quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

EDITORA LA SELVA: A SAGA DE EMIGRANTES ITALIANOS QUE FIZERAM HISTÓRIA NA CIDADE DE SÃO PAULO E NO BRASIL! MATÉRIA ESPECIAL!





LA SELVA, UMA EDITORA 
PAULISTA POPULAR!
(A saga dos valentes emigrantes 
italianos,que ajudaram
 a mudar o perfil
do setor editorial no Brasil)


Contos de Terror - Para Adultos.
O Império do Medo. Janeiro 1955.
A editora La Selva foi a primeira a
lançar uma revista em quadrinhos de
terror, no país
Eu nasci no dia 03 de junho de 1956, no bairro proletário 
da Lapa, na cidade de São Paulo, Brasil. Mais especificamente
na Vila Romana, subdistrito da Lapa. Música, desenho 
e o poder da escrita foram dons que recebi do 
Supremo Criador.

Na adolescência, li muitas revistas
 de quadrinhos da EBAL (Editora Brasil -América), 
RGE (Rio Gráfica-Editora – atual Globo), Editora
 Abril, editora O Cruzeiro e de uma tal Editora La Selva. 
Sempre sonhei em trabalhar na área de comunicação 
e Histórias em Quadrinhos e esta era uma
matéria que fazia parte das disciplinas 
da faculdade de comunicação. Ainda nessa época
 (anos 60), participei de um concurso realizado 
pela EBAL para desenhar a História do Brasil em 
quadrinhos com meus desenhos toscos.
Não deu em nada. Mas, não desisti.

 Foi somente em 1973 – após fazer vários 
cursos e um estágio puxado com o grande mestre 
Ignácio Justo -, é que consegui publicar minha 
primeira revista chamada Sargento Bronca – uma
 sátira militar inspirada em Recruta Zero, de Mort
 Walker-, pela editora Saber. 



De lá para cá jamais parei e sempre mantive um pé nas
 casas editoriais e nas agências de publicidade. 
Trabalhei e colaborei com as seguintes editoras:
 Saber, Minami e Cunha, Noblet, Ônix, Luzeiro,
Imprima, Acti-Vita, Rios, Abril, Bloch, 
 Tálamus, Rio-Gráfica, Evictor, 
Nova Sampa Diretriz, Ninja, FTD, Cristal, 
As Américas, Editora do Brasil, 
Ática, Flama, etc.

Entrei definitivamente para o mercado editorial brasileiro
 na década de 70, em plena crise do papel, quando o 
mercado estava, literalmente, de pernas pro ar. 
Gráficos e editores enfrentavam um momento difícil. 
Muitos fecharam e outros reduziram seus funcionários.
 Lembro-me bem que ao visitar pela primeira vez
 a editora Graúna encontrei apenas o editor – que
 mais tarde se tornou um grande amigo-, Reinaldo
 de Oliveira, na sede. Inconformado, me explicou sobre
 a tal crise do papel – que eu nem sabia que existia -,
 ele me mostrou seu parque gráfico vazio, parado.
 “Tive que dispensar meus funcionários e parar 
de editar, Tony.” Explicou-me. 

O país ainda vivia sob a ditadura do regime militar – 
o povo não tinha o direito de votar, de eleger 
um presidente-, e uma inflação galopante assolava
 a nação. Mas, quando se é jovem e idealista 
nada parece poder deter a gente.

Mas, sempre me perguntei: “O que aconteceu com o
 mercado editorial, antes que eu me tornasse 
um profissional? O que, de fato, aconteceu nos 
bastidores dos primeiros editores nacionais? 

Durante anos, busquei nos livros sobre o setor 
editorial brasileiro as respostas para as questões
 que despertavam minha curiosidade.
 Tomei conhecimento de muitos fatos relevantes, 
porém, nem tudo foi capaz de saciar minha 
curiosidade. 
Um dos fatores que me chamou atenção é o fato de que 
os judeus sempre dominaram os meios de comunicação 
pelo mundo e que os italianos tiveram também grande
 influência no desenvolvimento deste 
interessante segmento profissional.


Mestre e bengala friend,  Nico Rosso, outro
italiano dos bons, que muito
contribuiu para as HQs
nacionais
Editores e artistas,  como: Miguel Penteado, Jayme 
Cortez, Ignácio Justo, Nico Rosso, Minami Keizi,
 Carlos da Cunha, Cláudio Seto, Arlindo Pinto,
 Queiroz, Toninho Duarte, Fernando Ikoma, Vito
e Jácomo La Selva, Edmundo Rodrigues, 
Assis Chateaubrinad, Adolfo Aizen, Victor 
Civita, Roberto Marinho, Milton Azevedo, 
Carlos Cazzamatta, Nico Rosso, Lanzellotti 
e Hercilio, tiveram vital importância para o
 desenvolvimento desse setor no país.

Tomei conhecimento que em minha cidade, 
bairros, como: o Brás, a Móoca e o Cambuci eram 
tradicionais redutos de editores e 
que na Vila Maria se concentravam os editores
 de álbuns de figurinhas.
 No entanto, eu desejava saber mais sobre os
 emigrantes italianos, que eu ouvira dizer que
 haviam contribuído muito para que 
o metiê se desenvolvesse.

Quando comecei a trabalhar nesta área as grandes
 editoras que publicavam revistas em quadrinhos
 se concentravam na cidade do Rio de Janeiro. 
Em São Paulo existia a poderosa editora Abril e
 algumas pequenas casas editoriais. 
Eu vivia viajando para a Cidade Maravilhosa, afinal
 era preciso trabalhar, correr atrás
 de possíveis clientes.
Mas uma coisa não saia da minha cabeça: 
“Quais teriam sido os feitos dos italianos 
em prol das HQs?
  
Foi somente na década de 80 que ouvi falar de Angelo 
Agostini, o primeiro a publicar uma HQ no país e
 que era de descendência italiana. 
Quem conhece bem esta cidade onde moro sabe 
que ela é tipicamente italiana e que bairros
 como: o Bixiga, a Móoca e  o Brás, ainda abrigam 
muitas descendentes de italianos com suas
maravilhosas cantinas.

Conheci Reinaldo de Oliveira – um dos maiores
 produtores gráficos do país -, quando ele era 
proprietário da Gráfica e Editora Graúna
(editava Golden Guitar, etc), como 
já citei -, e anos depois nos tornamos bons 
amigos quando fui contratado para trabalhar
 na editora Noblet, que ele também freqüentava.
 Passou a ser comum eu, o Cortez e o Reinaldo,
 freqüentarmos eventos sobre HQs no Museu da 
Imagem e do Som, MASP, Sindicato dos Jornalistas 
de São Paulo – onde iniciou a AQCSP 
(Associação de Quadrinistas e Cartunistas de
São Paulo), etc. 
Aos finais de semana costumávamos freqüentar 
com nossas esposas as tradicionais casas italianas
 do bairro gastronômico do Bixiga. 
Enfim, eu e o Reinaldo, nos tornamos bons amigos 
e até chegamos a fazer alguns 
trabalhos em parceria.


O Saudoso bengala brother Reinaldo de Oliveira
Na década de 80, o grande amigo Reinaldo se tornou 
sócio do Mauricio de Sousa, na distribuição de tiras 
de jornais, e pouco tempo depois montou sua própria 
agência para distribuir material de imprensa
 chamada DIME. E foi através da DIME,
 que um velho personagem que eu havia criado 
para a revista Jogos e Diversões (da Noblet),
 chamado o Inspetor Pereira, acabou sendo
 publicado em mais de 50 jornais do país.
Até hoje, a bengala girl Rita Carnetti,
comanda a DIME, que ainda distribui
material de imprensa.

O Reinaldão – com costumávamos chamá-lo, devido 
ao porte físico atarracado, apesar da baixa
 estatura -, adorava HQs e sempre foi eclético:
 desenhava, escrevia – HQs-, revisava, editava e
produzia livros e ajudou muita gente. 
Também foi editor da lendária revista Fiesta, de
 Jácomo La Selva. Ele, Alvaro Moya e Jayme 
Cortez, eram os representantes brasileiros das 
HQs no tradicional Festival de Lucca, na Itália. 
Perdi a conta de quantas vezes nos encontrávamos,
 após ele voltar de Lucca, para apreciar as fotos que 
ele trazia desse evento onde ele aparecia ao
 lado de Hugo Pratt e outras feras do traço.

Aos poucos descobri que ele havia convivido com
 os editores italianos do passado. Perguntei sobre
 eles e o velho e saudoso amigo me disse: 
“Estou preparando um livro sobre a família 
La Selva, Tony. E vou fazer questão de lhe dar
 um exemplar autografado no coquetel de 
lançamento. Com ele você terá respostas à 
todas as suas questões.”
Fui ao tal coquetel e ganhei o livro das mãos de 
seu autor, Reinaldo de Oliveira – a edição 
tinha o planejamento, produção e pesquisa 
iconográfica de Maria Sousa de Almeida
 La Selva, a viúva de Vito Antônio La Selva.
 Durante anos guardei esta obra sui generis 
a sete chaves. Hoje, esta edição deve ser rara.
 Seu título? La Selva - Pequena História 
de uma Editora Popular.


La Selva - Pequena História de Uma
Editora Popular - Livro de bolso
escrito por Reinaldo de Oliveira,

lançado em 1987 - Ed. Sublime 
Esta obra é cheia de depoimentos de gente 
importante do setor editorial tupiniquim
e narra a saga desta grande
família de emigrantes. 
E é com imenso prazer que, a seguir, vou 
compartilhar boa parte de seu conteúdo com 
vocês, bengalas friends. Conheça...

A VERDADEIRA SAGA
 DA FAMÍLIA LA SELVA!
(Homenagem a uma grande 
editora paulista e à esses
empreendedores italianos!)

Num passado não muito distante – antes de 1888 -, os 
emigrantes que chegavam ao Brasil eram maltratados,
 afirmam alguns historiadores. 
Muitos italianos que migraram para este país
 jamais haviam lido o livro de N. Marcone, publicado 
na Itália, cujo título era "Os Italianos no Brasil",
 no qual o autor revelava as condições de trabalhos 
que tinham que enfrentar seus compatriotas
 nas matas brasileiras.
 “O Brasil não é o Eldorado que se proclama”, 
afirmava o escritor.

