), o que 

vejo nas bancas , são as grandes novidades de ontem!
Parei de comprar e ler HQ, quando decidi “sumir”.
Com este lance de computação, tem nego dizendo 
que desenha (que não entende porra nenhuma 
de anatomia) e publicando, utilizando o computador 
pra suprir sua própria deficiência. 

Essa pá de babacas pensam que leitor e otário, 
mas otário é quem pensam que os leitores não 
sabem  discernir  lixo de arte! As cores abusivas 
escondem os erros dos falsos 
artistas e o que sobra?
 
Tony 25 – Concordo contigo, mano veio! Hoje quando 
pego uma revista da Marvel ou DC vejo uma porrada 
de arte mal-feita – em sua maioria -, com um zilhão de 
efeitos de cores – d e pinturas digitais -, pra camuflar 
a péssima arte. Tá cheio disso no mercado e há os
tupiniquins que também estão nesse embalo.
Fazer o quê? Seguindo, grande guru e intrépido 
bengala brother... Se por um lado a Internet surgiu como
um grande meio de divulgação e até de veículo de 
venda on line aquecendo o chamado “E-Commerce”,
por outro ela também dispõe de
muito material gratuitamente, 
como: música, HQs, filmes, etc. Isto, com certeza, 
ajudou a detonar as vendas dos já instáveis produtos 
editoriais nacionais. Aliás, o mundo todo foi afetado 
pela WEB. Há anos não se vende mais como 
antigamente.

Porém, ela permitiu o surgimento de milhares 
de editores independentes pelo mundo afora, 
que vivem das vendas de pequenas tiragens em 
sites especializados ou em casas especializadas 
em comercializar este tipo de produto alternativo. 
Poucos produtos atualmente vendem bem em 
nossas bancas. Ao estudar esses editores 
independentes – verdadeiros heróis -, constatei 
que a venda deles é sofrida, lenta, e que para poder 
se manter essa turma tem que rebolar e em geral 
bancar ou se endividar com as gráficas. Essa crise 
de mercado que começou nos anos 90, quando a 
editora Abril decidiu parar de publicar Marvel e 
DC, vem crescendo gradativamente. Estariam os 
bons e fiéis leitores do passado desinteressados
em adquirir quadrinhos, por quê?
Série: Watson - Jaspion (da TV) - editora Abril
Os leitores só vão voltar quando tudo estiver no
seu devido lugar! Se isso vai acontecer, 
não sei! Não sou astrólogo! Rsss...
Tony 26 – Você é uma cara lúcido, inteligente!
Antenado nas coisas...mas discordo de você
num ponto: A maioria dos leitores não tão
nem aí pra arte, querem apenas se
divertir, ler e ver uma boa HQs
movimentada. Fazemos HQs pro povão
ou para meia dúzi de pseudos-artistas e
críticos? O público-leitor quer apenas
uma boa HQ e jamais se importou se ela
é nacional ou estrangeira. 
O resto é balela...

Tô adorando papear com você, que não tem papas
na língua e prima pela verdade! Se todos fossem 
assim o mundos eria outro. Mas, a sociedade humana 
é baseada na hipocrisia mútua. Mas, há aqueles 
que ainda s esalvam, Magrão. Você é um deles.
Diga-me... O que falta para que as HQs nacionais
emplacar? Falta qualidade? Bons roteiros? Boas
tiragens? Boa distribuição?
Ou falta criatividade?

Watson: As “ super produções’ tiram 
minha “lucidez”. Rsss... 
Primeiro e preciso entender que o mercado
brasileiro, nunca foi brasileiro, e isso pesa
muitos quilos!  Temos porcaria de consumo e”cópias”
de rebarba! Resumindo: Temos originais estrangeiros
e clonagens nacionais (Isso não e de hoje, só
muda o gênero). 

Pra encaixar as HQs nacionais, 
infelizmente falta tudo! Nunca existiu o
mercado pra HQs  nacionais, que fosse estável! 
Se você prestar atenção nas invasões  de editoras
com trabalho nacionais (a Grafipar foi a única
genuinamente nacional) ,vai perceber que houve
apenas 4 anos de estabilidade para uma geração
de artistas, como jamais houve pra outras! 
O caso parece ser uma obra
que Deus não quis assinar!

Tudo acabou nos anos 90. Na minha época, roteiristas
eram altamente retrógrados! Pareciam nunca ter 
saído dos anos 60 pra escrever! Roteirista tem 
que ler e se atualizar! O pagamento gera pouca 
qualidade, embora eu tenha me negado a ligar 
meu trabalho ao preço! Muitos desenhistas diziam 
que “o preço”  justificava o trabalho sofrível! 
Havia a preguiça de alguns de colocar até cenários 
em suas histórias, e haja “close”... Rsss... 
A criatividade se perdeu em meio ao consumo de
material estrangeiro. E difícil se desassociar 
disso tudo e ser um Mané, como eu sou! 
E com uma péssima distribuição, 
só mesmo um “milagre’, resolve!

