domingo, 15 de maio de 2011

ENTREVISTA COM ANTONIO CEDRAZ, O GENIAL CRIADOR DA TURMA DO XAXADO, A SÉRIE DE HQ MAIS BRASILEIRA DE TODAS!



Confesso que sempre admirei e sempre
 desejei entrevistar este cidadão.
O entrevistado de hoje é mais um
 guerreiro do nordeste. 
É gente de fibra, gente de garra, gente que 
está aí há muito tempo batalhando 
para implantar seus personagens. O bate papo 
de hoje é com gente que faz acontecer.
E,como já era de se esperar, seu traço e seus 
carismáticos bonecos cômicos
hoje são também conhecidos 
no Brasil e até fora do país.
 É com grande satisfação que trago a baila 
o depoimento deste grande mestre 
das histórias em quadrinhos infanto-juvenis, 
o bengala friend...


ANTONIO CEDRAZ,

O criador da famosa e genial

Turma do Xaxado!



TONY  1 - Cedraz, meu querido guerreiro e bengala friend,
há muito eu desejava lhe entrevistar, pois, mesmo
 à distância, venho acompanhando ao longo dos 
anos sua luta perseverante e suas conquistas. 
vi a Turma do Xaxado, pois essa turminha levada
 da breca simboliza bem as crianças do Brasil.
 É uma grande honra tê-lo aqui, hoje, conosco. 
você nasceu em uma fazenda na Bahia e se
 tornou professor numa cidade do interior baiano?
 Dá pra explicar esta história fantástica?

CEDRAZ – Sim, nasci numa fazenda e fui criado
 em contato com os animais 
e a vida saudável do interior. Sem luz
 elétrica, telefone, automóvel e essas 
modernagens de hoje em dia. 
Também pudera, já sou um jurássico. 
Nasci em 1945. Tempos depois, com 
mais ou menos 12 anos, fui morar na cidade 
de Jacobina. Foi aí que travei conhecimento 
com os livros, a literatura de 
cordel e os quadrinhos. Foi em Jacobina 
que também me formei como prof. 
Primário (era o curso mais graduado na
 região), depois fui trabalhar no
 Banco Econômico. Depois, já casado e 
com uma filha, me mudei para 
Salvador,  pois as oportunidades eram
 bem maiores e eu tinha um sonho 
de ser um artista e ver os meus 
trabalhos publicados em vários 
jornais e revistas.


O novo álbum de tiras com A Turma
do Xaxado, já foi lançado e
está à venda!
Não perca!
TONY 2 – Você, pelo visto, mestre, é um 
exemplo de garra, de luta. 
Correu atrás e conquistou seu espaço. Parabéns. 
Prosseguindo... Como, por que e 
quando, foi que surgiu a idéia de criar esses 
personagens tipicamente brasileiros?

CEDRAZ – Meus personagens eram 
todos garotos universais.
 Isso me incomodava. Os personagens 
moravam no Brasil, mas não tinham 
nenhuma característica brasileira.
 Eles podiam ser publicados em qualquer 
parte do mundo que não revelava a origem.
 Foi pensando nisso que
 usei o chapéu de cangaceiro (por esse
 representar uma parte do Brasil) 
e coloquei no personagem.
 Depois fui lapidando os demais para serem 
bem parecidos com os tipos mais 
populares do brasileiro.



 TONY 3 – Acho bacana esta brasilidade. 
Eu já criei personagens, tipo super-heróis, 
que tinham como pano de fundo nosso país, mas
 sempre senti um certo preconceito 
por parte do público leitor quando se faz isto.
 Daí decidi criar personagens 
universais como Fantasticman e outros.
 Isto também aconteceu fora do Brasil.
Na Itália os Bonellis também optaram 
por personagens universais. Não dá pra
 entender esses leitores... 
um herói em Nova York eles aplaudem, adoram. 
Mas, se você coloca o personagem 
em São Paulo, Rio ou Salvador, 
a galera acha ridículo. 
Está na hora desse povo mudar a cabeça.
 Ainda existe aqueles que acham que 
só o que vem de fora é bom. Isto é ridículo. 
Muitos julgam nosso trabalho 
sem nunca ter comprado ou lido. Assim fica
 difícil termos HQs nacionais com 
mais brasilidade. Será que o “macaco” 
nunca vai evoluir? (Rsss...).
 This is Brazil.  Vamos em frente, bengala friend...  
 Segundo me consta, vários jornais baianos
 passaram a publicar as tiras 
da Turma do Xaxado. Mas, eu queria saber,
 quando foi que a Turma do Xaxado 
foi publicada pela primeira vez? Em que ano?
 E qual era o nome desse jornal?