Segundo escreveu um cronista no ano de 1900, 
após visitar uma Hospedaria de Emigrantes, em 
São Paulo, a coisa não tinha mudado. 
Escreveu: 
“Não encontrei uma só cama; creio que os
 emigrantes dormem no chão! – e finaliza – 
"Ao lado do edifício há um posto policial 
para garantir a tranqüilidade do estabelecimento!”

Anos depois passaram a existir as chamadas 
“Vilas de colonização italiana”, segundo declarou
 um dos membros de uma família italiana.
 Mas, o excesso de gente fazia os pobres emigrantes 
dormir uns amontoados sobre os
 outros à frente do prédio.


Hospedaria para os Emigrantes


Curiosamente, apesar das agruras que esses emigrantes 
italianos estavam passando no Brasil, centenas
 de piróscafos - naus a vapor-, que eram verdadeiros 
navios negreiros modernizados, onde seus 
comandantes tinham ordens de encher 
todos os espaços, visto que as companhias cobravam
 por cabeça, saiam dos portos italianos com destino 
ao Brasil abarrotados de gente.

A SAGA DA FAMÍLIA LA SELVA
(A CHEGADA AO BRASIL)

O pequeno Vito Antonio La Selva – que tinha 
apenas 4 anos -, desembarcou com seus pais e avós 
 no Brasil, cheios de bagagens no caís de Santos, em 
1904, oriundos da ilha do Eremita, em Polignano a 
Mare, perto de Bari, Itália, onde 
se originou a família.


A árida Ilha do Eremita, em Polignano, perto de Bari,
Itália, de onde vieram os La Selva
Depois de passarem pela inspetoria de emigração, 
no porto de Santos – litoral paulista -, subiram 
para cidade de São Paulo - o Planalto Paulista. 
Primeiramente, foram morar na rua Conselheiro 
Furtado, no # 26. Pouco tempo depois, eles se
 mudaram para o bairro proletário do Brás, reduto
 de emigrantes italianos. Primeiro, moraram na
 rua Benjamin de Oliveira, depois
 na Álvares de Azevedo.

Certa feita - segundo antigos relatos -, um candidato
 a um cargo político, daquele distrito, foi visitar
 a italianada para angariar votos. 
Abaixo, observem o diálogo que se seguiu:

- Siamo intesi?
- No. Non sono elettore.
- Non è elettore? Ma perchè?
- Perchè sono italiano, mio caro signore”.

O Brás - Aquele era um bairro de trabalhadores, 
onde fervilhavam movimentos que pleiteavam melhores
 salários e menos horas de trabalho.
 Os operários daquela época eram 
escravizados nas fábricas.

“Naquela época existiam muitas legas (sindicatos)” – 
declarou um historiador, que consultei. 
E completou -  “A classe trabalhadora brasileira
 era constituída de elementos díspares, de muitas
 raças, idiomas, temperamentos, culturas e hábitos.
 Era muito difícil reunir e organizar essa gente. 
Operários e camponeses imigrantes estavam no
 país fugidos da guerra, dos ditadores europeus 
e eram obcecados para voltar às suas pátrias. 
Viviam individualmente “na América”, como 
costumavam dizer. 
Em 1906, surgiu o Primeiro Congresso
 Operário Brasileiro.”

Naquela época, um italianinho vindo da região 
de Bali só tinha duas opções profissionais: 
Ser peixeiro ou jornaleiro. 
O pai de Vito La Selva decidiu ser jornaleiro.
Uma imprensa incipiente e desorganizada
 acontecia no país.
Segundo, costumava dizer, o alemão 
Carl Von Koseritz:
 “É insuportável o sofrimento dos 
vendedores de jornais, engraxates 
e vendedores de bilhetes.
 Esses maltrapilhos perambulavam pelas 
ruas aos milhares – negros, mulatos, italianos 
e até garotas -, apregoando aos berros as
 qualidades dos jornais e revistas que vendiam – 
recentemente saídos das tipografias -, entre os 
bondes que circulavam pela cidade."


Ponto de venda improvisado numa
 praça da cidade (Anos 30)



Banca de jornal atual -
 Moderno ponto de venda
Os primeiros pontos de vendas de jornais e revistas
 eram quiosques improvisados nas principais
 praças do centro da cidade. 
Poucos títulos circulavam na época.
Nas casas das típicas famílias italianas as mammas 
tentavam economizar ao máximo o minguado
 dinheiro que a família conseguia arrecadar 
durante o mês. 
Carne? Ela era só para os homens, quando tinham.
 Feijão? Era uma luta encontrar um grão na 
panela cheia de água.
 Arroz? Era sempre pouco. Tempero? 
Era banha frita com cebolas e alhos. Trigo?
 Só para doentes, assim como o pão.
 Chupetas e maizenas para engrossar as 
mamadeiras das crianças? Nem pensar.
 As famílias de melhor posse mantinham uma 
cabrita para fornecer leite aos pequeninos.
 Quando o leite era pouco aumentava-se ele 
com água adocicada com melado de cana, pois
 açúcar era um produto caro.
 Comia-se muita polenta, que era barata e dava
 para enganar o estômago. 
Dormia-se tarde e levantava-se cedo. 
Aos poucos os italianos foram se organizando.

Foi nesse ambiente estranho que o pequeno
 La Selva cresceu estudando num dos colégios
 do Brás e trabalhando muito para vender
 jornais para ajudar sua família, entre a cantoria
 da molecada cuja letra dizia:

“Italiano grita
Brasileiro fala
Viva o Brasil
E a bandeira da Itália!”

Aos 17 anos, Vito Antonio La Selva teve que voltar 
à Itália para servir a Pátria, em 1917.

O REGRESSO AO BRASIL
Dona Crescência e seu Vito, em
Monte Catini, Itália em 1963
Ele só voltou ao Brasil em 1925, 
após servir na marinha 
italiana, que o fez participar da parte final da 
Primeira Grande Guerra Mundial. 
Um emigrante casar com uma brasileira era
 raridade na época.
 Assim, o jovem La Selva voltou casado com 
uma italiana, Crescência Boccuzzi.
 Se instalaram no decadente bairro do Brás.
Assumiu, desta feita, a profissão de jornaleiro,
 assim como outros seus outros compatriotas
 que ficaram famosos, como: 
Zambardino, Labate, Siciliano, Pelegrini, 
Modesto e Mastrochirico.
No mesmo bairro nasceram seus filhos: Paschoal, 
Jácomo.  Antônio, Ana, Maria Anita, Ana Afonsina, 
Antonietta, Olga Teresa, Estevão e Helena Lucia, 
vieram ao mundo quando o casal se mudou para
 o bairro da Vila Mariana, em 1933.
 Os rapazes, desde pequenos ajudavam o pai a 
vender jornais e revistas.
 As meninas estudavam.



Em 1933, a família já possuía uma banca de
 jornal na Praça da Sé, esquina com a rua
 Venceslau Brás. Mas, o grosso da venda ainda 
era feita aos gritos pelas ruas.
 Os pequenos jornaleiros gritalhões empesteavam 
as ruas da capital paulista. 
Muitas vezes esses vendedores ambulantes
 (marreteiros) deturpavam as manchetes, visando 
empurrar toda a mercadoria e levar 
alguns trocados para casa.     

DÉCADA DE 30


Na metade desse período, quando a famosa revolução 
constitucionalista já havia ficado para trás, jornaleiros
 e jornalistas enfrentavam uma situação difícil.
 A pobreza imperava entre esses profissionais.
 Os jornais mais vendidos na cidade de São Paulo 
de Piratininga eram: A noite; A Galegada; A Defesa
 dos Portugueses; A Gazeta de Notícias, 
A Folha Nova, etc...

Aqueles garotos e meninas mal-vestidos vendendo 
jornais animavam a paisagem cinzenta da cidade
 que era conhecida como “São Paulo, Terra da Garoa”.
 Bancas improvisadas surgiram por toda a cidade
 e as frotilhas de distribuição, fruto do incipiente 
progresso industrial das empresas editoriais.
Esses pequenos vendedores eram peças importantes
 na nascente industrialização dos jornais brasileiros,
 num país tipicamente agrícola, e eles não eram 
apenas uma exclusividade da cidade paulista. 
Em outras cidades como: 
Rio de Janeiro, Porto Alegre, etc, centenas de
 jovens iniciaram sua vida como 
arautos de jornaleiros.
 Muitos deles ficaram famosos e bem conhecidos 
do público-leitor. 


Os jornais e revistas eram vendidos, aos gritos,  pelos
garotos e garotas jornaleiros, para ganhar
alguns trocados
Com o lento crescimento do mercado editorial
 os pontos de venda também começaram a aumentar.

SURGE A AGÊNCIA 
(DISTRIBUIDORA) LA SELVA


1935 – O então prefeito Prestes Maia regulamentou 
a profissão de jornaleiro. Os La Selva tinham montado
 uma pequena distribuidora.
 Nela passaram a distribuir um novo jornal do 
Rio de Janeiro chamado A Nação. 
Este periódico logo passou a trazer um suplemento
 humorístico, infantil, policial, feminino ou esportivo.
Graças a esses suplementos, principalmente o 
infantil, fez um tremendo sucesso.
 Mas distribuí-lo dava um trabalho danado.
 O produto editorial vinha do Rio, diariamente, 
pelo trem da Central e este trem costumava
 atrasar. Como não se tinha o direito de devolver 
encalhes, naquela época, chegasse à hora 
que chegasse, com sol, chuva ou tempestade, 
fosse dia ou noite, era preciso vender, se 
possível, todos os jornais.
 Dia de chuva aquela era uma tarefa 
quase impossível.

Lá pelo décima quinta edição desse jornal popular
 o Suplemento Infantil, devido ao sucesso, 
foi desmembrado. 