Tony: 27 -  Cara, você disse tudo! Jamais existiu, de 
verdade, um mercado brasileiro de HQs. Sempre fomos 
dominados pelos importados.  O que houve, de fato, 
foram tentativas esparsas, inglórias. Editores e
produtos nacionais que sempre acabaram morrendo
na praia... Seguindo adiante...
Super-heróis? O que acha do gênero?

Watson: Quando eu achar, te digo! 

Tony 28 – (Rsss...)! Tá difícil? Essa também foi 

duka... Mangás?

Watson: Foram os produtos que detonaram os caras
de sunguinhas, malhas e capas coloridas! 
Os mangás são o ”mercado brasileiro” de hoje!

Spider Man - Watson (ed. Abril)
Tony 29 – Absolutamente certo! Bela dedução,
meu caro, Watson (Rsss...)!  Me senti o
Sherlock Holmes, agora (Rsss...).
Os americanos não devem ter gostado muito dessa 
súbita invasão do Oriente, em todos
os sentidos e segmentos...
  Com a evolução da tecnologia muita gente pelo
mundo – principalmente os jovens -, vem curtindo
HQs, jornais, músicas e livros, através de celulares 
e de tablets. Ao meu  ver, devemos nos adaptar a
essa nova realidade ou ficaremos obsoletos. 
O material impresso esta cada vez 
mais se distanciando
do povo.

O material impresso se tornou elitista,
caro pra cacete. Prenúncio de
tiragens cada vez menores
e sofisticação de revistas destinadas para um 
pequeno nicho que gosta da coisa e tem poder 
aquisitivo. Entretanto, não creio que as revistas
um dia poderão acabar. 
No entanto, é fácil 
vislumbrar um mercado cada vez mais segmentado. 
Esta também é sua linha de pensamento?


Watson: Embora ache coerente o teu ponto de vista, 
tiro meu “ ponto” da reta!  Sou meio troglodita. 
Não quero me “adaptar” ao que tenho aversão! 
Prefiro ser um “absoleto pensante”, que um
“Tablet Man” vazio! Se a tecnologia tiver que 
entrar (e vai entrar) em minha arte, só terá 
espaço pra letreiramento e cor, só vou supervisionar. 

Aprender a utilizá-la, jamais! No meio desse mercado
segmentado, vou ser turista, pois vão me encontrar
nas “poucas revistas”. 
E o Rafael  pode até entrar
num desses esquemas segmentados, mas sem
me deixar irado! Rsss... 
Ele sabe até onde pode ir ou não.

Watson - Foto atual
Tony 30 – Também acho que nada substitui os bons e 
velhos, papel, lápis e nanquim, bengala friend... mas, acho, 
que como complemento aí sim a tecnologia pode ajudar. 
Como já está ajudando.  Você conseguiu se adaptar com
as novas ferramentas tecnológicas para fazer HQs?
Isto é, usa programas, como: Photoshop, Corel Draw, 
Painter, etc? Perguntei só por perguntar, pois sua 
resposta só pode ser uma: Não, suponho (Rsss...).

Watson: Que palavrões são esses, cara?!?
Tá querendo que eu surte??

Tony 31 – Rssss... eu sabia! Cutuquei a fera com vara curta... 
Prosseguindo... Editora Abril... Vamos falar sobre 
ela, bengala Magrão! Você, durante um bom período,
trabalhou quase que exclusivamente para ela, fazendo
uma centena de capas, HQs, etc, até de personagens
gringos. Como foi trabalhar para eles? 
Deu para ganhar dinheiro de verdade? 
E, quanto tempo durou essa parceria?

Watson: Quando iniciei a carreira nos quadrinho, 
sempre fui mal remunerado, e às vezes recebia um 
desculpa idiota como forma de pagamento, até chegar
na Abril! “Daí a Cesar o que é de Cesar!” 
Fui contratado no dia um de Abril
(no Dia da Mentira). Lá eu soube o
que era um salário digno, com direito a 13º e férias 
(nunca houve atraso de pagamento)! Não foi difícil
trabalhar com eles, pelo contrario... Foi ótimo!
Eu só tinha que produzir 22 páginas, a lápis, 
por  mês ! Eu não escrevia roteiros. 

