domingo, 20 de fevereiro de 2011

ENTREVISTA COM NEIDE HARUE, A DESENHISTA DA CLÁSSICA HQ DO CONDE DRÁCULA, PUBLICADA PELA EDITORA NOVA SAMPA DIRETRIZ!



Nos últimos tempos esse nosso 
espaço na WEB, este nosso talkie
 show virtual, tem mais parecido o 
Clube do Bolinha, onde raramente se vê 
uma mulher. Sinceramente, que me perdoem
 todos os bengalas friends,  porém, isto 
está parecendo até coisa de boióla... (Rsss...). 
Parece que a milenar confraria dos
 Bengalas Boys Club não é chegado "na fruta".
Mas, graças aos céus, a coisa começou 
a mudar, de repente. Primeiro tive a 
grata surpresa de receber da grande, a 
talentosa, e jovem artísta do Recife, J
úlia Pinto, uma espetacular arte da
 minha personagem Apache, que já 
está postada no link "Os Grandes Mestres 
Desenham Apache". Confiram.
 E agora tenho a honra de trazer e entrevistar
 mais uma grande representante da ala 
 feminina da confraria, que também já tem
 sua arte de Apache postada na referida
 pasta que você pode encontrar em...

http://bengalasboysclub.
blogspot.com
Essas duas mulheres provam assim que nem só os 
marmanjos são bons de traço.
A entrevistada de hoje nasceu em 1956 
na cidade de Presidente Prudente.
 Aprendeu a desenhar cedo copiando mangás. 
Em 1982 ela veio para São Paulo com a 
esperança de conseguir o sustento como 
desenhista, apesar de ser formada em 
fármacia, desejava fazer quadrinhos.

Ilustrou muitos livros didáticos

 e paradidáticos, revistas 
de atividades e histórias em quadrinhos. 
Infelizmente, na época, o mangá não 
fazia o sucesso que faz hoje
 e não foi fácil para ela conseguir espaço, 
sem falar que os espaços existentes eram 
todos ocupados por homens.
 O seu trabalho mais marcante, e pelo qual 

é sempre lembrada, é Drácula, A Sombra da 
Noite. Uma história de 300 páginas,
 dividida em cinco edições, com roteiro 
de Ataíde Braz, publicada pela primeira 
vez em 1986, pela editora Nova Sampa Diretriz..
 Atualmente, ela desenha retratos, a lápis, 

ou pinta quadros a óleo, quando há encomenda. 
Tem expectativa de retornar aos quadrinhos, 
aproveitando as oportunidades 
oferecidas pela Internet.

Preparem-se, pois desta feita, 
vou entrevistar outra grande 
representante da ala feminina da confraria, 
a guerreira e grande desenhista...

NEIDE HARUE,
autora da HQ do Drácula,
em parceria
com Ataide Braz


Estudo para a HQ Drácula, um clássico da literatura de Bran Stoker 
Tony 1 - Neidinha, que prazer enorme poder entrevistar você. 
Quanto tempo a gente não se fala ou se vê, né?

Neide: Realmente, faz muito tempo... Tanto, que 
até há espaço para a saudade.

Tony 2 - Sem dúvida... O Ataide Braz e o 
Roberto Kussumoto, 
eu os conheci um dia na editora Noblet - apresentando 
a HQ Manco Capac -, quando eu era funcionário d
aquela casa editorial. Você e o Ataide... 
eu acho que a conheci na década de 80, 
se não me engano... no tempo da minha
 primeira editora ETF Comunicação
 Comercial, confere?

Neide: Não, nos conhecemos na Noblet. 
Onde conheci você, o Hamasaki e o Fausto
 Kataoka. Algum tempo depois, quando
 você fundou a ETF, nós o procuramos. 
E não foi difícil publicar algumas revistas
 infantis, área onde havia espaço, afinal 
éramos amigo do dono da editora.