Teatro Municipal na São Paulo da década de 30
Atual Teatro Municipal
Os La Selva se animaram. 
Porém a distribuição foi entregue a outra
 agência concorrente, que eram parentes deles.
Todas as grandes publicações que traziam quadrinhos
 e que faziam sucesso estavam nas mãos dos 
distribuidores italianos, como: Zambardino
 (A Gazetinha), Siciliano (O Globo Juvenil),
 Modesto (Suplemento Juvenil).

As agências (distribuidoras) estavam sobre o
 comando de nomes que se tornaram famosos no 
setor editorial paulistano, como: 
Polano, Scafuto, Annunziato e Soave. 
Primeiramente essas pequenas agências se
 concentraram na Galeria Pirapitingui, na rua João
 Bricola, em frente a antiga redação do jornal
 Diário Popular. 


Largo São Bento


Largo São Bento atualmente
Na outra extremidade da rua, na Boa Vista, ficava
 o velho e famoso jornal O Estado de São Paulo.
 Em pouco tempo a Praça Antonio Prado virou
 o centro de distribuição de todas as publicações, 
por ela estar próxima aos jornais mais
 vendidos da época.      

Pouco tempo depois os La Selva se associaram 
a Pelegrini e passaram a distribuir também 
revistas, como: Vida Doméstica, Jornal das
 Moças, Parati, além de publicações menores. 
Com a distribuição de Vida Doméstica surgiu o
 contato com outras praças do país e foi possível
 montar uma lista de novos agentes, embrião 
para que fosse montada a bem estruturada e 
lendária Distribuidora La Selva, que em curto
  espaço de tempo contava com 600 
agentes pelo país afora.


Antigo Viaduto do Chá

Atual Viaduto do Chá
Rua Boa vista, hoje

A antiga rua Boa Vista
A primeira grande publicação distribuída para 
todo o país, pela La Selva, foi Bom Humor, que 
havia sido fundada por um grupo de empresários
 vindos da Argentina, que decidiram lançar aqui 
no país uma versão nacional de uma publicação
 argentina que fazia muito sucesso 
naquele país chamada Rico Tipo.
O novo produto editorial obteve um sucesso
 extraordinário.
 O magazine vendia quinzenalmente cerca de 45 mil
 exemplares. Isto fez despertar a curiosidade das 
agências concorrentes. 
Esse sucesso espetacular da revista animou o 
distribuidor Vito La Selva e ele decidiu entrar
 definitivamente para o ramo editorial,
como editor.

SURGE A EDITORA LA SELVA


Os editores, Paschoal e Jácomo La Selva,  e o jovem
diretor de arte Jayme Cortez, sentado à esquerda
Assim, foi fundada  a primeira editora paulista. 
A primeira de uma série de empresas editoriais
 paulistas que surgiram entre os anos 50 e 60 e que
 viriam a ser denominadas de “Editoras do Brás”.

Com o sucesso de Bom Humor, os empresários 
argentinos lançaram outros produtos em solo
 tupiniquim, como: 
Aventuras -publicação homônima que também era
 sucesso na Argentina-, e que era editada pelo 
desenhista Horácio Gutiérrez, etc. 


Revista de Humor - A Marmita
Esta revista trazia em cada edição uma novela ou 
filme de sucesso, adaptada por um bom roteirista
 e desenhada por ilustradores como: 
Breccia, Veroni, Novele, entre outros.
Essa novela ilustrada era impressa num caderno 
central especial que podia ser facilmente 
destaca e colecionada.

Vendas em alta. Outros concorrentes decidiram 
entrar no ramo. 
Um outro grupo decidiu lançar uma nova revista
 de contos policiais chamada Fantomas, cheia
 de ilustrações de brasileiros, como: 
Italo Cencini, Darcy Penteado, Guilherme e 
Sigismundo Walpeteris. 
Outro produto também foi lançado pelo mesmo
 grupo editorial, mas teve breve duração:
 Caricatura.

1947 – A ASCENÇÃO

Neste ano a família La Selva desfez a parceria 
com os Pelegrini.
De repente, a distribuidora La Selva começou a
 crescer cada vez mais, quando passou a distribuir
 a revista Sesinho, dirigida por Vicente Guimarães, 
que ficou conhecido como Vovô Felício, da 
esquecida publicação mineira chamada 
Era Uma Vez.



Dick Peter, um dos títulos
da La Selva








Contos de Terror

Sobrenatural (1955)
Revistas como:
Ciência Ilustrada - de Salvador Bentivegna, 
Auro Teixeira e Giovani Costa Júnior-, 
também entraram para
 valer no mercado editorial.
 Assim como outras publicações:
A Marmita – tablóide humorístico
 de Edson Machado-; 
Televisão – tablóide de rádio-novelas
 “fotonovelas”, de Normet Pinheiro; O Cômico 
Colegial – de Auro Teixeira-; Seleções Práticas – 
de Reinaldo de Oliveira, Clóvis Tavolaro e Jacy
 C. Assis-, e Lavoura e Criação.


Televisão

“Comecei na profissão fazendo 
Seleções Práticas, uma 
revista diferente daquilo que eu mais gostava:
 HQs. Tomei essa iniciativa influenciado pela
 admiração que eu tinha pela revista americana 
chamada Popular Mechanics.
 A revista era minha e de alguns amigos do bairro 
do Bixiga, onde eu morava. A publicação morreu do 
mal do sétimo número.” – 
declarou Reinaldo de Oliveira.


Seleções Práticas de Reinaldo de Oliveira
Nota: Até hoje existe esta lenda de que se uma 
publicação passar da sétima edição ela será um sucesso. 
Daí o termo “Mal do sétimo número”.

“ A distribuidora La Selva “ – explicou Reinaldo – “, que
 distribuíra minha revista, me apresentou para um 
editor do norte do país, Pelódidas Galvão, que tendo 
trazido para São Paulo sua publicação, resolvera
 voltar para Recife e deixar alguém 
aqui para cuidar dela. 
E lá fui eu editar Lavoura e Criação, que 
trazia artigos sobre plantios, rações, avicultura
 e uma recomendação expressa do dono da editora:
 “Clichê novo só o da capa! No miolo repetir os 
clichês do arquivo, indefinidamente, pois uma 
galinha é uma galinha e um boi é um boi!” 
Sentenciava o econômico empresário e 
proprietário da publicação.


O jovem Reinaldo de Oliveira
Nota: Naquela época não existiam fotolitos
 (celuloses transparentes que registravam as artes que
 seriam impressas nas revistas).
 As revistas eram todas feitas com clichês.

A EDITORA LA SELVA








Sem parar de distribuir os produtos de editores, 
timidamente a La Selva começou a editar suas 
próprias publicações, que mais pareciam panfletos. 
A primeira foi Seleções de Modinhas, cuja a única
 diferença dos concorrentes, que em sua grande
 maioria vinham do Rio de Janeiro, era a capa que
 era chamativa, bem colorida. 
Os La Selva sabiam que esta diferença chamaria 
mais a atenção dos leitores no ponto de venda. 
Assim, as capas de Seleções de Modinhas
 (Músicas) traziam sempre uma fotografia 
multicolorida de um cantor famoso. 

Com o dono da revista Cômico Colegial,
 Auro Teixeira foi feito um acordo e a revista
 passou a ser editada diretamente pela La Selva. 
Aos poucos essas novas publicações foram 
conquistando público e com o sucesso da
revista Polícia foi criado outro título: 
O Crime Não Compensa.


Modelos posaram para a capa abaixo -
O ator Lima Duarte e Anita Greis, esposa
do Alvaro Moya

O Crime Não Compensa
Cortez trabalhando com modelo vivo
“Foi nessa época que fui contratado 
pela Editora La Selva
 para tomar conta de todas as revistas da casa
 e fazer mais uma: Seleções Enigmáticas “ – 
declarou Reinaldo de Oliveira.  
“Levei para trabalhar comigo, como free-lance, o
 desenhista João Batista Queiroz.”

"Eu fazia os desenhos de piadas para o
 Governador e Seleções Humorísticas,
de Laio Martins Filho” – 
explicou Queiroz e continuou:
 "Eu ainda era um principiante e a primeira vez 
que o Reinaldo viu meus desenhos implicou 
logo com a minha assinatura: Jobarth."


Queiroz, engravatado
"- Isso é nome de desenhista? – disse-me o Reinaldo - 
Assine simplesmente Queiroz!”
   
 Nota: 
Meu velho e saudoso amigo e bengala brother, Queiroz,
lembou-me sobre um detalhe curioso: Reinaldo
era tido como encrenqueiro. Brigava com editores
e autores, para defender seus irredutíveis
pontos de vista. Mas, sempre nos demos bem.

“Além disso, vendo um título que eu desenhara 
para um rótulo, o Reinaldo descobriu em mim
 uma habilidade que eu mesmo não tinha
 percebido: eu era um bom letrista.
 E isso, na época em que não existia Letraset, 
era uma grande vantagem.” - concluiu Queiroz.

Nota:
 Letraset – Este era o nome de uma cartela –
 vendida em papelarias -,  que continha todas as
 letras do alfabeto, e que por serem autocolantes
 podiam ser facilmente transferidas e alinhadas
 para um original, para se fazer títulos e manchetes.
Evitava-se assim ter que desenhar as letras 
manualmente, como no passado. 
Inicialmente o material
vinha do exterior. 
Antes dessa fantástica invenção títulos e
 manchetes eram desenhados a mão por
 especialistas que eram muito 
bem remunerados.

“Pouco tempo depois, o Reinaldo 
me passou serviços de
 uma nova editora em que ele estava trabalhando.
 Era o começo da Editora La Selva.
 Todos os títulos das revistas, as chamadas de
 capas, os títulos internos, anúncios e vinhetas, 
além de inúmeras piadas, inseridas na revista
 humorística Seleções de Rir Ilustrada, foram
 feitos, nesta primeira fase, por mim.” – 
afirmou Queiroz.