CEDRAZ – Depois que eu saí do banco, eu
 comecei a me dedicar mais aos 
quadrinhos e recebi um convite do
 Sergio Mattos, editor do caderno 
Municípios do Jornal A Tarde, aqui 
em Salvador, O Sérgio gostou do 
personagem e passou a publicar
 duas vezes por semana.
 O personagem logo conquistou a 
simpatia dos leitores e o editor do 
caderno 2, do mesmo jornal,  começou 
a publicá-lo diariamente. 
Isso em 1998.

TONY 4 – Grande, Sergião! Então, ele foi o primeiro
 a lhe abrir as portas? Que beleza. 
Merece uma medalha. 
O destino trançou os pauzinhos... (Rsss...). 
Você, Cedraz, veio pra este
 mundo predestinado,
 com uma missão e, de repente, 
as portas começaram a se abrir. 
Estava escrito nas estrelas. 
Vivo apregoando que o importante,
 sempre, é conhecer gente. 
Continuando... 
me parece que jornais de outros
 estados também publicaram 
seus personagens no formato tira. 
Você sabe me dizer em quantos jornais 
você conseguiu publicar seus 
fantásticos personagens?

CEDRAZ - Jornais diários foram O Sul de Porto
 Alegre RS, Diário do Nordeste de 
Fortaleza, Ceará.
 E atualmente o Diário de 
Campinas SP. É publicado também em 
diversos tablóides semanais 
e até em Portugal, na revista Brasil.

TONY 5 - Seu nome completo é...?

CEDRAZ –  Antonio Luiz Ramos Cedraz.

TONY 6 – Antonio Cedraz... Antonio, este também é o 
meu nome de batismo...
Portanto, somos xarás... (Rsss...). Já sabemos que 
você não nasceu, como todo 
bom baiano você estreou... (Rsss...). esta efeméride
 ocorreu em que dia, mês, ano?

CEDRAZ – Em 1945, no dia 04 de maio.

TONY  7 – Se não estou enganado, a primeira vez 
que vi uma revista com os seus personagens aqui,
 em São Paulo, foi através de uma revista
 publicada independente... 
confere? Você mesmo chegou a publicar 
seus personagens inicialmente, 
ou estou enganado?

CEDRAZ – Antes dessa revista eu já havia 
colaborado com outras editoras 
a exemplo da Noblet na revista AKIM, 
na revista Mais Piadas,
da Editora Maravilha, nas revista
 Passatempos Infantis, Gebê etc, 
da Editora Fase e depois  em diversas 
revista da Editora Edrel.

TONY 8 – Na Noblet? Fui funcionário do seu 
Joseph (também conhecido como "seu Noblet"
e Mister No), durante 5 anos, com o Hamasaki. 
Pelo visto, você colaborou com a 
Noblet antes de mim. 
Adorei saber sobre esta sua grande
 bagagem profissional antes 
de publicar sua revista. 
O bom dessas entrevistas
 é que elas fazem todos  conhecer 
melhor a trajetória de todos os amigos
 profissionais e nossos ídolos. 
Cada caso é um caso, e cada caso é uma história. 
É interessante que cada um de nós escolheu
 um caminho para atingir seu objetivo: 
publicar. Não existe fórmula À seguir.
 Sempre adorei histórias em quadrinhos 
cômicas. Go ahead...  Acho que a arte de fazer 
rir é muito mais difícil do que fazer chorar. 
Fazer as pessoas rirem, nesse mundo
 cruel, ao meu ver, é um dom divino. 
Vivo apregoando isto. E você sabe 
fazer isto muito bem.
Os argumentos foram, até hoje,
 sempre criados por você?

CEDRAZ – Sempre fiz os meus desenhos e 
argumentos sozinhos,
 mas atualmente conto com alguns parceiros.

TONY 9 – Você fez algum curso de desenho e de
 roteiro de HQs, ou é um autoditada?

CEDRAZ – Autodidata. Cursei um ano e meio a
 Faculdade de Belas Artes, 
mas o que me fez aprender mesmo foi
 na base da observação, no dia a dia.

TONY 10 – Genial... Esta sua paixão pelo desenho e pelas HQs,
 nasceu quando e como?