Tony 3 – Hmmm... este minha memória anda 
ruim mesmo, meu “HD” tá precisando ser 
reciclado... (Rsss...). 
 Aliás você e ele formaram uma bela dupla.
 Ele sempre foi um grande escriba 
muito criativo e você uma grande desenhista. 
Formaram um par perfeito, mais um “Casal 20”, 
como o Marcos e a Dolores Maldonado, ou
o Alzie e a Nivea, 
eu acho... Como e quando você conheceu 
o personagem (Ataide) que parece ter 
entrado em sua vida para ficar?

Neide: Ah, o Ataíde sempre foi muito 
intrometido (risos). Ele respondeu uma
 carta minha, quando eu era muito jovem... 
eu pedia informações, sobre o universo 
dos desenhistas de HQs, a um outro 
desenhista, por acaso, Roberto Kussumoto, 
e, o Ataide a respondeu em seu lugar, pode?


A bela arte de Neide Harue, para a série Drácula
Tony 4 – Carinha intrometido, né? Esse meu bengala 
friend, Ataide, não é fraco, não, (Rsss...). Foi amor à
 primeira vista? Viu, gamou? (Rsss...)

Neide: Digamos, amor à primeira carta!

Tony 5 – “Amor a primeira carta”... esta foi
ótima (Rsss...). Um fato inusitado... jamais tinha 
ouvido falar de um caso assim.Voces, pelo que
 suponho, acabaram unindo o útil ao agradável
 ao se casarem, OK? Quando foi que os
 "pombinhos" decidiram se unir, de vez? 
Sua família não se opôs quando viu que você
 ia se casar com um brasileiro?

Neide: Bem, isso foi algo muito complicado, 
mas, com o tempo, foi resolvido. É, quanto
à parceria nas HQs, sempre foi extremamente 
estimulante trabalharmos juntos.

Tony 6 – Bacana. Nada pode deter quando duas 
pessoas se amam... isto é romântico, gostei...
 Filhos... quantos filhos voces têm? 
Atualmente voces moram aonde?

Neide: Uma filha, Carol, por sinal, minha
 melhor obra de arte. Hoje estamos em 
Presidente Prudente, isso desde o nascimento 
da menininha, há 13 anos.

Tony 7 – Maravilha, bela cidade do interior paulista.
 Mande um grande beijo pra Carolzinha e 
parabéns pela bela arte... (Rsss...). Apesar de você
 ser casada com um cara genial e grande
 bengala friend guerreiro das antigas, que tem
 muitos fãs por aí, e é um dos profissionais 
bom caráter que já conheci no metiê, você
 sempre teve luz própria. Sempre desenhou e, 
por sinal, muito bem. Diga-me, quando 
começou esta sua paixão 
por desenhos e ilustrações?

Neide: Desde que me conheço por gente, 
desde as minhas lembranças mais remotas, 
onde me vi pela primeira vez fitando
 um desenho de algum livro.

Tony 8 - Como e quando começou, de fato, sua 
carreira profissional? Ou seja, quando, pela 
primeira vez, você teve um trabalho publicado 
e por qual editora?

Neide: Não foi fácil. Quando vim para 
São Paulo a Grafipar estava mal e não 
havia outras editoras ocupando o espaço
 que ela estava deixando. E, o meu desenho
 tinha forte influência de mangá, uma 
maldição na época. O meu primeiro 
trabalho foi comprado pelo Zalla, para
 me incentivar. Eu agradeço 
muito a ele por isso.

Tony 9 – Grande guerreiro, desenhista e editor, 
Rodolfo Zalla... sempre incentivou a turma.
Lembro-me que voces fizeram (texto: Ataide, 
desenhos Neide Harue), duas edições
 infantis com historinhas para colorir para 
a minha primeira editora. Você sabia que 
aquelas duas edições venderam bem? 
Pois é, pena que eu - por pura incompetência 
e porque não entendia nada sobre ser 
editor ou como a coisa funcionava -, não 
consegui tocar a coisa adiante e acabei 
"morrendo na praia" - a empresa
 fechou precocemente (Rsss...).