Seleções de Rir Ilustrada - capa com a arte de Queiroz.
Abaixo: A mesma publicação substituiu as
ilustrações por fotos de garotas de
escandalosos biquinis, para a época



NOTA: 
Em 1950, Seleções de Rir Ilustrada – 
lançada pela La Selva -, passou a ser uma
 das mais famosas revistas de pin-ups 
(garotas em trajes menores) do país.
 Esta revista durou até 1958, apesar deste título
 ter sido substituído posteriormente e ainda 
ter subsistido por mais dez anos, quando então 
a empresa foi dissolvida. 
Grande parte do sucesso desta publicação
 se deve aos desenhos,
a paginação e as fotos produzidas por
 Jayme Cortez, que de forma pioneira dava
 destaque às modelos brasileiras – 
geralmente vedetes, que posavam em 
seus camarins ou em hotéis.
Certa feita, o grande mestre Jayme 
Cortez se lembrou com malícia, das 
confusões que sobrevinham 
durante essas deliciosas
 jornadas fotográficas...

“ A Editora La Selva ficava na rua Pedro de Toledo,
 231, na Vila Mariana. Era uma casa de um só andar, 
com fachada de pedras vermelhas, recuada um pouco
 da rua, com um pequeno jardim à frente.
Ao lado, havia uma entrada para carro que ia
 até ao fundo." - recordou o mestre, que
também adorava fotografar.


Família La Selva, na Vila Mariana.
Na esquerda: Maria Teresa, Estevão, Helena e
Afonsina. Em segundo plano: Jácomo,
Antoninho e Antonieta
Foto: Jácomo, em pé e Paschoal sentado, quando a
família morava no bairro do Brás


Continuou, Cortez:
"Ali numa garagem ampla, com um quarto em 
cima, era a redação onde trabalhávamos todos. 
O Paschoal estava sempre controlando os agentes
 do interior, com enormes fichas de 
remessa-deve-haver. 
O Jácomo fazia a distribuição e as incansáveis 
cobranças dos agentes nas ferrovias, pois
naquele tempo cada linha de estrada de ferro – 
Central, Sorocabana – Santos - Jundiaí – tinha um 
agente que mantinha jornaleiros vendendo 
publicações dentro do trem em movimento. 
Esse vendedores iam e voltavam com o trem, 
sempre percorrendo os vagões.
Um parente da família, fazia os 
pacotes para serem 
despachados para o interior.
O senhor Vito ia de madrugada para a praça 
Antonio Prado, com um velho e possante 
Lincoln Zephir, verde, abarrotado de revistas. 
Levava as nossas e o Sesinho, única publicação 
que continuou distribuindo depois que se
tornou editor. E todo dia, tentava vender o
único encalhe homérico da editora: 
O Álbum dos Artistas, que era publicado em 
4 cores, em couchê, 129 gramas, mas que 
não vendia nada." 


O velho carro de Vito, um Licoln Zephir
Ainda segundo Jayme Cortez,
quando se oferecia O Álbum dos Artístas aos 
jornaleiros, eles diziam: “ Joga na água!”
Lá pelas onze horas “seu” Vito voltava
 trazendo os números não vendidos, ou o
 encalhe de alguma revista anterior que
 já havia sido substituída por 
uma nova edição.

 "Também era comum ele trazer uma enorme 
cesta de compras, sempre com enormes 
camarões, pois a boa mesa era, também,
 uma característica daquela casa editorial.” -
narrou Cortez.

Jayme Cortez e o grande desenhista Lanzellotti
Declarou Reinaldo de Oliveira...

“Meu serviço era tratar das edições, ir às gráficas,
 contratar desenhistas e ser “ajudado” pelo 
“seu” Vito, que “teimava” em recortar 
pin-up-girls de uma revista alemã chamada
 Golden e atirá-las em minha mesa. –
 Esta serve, Reinaldo?, dizia ele.”

Nota: As pin-ups de 1950 usavam biquínis enormes, 
mas faziam muito sucesso. Essas belas garotas
 alavancavam as vendas.

Ainda esclareceu Reinaldo...

“ Perto do carnaval editavam-se modinhas com as
 músicas de sucesso. Nesses dias todos da família
 trabalhavam. Até parte do serviço Gráfico, como:
  dobrar e grampear eram feitos na redação, 
com esses grampeadores de escritório mesmo.
Foi nessa época que os La Selva tiveram uma 
oportunidade de ouro. A editora ainda lançando 
produtos com o nome genérico de Cômico 
Colegial, editou uma edição mensal com um
 super-herói Made in USA desenhado por
 Jerry Robinson, com o título de Cômico 
Colegial apresenta... Terror Negro. 
A edição nacional teve a capa desenhada pelo
 pintor Waldemar Cordeiro, no ano de 1951."
 
Terror Negro
Terror Negro era uma versão nacional da
revista em quadrinhos The Black Terror








Segundo as declarações do livro,
tudo começou naquele início da década de 50, quando 
o representante da agência internacional ICA 
Press (APLA), era José Viegas, que ofereceu para a
 editora a edição americana de Beyond, uma das 
muitas revistas de terror que estavam sendo 
editadas com sucesso na América.

Um ano depois, quando a edição americana foi 
suspensa nos Estados Unidos devido os 
La Selva aproveitaram o título
 que vendia bem no país e decidiram lançar
 HQs de terror produzidas no Brasil.

“ O aparecimento das revistas de terror obedeceram 
a uma escala crescente do gênero. 
Revista completa mesmo só surgiu em 1951; 
mas histórias avulsas muito antes desta data
 já eram publicadas no país.” – afirmou 
Reinaldo.


Terror Negro - Versão brasileira

"Dentre estas HQs avulsas de terror
estavam títulos, como: Doutor Oculto – 
que saia na revista Mirim, em 1937. 
HQ desenhada por Leger e Reuths (Jerry Siegel 
e Joe Shuster), que mais tarde criariam o 
Superman, o primeiro super-herói do mundo
 dos quadrinhos para a revista Action Comics." -
explicou Reinaldo e continuou:
"Nessa mesma época surgiu com desenhos 
a revista  Eleven, uma publicação  estranha e 
diferente, um misto de Flanagan e Charles
 Dana Gibson, bem 
rudimentar, do mesmo editor americano – 
Ridder Haggard -, que publicava a revista Ela- 
que naquele tempo era grafada como: 
Ella, cheia de romances fantásticos, aventuras
 e algumas HQs de terror."


1937 – A GAZETINHA
    
Garra Cinzenta - Um clássico das HQs
brasileiras
Foi através deste livro produzido pelo
Reinaldo, foi que eu descobri que
nesse ano a Gazetinha publicou pela primeira
 vez uma história em quadrinhos autêntica 
 de terror desenhada totalmente no Brasil: 
A Garra Cinzenta, escrita e desenhada 
pelos brasileiros 
Francisco Armond e Renato Silva. 
O sucesso foi imediato. 
Nesta mesma edição foram publicadas:
 O Castelo de Fauburg - de Thomas Morgan -, e
 o Homem Invisível – não o de H.G.Wells -,
 esta versão era desenhada por Tiradez. 

Nota:
Essas HQs publicadas prenunciavam
 timidamente o gênero intrevisto já bem 
anteriormente nas HQs de Little Nemo,
 do inovador Windsor McCay, em 1905, e
 Piemouth, de Feininger, em 1906, além de
 inúmeras outras criações que anteviam o
 gênero que se tornaria independente
 no final da década de 40.

PERÍODO PÓS-GUERRA 

Com o término da guerra os super-heróis, 
que na década de 30 tinham feito um 
estrondoso sucesso na América, estavam 
desgastados com o uso e o abuso de seus 
superpoderes para vencer o inimigo comum:
 os nazistas de Adolf Hitler. 
Esses super seres tinham caído no
 desprestígio e pela constante
 repetição de suas histórias pouco criativas. 
As publicações americanas estavam em crise
 era preciso renovar para que os comics 
não morressem.
 Muitas editoras estavam
 fechando e milhares de pessoas ligadas 
ao setor editorial daquele país 
estavam ficando sem emprego.


Frankenstein - Publicado pela La Selva





O mérito de levantar o abalado mercado editorial
 da América coube ao genial Stan Lee que, renegando
 suas criações anteriores – todas de super-heróis -, 
após avaliar com olho clinico a coisa toda, 
corajosamente decidiu lançar um novo título
 chamado: Terror Tales. A criatividade do
 jovem Stan Lee revitalizou o mercado
editorial, que estava prestes a desaparecer.
 Com o sucesso de Terror Tales vieram
 outros produtos editoriais, como: 
Adult Fantasy, Tales of Suspense, 
Strange Tales e outros títulos.


Stan (Lieber) Lee, o criativo escriba americano

Os demais editores da América, diante do sucesso
 da concorrente Timely (atual Marvel), também 
decidiram investir pesado no gênero.

"Ao entrar para este novo segmento -
HQs de terror - a editora La Selva sentiu a 
necessidade de ter mais colaboradores. 
Os primeiros que foram convocados para 
criar quadrinhos de terror no país, foram:
 O mestre Gedeone Malagola, Francisco Oliveira,
 João Batista Queiroz e, logo depois, Alvaro 
Moya, Syllas, Jayme Cortez
 e Miguel Penteado. " explicou Reinaldo. 
E concluiu:
“No ano de 1951 eu sai da editora La Selva, passando
 a trabalhar na Abril, de Victor Civita, que estava 
começando numa salinha no centro da cidade. 
Para me substituir veio um moço que foi um 
exemplo de amizade, competência e 
profissionalismo: Milton Júlio.” 
Dona Crescência e "seu" Vito, quando foram
homenageados pela família, em 1950, quando
fizeram bodas de prata

MAIS DEPOIMENTOS IMPORTANTES

“Nós éramos um bando de moleques irreverentes, 
desenhistas, fanáticos por uma forma de 
expressão até então condenada pelos 
pais, mestres, párocos e toda a sociedade:
 Histórias em Quadrinhos." - disse Reinaldo.

Nota:
Anos depois, a coisa piorou. Principalmente 
quando um certo doutor americano – 
que odiava HQs - publicou o livro A Sedução 
dos Inocentes, nos Estados Unidos. 
O livro provocou um rebu mundial.