CEDRAZ – Como eu gostava de ler as histórias
 dos outros decidi criar as minhas. Foi em 
Jacobina e ainda era rapaz com
 cerca de 16 anos.

TONY 11 – Começou cedo... Sei que você, ao longo
de sua brilhante carreira,
 acabou publicando suas criações em diversas
 editoras de porte médio, pequeno e
grande (Escala). Pergunto... Você já tentou
vender a Turma do Xaxado,
 para uma grande editora, tipo: 
Globo, Abril, Panini, etc?

CEDRAZ – Já, mas eles sempre recusam. 
Na Escala eu tive umas publicações 
com o Xaxado. Primeiro foi uma revista
 em quadrinhos Quye, que
 durou 4 números. Depois uma de colorir
 e outra de passatempos que 
que foram editadas por 12 
números, cada uma.

TONY 12 – Doze números!? Foi um grande feito.
 Em geral, produtos nacionais
não passam da terceira edição.Você sabe... 
Parabéns, grande guru. Editores brasileiros... 
qual é a sua concepção deles?

CEDRAZ – Elas dão mais importância ao
 que faz sucesso lá fora. 
Um desenhista brasileiro tem que ralar muito 
para ver seus trabalhos publicados. 
Acredito ainda que deveria ter uma lei
 que obrigasse as editoras a 
publicarem um mínimo de quadrinhos 
brasileiros. Bons autores nós temos.

TONY 13 – Sem dúvida. Acho um absurdo autores 
nacionais terem que trabalhar
 para editores de fora, por não acharem
 espaço em seu próprio país. 
Um dia isto tem que mudar.
O Brasil é um grande celeiro de bons artistas. 
O que falta é espaço pra essa gente boa e criativa 
que nasce nessa terra abençoada. 
A cabeça desses editores é 
lamentável, bengala friend. 
Outro dia, trocando idéias 
com o primo Primaggio –
 um dos nossos mais ecléticos 
e prolíficos profissionais da área, que já
 desenhou em diversos estilos -, 
ele me disse que a grande fase das HQs,
 no mundo, já passou. 
Ou seja, tudo leva a crer que as histórias 
em quadrinhos, de fato, perderam
 seu lugar pro celular, pros games e outras
 parafernálias da tecnologia. 
Obviamente, elas (as HQs) jamais morrerão, 
mas ficarão restritas a um pequeno 
nicho de mercado, com tiragens ínfimas
 e preços lá em cima, 
no formato álbum de luxo, para os 
aficcionados. Enfim, HQs serão
produtos de elite. Esta também é a
 sua opinião, bengala mestre? 
Ou você tem uma outra
 visão do mercado?




CEDRAZ – O mestre Primaggio (esse sim 
deve ser chamado de mestre), 
está com a razão. Como você viu, publiquei
 pela HQM a revista Xaxado e 
sua turma. Não vendeu quase nada. 
Atualmente estou publicando meus 
álbuns/livros por minha editora, aqui 
na Bahia onde tem boa saída. 
Mas estou em busca de uma que
 possa publicar a nível nacional.

Tony 14 – Também sempre fui fã do "Primo", deste 
os tempos da Rio GRáfica (atual Globo).
Anos depois o professor Gedeone
 me apresentou ele, nos tempos em
 que toda a responsa dos 
personagens Disney da Abril estava sob
a tutela do grande Primaggio. Ele é, sem 
sombra de dúvida, um grande mestre,
tanto quanto você, Cedraz. 
Como diz uma velha canção: 
"Cada macaco no seu galho" (Rsss...).
Estariam, então, as HQs, fadadas 
quase a extinção? Tcham-tcham-
tcham-tcham! Espero que não. 
Esta nova realidade 
é cruel, mas acho que temos 
que nos adaptar aos novos tempos e 
admitir que o mundo mudou muito. 
Aposto como os personagens que você
 curtia na infância e na adolescência 
eram os mesmo que eu
 também curtia, como: 
Tarzan, Flash Gordon, Luluzinha, 
Bolinha,  Superman, Fantasma,
 Mandrake, Disney, etc, certo? 
Todos nós, quando começamos a desenhar
 nossas primeiras HQs, nos inspiramos 
ou nos espelhamos em alguém, OK?
 Por exemplo, eu comecei fazendo HQ 
de terror e ficção-científica, mas depois decidi
 ficar fazendo desenhos cômicos.
Até hoje produzo eles aos quilos, 
peguei uma prática danada. 
Mas, confesso que sempre me 
inspirei na escola européia. 
Meu personagem Capitão (Buana) Savana, 
que foi publicado durante 5 anos s
eguidos na revista Akim, da ed. Noblet,
 era um misto de Asterix 
(dos fantásticos  Uderzo e Goscinny) e
 de Mortadelo e Salaminho
 (do genial espanhol Francisco Ibañez).
No seu caso, em que, ou quem, 
você buscou inspiração para criar 
seus personagens, bengala friend?