Neide: É uma pena. Este país necessita 
tanto de pessoas empreendedoras, cheios 
de vontade, sonhos... Ainda mais quando
 esta pessoa é um artista, capaz de sentir,
 entender, compreender a paixão que 
cada um de seus colaboradores vive 
com a sua arte. Discutimos muito, na
 época, e sempre achamos que você
 foi vítima de um esquema que
 sugavam os editores pequenos.
O distribuidor ganhava o dele, a gráfica... 
E o prejuízo ficava com o editor. 
Havia a inflação e ganhava-se muito
 dinheiro forçando os jornaleiros a
 comprar as revistas e, aplicavam o
 dinheiro. Quando os jornaleiros 
devolviam o encalhe, recebiam novas
 revistas e tinha que colocar mais dinheiro... 
Na época a nossa opinião era essa, o 
adiantamento que o distribuidor fazia 
era uma forma de escravizá-lo e obrigá-lo
 a produzir mais e mais, até a dívida se
 tornar insuportável. Se não me falha a 
memória, houve até uma greve 
dos jornaleiros na época.

Bela arte tipicamente no estilo oriental

Tony 10 – Olha, parabéns. Voces tinham na
 época uma perfeita visão de mercado e 
o pior é que eu, uma anta, não conseguia ver 
o mercado por este prisma. Meu Deus, 
como eu era babaca... de fato, houve uma 
revolta dos jornaleiros contra as distribuidoras.
 Me lembro bem disso.  
Quando voces me apresentaram aquela
bela adaptação que fizeram do Drácula 
em forma de HQs, infelizmente, a editora 
já estava "no bico do corvo" e me arrependo, 
até hoje, de não ter podido lançar aqueles
 belos desenhos que você fez. 
Mas, indiquei você e o Ataíde pro Carlos
 Alberto Cazzamatta, da ed. Nova Sampa - 
éramos praticamente vizinhos no bairro 
do Jabaquara e ambos estávamos começando 
do zero, naquela época - dois moleques, 
duros – mais quebrados do que arroz de
 terceira-, metidos a empresários de 
comunicação (Rsss...). Fiquei super feliz
 quando soube que ele havia comprado
 o projeto (Drácula) de voces. 
Fale-me, como foi essa negociação.

Neide: Nossa! Já havíamos passado por 
outras editoras com o projeto, onde um 
deles, apenas o classificou de “bonitinho”,
 que o meu desenho era influenciado 
pelo mangá, enfim... Quando o Cazzamatta
 decidiu fazer sociedade com o Ataíde
 para publicá-lo, foi para mim, inacreditável! 
Creio que devo ter ido à Lua e voltado! 
Desenhar as próximas edições foi como
 viver um sonho! E, digo com total
 sinceridade, devo ao Cazzamatta a
 realização deste sonho. Ele viabilizou 
o projeto. Aproveito esta oportunidade,
 para agradecer, o que já deveria ter
 feito em outra ocasião, mas que por 
vários motivos não disse: muito obrigado, 
Carlos, por ter me dado aquela primeira 
chance de publicar uma HQ, sem esta
r sendo condescendente com a “iniciante”!
 Nunca disse, mas saiba que jamais esqueci
, ou deixei de reconhecer a sua 
importância em minha 
carreira profissional!

Tony 11 – Leu isto, grande bengala brother e pícaro?
 Este agradecimento, em público, foi muito legal.
 O Cazzinha sempre foi guerreiro e incentivador...
 Quantas edições foram lançadas do
 Drácula, pela Nova Sampa?

Neide: Foram... 5 da primeira série e uma da 
segunda. Seis ao todo.

Tony 12 – Taí dados que me faltavam... 
agora computei. 
COMMU... vamos falar sobre Pete de Lombardi - 
era esse o nome dele? Bem, vamos em frente... 
o Pete ou Peter, sei lá, ele era um agenciador que
 vendeu muitos trabalhos de artistas brasileiros 
na Bélgica, na década de 90 - inclusive, do mestre 
Seabra. Ou será que foi de um tal Sebastião
 Zéfiro, o rei das HQs eróticas? Pra não dizer 
pornos... (Rsss...). Como você ou voces 
conheceram esse tal agenciador europeu?

