sexta-feira, 17 de setembro de 2010

MUNDO DAS HQs - HQS EUROPEIAS: UMA HISTÓRIA LUTA E GLÓRIA - Segunda Parte




HQs EUROPEIAS:
LUTA E GLÓRIA!
Segunda parte


Os franceses, animados com o sucesso alcançado por Akim -  que era
 produzido por Italianos -,
 pouco tempo depois decidiram importar o 
novo herói das selvas, que
 passou a ser publicado em formatinho
 pela editora Mon Journal. 
Os franceses também adoraram Akim.





NO BRASIL, 
A EDITORA NOBLET FOI A
PRIMEIRA A LANÇAR
A REVISTA AKIM

Anos depois,o editor Joseph 
Abourbih - meu ex-patrão -, 
um judeu egipcio e fundador da 
editora Noblet, também 
decidiu lançar Akim no Brasil 
e conseguiu manter a
 revista por 30 anos nas bancas, 
com relativo sucesso.


Akim foi lançado no Brasil pela editora Noblet


Com o sucesso da revista Akim muitos 
outros personagens, inclusive 
de westerns, também foram 
criados por toda a Europa
 para substituir títulos populares como: 
Rocky Lane, Tim Holt, Buck 
Jones, Billy The Kid, etc.

 
Gradativamente os fumetti italianos
 foram substituindo os 
títulos americanos, reconquistando 
os antigos leitores
 e conquistando novos.
Seguindo o exemplo italiano, outros
 países da Europa também 
decidiram criar personagens 
baseados em produtos americanos.



Devido ao grande sucesso de AKIM, uma
editora concorrente lançou ZEMBLA



PIF, SURGE NA FRANÇA
Na França, uma revista semanal 
de grande circulação 
chamada Pif apresentou uma
 nova série chamada Placid 
et Muzzo, onde um dos personagens apresentava características 
similares as do camundongo
 Mickey, de Walt Disney.




SURGE TINTIM, DE HERGÉ

Na década de 50 surgiu na Bélgica 
Tintim, uma criação genial
 de Hergé, que até hoje é considerado
 como o Disney europeu,
 devido ao grande sucesso dos seus
 álbuns em todo o mundo.
 O belga Hergé, que apresentava 
um trabalho de alta
 qualidade nas aventuras de Tintim
 trabalhava em equipe, 
numa espécie de “linha de montagem”, composta por vários
 artístas, como os grandes 
estúdios dos Estados Unidos.


Tintim e Milu, personagens
clássicos de Hergé


Capa da revista semanal chamada Tintim,
lançada no Brasil, nos anos 70,
que trazia diversos personagens europeus


Esses álbuns, que inicialmente não
 passavam de 3 mil exemplares,  
foram conquistando vários países 
europeus até se tornarem 
um verdadeiro fenômeno 
de vendas. Isto estimulou os 
editores belgas a lançar
cada vez mais novos produtos.
Todos esses fatos positivos acabaram incentivando os criadores europeus 
a desenvolverem outras séries,
 em forma de álbuns, formato 
magazines ou formatinhos.
 Porém, dos maravilhosos álbuns
 belgas poucos deles 
obtiveram sucesso junto ao 
público leitor, como Tintim. 
Salvo outras exceções, como: 
Lucky Luke,  de Morris (desenhos)
 e Goscinny (texto)- uma sátira
 genial dos velhos cowboys 
americanos que, de imediato, 
conquistou os leitores,
 e acabou se tornando um clássico 
das HQs made in Europa -, e 
o inigualável Asterix, de Uderzo 
(desenhos) e Goscinny (texto).
 Ambos surgiriam anos depois
do lançamento de Tintim.


Uderzo - Desenhista e
Co criador-de Asterix 
De volta ao passado...
Na França, um jovem desenhista 
chamado Albert Uderzo,
um imigrante italiano, que era 
dautônico (não conseguia
 distinguir as cores), e que anos 
depois se naturalizou 
francês, contrariando seus pais, 
aos 13 anos, decidiu se tornar
 um desenhista profissional. 
Seus primeiros traços tinham a 
influência do seu tio, 
Bruno (um autodidata que, apesar 
de desenhar bem, 
não seguiu carreira) e Marcel 
(que era um profissional 
da arte). O jovem Uderzo também 
era vidrado nas criações 
de Walt Disney e certa feita 
confessou que passou a
 estudar minusciosamente os 
desenhos da escola Disney.