CEDRAZ – Também comecei a me inspirar nos 
clássicos da época como Tarzan, 
Mandrake, Fantasma, Disney, Luluzinha. 
Depois por uma coincidência, 
eu conheci o trabalho do Maurício e me
 identifiquei mais por ser bem brasileiro.


Tarzan foi lançado primeiro em
forma de livro


Virou filme...



E  história em Quadrinhos


Tiras de jornais de Mandrake, o mágico -
criado por Lee Falk (1935)

O Fantasma - Criação máxima de Lee Falk,
foi criado em 1936

Mickey Mouse, do genial Disney




Uncle Scrooge (Tio Patinhas, no Brasil)


Luluzinha - Criado por Marge, uma
das poucas mulheres que fez sucesso no
mundo das HQs
TONY 15 Todos nós sofremos influência 
dos comics Made in America.
Quanto ao Maurício ele é o pai de todos nós e 
inspirou muita gente ao longo dos anos. 
Trata-se de um fenômeno editorial e um
 exemplo a ser seguido. 
Grande mestre, Cedraz, seus desenhos e 
histórias ganharam merecidamente muitos
prêmios e menções honrosas em diversos 
concursos e exposições no Brasil 
e no exterior, entre eles o troféu como 
destaque no 2º Encontro Nacional 
de Histórias em Quadrinhos, realizado
 em Araxá (MG), em 1989; 
troféus HQ MIX, além do Prêmio Ângelo Agostini 
de “Mestre do Quadrinho Nacional”, 
OK? Pra quem não sabe... o HQ MIX é 
considerado o mais importante premio 
dos quadrinhos em nosso país, uma espécie
 de “Oscar” brasileiro da categoria. 
O Troféu Angelo Agostini é entregue 
somente a autores com mais 
de 25 anos de dedicação aos quadrinhos.
 No total, quantos prêmios você 
já ganhou? Parece que você 
é um recordista de prêmios. 
Tem que entrar pro Guiness Book... (Rsss...).

CEDRAZ – Já ganhamos 6 prêmios HQMix. 
Até hoje não me acostumei 
com o título de "Mestre dos Quadrinhos", 
que o troféu Ângelo Agostine me deu. 
O Worney e a turma que me escolheu
 foram muito generosos.

TONY 16 – O Worney é um herói, já disse  
que quem merece 
um troféu Angelo Agostini é ele... (Rsss...). 
Os prêmios simbolizam o reconhecimento 
de um bom trabalho profissional. Você merece 
é um grande mestre e também 
um exemplo de luta, garra e perseverança, à ser
 seguido.  Internet... vamos falar sobre ela... 
ao mesmo tempo que muitos a acusam de ser
 uma das culpadas pelas quedas 
nas vendas em bancas, também temos que
 admitir que hoje ela é uma perfeita 
ferramenta para divulgação e até para a
 comercialização das HQs, pelo mundo afora. 
Através do seu site ou blog, por exemplo, o 
mundo toma conhecimento da existência de 
suas criações e este contato virtual\visual pode 
até gerar bons negócios. 
Muita gente fala em webcomics. Seria, na sua 
opinião, este um novo caminho à 
ser seguido por nós, no Brasil?
 Seria esta uma nova linguagem para 
se fazer HQs, no mundo?

CEDRAZ – Acho válido e a gente deve  se
 aproveitar de toda linguagem 
que surgir. A internet é uma boa ferramenta
 para ser usada e eu ainda 
não estou sabendo usar. Outro dia me 
convidaram para eu colocar 
meus livros na internet e estou vendo isso.


Tony 17 – Creio que todos nós estamos
 se adaptando a WEB. 
Bengalas Boys, como nós (Rsss...), por sorte,
nos adaptamos a tecnologia – 
ou estamos tentando nos adaptar-, mas grandes
 mestres do passado, infelizmente, 
se recusaram a aceitar a nova tecnologia.
Conclusão: Houve desemprego em 
massa, principalmente nas agências
 de publicidade. 
Muita gente boa foi, literalmente, pro saco. 
Seu personagem XAXADO fala a 
linguagem do povo. Ele é neto de um
famoso cangaceiro que vivia
 com o bando de Lampião (Rsss...) genial. 
Ele é sensível, alegre e sempre atento 
às belezas e problemas da vida no campo. OK? 
Xaxado é o seu personagem principal e ao
 redor dele circulam todas as outras 
personagens e histórias da turminha. 
Esta idéia diferente (neto de um 
cangaceiro), surgiu como?