Ainda segundo o livro...

Corria a década de 50. Em 1947 , havia aportado
 por estas plagas, vindo de Lisboa, o desenhista 
Jayme Cortez Martins, que viria a ser o grande
 mestre não só daquela geração como de
 outras levas de ilustradores 
e desenhistas locais.


"Eu estava começando a aprender a passar tinta nos
 meus desenhos à Lápis com um profissional, João 
Gitahy, que me apresentara a um escritor,
 que era um simples bancário, Syllas Roberg -
 ambos, já falecidos. Eu tinha facilidade para
 imitar com perfeição os desenhos de Alex Raymond,
 Harold Foster e Milton Caniff e de outros
 grandes mestres americanos – o que me valeu, 
no início da carreira, vir a fazer as capas da
 revista O Pato Donald, para a editora Abril.
 Embaixo dos meus trabalhos aparecia sempre
 a assinatura mundialmente famosa de Walt Disney. 
Ciente de que meu trabalho era de um 
iniciante, promovi João Gitahy, que era um 
desenhista versátil, e o levei à redação da
 Gazeta Juvenil, que estava em sua 
terceira versão.
Lá, eu, Gitahy e Syllas ficamos conhecendo
 Jayme Cortez, Messias de Mello, Lindbergh 
Faria, Zaé Júnior, Cláudio de Souza, Sammarco,
 Walter Geneviva e outros feras da época, 
além de Jerônimo Monteiro. Messias era 
fechadão e recebeu com frieza as belas
 ilustrações de Gitahy. Uma página dominical 
de uma HQ de western, escrito pelo Syllas.
Jayme Cortez, como era de seu hábito, recebeu-nos
 com simpatia, chamando-nos para sua prancheta
 e acabou nos convidando para ir à casa dele
 que fica no bairro da Móoca, no sábado. 
Essas reuniões na casa do mestre lusitano
viraram rotina e acabamos, todos, 
ficando grandes amigos." - explicou
Reinaldo.


Na redação da revista Cine-Fan, em 1958,
José Fioroni Rodrigues -tradutor e revisor da revista -,
a jovem atriz Eva Wilma e Lindbergh Faria,

um cidadão que se especializou em jogos e
passatempos, anos mais tarde.
"Depois, começamos a freqüentar 
aos domingos o único zoológico que 
existia na cidade: o do Agenor, 
que ficava na Vila Guilherme.
Lá, ficávamos durante horas, desenhando,
 ao vivo, animais, por influência do Cortez, 
que nos tirou do hábito de plagiar (copiar)
 autores americanos e nos ensinou a 
trabalhar com modelos vivos. Todos nós
 tínhamos visto numa revista argentina uma
 foto de Milton Caniff trabalhando com modelos
 vivos para séries, como: Madame Dragão, 
Burma e Terry e Os Piratas. Aquilo serviu 
de incentivo para que todos passassem a fazer 
suas artes baseadas em modelos vivos, com 
o apoio do Cortez. Na mesma revista de Los 
Hermanos tínhamos lido que o artista americano
  Milton Caniff era “zurdo” e pensamos que ele fosse
 surdo, até descobrirmos que, em espanhol,
zurdo significava canhoto. 
Caniff desenhava com a mão esquerda, tal 
qual Burne Hogarth, famoso 
desenhista de Tarzan.“ – 
ironizou Reinaldo.

Nessa época, ainda segundo ele, instalados na 
ampla sala da casa de Gitahy, ele tentava melhorar 
sua arte. Syllas, que trabalhava numa instituição 
financeira a tarde (num banco) aproveitava as
 manhãs e a noite para ficar com eles.

“Líamos de tudo. Quase todo  dinheiro que 
ganhávamos gastávamos com livros e gibis.” – 
disse Reinaldo.

NOTA: Gibi - Termo pelo qual ficou conhecida
 as revistas de quadrinhos no país, após o 
lançamento da revista Gibi Mensal.

Continua com a palavra 

Reinaldo de Oliveira...

 “Líamos: Satre, Faulkner, Hemingway, Steinbeck,
 Checov, Gogol, Poe, Jack London, Robert Louis
 Stevenson,etc, e muitos autores de quadrinhos.
 Lembro-me bem que, com o tempo, até aqueles
 pseudos-intelectuais que eram contra os 
quadrinhos acabaram escrevendo matérias 
elogiando as HQs. 
O motivo de lermos tanto era porque o Syllas
 nos enfiara na cabeça que, para fazer uma boa
 HQ, tínhamos de saber escrever.
 Aos poucos, fomos descobrindo que ele estava
 correto e que os quadrinhos como os de 
Will Eisner (The Spirit) e Milton Cannif (Terry),
 tinham a mesma linguagem de planos, luz e 
sombra e enquadramentos usados pelo cinema.
 Quadrinhos e cinema tinham tudo a ver.
 Assim passamos a curtir os grandes
 diretores daquela época, como: 
Hitchcock, Kurosawa, Alfred Freen, Joseph 
Lewis, Huston, Vincent Minelli, etc.
Adorávamos os filmes da RKO, Monogram, Mascot,
 Republic, Allied Artists, etc. Percorríamos os 
bairros da cidade em busca dos filmes dessas 
produtoras e diretores. Também líamos críticas
 de cinema, diariamente, escritas por Walter 
George Durst. 
Certo dia, Durst, criticando o filme 
O Rastro da Bruxa Vermelha, com John Wayne, 
disse que aquilo parecia história em quadrinhos
 ruins e elogiava autores como Al Capp, 
Raymond e Eisner.


O genial Milton Cannif
Fiquei surpreso com aquela afirmação dele, 
pois eu jamais tinha ouvido ninguém elogiar
 quadrinhos. Telefonei, na hora,  para a rádio
 Tupi-Difusora e falei com o Durst. 
Sua voz me pareceu fininha ao telefone, 
bem diferente daquele vozeirão que eu estava
 acostumado a ouvir no rádio. 
Depois soube que quem lia os textos do Durst 
era o ator Dionísio Azevedo. Marcamos uma
 visita dele ao nosso estúdio.
 Mas, ele não apareceu.
Então decidimos ir até ele.
Pegamos um bonde e um ônibus e fomos até
 a famosa “Cidade do Rádio”, que ficava no
 alto de um dos bairros nobres da cidade, o 
Sumaré. Lá conhecemos, além dele, Lima 
Duarte, Cassiano Gabus Mendes e muitos 
outros. Dessa forma ampliamos nossos
 relacionamentos, fizemos boas e novas amizades.
 Por intermédio desses talentosos atores e 
radialistas conhecemos Biáfora, José Júlio 
Spiewack, Marcelo Grassman e muitos outros,
a lém do famoso B.J. Duarte, que
 não se dava com os demais. " -
detalhou Reinaldo.


Bonde - Antigo meio de transporte coletivo,
que há muito tempo foi extinto das ruas
de São Paulo e de outras cidades do país


JOSÉ FIORONI
"Houve uma  segunda referência aos quadrinhos 
que surpreendeu a mim e a todos nós.
 Naquela época fazíamos inúmeras incursões pelas
 bancas de jornais da cidade, diariamente. 
Certo dia, vi estampado na capa de um jornal: 
“Terror Negro! Uma Revista Interessante,
 Mas com Capas Fracas!”
Ao ler a matéria tive uma grata surpresa. 
O artigo sobre Histórias em Quadrinhos
 estava assinado por Reinaldo de Oliveira. 
Eu, que na época, fazia o papel de agente do 
Cortez, do Gitahy e do Syllas e que era o 
que mais tomava iniciativas, incentivei o
 pessoal a pegar um bonde e ônibus e
 ira até a Vila Mariana, sede da Editora La
 Selva, que lançava a revista Terror Negro.
 E lá fomos nós, eu, o Cortez e o Syllas. 
O Cortez levava alguns originais em cores 
embaixo do braço. Estavam instalados num belo 
casarão de pedras vermelhas. O lugar tinha
 uma entrada lateral, uma garagem sem carro, 
onde ficava a redação e lá no fundo, no
 canto esquerdo, numa pequena mesa
 encontramos trabalhando, de costas,
 curvado, Reinaldo de Oliveira." 


Nota:
Pela primeira vez uma editora paulista obtinha
sucesso com uma revista de quadrinhos, até então
esse feito era primazia das editoras cariocas.
Esse sucesso repercutiu na imprensa:
"Os La Selva Espalham o Terror Negro!",
anunciava as manchetes de jornais.


E relatou Fioroni...
"Fomos acolhidos pela família 
La Selva calorosamente.
 Pai, filhos e a mamma, todos nos acolheram 
de uma forma inesperada. Fomos aceitos, 
de imediato, pelo clã. Só anos mais tarde,
 freqüentando os Congressos de HQs de Lucca,
 na Itália – reavendo meus ancestrais- , é que 
compreendi a afeição peninsular que existia 
entre nossos dois povos. Sempre houve 
um forte elo entre brasileiros e italianos.
De imediato, o Reinaldo começou a falar de 
HQs como nós, ou seja, entusiasmado. 
Doze anos depois, vimos os europeus falar 
de suas Bandas Desenhadas com o mesmo 
entusiasmo como nós. Ou seja, muito antes 
deles, víamos as HQs como a fusão entre o 
cinema, a literatura e o jornalismo, com uma
 linguagem própria e universal. Naquele
 tempo, ninguém tinha ouvido falar em
 comunicação de massa. 
Mas, nós já tínhamos a visão conjunta de 
tudo isso, que somente anos depois, ficou provado
 através de estudos sobre as histórias em
 quadrinhos, que passaram a ser classificadas
 como um importante veículo de 
comunicação de massa do século XX ."  