Quando finalizava, o preço era o mesmo do lápis
(um acordo que fiz já que demorava um pouco
mais para fazer a finalização). Comparado-a aos
preços que recebia antes, era alto, sim! Fiquei 6 
anos exclusivo da Abril. Mas o barco começou a
afundar, então pedi pra ser demitido. 
Voltei às velhas editoras picaretas da vida.


Tony 32 – Pois é, foi pena que o sonho acabou... Essa sua 
fase de “retiro espiritual” do mercado deixou muitos
de seus fãs, como eu, frustrado. Uma pergunta pairava
no ar: “Onde foi parar o genial rabiscador? Sumiu?”
Ouvi dizer que você estava morando num sítio 
com seus pais e que estava decepcionado 
com o mercado. Dá para explicar, por quê?

Watson: Meu "retiro espiritual” começou quando
decidi ilustrar livros e ministrar um curso de HQ, 
na Oficina Cultural de Sampa, lá no Tucuruvi, bairro
onde morei. Isso durou 2 anos.

Tucuruvi - Bairro situado na zona norte de São Paulo

Tucuruvi - Periferia da cidade de São Paulo
 Minha vida tava pelo avêsso e rolando 
ladeira abaixo, vendo um “dente”, 
meio empoeirado... Foi aí que  ponderei. Eu havia
escolhido uma profissão que não existe pra o
sistema de pessoas normais e essa minha escolha
maluca que fiz na vida não tinha nada a ver
como meus filhos, que estavam pagando um preço
alto, por um sonho que não era deles! Pior!
Eu me dedicava mais ao sonho do que a eles.
Meu egoísmo só me soterrou. Vaguei como
minhoca entre cavernas 
subterrâneas, ministrando cursos de HQ.
Lambendo as próprias feridas,
arrastando meus babies comigo. Então senti o 
peso de tudo isso. Fui me decepcionado comigo
mesmo e com o que era ser: 
um desenhista de HQs! Parei geral! 
Esqueci quem eu fui e me tornei 
o pai que não fui, embora, tardiamente! 

Aí me viciei numa droga pesadona: Games! Ah...
que vício doidão! Só me chapava de games! Hmmm...tá!
Minha única irritação passou a ser o “ game over”, 
mas resolvi isso com revistas de trapaças! 
Sou trapaceiro até a veia hoje! Rsss...

Tony 33 – Menos mal... O que aconteceu com
você também aconteceu com muita gente,
que partiu pra outras áreas, quando 
caiu a ficha, quando decidiram priorizar a família!
O ramo é difícil, penoso, e haja garra 
e saco pra permanecer nele. 
É preciso muito jogo de cintura e produzir artes para 
outros segmentos de mercado. Viver de HQs sempre 
foi pura utopia. Em certos períodos a gente até 
consegue, mas essas marés passam – como 
foi o caso Grafipar -, e daí a coisa fica preta, nebulosa.
Há muito tempo cheguei a essa conclusão e 
decidi manter meus estúdios trabalhando no 
esquema multimídia, muito antes dessa palavra
ser difundida. 



Sempre fizemos HQs paralelamente.
A verdade é o seguinte, o sujeito metido a artista, que
não cair a ficha, que ele tem que aplicar seus dotes 
artísticos em outros setores sempre vai acabar 
se dando mal, é simples.
Mas, como dizem os grandes mestres: 
“Essa coisa vicia” e é perigosa. 
Parece maldição, pois quem já fez HQs 
sempre vai querer voltar a fazê-las.
Pois nós amamos elas. 

Você, como muitos, deu um break, refletiu,
investiu na família e taí de novo...  isso prova
que nem só de dinheiro vive o homem,  ou que
então somos, todos, masoquistas mesmooo (Rsss...).
  Na verdade acredito que precisamos mudar 
o jeito de olhar pro mercado e passar a trabalhar 
corretamente, atendendo agências 
e empresas em geral.

Afinal, nem só de HQs vive a humanidade 
e muito menos um estúdio que se preze.
Por sorte, você decidiu, voltar à ativa – graças a 
Deus, para alegria dos seus fãs (Rsss...). 
Você voltou. O bom filho a casa torna e até colocou
no ar um blog maravilhoso. Esta decisão, de
voltar ao turbulento e imprevisível mercado, surgiu
por influência dos amigos e do Rafael, ou 
por iniciativa própria, mestre
e bengala friend?