Neide: Não, o nome é Piet Delombaerd. Seabra, 
este é um grande artista e, também uma
 grande pessoa. Conheci o Piet quando 
o Ataíde se tornou representante da 
Commu em São Paulo. Em muitas ocasiões
 ele se hospedou em nossa casa.

Tony 13 – O mestre era o representante da Commu?
 Também não sabia disso, que bacana... 
Quantos trabalhos voces fizeram para a Bélgica?

Neide: Fizemos uma HQ do Drácula, que 
foi publicada na França, Bélgica e Holanda.

Apache na visão de Neide Harue
Tony 14 – Poxa, como é bom poder fazer estas 
entrevistas. Através delas muitas coisas que 
haviam passado despercebidas acabam
 sendo esclarecidas. Eu ia morrer sem saber 
ao certo quantos Dráculas haviam sido 
lançados... valeu. Vamos nessa... 
ABRADEMI (Associação Brasileira dos
 Desenhistas de Mangás e Ilustradores), pelo
 que me consta você, o Ataide e o Kussumoto
 foram ligados a esta entidade que propagava 
o mangá na década de 80 - uma época 
em que quase ninguém no Brasil conhecia 
as HQs orientais -, e incentivava os desenhistas
 nacionais. OK? 
Como você conheceu esta entidade?

Neide: Conheci através do Ataíde, que na época 
participava da Abrademi. Era, ou é, uma 
associação que reunia muitos admiradores,
 amadores e profissionais de HQs. 
Principalmente com 
influências do Mangá.

Tony 15 – O Ataide estava em todas na época... 
A ABRADEMI ainda existe? Que fim levou 
Francisco Noryuki ?- ele foi o primeiro presidente
 desta associação que trouxe Ozamu Tezuka, 
o “Deus do mangá” ao Brasil, na década de 80). 
Você, Neide,  também expos seus 
trabalhos no MASP, como a gente?

Neide: Faz alguns anos que perdi contato com
 o Noriyuki, de modo que não sei lhe dizer
 como anda a Abrademi... Quanto ao Masp,
 não tive a honra de participar.

Tony 16 – Foi uma pena, pois você
 merece, bengala girl... 
Grafipar – este era o nome da extinta editora 
de Curitiba, Paraná, que fez história -... o Ataíde 
foi praticamente o braço direito do saudoso 
Cláudio Seto. No tempo da lendária e saudosa
 Grafipar, você chegou a fazer HQs
 ou cartuns para a Grafipar?

NEIDE: Não, não, também não fiz nada 
para a Grafipar. Creio que cheguei atrasada...

Tony 17 – Não foi só você. O Hamasaki também 
chegou quando a “festa” estava quase 
acabando... (Rsss...). Apesar de ser ciente 
de que existe por aí muitas mulheres que
 desenham até melhor do que muitos homens
 raramente vemos elas nesse metiê,
 de altos e baixos. Em geral elas acabam
 enveredando pelo caminho das ilustrações,
 da publicidade, da moda - tornam-se estilistas 
em empresas de confecção -, do desenho 
animado ou da decoração... 
Na sua opinião, porque a maioria entra e sai 
rápido desse ramo maravilhoso e instável?

R: Acredito que exatamente pelo que 
você disse: ramo maravilhoso e instável. 
Ficamos maravilhadas, cheia de sonhos,
 ilusão de como seriam nossas obras, 
mas logo deparamos com muitos 
obstáculos, decepções, que só as
 realmente obcecadas continuam. 
E ainda há o milenar machismo, onde
 se imagina que uma mulher seja
 incapaz de desenhar algo como moda
 ou infantil - nada contra, tudo é apenas
 uma questão de gosto. 
Muitos homens ainda acham que uma 
mulher jamais consiga fazer 
um desenho acadêmico.