EDIÇÕES S.P.E. 

- Este era o nome de uma famosa 
casa editorial francesa, 
naquela época. Uderzo decidiu, 
um dia, bater naquela porta 
para apresentar seus trabalhos. 
Ali, ele conheceu e sofreu 
a influência de Edmond Calvo, 
um grande desenhista que
 estava em evidência época e que por coincidência 
morava no mesmo bairro.
Dessa amizade, aos poucos, 
surgiram os 
seus primeiros free-lancers.

Anos depois, Uderzo criou Flamberge, 
seu primeiro personagem.
“Jamais imaginei conhecer
 Edmond Calvo ou René Goscinny. 
Edmond foi meu grande mestre.
 Eu o admirava e adorava 
seus traços", declarou anos depois
 numa entrevista 
concedida para uma publicação francesa
 especializada em quadrinhos.
Nesta mesma edição, quando foi 
questionado sobre 
Goscinny, respondeu:
"Goscinny... acabei descobrindo que
 ele era um profundo conhecedor 
de história gaulesa e um 
grande roteirista. O texto dele 
sempre foi rico em 
detalhes históricos e sempre teve 
um grande censo de humor.
 Foi através dele que acabei 
tomando conhecimento da história
 da França. 
Na verdade, aos 9 anos de idade, 
eu já tinha ouvido
 falar sobre os primitivos gauleses e
 fiquei encantado com a história 
deles. Esse primeiro contato
 com o mundo gaulês aconteceu 
através de Madame 
Spitz, minha professora na 
escola Clichy-sous-Bois. 
Ela tinha um jeito inovador de
 lecionar, naquela época. 
Nos instruía exibindo filmes 
americanos e nos obrigando a fazer
 trabalhos manuais.”

SÁBIO DESTINO

O destino faz coisas incríveis.
Curiosamente, na mesma época 
em que Uderzo tomava conhecimento 
da saga dos gauleses numa
 escola francesa, na Argentina,
na distante América do Sul, um 
jovem chamado René Goscinny, tomava 
conhecimento dos seus ancestrais 
gauleses num colégio francês de 
Buenos Aires, através da obra 
de Ernest Lavisse: 
A História da França.
Um encontro entre esses dois 
jovens talentosos estava
 por vir, num futuro não muito 
distante, sem que estes se 
quer suspeitassem disso ou da 
existência um do outro.

DESENHOS ANIMADOS





Em 1945, o jovem Uderzo teve sua 
primeira experiência comm desenho
 animado, após fazer diversos 
cursos de arte. Nos anos que se
 seguiram Albert Uderzo criou e 
desenvolveu inúmeras ilustrações e
 séries de Hqs (cômicas e de aventuras) 
para diversas casas 
editoriais francesas, sem imaginar 
que um dia o destino iria unir 
ele e René Goscinny para, juntos, 
criarem o mais popular 
personagem europeu
 de todos os tempos: Asterix. 
 Nessa mesma época, na França foi 
instaurada a IV República.
Era um tempo de inovações do 
pós-guerra, do existencialismo 
e da descoberta, pelos europeus, 
do jazz americano.
 Jean-Paul Satre, Albert Camus,
 Jean Cocteau e outros
 agitavam os corações e mentes da 
nação, com suas ideias revolucio-
nárias. Alheios aos fatos e conflitos
 sociais, as crianças curtiam 
la bande dessinée
 (as histórias em quadrinhos).

O PRIMEIRO JORNAL SOBRE HQs

“O.K. foi o primeiro jornal de 
histórias em quadrinhos, 
do pós-guerra. Ele também foi o 
primeiro a dar oportunidade 
aos jovens desenhistas franceses.
 Em 1946, O.K. era um jornal
 inovador e nacionalista, apesar 
do seu nome americanizado. 
Uderzo também 
colaborou com esse jornal, que 
era publicado em 3 cores. 
Simultaneamente ele trabalhava
 para várias editoras.
Em 1947 fez para Les Editions 
S.A.E.T.L. um personagem 
chamado Zidore, l’homme 
Macaque. 
Seu primeiro trabalho em cores, foi
Zidore. Mas, para pintar os originais
 ele teve que recorrer a amigos e
 familiares para obter as cores 
corretas, devido a 
sua deficiência visual para 
distinguir as cores.
 "Sempre fui um daltônico incorrigível",
 confessava o desenhista ao amigos.