Famosos títulos de heróis do western, que
faziam sucesso no cinema, foram publicados
pela editora La Selva


Nota: 
Ainda segundo as declarações
desse livro incrível, essa visão futurista 
e realista sobre as HQs 
uniu cada vez mais aqueles jovens
idealistas que amavam os quadrinhos. 
Deste grupo ainda fazia parte um gráfico que 
tinha muito talento para desenhar, o jovem,
 Miguel Penteado – que anos depois se
 tornaria um grande editor.
FIORONI

"De repente, estávamos cercados de gente que
 falava a nossa língua: HQs. Essa turma nos apoiava
 e dava dicas para que procurássemos trabalhos 
em jornais, revistas e editoras. O trabalho para nós
 foi aumentando gradativamente até que um dia, 
por fim, o Syllas pediu demissão do banco em 
que trabalhava para se juntar definitivamente
 a nosso grupo de profissionais – embora ele não
 soubesse desenhar uma linha reta ou torta.
 Nossa equipe estava, a cada dia, conquistando
 maior espaço de trabalho.
Eu era o amais jovem, o mais impetuoso, o mais 
radical e o mais espanhol da turma. Apesar disso,
 o Reinaldo conseguiu ser mais briguento do
 que eu. Mas, ma minha molequice cometi
 diversos pecados.
 Tenho a consciência pesada hoje.
Para impor as belas capas do Cortez, que eu 
achava que fariam a revista de Terror dos
 La Selva vender mais, critiquei o 
excelente pintor Waldemar Cordeiro,
 que fazia as capas da editora. 
Achávamos que os críticos de arte e os 
grandes artistas como o Waldemar não 
entendia nada sobre a linguagem dos gibis e,
 portanto, não deveriam fazer capas para eles.
  Acabei convencendo os La Selva a experimentar 
lançar uma capa do Cortez. 
Não deu outra: Absoluto sucesso!
Foi assim que a lendária Editora La Selva deu 
início, no Brasil, a um ciclo dos mais ricos e 
férteis para os artistas nacionais: o chamado 
“Ciclo das revistas de terror!”, 
feitas por editores de menor porte. 
Assim, outros gráficos
 do bairro da Móoca, se aproveitando do 
sucesso alcançado pela revista Terror Negro
 da La Selva, e da proibição desse gênero na
 América, e também decidiram entrar na dança.
 Em virtude disso, esse grupo de editores
 menores acabaram conquistando uma 
importante fatia do mercado editorial brasileiro
 e com isso incentivando a produção nacional.”


A COMILANÇA  


As lautas refeições promovidas pelos Las Selvas
Contam alguns sobreviventes da época, que aos
 sábados e domingos, aconteciam lautos almoços
 e jantares na sede da La Selva. E que, nos dias 
de semana, aconteciam muitas festas de aniversários
 e outras comemorações. Enfim, tudo era motivo 
para festejae ou para se comemorar, 
segundo aquela alegre família italiana.



DEPOIMENTO DO

PROFESSOR 


ALVARO MOYA

“O que para eles era o trivial, do dia a dia, para 
nós eram verdadeiros banquetes dos deuses! 
Se ganhávamos pouco com nossos desenhos
 e ilustrações, recuperávamos tudo em comida.
 Eu só voltaria a comer assim lautamente em 
companhia do Reinaldo e do Cortez nos festivais 
de Lucca, na Itália. Para a família La Selva, 
comer era um ritual. A coisa era levada a sério.
 Para nós, fanáticos pelas HQs, aquilo era 
uma heresia. Levavam mais a sério a comilança
 do que os quadrinhos.  Mas, mesmo assim,
 comíamos muito. E eles ainda queriam 
que a gente levasse os amigos...”

Nota:
Na época, a Editora La Selva conquistou um 
importante espaço no mercado editorial 
e cultural nacional, produzindo e distribuindo
 revistas em geral e de HQs, e acabou fazendo 
seu nome entrar de forma indelével para a 
história das HQs no Brasil, ao lado de nomes como: 
Adolfo Aizen, Roberto Marinho e Victor Civita. 
Os nomes desses bravos guerreiros sempre 
se destacaram no trabalho de difusão cultural do país.
Antes dos La Selva e dos Civita a supremacia 
do mercado editorial nacional era dos 
editores cariocas, como: 
Adolfo Aizen e Roberto Marinho.

DEPOIMENTO DE JAYME CORTEZ


Cortez em ação - Na Mauricio de Sousa Produções 
      “A primeira vez que entrei na Editora La Selva,
 em 1950, fui recebido pelo Reinaldo de Oliveira. 
Ele estava acompanhado por dois amigos e colegas, 
Álvaro Moya e o saudoso Syllas Roberg.
Pouco tempo depois, lá estávamos nós, tentando
 vender um novo capista de gibi - eu -, cuja única 
capa que fizera anteriormente fora feita para
 a revista Repórter Policial, das Folhas.
 Tanto o Reinaldo como o editor Vito La Selva 
gostaram do meu trabalho. 
Passei, então, durante muitos anos, a fazer 
as capas daquela editora. Também tornei-me 
parte do clã dos La Selva. Acabei virando
 o diretor artístico da casa com total liberdade.
 Nos especializamos no gênero terror, que 
fora proibido nos States e criamos nossas 
próprias histórias, nossa própria saga, que
 acabou por revelar um grande 
número de bons artistas brasileiros.
Fizemos revistas com comediantes de circos, 
cinema e TV, sempre com autores nacionais. 
Algumas histórias eram ainda importadas, 
mas a maioria era escrita e desenhada pela 
nossa grande equipe. Profissionais de São 
Paulo e Rio de Janeiro. Tentávamos e muitas
 vezes conseguíamos, com felicidade, 
boas vendas nas bancas.
Nossos heróis e personagens nacionais atacavam
 pelos flancos nossos queridos heróis importados,
 como: Flash Gordon, Jim das Selvas, Tim 
e Tok, Hopalong Cassid, etc.
Não posso me esquecer da dupla que fiz com o
 saudoso colega Milton Júlio na revista 
Contos de fadas, Varinha Mágica e Fantasia. 
Essas revistas fizeram tanto sucesso que seus
 direitos foram vendidos para o exterior.


Várinha Mágica - Sucesso internacional
Nota: 
Naquela época, não tinham quase revistas policiais. 
Mas a Editora La Selva teve a coragem de lançar 
títulos como: Emoção e Contos de Mistério. 
Neles Cortez fez parceria com o grande 
locutor, jornalista e roteirista, 
Cláudio de Souza, que era o editor desses
 novos produtos editoriais.
Anos depois, o desenhista e bengala brother,
Cláudio de Souza, se tornaria o poderoso 
chefão da editora Abril, durante anos.


CORTEZ

"Também marcamos uns bons pontos no IBOPE
 com o lançamento da revista Aventuras Heróicas 
publicando obras do grande artista português E. T.
 Coelho, meu mestre, e até Zumbi dos Palmares, 
desenhada por Álvaro Moya."


Aventuras Heróicas: Zumbi dos Palmares -
Arte: Alvaro Moya
Prosseguiu Jayme Cortez...

"Conseguimos uma coisa importante para
 a época: manter durante dois anos uma 
revista de cinema, Cine-Fan, a única que nos
 dava problemas econômicos, mas uma
 grata satisfação.
Se somarmos tudo o que fizemos, a luta desses
 valentes e honestos profissionais e os
 grandes artistas que surgiram nessa época
 e que continuaram batalhando no mercado 
nacional, mesmo após o fechamento da 
La Selva, acho que valeu a pena.
 A editora cuja sede era na rua Pedro de Toledo,
 com seu simpático sobrado, não era uma
 multinacional, mas ajudou a lançar
 muita gente boa...”

DEPOIMENTO DE JOSÉ FIORONE


Fioroni
“Gostando de quadrinhos e cinema, um dia
 resolvi meter a cara e fui até a 
antiga Editora La Selva,
 onde conheci o Cortez e comecei a trabalhar – 
isso foi lá por volta dos nos 50.
 Como a gente não era registrado, trabalhávamos 
como free-lancer, e assinávamos recibos de uma 
só via, que ficava com a editora, nem sei exatamente 
quando foi que comecei fazendo traduções
 para as revistas Emoção e Contos de Mistério, 
depois quadrinhos e artigos de cinema para a 
Cine-Fan e, logo depois, tive a satisfação de
 trabalhar ao lado do Cortez e do
 falecido Milton Júlio”.

Nota: José Fiorone, anos depois, foi para a
 editora Abril, onde se tornou o tradutor oficial
 de todas as revistas Disney – inicialmente. 
Essa parceria com a Abril durou muitos anos.
  

DEPOIMENTO DE 

CLÁUDIO DE SOUZA

(radialista e jornalista, que anos

depois, se tornou o homem

forte da editora Abril)


Capa do livro: O Homem Abril -
Victor Civita e Cláudio de Souza
“Em 1953, quando eu tinha apenas cinco anos de
 profissão, começara em 1947 na Gazeta Esportiva
 como repórter, passara no ano seguinte para
 A Gazeta Juvenil, ainda em 1948 eu acumulara as
 funções de redator da antiga Rádio Gazeta – 
que tinha um alto padrão do rádio brasileiro,
 que era seguido pelos concorrentes -, e em 1951 
iniciara a minha longa carreira na editora Abril, 
mesmo sem deixar a rádio, na qual eu passara 
a trabalhar à noite.
Na ocasião, Jayme Cortez, velho companheiro da 
Gazetinha, me perguntou seu eu ainda
 conseguiria achar tempo para escrever alguma 
coisa para uma pequena editora que estava 
surgindo lá para os lados da Vila Mariana.
Embora, em 1953, a inflação não 
fosse tão grave quanto 
a barbárie que virou nos anos 80 e 90, eu era
 casado, já tinha duas filhas e estava pensando 
seriamente em ter mais um filho, 
ou uma terceira filha.
Naquele tempo, toda vez que um jornalista
 pensava em aumentar a família, tratava logo de
 arranjar mais um emprego. Aceitei a proposta.
A tal editora era de propriedade da família La Selva. 
No meu primeiro contato com eles, aquele me
 pareceu o melhor lugar de São Paulo para se
 comer espaguete e beber vinho tinto.
 A recepção que eles me ofereceram em sua 
sala de jantar foi inesquecível. 
Poucas semanas depois, eu já estava completamente 
convicto de que eu passara a escrever para um 
núcleo que permitia fazer uma bela carreira
 no difícil ramo de editoras de revistas."