CEDRAZ – Como eu queria fazer uma história 
com elementos bem brasileiros escolhi
 a figura  do Lampião para representar 
o sertão. Lampião foi uma figura mística 
que até hoje influencia escritores. 
Foi uma espécie de bandido e herói 
como foi o Hobin Hood e outros 
heróis de outras paragens.


Virgulino Ferreira da Silva existiu de
verdade, na região nordeste do Brasil.
Foi nele que Cedraz se inspirou para
criar a Turma do Xaxado 
TONY 18 – Foi uma idéia genial. Adorei. 
Lampião, na real, foi um herói do povo, um 
idealista que lutava contra os
 opressores. Ele decidiu vingar a
 morte de seus pais.
ZÉ PEQUENO é outro personagem 
cativante da série. 
Ele tem fama de ser um menino preguiçoso, 
que passa o dia inteiro 
dormindo. Isso é verdade? (Rsss...).

CEDRAZ – O Zé Pequeno é o personagem 
que roubou a cena. 
Fiz com o propósito de ser um 
autêntico caipira. 
Antigamente todo herói que 
se prezava tinha que ter um 
companheiro um “doidinho”, como 
a gente costumava chamar 
os ajudantes dos heróis e, 
quando fui criar a turma do
 Xaxado pensei nessa figura. 
Para fazer a sua fala eu viajei 
para o interior e passei vários dias 
pesquisando a fala 
dos tabaréus, daquela gente que não
 costume 
com a leitura e os livros.

TONY 19 –“Tabaréus”? Confesso que jamais
 tinha ouvido esta palavra (Rsss...). 
Digo sempre, sou um caipira da cidade grande,
 um animal urbano... (Rsss...). 
Fez uma pesquisa de campo? 
Levou a coisa a sério. Bacana. 
Quanto a MARIETA... ela vive corrigindo
 a fala “errada” dos outros. 
Para ela, isto é muito mais do que um
 passatempo, é uma verdadeira 
cruzada em defesa da língua portuguesa.
 Os professores devem 
adorar isto, né? Descreva melhor as
 características desta 
apaixonante personagem...

CEDRAZ – Marieta é o contraponto do Zé. 
Como o Zé já falava “errado” eu tive
 a idéia de criar um personagem 
que falasse tudo correto. No início
 ela gostava de corrigir as falas
 dos outros,mas com o tempo eu
 fui mudando um pouco. 
Tenho um livro pronto, a espera de 
uma editora, só com tiras
 da Marieta, falando de livros e leitura.
 É um material que penso 
que fará sucesso. Não quero publicar 
pela minha, pois é um trabalho que 
quero espalhar por esse Brasil.




TONY 20 – Vou começar a torcer para você
 fechar logo este projeto com algum editor. 
Desde que li suas HQs achei
 Marieta muito interessante. 
Trata-se de uma personagem que colabora 
para o desenvolvimento 
da compreensão de nossa língua-mãe, 
ajuda os baixinhos. 
Seus personagens infantis são
 interessantes... por exemplo,
MARINÊS é uma personagem super atual. 
Essa garota, como muitas outras de
 sua idade, tem no pensamento um objetivo 
de vida que muito adulto sequer 
dá a mínima atenção: a convivência saudável entre 
o ser humano e a Natureza, em busca de um mundo 
onde as pessoas respeitam e cuidam dos animais, 
das plantas, das águas, do solo, do ar... você fez 
sua personagem falar sobre
ecologia antes mesmo 
dessa idéia ser propagada por aí. 
Como e quando você 
a concebeu, com este conceito super atual?

CEDRAZ – Foi isso. Nosso planeta está indo para
 as cucuias e fiz a Marinês com esse pensamento 
ecológico. O único problema da 
Marinês é conviver com o Zé, seu 
namorado paquerador.