Em 1948, ele deixou de publicar 
seus trabalhos para cumprir 
obrigações militares. Foi servir 
a Pátria. Serviu no 5º Regimento 
dos Dragões, em Autiche. 
Entretanto, jamais deixou de 
desenhar.
 Nas horas vagas, no exército,
 ele desenhava para si mesmo. 
Quando o comandante do
 regimento descobriu suas 
habilidades para desenhar o 
escalou para criar e fazer 
desenhos para placas e 
cartazes militares.
"Ainda quando eu estava no 
exército, fiquei triste ao saber 
que o jornal O.K. havia fechado.” –
 disse Uderzo, 
numa entrevista concedida, 
na década de 70, para 
uma revista especializada em HQs.

Ele jamais se limitou a fazer 
apenas HQs cômicas. 
Artista eclético, ao longo de sua
 carreira, também desenvolveu 
trabalhos de figuras humanas onde 
demonstrava seu vasto 
conhecimento em anatomia. 
Fez ilustrações publicitárias, 
campanhas, e trabalhou 
para diversos jornais e revistas. 
Para o famoso jornal popular 
sensacionalista France Dimanche 
fez inúmeras ilustrações 
para as reportagens, asssim
como para a matéria sobre 
Paul Dellapina, um tipo singular, 
apelidado de 
“O gangster cavalheiro”. 
Uderzo, baseando-se numa 
fotografia era capaz de reproduzir 
fielmente qualquer fisionomia.
 Seus trabalhos, na época,
 faziam muito sucesso.

CAPITÃO MARVEL JR 
FEZ A DIFERENÇA

 Paralelamente aos seus trabalhos 
de ilustração para esse jornal,
 que acumulava processos judiciais,
 Uderzo, através da agência 
Paris-Graphic, fez HQs 
para a revista Bravo, de Bruxelas,
 e uma famosa e popular serie 
americana: Capitão Marvel Júnior, 
que diferia do trabalho do seu
 criador original
 americano. Isto ocorreu graças a
 Madame Debain,
 a dona de uma agência de
 material de imprensa. 
Esse trabalho feito para editores
 americanos fez com que ele 
fosse reconhecido como um 
excelente artista pelos belgas, que 
na época estavam 
ampliando suas publicações e 
lançando diversos
 trabalhos de autores europeus na 
forma de álbuns, em cores.

Em Bruxelas, na Bélgica, duas 
importantes agências 
recrutavam novos autores, a 
International Press, 
fundada pelo jornalista Yvan Cheron 
e a World Press, de Georges 
Troisfontaines, que representava
 um grupo belga: Édition Dupuis. 
As duas agências trabalhavam 
para editoras na Bélgica, porém, 
para clientes diferentes.

DA FRANÇA PARA A BÉLGICA


Após analisar os desenhos de Uderzo, 
Yvan Cheron convidou-o para fazer
 parte de sua equipe, em Bruxelas.
“Tive a honra de trabalhar ao lado de Jean-Michel Charlier, fazendo 
cenários de suas fantásticas
 HQs sobre pilotos e corridas.
 Algum tempo depois, voltei para 
a França, para a casa da 
minha família, em Paris, e 
continuei a trabalhar para a
 International Press fazendo
 uma serie chamada La Wallonie. 
Por sorte meus trabalhos estavam 
agradando os editores Belgas.
O volume de trabalho aumentava. 
Daí abri um estúdio na avenue 
des Chaps-Elysées, 34.
Tempos depois, após ter colaborado, paralelamente, durante anos, com 
o jornal France Dimanche
 decidi pedir demissão, após ler 
um anúncio de jornal que pedia 
desenhistas para trabalhar 
na América. Decidi embarcar para
 os Estados Unidos. 
Minha decisão foi motivo de 
comemoração na redação do 
France Dimanche. Para eles, eu era
 uma espécie de filho pródigo. 
Todos acreditavam no meu potencial.”

Continua . Para ler a última
parte clique no link abaixo...

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