Nota:
Gilda - Era o título de uma revista em quadrinhos
destinada às garotas. Na América esse
tipo de publicação era chamada de "Heartbreak"
e fazia muito sucesso. O título aproveitava o
embalo do filme homônimo de cinema,
que havia obtido um grande êxito de
bilheteria, e que foi estrelado por 

Rita Hayworth e Glenn Ford.



Cartaz promocional do filme Gilda, um
campeão de bilheteria


CLÁUDIO DE SOUZA...

"O meu trabalho com os La Selva sempre foi uma 
saudável mistura de amizade e profissionalismo. 
E assim se desenvolveu, e assim terminou, quando, 
após vários anos, meus afazeres na editora 
Abril me absorveram por completo.
Jamais pude esquecer a simpatia e o calor 
humano de “seu” Vito e de dona Crescência,
 que sempre procuravam (e como conseguiam!) 
colocar em destaque o departamento
 gastronômico da empresa, ao qual aderíamos
 com grande entusiasmo nas memoráveis
 noites de sábado; assim como guardarei para
 sempre, as tertúlias editoriais com o Cortez, 
Alberto Maduar, Jácomo, e os saudosos Paschoal 
e Milton, quando elaborávamos revistas em 
quadrinhos inteiramente nacionais – as
 primeiras de publicação regular no país –
 e realizávamos duas revistas policiais mensais, 
que se mantiveram com ótima 
circulação durante anos,
 fato inédito em nossos meios editoriais.

Naquela época, escrevi uma incontável série 
de HQs com: Arrelia e Pimentinha, Fuzarca e
 Torresmo, Fred e Carequinha ( famosos palhaços 
de circo, rádio e da TV), Mazzaropi, Oscarito e 
Grande Otelo (grandes astros das comédias do 
cinema nacional). 



Nota:
Arrelia e Pimentinha eram os palhaços
mais populares da TV e do circo.
Também fizeram sucesso
nos quadrinhos


O veterano Messias de Mello desenhava a revista
Arrelia e Pimentinha, inclusive as capas.
Um grande sucesso editorial


Cortez e o comediante e o grande cineasta Mazzaropi
"Eu as escrevia durante a transmissão das
 gravações musicais.
 Como em meu horário de transmissão havia 
sempre, pelo menos, um programa de música 
clássica, com peças de longa duração, era ao
 som de Chopin, Beethoven e Respighi que 
saíam no papel as aventuras de todos aqueles
 personagens – que eram famosos na época.
Para as revista policiais da casa, Emoção e
 Contos de Mistério, cujo material eu 
programava e editava, também escrevi com 
enorme prazer duas séries de trabalhos.
 Na primeira - Emoção -, desenvolvi a história
 da literatura policial, através de biografias
 dos grandes autores do gênero, o que muitos
 anos mais tarde – mais precisamente em 1980 – 
serviria de base para a série (de 15 programas),
 chamada Elementar, Meu Caro Watson,
 que escrevi e produzi em Londres para
 o Serviço Brasileiro da BBC."

Nota:
Cláudio de Souza sempre foi um excelente
e criativo escriba. Continue lendo o
relato dele... 
  
"O segundo trabalho que fiz para Contos de 
Mistério, foi uma série de histórias de gozação
 do próprio gênero policial, uma 
sátira de estereótipos 
consagrados, principalmente, pelos autores
 americanos da área pulp. 
Foi assim que surgiram, entre outros,
 numa balbúrdia de anti-heróis, 
o desconfiadíssimo detetive 
Mike Dentedecoelho e a inefável
 Joaninha Maconha, a mais desdentada e
 desbocada das contraventoras.
No meio de tudo isso, ainda achava tempo para
 escrever desde crônicas sentimentais até 
páginas de humorismo. 
Entre estas, havia uma que Cortez e eu 
perpetrávamos, às gargalhadas, talvez já sabendo
 de antemão que poucos mais iriam rir com nossas 
piadas: era uma seção chamada Caipirinha, 
onde gozávamos tudo e todos, prudentemente 
resguardados nos pseudônimos Cláudio Martini 
e Jaime Cavalo Branco.
 Bons tempos aqueles! E boas coisas aquelas!”


A GRÁFICA LA SELVA




Nota:

Segundo os sobreviventes da época,
a editora imprimia suas revistas em tudo quanto 
era gráfica que tinha capacidade, principalmente
 de acabamento. Empresas gráficas, como:
 Bentivegna (que está na ativa até hoje); 
Brusco e Cia, Gráfica Sangirardi  e a 
Editora Nova Mundo, eram algumas
 daquelas que atendiam a família La Selva.

"Naquele tempo os produtos editorias da editora
 La Selva não eram impressos em offset e
 carregar para as gráficas, 32 páginas, mais 4 cores
 das capas, em clichês montados, era uma tarefa 
da pesada, literalmente. Havia muitas clicherias 
em São Paulo e as que atendiam os 
La Selva eram: a Universal e a Arte e Zinco.
Pouco tempo depois, as capas passaram a ser
 impressas em offset pela Arte Gráfica do Brasil,
 na rua Adolfo Miranda. A coisa só melhorou,
 evoluiu, quando foi fechado um contrato
 para a impressão do miolo com a 
SAIB, gráfica da Editora Abril." -
elucidou Reinaldo de Oliveira.

A editora continuava crescendo 
a passos largos, conquistando
 novos leitores. Lançava 28 títulos por mês e a 
tiragem total atingia um milhão de exemplares\mês. 
Para agilizar a distribuição, em 1951, foi fechado
 um contrato de exclusividade em todo território
 nacional com a Fernando Chinaglia 
Distribuidora, empresa que ficou famosa
que era da cidade do Rio de Janeiro.





Nota:
Recentemente, a segunda maior distribuidora do
país - Fernando Chinaglia -, foi comprada pela
DINAP (Distribuidora Nacional de Publicações),
do grupo Abril. Dessa fusão surgiu a
Trilog e o monopólio da distribuição no
território nacional.

DE VOLTA AO PASSADO...

Foi em 1958, com as revistas vendendo cada vez
 mais, que surgiu o primeiro grave problema,
 quando a gráfica SAIB comunicou À editora 
La Selva sua decisão de não mais imprimir as 
revistas, devido ao acúmulo de serviço – afirmaram – 
causado pelo incremento das vendas da 
Editora Abril, sua associada, segundo
o livro.

DEPOIMENTO DE ENÉAS 

GURGEL DO AMARAL

“Em pânico, nosso editor, teve que tomar uma 
atitude drástica. Comprar e ampliar a Gráfica
 e Editora Novo Mundo, de Victor Chiodi, 
Miguel Penteado e Luiz Vicente Neto, que 
também tinha sua linha de revistas, como: 
Mundo de Sombras, Gato Preto, Lili, Sobrinhos 
do Capitão e outras, foi a solução encontrada.”

Nota: 
Na certa, a seção de acabamento – ponto crucial 
de toda editora que tem um parque gráfico –
 foi modernizada para atender a demanda.

GURGEL...

"O início foi tumultuado, afinal, uma gráfica é 
um negócio complexo que exige tecnologia de
 ponta e funcionários especializados.
 A gerência desse novo empreendimento 
da família foi entregue ao filho Jácomo. 
Nessa etapa, já cansado, seu Vito já
 havia se retirado dos negócios 
entregando a editora aos seus filhos
 Paschoal, Jácomo, Antoninho e Estevão."


E CONTINUOU...

“Conheci o Jácomo melhor 
quando fui trabalhar com 
ele na Gráfica Editora Novo Mundo\Editora La 
Selva, em 1960. Mesmo sendo da família e, inclusive,
 morando na casa de seus pais eu o conhecia pouco.
 Convivendo no dia a dia na gráfica aprendi a vê-lo 
como ele realmente era: dinâmico, empreendedor, 
seguro, com grande capacidade de liderança 
e, coisa rara na época, tinha um excelente noção
 de justiça social e de respeito. 
Dava valor ao trabalho e ao trabalhador. 
Jácomo, enquanto dirigiu a empresa, jamais
 deixou de dar aumentos, às vezes até mensais, 
ao funcionários e nunca, na data base 
estipulada pelo sindicato dos gráficos.
Os salários pagos por ele estavam sempre
 bem a frente do teto recebido pela categoria.
 Os empregados adoravam ele.
 Havia respeito mútuo."

Segundo aqueles que conviveram com Jácomo,
se no lazer, fora do ambiente de trabalho, ele era mão 
aberta, no negócio fazia contas de centavo por
 centavo. Era muito organizado, sabia separar as 
coisas. Era honesto de nascença, fazia 
tudo com absoluta correção.

GURGEL...

"Aproveitando a força de suas boas tiragens, a 
editora organizou um bom reembolso postal de 
livros, tendo até editado, sozinha ou em 
co-edição, diversas obras.
Várias empresas especializadas em fazer fotolitos
 (os filmes que contém as páginas das revistas e
 que iam para a gravação das chapas para imprimir
 as cópias em offset), como a W. Storti e outras. 
Esses filmes (fotolitos) eram bem rudimentar na
 época. Foi só com o surgimento do lendário 
Yanguer Estúdio Gráfico Ltda foi que 
o processo se modernizou."

Nota: 
Atualmente, as gráficas mais modernas, 
nem precisam mais de fotolitos. 
Dão saída diretamente de arquivos digitais fechados 
em PDF. Com a evolução da informática milhares 
de empresas de fotolitos acabaram, ou se 
modernizando, ou fechando suas portas.

DÉCADA DE 60: ANO DA CISÃO


Os filhos do "seu" Vito, que em determinado momento
dirigiram a editora mais popular de São Paulo, que
mantinha 28 títulos e um milhão de exemplares
por mês, nas bancas. Em pé: Jácomo e Antoninho.
Sentados: Paschoal e Estevão
Nota:
Em 1960 houve uma cisão entre os membros 
da família La Selva. Com a editora ficaram 
Paschoal e Antoninho. Se retiraram dela o 
Jácomo e, posteriormente, o 
irmão mais novo, Estevão.  