TONY 21- A mensagem é excelente, obviamente,
 quanto ao Zé namorador, este é incorrigível... (Rsss...). 
ARTURZINHO, ele é um personagem egoísta, avarento, 
vaidoso, chato, exibido, insensível, interesseiro... 
as “qualidades” do nosso amigo são tantas que, para 
falarmos delas, precisaríamos escrever
 uma enciclopédia inteira. Fale mais 
sobre a personalidade deste
 incrível personagem e conta pra gente 
se para criá-lo você
 se inspirou em alguém, de verdade? 
Parece que existem milhares 
de Arturzinhos, de verdade, por aí... (Rsss...).

CEDRAZ – Eu queria fazer umas críticas aos
 latifúndios e aos políticos ladrões e como
 não queria utilizar uma figura adulta 
fiz o Arturzinho com esse intuito. 
Alguns acham que ele é 
um anti-herói, pois o garoto só se 
interessa por dinheiro e
 leva vantagem em tudo. 
O Arturzinho tem até um amigo 
político que é o deputado Gatunildo.

TONY 22 – “Deputado Gatunildo”... este nome 
é genial (Rsss...). 
Há muitos “gatunildos” em Brasília,
infelizmente...E o CAPIBA? 
Ele é o irmão de Maria Inês. 
Quer ser um cantador tão 
famoso quanto Luiz Gonzaga... (Rsss...). 
Grande sacada... e conquistar o mundo 
com sua música... (Rsss...). 
Acho que ele reflete o espírito 
de muita gente por aí, 
que sai pelo mundo atrás de um sonho e glória. 
Pra criar Capiba, você se inspirou
 em alguém conhecido?





CEDRAZ – Capiba não tem uma boa aparição
 nas histórias. 
É o personagem mais novo e fiz
 para homenagear a
 musicalidade do povo brasileiro.

Tony 23 – Maravilha. Nosso povo nasce com 
a música nas veias, com certeza.  Outros maravilhosos
 personagens também fazem 
parte deste rico universo que você 
criou para a Turma do Xaxado, como:
 o brincalhão Saci, o Padre guloso (Rsss...), 
os roceiros Tião e Genuíno Gabola, 
os pais das crianças, o jumento Veneta, 
o porco Linguicinha, o cachorro 
Rompe-Ferro, a galinha Odete, o galo Valdisnei, os urubus 
Gervásio e Genésio e outros. Dei uma espiada no seu site 
e adorei. Há muitas revistas e livros publicados sobre
 a turma. Parabéns. Como o pessoal pode adquirir esses
 maravilhosos produtos infanto-juvenis, mestre?

CEDRAZ – O Genoíno Gabola foi inspirado no
 Jeca Tatu de Monteiro Lobato...

Tony 24 – Jeca Tatu... taí um grande
 personagem do
 genial Monteiro Lobato, outro grande
 criativo guerreiro, do passado.
 Não sabia que o Gabola tinha 
sido inspirado nele. 
Em 2003, o Projeto Turma do Xaxado 
recebeu o apoio institucional
 da UNESCO. Conta pra gente, como 

foi que isto aconteceu e o
 que isto significou pra você?

CEDRAZ – É sempre bom ter uma apoio
 institucional de um órgão 
como a UNESCO. Foi devido a um
 projeto que fizemos com 
distribuição de um jornalzinho e uma
 revistinha nas escolas. 
Não tenho usado muito isso como propaganda. 
Sou meio desconfiado. 
Mas foi bom mesmo.



Tony 25 – A Turma do Xaxado é genial. 
Ela valoriza a cultura brasileira.
 Ao meu ver, os personagens dessa 
sua turminha são os únicos 
 desse segmento que, de fato,
 são genuinamente nacionais. Muito mais do
que Mônica e Cebolinha. Na América você 
estaria super rico e famoso 
e seus personagens estariam em
 todas as mídias, inclusive na TV, 
em desenhos animados... dá raiva 
nascer no país errado? (Rsss...).

CEDRAZ – O desenho animado está vindo. 
Já assinei contrato com uma 
produtora que está buscando
 recursos para isso.
 O nosso trabalho foi tema de
 mestrado em uma universidade de lingüística na 
Itália e saiu na revista francesa
 “La boche du Monde”.
 Como vê, já estamos falando Italiano e Francês. 
Depois virá o mundo (Rá, rá, rá)...

Tony 26 – Da Bahia para o mundo! 
Que assim seja... (Rsss...).
 Desenho animado? Que maravilha! 

Tema de mestrado, na Itália? 
Que coisa fantástica. Quanto a La Bouche Du Monde,
 tomei conhecimento e também sei que a edição que 
saiu seu material foi a mais vendida, sinal do carisma 
dos seus personagens, intrépido guru. Parabéns.
Além de criar e desenvolver seus
 próprios personagens, 
e  HQs, quais são as outras atividades
 do Estúdio Cedraz, hoje?