Watson: Eu tava aprontando uma HQ como despedida 
dessa profissão! Não tinha a menor vontade de voltar! 
Tinha escrito um texto, dando bye bye aos leitores, etc e
tal.  Mas o Rafael achou que era cedo pra isso ! 
Torrou minha paciência com muita insistência! 
Nessa, ele se prontificou a ser o meu agente... 
Ri, porque não acreditei que conseguisse alguma 
coisa e selei um acordo com ele, disse:
“Vou te dar um tempo, se até lá não conseguir 
nada eu paro, sem despedida!  “E se eu conseguir?”
perguntou ele. Fiquei em silêncio... Acho 
que subestimei o meu filho ... Ele quebrou a 
cara no início, mas aprendeu rápido e veio
com um contrato! Então, assinei a procuração, 
e legalizamos oficialmente sua função como meu
representante. Ele cuidou de tudo, o blog é de
outro membro da parceria,
com o caveman (Wagner Moloch)!

Tony 34 – Esse filho seu vale ouro,
grande bengala boy brother!
Ele provou que tem capacidade para agenciá-lo... 
talvez, isso era o que lhe faltava no passado, pois
talento é o que não falta a você. O Rafa deve ter um bom 
tino comercial, coisa que, em geral, faltam aos 
artistas... quanto ao Wagner Moloch, ele é gente
final e grande vídeomaker. Tá dando uma tremenda 
força pros artistas, montando blogs, sites, vídeos, etc... 
ainda quero entrevistá-lo. 
Ele colaborou até pra que 
este nosso bate papo acontecesse. 
Taí mais um parceiro de fibra, guerreiro. 
Seu time está aumentando. Atualmente, graças 
a facilidade de contatar com o mundo via Internet, 
há muita gente atendendo editores americanos 
e europeus diretamente, sem intermediários...
pretende trilhar por esta senda?

Watson: No momento estou trabalhando numa Graphic
 Novel infantil. Essa linha de trabalho tem todo um 
sistema que exige mais tempo que as HQs que costumo 
fazer. Desse lance, o Rafael cuida! 
Eu só desenho bengala...
Rsss...



Graphic Novel Infantil - Projeto atual

 

Tony 35- Bela parceria e como é bom saber que você já 
está na ativa, grande Watson! Bem vindos – você,
o Rafa e o Moloch -, e muito sucesso! 
Planos para o futuro?

Watson: O futuro é amanhã, eu vivo o momento. 
Mas meu agente tem negociações fechadas em projetos
pro primeiro semestre de 2012. Fora isso, está em
andamento outro projeto com o caveman (Moloch) e 
Rafael, que  acredito, vai completar um
ciclo sobre um tal de Watson .


O vídeomaker, parceiro e amigo,
Wagner Moloch
 
Tony 36 – Tô sentindo firmeza nesses seus parceiros. 

Vai fundo, Magrão...  Grande bengala boy brother 
Watson, bem vindo a nossa milenar confraria dos 
Bengalas Boys Club.

Foi uma imensa honra poder
entrevistar alguém que sempre respeitei e admirei, 
poder registrar aqui seus feitos, principalmente para  
a nova geração. Poder saber mais sobre sua carreira,
sobre o que rolou nos bastidores e também por poder
 anunciar ao mundo este seu retorno ao metiê.
Que Deus o abençoe nessa nova empreitada e que
você seja muito feliz e nos dê grandes alegrias 
com suas criações. Hoje estamos com boa audiência 
internacional e muitos têm conseguido até manter 
bons contatos com editoras nacionais e até de outros
países graças a essas nossas entrevistas. 
Tomará que ela abra muitas portas à você... digo, 
à voces. Deixe aí seu e-mail, fone para contato, 
endereço de site ou blog, etc. 
Fique a vontade. A casa é sua...

Watson: Meu agente vai cuidar dessa parte! Rsss…  
Contato: Rafaportela_@hotmail.com
rafaelportela31gmail.com 
                             
Tony 37 - Valeu, fera! Muito sucesso, Magrão!
Vi sua foto no blog e você não engordou uma grama, cara... 
continua com aquela cinturinha de bailarino espanhol (Rsss...).
Precisa me recomendar essa academia, bengala friend (Rsss...). 
Até mais! Um grande 2012, parceiro!

Watson: “ Academia genética!” Rsrsrs... Foram perguntas 
pertinentes, sem aquela mesmice e bem descontraída, 
old bengala friend! Que Deus te abençoe também e nos
dê mais espaço nesse sistema sufocante! 
A gente se vê  nas esquinas da HQs, bengala Tony! 
Que venha muitas realizações em 2012! 
Fui! Bailarino espanhol? 
Rssss? Faquir é melhor! Rssss... 

Tony 38 - Com certeza, bengala faquir...
até nossa próxima
entrevista webleitores!
FUIIIIIIIIII!!!!



QUER MAIS? NÃO PERCA O SENSACIONAL
BATE PAPO DESCONTRAÍDO COM

MAURO,
Ex-desenhista e colaborador da revista UDIGRUDI,
roteirista e proprietário da Stratégia Propaganda, 
no link abaixo...
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