DEPOIMENTO DE HELENA 

DEPOIMENTO DE

LÚCIA LAZARINI

 LA SELVA

“ A impressão máxima que ficou de meu pai
 foi os eu sentido de luta, sua hombridade, seu
 espírito forte e senso de justiça. Costumava dizer
 que o perdão era uma necessidade e 
devia ser praticado sempre.
Eu me lembro que à mesa, no almoço e no jantar, 
era comum meu pai contar para nós, filhas e filhos 
e mãe, os incidentes do dia a dia na sua faina de 
distribuidor de revistas; quando as revistas iam
 bem e quando, infelizmente, iam mal.
Assisti também, e me lembro bem, do seu 
contentamento quando, tornando-se editor, sua
 vida econômica e financeira ficou melhor.
Nós, as mulheres, não trabalhávamos na editora, 
apesar da mesma ficar e nossa própria casa, na 
garagem, porque meu pai ainda era do sistema 
do sistema que cabia aos filhos homens tomarem 
conta do negócio. Para nós, as filhas mulheres,
 só o estudo, que ele custeou para todas.
Quando saiam as revistas, cada qual
 lia as que lhe interessava.
 Eu não era ligada nas de terror ou policiais; 
mas lia, habitualmente, revista como: Gilda, Lili, 
Sobrinhos do Capitão e as infantis.
De todas as nós, apenas Afonsina teve um contato
 direto com a editora. 
Ela foi levada para trabalhar no escritório da
 gráfica. E, com o falecimento de meu pai, em
 1968, ficou com minha mãe à testa dos negócios,
 até a dissolução da firma e venda das máquinas”.

Nota:

Porém, o negócio editorial não foi abandonado
 pela tradicional família italiana. Estevão La Selva,
 o mais novo dos irmãos, que começou trabalhando 
na editora em 1957, quando da sua liquidação, 
acabou montando sua própria firma, chamada 
Editora e Gráfica Triestre. 
Com as máquinas 
e títulos adquiridos da antiga editora
 reiniciou um novo ciclo de lançamentos editorias,
 como: Gato Felix, Lili, Sobrinhos do Capitão 
Varinha Mágica, Terror Negro, entre outros.




Nota:
Oscarito e Grande Otelo eram comediantes
 populares do cinema nacional.
O sucesso também aconteceu nas
revistas em quadrinhos
Estevão La Selva começou a editar em 1967,
 na rua Carneiro Leão, e acabou se 
estabelecendo definitivamente na rua
 João Alves de Lima, no bairro do Brás, dois 
anos depois. Sua mais importante publicação foi
 a revista masculina New Girl, cuja circulação
 foi suspensa em 1981 – apesar do sucesso em 
vendas -, por problemas com a censura prévia, 
que naquela época chegava a proibir determinados
 artigos, filmes, livros e produtos editorias
 de sair nos pontos de venda.
A firma continua até hoje imprimindo 
serviços de terceiros.

Em 1984, ela lançou a sofisticada revista Freezer –
 sobre congelamento doméstico – que, se revelou 
uma publicação de vanguarda, adiante do seu tempo
 e foi um fracasso de vendas, visto que na referida 
época os freezers ainda não eram tão popular 
ou acessíveis no país.
Paralelamente a Editora La Selva, Jácomo La Selva,
 tendo se desligado dos irmãos, inciou seu próprio 
negócio em 1962, quando abriu a editora 
Sublime e passou a editar as revistas: Só Risos e 
Anedotas Para Todos. 
Esses títulos de revistas humorísticas tinham
 sido adquiridas de Victor Chiodi.
 Nessas publicações ele criou, sabiamente,
 o Reembolso Royal, que vendia 
exclusivamente livros.

Esses produtos editorias tinham
 material americano,
 mas elas eram completadas com desenhos
 nacionais de Rivaldo e Queiroz. Essas revistas
 de humor, inicialmente,  eram rodadas na Editora
 Griroflé, que tempo depois decidiu vender sua 
oficina para o editor Jácomo La Selva.
No ano seguinte, ofereceram para Jácomo a 
distribuição, para São Paulo, da revista americana
 Playboy, que era distribuída para as demais
 praças do Brasil pela Fernando Chinaglia.








Nessa altura do campeonato as duas revistas de 
humor e a gráfica já tinham sido vendidas. 
Os títulos foram para José Sidekerkis, da editora 
Regiart – futuro editor de diversas publicações -, 
e a gráfica, em troca de serviços, par
a o lendário Miguel Penteado, que mais 
tarde pelo selo GEP (Gráfica Editora Penteado) 
lançou revistas de quadrinhos, como: Capitão 
Marvel e o Surfista Prateado, pela
 primeira vez no país.


SURGE A REVISTA 

PLAYBOY EDIÇÃO

AMERICANA




Playboy - Capa: Raquel Welch






A distribuição da edição americana da Playboy 
foi feita com critério e acabou elevando a venda 
deste produto para 10 mil exemplares, na 
cidade de São Paulo. Graças ao sucesso obtido 
pela editora Sublime, outros produtos 
internacionais acabaram também sendo
 oferecidos para que ela distribuísse no Brasil,
 como: a revista Fiesta (italiana), Playmen 
(americana), Mani di Fata (italiana) 
e outros títulos. Somente Mano di Fata não
 era publicação erótica.

Essas revistas internacionais destinadas a adultos, 
apesar das boas vendas, desencadearam uma série 
de problemas com a censura existente no país
 que às vezes liberava as revistas e outras as proibiam.
 Houve um episódio ridículo em que a revista 
Playboy foi literalmente presa e, não, apreendida. 
Ela foi levada de camburão, por policiais, e
 colocada numa cela destinada a presos políticos, 
ou seja, numa cela destinada aos chamados 
“terroristas” – gente que era contra o regime 
ditatorial militar que estava instalado e ditava as
 normas do país. Muita gente boa, na época, 
acabou sendo torturada, pelos órgãos
 repressivos do governo, ou acabaram desaparecendo
 do mapa para sempre nesse período 
cruel da história do Brasil.     
A saída encontrada pelo editor foi parar 
de distribuí-las durante dois 
anos, entre 1974 e 1976.

Por fim, Jácomo decidiu – aproveitando o título
 de uma revista italiana que ele distruíra e que
 fizera sucesso -, lançar o título Fiesta, mas desta 
feita, com material 100% nacional. Os editores 
originais da Itália ficaram revoltados e
 acionaram a Sublime na justiça, mas por 
estarem mal assessorados perderam a causa e
 ficaram sem receber os royalties que pleiteavam.
Fiesta, em sua versão nacional, foi um sucesso.


Fiesta do editor Jácomo La Selva 
E apesar dos problemas que vira e mexe tinha 
com a censura acabou se firmando no mercado 
e chegou a vender 100 mil exemplares. 
Durante um bom tempo este título deve uma boa
 participação no mercado editorial nacional. 


Esse sucesso levou a Sublime a lançar a 
irmã menor de Fiesta, chamada de 
Mini Fiesta, que passou a ser publicada 
quinzenalmente, com uma tiragem
 de 140 mil exemplares. 
As edições especiais de 
Carnaval da revista Fiesta também
 vendiam muito.

Passaram pela redação de Fiesta, muitos 
funcionários, desenhistas, redatores e 
colaboradores, como: 
Gaetano Gherardi, Vitor A. La Selva Neto, 
Mário D. Capelossi, Pedro mauro Inforsato,
 Darcy de Arruda, Carlos A. La Selva, Salvador 
Ronzio, Luiz Rodrigues, João Batista Queiroz, 
Mário Moraes, Alberto Maduar, Liba Frydman,
 Amaury Júnior (o da televisão), Geandré 
(cartunista), Alvaro B. de Jesus, João Francisco
 ( que se tornou dono da editora Flama,
 que lançava a revista de HQ Abutre) 
e inúmeros outros profissionais.



A editora Sublime marcou época e além desses 
títulos de sucesso também enveredou por 
outros lançamentos, de diversos gêneros,como: 
humor, cinema, edições one-shot – como:
 Emagrecer e Silvio Santos Magazine 
(revista sobre o maior apresentador da 
TV brasileira, que na época ainda não era
 proprietário do SBT –
Sistema Brasileiro de Televisão).

Em 1984, Simpatias que Curam – bimestral, 
inicialmente -, foi lançada e também 
se tornou um grande 
sucesso editorial. 

Com a boa aceitação este título passou a 
ser mensal e durou várias edições.
Diversificando suas atividades, mas sem 
abandonar o mercado editorial, Jácomo Antonio
 La Selva – rico -, decidiu implantar um complexo
 turístico comercial na cidade de Atibaia, 
interior de São Paulo.   Esse complexo tinha 
um centro comercial, restaurante, padaria, 
lanchonete e até supermercado.


Atibaia, cidade turística do interior de São Paulo,
que também é conhecida com a terra das flores




Jácomo La Selva sempre honrou o nome da 
família e fez uma brilhante carreira no setor 
editorial brasileiro até sua morte. Ele, assim
 como seus ancestrais, deixou um legado 
indelével nas páginas da história que
 registram as grandes editoras que geraram
 emprego, deram oportunidades para jovens 
talentos e veteranos e que   marcaram época 
nesse país. 
E pensar que  tudo começou com 
aquele italianinho chamado Vito Antonio La
 Selva (1.900\1968), que um dia deixou a
 Itália rumo ao Brasil.


Vito A. La Selva (1900\1968)
Se o setor editorial brasileiro surgiu e cresceu muito
no último século devemos isto aos diversos povos que
vieram para o país, como: judeus, argentinos, italianos,
japoneses, etc. 

Por Tony Fernandes

NÃO PERCA A SENSACIONAL ENTREVISTA COM
 O ANIMADOR, ILUSTRADOR
E QUADRINISTA, QUE DESENHOU A PRIMEIRA
HQ DE METEORO, DE ROBERTO GUEDES,


CLÁUDIO OLIVEIRA

EM...



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