CEDRAZ – O estúdio Cedraz produz revistas 
promocionais e ilustrações para 
empresas de propaganda e outras.
 Atualmente estou afastado do
 Estúdio, mas ele continua 
com os antigos amigos colaboradores,
 incluindo minha filha.

Tony 27 – A filhota assumindo as rédeas da empresa... 
que legal. Bengala brother, seu trabalho sempre 
esteve focado no público 
infanto-juvenil, ou estou enganado?

CEDRAZ – Sim. Sempre gostei de enfocar o 
universo infantil.
 As crianças são mais sinceras e espontânea.

Tony 28 – Com certeza. Se o mundo fosse apenas 
de pequeninos  ele seria bem melhor... Qual é o seu conceito 
sobre os leitores brasileiros,
 de HQs? Não acha que ainda grande parte deles
 têm preconceito sobre temas regionais?



CEDRAZ – Sim. Nós valorizamos mais o
produto que vem de fora. 
Nós temos o defeito de achar que o 
que é feito lá fora é melhor 
do que os daqui. Isso sempre 
aconteceu e está difícil de mudar.
 A globalização está dominando tudo. 
E enquanto não tivermos 
educação e discernimento 
para mudar isso vamos 
perder muito coisa.

TONY 29 – Bela análise objetiva... 
Licenciamento dos personagens para merchandising, 
vamos falar sobre isso... 
na América os gibis sempre foram um meio de
 divulgação, não o fim. 
O principal objetivo deles sempre foi o
 merchandising. 
Ou seja, vender licenciamento para a reprodução
 de personagens para produtos comerciais. 
Você já pensou nisso? Isso dá mais retorno
 do que HQs, obviamente. Hoje, marcas como: 
Garfield, Snoopy, Asterix, Pato Donald, Mickey, Mônica 
e Cebolinha, e outros, arrecadam zilhões de dólares pelo 
mundo afora em produtos 
comerciais. Se as revistas desses personagens
 parassem, de repente, mesmo assim seus autores 
continuariam ricos e faturando alto. 
O que diz disso?

CEDRAZ – Assinamos também um contrato 
com uma empresa especializada em licenciamentos,
 mas está sendo difícil, pois além
 do personagem ser nordestino não estamos
 na grande mídia. 
As empresas só querem investir no agora e já.
 O que está na moda é o que importa.



TONY 30 – Sem dúvida. Mas, assim que sua animação 
sair a coisa melhora. O licenciamento ficará mais fácil.
 Não está na hora de contratar um
 bom contato para atacar as empresas e oferecer 
o licenciamento
 da imagem de seus personagens?





CEDRAZ – Estamos fazendo isso e já vamos
participar de uma 
feira de licenciamentos AM S. Paulo, ainda este ano.

TONY 31 – Taí um bom negócio. Conheço esta feira.
 Nossas bancas, há anos, andam empesteadas
 de mangás e super-heróis... 
o que você tem a dizer sobre isso?

CEDRAZ – É o modismo. Estamos perdendo
 a nossa identidade.

TONY 33 – Discordo, mestre. Moda é coisa que
 passa rapidamente. Mangás e super-heróis estão aí
 há séculos, pô... (Rsss...). Eta "modismo"
duradouro... Um sonho?

CEDRAZ – São tantos!!! Desenho animado, 
revista fazendo sucesso e principalmente ter
 saúde para continuar por 
um bom tempo sonhando e
 realizando muitos projetos.



TONY 34 – Você chega lá. Por falar em saúde, 
quero lhe agradecer por sua especial atenção assim
que lhe enviei esta entrevista, pois sei que estava
passando por uma fase difícil no 
que tange a sua saúde, Cedraz.
Que Deus lhe dê muita paz e muita saúde para 
que possa prosseguir
nesta sua admirável missão: alegrar a
 todos e, principalmente, 
os pequeninos. Alguma frustração?

CEDRAZ – Sim! Colocar um produto bom nas
 bancas e não ter uma 
boa resposta. Não sei de quem é a culpa;
 dos distribuidores? 
Dos jornaleiros? Do mercado?

TONY 35 – Adorei sua sinceridade. No fundo, no fundo, 
acho que todos nós temos alguma frustração na vida.
 Mas, a maioria dos entrevistados costumam 
responder "nenhuma". Acho que isto soa falso... (Rsss...). 
Antonio Cedraz por Antonio Cedraz?