Uma bela prancha da versátil artista
Tony 18 – Babacas nascem em qualquer 
parte do Universo, Neide... A desenhista americana, 
Marge, fez um tremendo sucesso, no passado,
 ao criar Bolinha e Luluzinha, que teve um 
estrondoso sucesso mundial.
 Ela é um exemplo clássico de uma mulher
 guerreira e campeã, que acabou enfrentando 
o machismo exacerbado da época e 
acabou  inspirando muita gente pelo 
mundo, inclusive, o nosso querido bengala
 friend Mauricio de Sousa. Ao meu ver, 
parece que a Marge nunca inspirou as 
meninas que desenham a entrar no ramo... 
Você sabe me dizer, por quê?


Neide: Quanto às outras meninas, não sei 
dizer, mas quanto a mim, sempre quis 
me inspirar em desenhos que se 
assemelhassem ao acadêmico.
 Quando vi a arte do Alcala (arte finalista 
do Big John Buscema, em Conan), 
por exemplo, foi uma festa deslumbrante
 para meus olhos e um desejo imenso 
de imitá-lo para aprender um pouco, 
evoluir nesse sentido.

Tony 20 - É... este ramo é maravilhoso, 
mas também é árduo, difícil, até para os homens, 
imagina para as mulheres, e poucos acabam, 
de fato, conseguindo ter uma carreira 
sólida nele. Muitos acabam fugindo, 
literalmente, para a publicidade, etc -
 devido a melhor remuneração. 
Você também já fez trabalhos
 de publicidade?

Neide: Publicidade... Não, apenas uma 
experiência antes de ir para São Paulo,
 aqui em Presidente Prudente. 
Um mês (riso) em um jornal daqui, e
depois, em uma empresa de programação
 visual, mas pouco tempo também.

Tony 21 – Antigamente era impossível, mas hoje
 há muitos fazendo estilo mangá para
 storyboards. Animação... muitas garotas 
adoram trabalhar com desenho animado. 
Teve alguma experiência nesta área?

Neide: Nenhuma... Mas até que ando pensando... 
Será que é tarde demais?

Tony 22 – Nunca é tarde para realizar um sonho, 
minha querida. Go ahead! A pergunta que farei 
agora tem uma resposta óbvia, mas eu 
gostaria de ter sua visão particular sobre ela... 
nesse metiê não há Cristo que não tenha passado, 
em algum momento, um aperto de 
ordem financeira... (Rsss...). Você acha que
 trabalhar com HQs é coisa de masoquista?

Neide: (riso) Tem razão! Porque será que 
continuamos? Pode ser o que muitos 
desenhistas dizem: deve ser algum vírus 
que infecta nosso sangue, e, não há 
um remédio que dê jeito. Mas como pode 
ter jeito, se o desenho é o que se respira, 
é o mundo que se vive, o seu
 objetivo total e único?

Tony 23 – É... a coisa é complicada mesmo... 
dizem que quando o nanquim entra no sangue
 o cara fica doidão e não sai mais do ramo, 
como se fosse uma espécie de droga
 cabulosa (Rsss...). Você já pensou 
alguma vez em sair deste ramo? 
Eu confesso que já e até fiquei alguns
 anos trabalhando com publicidade. 
Mas, inexplicavelmente, decidi voltar
 para essa meleca, 
que eu adoro... (Rsss...).

Neide: Sim, até saí. Todos estes anos em 
que estou aqui em Prudente, trabalho
 em algo totalmente fora do desenho, 
mas atualmente penso em
 retornar... talvez...

Tony 24 – O nanquim ainda corre em suas
 veias, “comadre”... (Rsss...). Normalmente, 
mulher de artista sofre, passa dificuldades e 
em geral os casamentos acabam indo, 
literalmente, pro saco, quando falta dinheiro, 
essa é que é a verdade... (Rsss...).
Você acha que este relacionamento maravilhoso
 e duradouro que você e o Ataide têm, é 
pelo fato de ambos pertencerem ao 
mesmo ramo, ter as mesmas afinidades?