CEDRAZ – Sincero, bom amigo e pai de família. 
Amigos dos amigos e até dos 
que não são tão amigos.



TONY 36 – “Dos que não são tão amigos”? (Rsss...). 
Isto é sinal de que você tem um grande espírito, mestre! 
Quantas pessoas trabalham em seu estúdio, atualmente?


CEDRAZ – Quatro pessoas: O Tom Figueiredo, 
Sidney Falcão, 
Vitor Souza e Cláudia Cedraz.



TONY 37 – Um grande mano amplexo à sua filha e aos
 seus colaboradores. 
Deus... qual é o seu conceito sobre o Criador Supremo?

CEDRAZ – Deus, não existe palavras para definir o
 Deus que acredito 
e acompanho. Rezo todos os dias e sem a
 sua presença 
seria impossível continuar a minha jornada.

TONY 38 – A nossa jornada, com certeza. 
Você, que se formou professor, 
o que acha do sistema de ensino em nosso país?

CEDRAZ – Na verdade eu me formei como
 professor, porém nunca lecionei.
 Mas convivo muito 
com professores aqui em casa – 
esposa, filha- genro, etc. O ensino em nosso 
país é sempre 
deixado de lado pelos políticos e autoridades. 
Eles sabem que um país só vai pra
 frente com educação, 
mas para eles quanto mais analfabeto for o 
povo mais votos eles vão ter.

TONY 39 – Exatamente. Também acho o ensino
 caótico e os professores continuam 
sendo mal remunerados.
 Um absurdo. Tem verba para aumentar o salário
 dos políticos corruptos, mas não existe verba
para a educação ou para saúde. Isto é 
uma vergonha nacional. 
Institucionalizaram o analfabetismo, de sul a 
norte, fizeram dele 
uma plataforma política para tirar vantagem... 
Atualmente seus personagens estão sendo 
publicados por qual editora? 
Eles saem como álbuns, livros ou revistas?



CEDRAZ – Pela editora Cedraz
(chuto e pego no gol).
 Tenho um livrinho nas Paulinas 
(Vamos Rezar, já na 4 edição). 
Eu tenho cerca de 25 livros/álbuns 
com a turma do Xaxado, 
por minha editora e ainda este ano
 vamos lançar mais três ou quatro.

TONY 40 – Admiro guerreiros como você e o Emir,
 este país precisa de mais gente empreendedora assim. 
Querido bengala friend, 
gente como você, como o Emir Ribeiro, 
que mesmo vivendo fora 
do eixo Rio\S.Paulo, longe dos grandes centros
 em que se concentram 
as grandes editoras, e que batalharam muito
e conseguiram conquistar seu espaço, seu
 público e que também conseguiram 
tornar seus personagens conhecidos 
aqui e fora do país, 
são admiráveis, dignas de todo o respeito.
 Por falar no grande mestre Emir, foi 
graças a ele - que me deu seu e-mail-, 
que foi possível este nosso delicioso
 bate papo, que está chegando,
 infelizmente, ao fim. Mas, antes, 
uma pergunta derradeira... 
La Bouche Du Monde... Como surgiu a 
oportunidade de publicar a 
Turma do Xaxado nessa publicação 
feita por um brasileiro porreta 
e que é bastante conhecida
 e publicada na França?




CEDRAZ -  O Emir Ribeiro é um grande amigo.
 Desde que eu morava em Jacobina 
que nós trocamos revistas 
produzidas por nós (e isso já
 faz muito tempo). 
O contato com o La Bouche Du
 Monde foi através da Internet.

TONY 41 – Alguma mensagem final para seus 
fãs e para os desenhistas 
que desejam entrar no ramo?

CEDRAZ -  Acreditar sempre e não deixar as 
frustrações vencerem seus desejos.

TONY 42 – Grato, por sua atenção e até a 
próxima, grande guru... 
foi uma honra entrevistar alguém que sempre
 admirei e admiro. 
Sou seu fã, de carteirinha! (Rsss...). 
Muito sucesso e muita saúde! 

CEDRAZ - Valeu, Tony. Você sabe que admir
o seu trabalho desde os tempos da
revista AKIM, da Noblet.
 Um grande abraço.


TONY 43 – A recíproca é mútua. Very success and 
see you later, cowboy.
à todos os nossos webleitores um big 
amplexo e até a próxima
entrevista. 

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