Neide: No início, acredito que a afinidade, 
a mesma paixão pelas HQs, foi muito 
importante. Mas hoje temos uma filha
 que sem dúvida é um elo muito forte,
 e também a maturidade contribui para 
termos compreensão de cada fase
 que passamos, o que facilita a convivência. 
Mas é claro que os “atritos” existem. (risos)

Tony 25 – O leite Ninho não pode faltar,
 com certeza... quanto aos “atritos”... eles 
existem entre machos e fêmeas desde que 
o mundo existe... são normais (Rsss...). 
Que trabalhos você fez sózinha, sem
 esse pentelho que você chama 
de "marido"? (Rsss...)
Brincadeirinha, mestre Ataide... (Rsss...).




Neide: Dificil! Procurando com afinco, 
acho que... deve ser algumas arte-finais 
que fiz para “Street Fighter”...
 Acho que foi isso.

Tony 26 - Entre você e o maridão, qual dos 
dois é o mais perfeccionista, na hora de fazer 
uma boa história em quadrinhos ou trabalho artistico?

Neide: Ah, cada um na sua. Ele, quanto
 ao roteiro, e eu, sempre referente aos desenhos.

Tony 27 – Legal. Voces conseguem manter
 esta autonomia artistica... ou seja, ninguém
 interfere no trabalho do outro. 
A filhota tem tendência à arte?

Neide: Não mesmo! (risos) Carol gosta 
muito de ler (devoradora de livros), 
mas com 13 anos, ainda está indecisa
 quanto ao futuro. 
Mas posso perceber com clareza que 
a sua área será totalmente diferente
 da nossa, o que nos dá um pouco 
de tranqüilidade. (risos)

Tony 28 - Bota tranqüilidade nisso. 
Tenho quatro filhas e por sorte ninguém 
enveredou por esta trilha de doidos... (Rsss...). 
Editora Imprima... voces fizeram alguns 
projetos e revistas para esta editora 
no passado, ou estou enganado?

Neide: Verdade! Fizemos duas HQs, 
uma foi publicada e a outra está na 
gaveta do Reginaldo. 
A segunda foi artefinalizada pela Luri
 Maeda, outra batalhadora das HQs. 
Também, acho que em 2005, fizemos 
outro projeto: Os Monstros do Lixão. 
Também não saiu da gaveta. 
Mas, é bom dizer, a Imprima 
pagou tudo.
 Não publicaram por questões e
stratégicas da editora.

Arte feita para a editora Imprima
Tony 29 – Vitor Biancardi e Reginaldo Ramos,
 são os meus jurássicos publishers e 
bengalas friends da Imprima. Eles gostam 
muito de vocês. Editora Vecchi... você e
 o Ataide colaboraram com ela?

Neide: O Ataíde sim. Eu não tive oportunidade, 
também cheguei atrasada.

Tony 30 – Sempre atrasadinha... (Rsss...). 
Voces mudaram para o interior de S. Paulo e
 nunca mais ouvi falar de voces e nem vi nada
 mais publicado... decidiram mudar de ramo,
 mesmo. Atualmente voces tem
 outras atividades profissionais...

Neide: De fato, mudamos totalmente. 
A cidade não oferece muitas oportunidades
 para o ramo. Falando a verdade, 
não oferece nenhuma. Durante
 um tempo fiz trabalhos para o 
mercado editorial, fiz desenhos
 para Colorir, Princesas, etc. 
Até que me cansei totalmente 
disso e radicalizei. Aposentei o
 nanquim. Somos Agentes de 
Combate às Endemias, pode? 
Nunca imaginei! Mas não deixa 
de ser uma experiência interessante.
 Para o Ataíde é como estar 
garimpando em uma mina de ouro, 
conhecendo tipos e mais tipos de pessoas,
 as manias que eles têm...

Tony 31 – Todo trabalho dignifica a gente e 
combater epidemias é um trabalho nobre
 de utilidade pública, até mais importante 
do que fazer HQs, eu acho. Bela opção. 
Morar fora do eixo Rio\SP sempre foi 
complicado. Mas, atualmente graças os 
contatos pela WEB estão facilitando a vida. 
Tem muita gente trabalhando até para 
o exterior. Já que voces pretendem voltar 
ao ramo- graças a Deus. 
Quais são seus planos?


Neide: Bem, pensamos em alguns projetos, 
mas muito lentamente...  
Estamos planejando e agindo
 nas horas de folga.

Tony 32 – Maravilhoso saber disso... 
Neide Harue por Neide Harue? 
Defina-se...

Neide: Sou alguém muito contraditória, 
mas capaz de mudanças sem medo, 
sempre esperando novas situações, 
experiências. Amo o desconhecido, 
sempre de braços abertos, saltando
 do pico mais alto, pronta para voar...

Tony 33 - O que falta para as HQs nacionais
 acontecerem, na sua opinião?

Neide: Na minha opinião, deveria haver 
algum auxílio, subsidio para editoras 
independentes, não sei... Alguns 
dizem que o problema é a distribuição.
 Ou melhor, o monopólio da distribuição.
 Mas o quadrinho de massa está
 renascendo na Internet. Qualquer um
 tem a oportunidade de conquistar 
e fidelizar leitores. A oportunidade 
está lá fora... ou melhor, lá, no 
espaço virtual.

Tony 34 – Também creio nisso... Mangás...
você adora eles?

Neide: Já gostei muito! Hoje, acho que 
ando um pouco cansada deles...

Tony 35 - Neide, você, pra mim, sempre foi uma 
grande profissional. Foi uma grata satisfação 
 poder entrevistar uma mulher guerreira e 
talentosa quanto você.
 Você é uma legítima e forte representante 
da ala feminina do Bengala Boys Club, 
que agora também tem as Bengalas Girls - 
até que enfim... (Rsss...). 
Sabia que tem nego por aí chamando
 a milenar confraria de "Bengalas 
Murchas?" (Rsss...). Isto é insuportável e 
difamatório... apesar de que tem alguns 
membros do grupo que são 
suspeitos... (Rsss...).
Você fez muito em prol das HQs tupiniquins
 e sem dúvida faz por merecer esses Bigornas
 e Angelos  Agostinis da vida, que em geral, 
só lembram dos machos e acabam esquecendo
as mulheres. Detalhe: Adorei aquela 
Apache que você fez ao lado do Ken Parker, 
para o blog deste tradicional personagem 
Bonelliano. Só não o publiquei em 
"Os Grandes Mestres Desenham 
Apache", porque no blog... 
http:\\BengalasBoysclub,blogspot.com
este link é especificamente para as
 ilustrações de Apache. OK? Parabéns,
 pela sua garra, sua luta e suas realizações 
na área editorial, principalmente! 
Alguma mensagem para seus fãs ou 
para as garotas que sonham um dia
 em entrar nesse ramo doido?

Nikka, no estilo mangá
Neide: Agradeço por suas palavras 
muito gentis, Tony. Foi muito bom 
relembrar tantas peripécias passadas.
 Agora, para as garotas que sonham 
com as HQs, posso dizer para viverem
 integralmente esse sonho, enfim, 
deem tudo de si, para que futuramente 
não sintam frustrações de espécie alguma.
Eu vivi e existi, com total consciência e 
posso dizer, sem arrependimento.

Tony 34 - Valeu, Neidinha! Brigadão,
 por sua colaboração. Grande beijo - espero
 que o maridão Ataide não seja 
ciumento (Rsss...), e muito sucesso.

Neide: Obrigada.

Princesa

Não deixe de ler, também, em...


htpp://bengalasboysclub.blogspot.com


O importante registro do esclarecedor
bate papo entre 
o mestre Will Eisner e seu
discípulo Jack Kirby!


Um encontro histórico,
 Imperdível! 



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