quinta-feira, 11 de novembro de 2010

MESTRE SEABRA, UM DOS MAIS ECLÉTICOS PROFISSIONAIS DO RAMO, DA UMA ENTREVISTA GENIAL!


Além de ser um grande amigo, ele é um dos mais 
ecléticos e prolíficos desenhistas de HQs no Brasil. 
Já fez histórias em quadrinhos dos mais
 diversos gêneros e estilos, sempre de uma forma bem 
profissional, apesar dos loucos prazos impostos pelos editores.
 Ele também escreve e sabe
 desenhar mulheres sensuais como poucos neste país.
 Sua história de luta,  garra, dedicação e paixão por arte, 
em geral e especialmente pelas HQs
 serve de exemplo para muita gente que sonha, um 
dia, em entrar na briga
 e se tornar um grande profissional 
da arte do desenhos sequêncial.

Ele também teve experiências agradáveis e 
desagradáveis, como todos nós, que 
militamos nesta árdua, mas maravilhosa profissão.
 Durante dois anos publicou inúmeras histórias 
em quadrinhos eróticas
 na Bélgica, fazendo muito sucesso, e na 
lendária Grafipar, de Curitiba. 
Atualmente, é impossível numerar as diversas
 casas editorias por onde
 ele já passou nessa sua longa jornada profissional,
 quer seja fazendo HQs ou ilustrações.

Apesar dos seus afazeres e de seu atual curso 
de desenho este old bengala-friend residente em 
Araraquara, interior de São Paulo, acabou
 arrumando um tempinho e me concedeu 
esta fantástica entrevista.

Conheça um pouco mais sobre um dos maiores 
mestres das histórias em quadrinhos tupiniquins,
saiba o que pensa e que faz...

SEBASTIÃO SEABRA
(vulgo Sebastião Zéfiro),
o rei das mulheres sensuais!



Tony 1- Salve, my old and dear bengala-friend... que honra poder 
entrevistá-lo... preparado? Então, vamos nessa... 
Como e quando surgiu sua paixão pelas HQs?

Seabra - Na tenra idade, Tony... Meu irmão mais velho 
apareceu em casa com um gibizinho do Tio Patinhas; 
jogou sobre o tampo da mesa da sala 
e falou qualquer coisa sobre ser o número um.
Acho que foi paixão à primeira vista, rs.
Eu nunca havia visto coisa tão sedutora antes.





Tony 2 - Qual foi a primeira HQ publicada e qual foi a editora?

Seabra - Foi num jornal: Folha de S. Paulo; uma 
sátira dum filme dos Trapalhões. Acho que do 
primeiro filme...
Acho que o Franco escreveu e eu desenhei, mas 
não lembro mais.
Saiu num encarte colorido que a Folha publicava 
na época, em 1974, apenas com 
autores nacionais.

Tony 3 - Acho que também publiquei nesse encarte... 
Franco de Rosa, nosso velho bengala friend, parece que 
vocês sempre tiveram muita afinidade. 
Onde e como surgiu essa amizade sincera?

Seabra – Eu, garoto, inicio dos anos 70, freqüentava 
a Livraria do Gibi, provavelmente a primeira 
livraria especializa em gibis de São Paulo.
Já conhecia várias pessoas lá, que curtiam 
ou desenhavam quadrinhos. Certo dia, apareceu 
o Franco; trabalhava numa repartição pública,
 fazia um fanzine em papel timbrado
 da prefeitura, rsss... Muito loko.
Já era empreendedor.
Um futuro editor.


Araraquara - Interior de São Paulo

Tony 4 - O também bengala-friend, Franco, sempre 
foi guerreiro e é um cara importante na história
 das HQs deste país, assim como
 o nosso querido "PP", Paulo Paiva... então, o Franco 
trabalhava numa repartição pública e fazia 
fanzine em papel da prefeitura?
 Genial... (Rsss..). 
Essa, aposto que ninguém sabia...Na época da extinta Grafipar,
 de Curitiba, eu trabalhava na ed. Noblet e também fazia 
free lancer para diversas editoras, como:
 Bloch (os Trapalhões\Trapasuat) e Grafipar 
(fazia cartuns). Você naquela época produziu muitas 
HQs eróticas, correto?




Seabra - Dessa passagem rápida pela Folha nós fomos
 para o andar de baixo. A Folha de S. Paulo ficava no 
quarto andar do edifício da empresa Folha da Manhã; 
no primeiro andar ficava o estúdio do Maurício de Souza, 
no segundo andar o jornal Notícias Populares. 
O motivo é que a gente queria fazer HQ de aventura, 
e a Folha não dava espaço pra isso. 
Estávamos em plena ditadura e a cultura da época só 
prestigiava charge e cartuns – que eram visto como
 coisa culta; mas desprezavam quadrinhos de aventuras – 
que era visto como alienante - Tachavam 
do “imperialismo americano”, etc, essas 
baboseiras e rótulos.
Então a gente sacou que o jornal Notícias 
Populares publicava um rol de 
quadrinhos nacionais e de aventuras.
Fizemos uma seqüência do Capitão Caatinga 
e levamos pra eles.

Tony 5- Lembro-me bem dessa “filosofia” a Folha... 
fiz trabalhos pra eles, mas era duro receber deles... (Rsss...). 
Cheguei a quebrar o maior pau, na época, pra
 receber uma colaboração que fiz pra Folhinha... 
também acabei indo parar no Notícias Populares. 
O jornal mais mentiroso que eu já vi.
 Um dia, eu estava na sala do 
Ebraim Hamadam, um cara entrou e falou:
 “Chefe, não temos hoje nenhuma manchete bombástica!”. 
Daí o Ibraim virou pra ele e disse: “Anote aí!
 Mulher é seqüestrada por um disco-voador”... aquilo, 
pra mim, foi demais... (Rsss...).
 Nunca mais comprei aquele jornal... Foi nessa mesma época
 que você começou a assinar como o lendário Carlos Zéfiro,
 o rei das pornôs e das mulheres deliciosas? (Rsss...)



Seabra – Passei a assinar “Sebastião Zéfiro” na fase 
Grafipar... Pura vacilada e lance moralista de minha parte.
 Era o único mercado de trabalho de quadrinhos existente
 e a gente temia ficar tachado de desenhista de putaria... 
O que irremediavelmente aconteceu, com 
ou sem pseudônimo, rsss.

Tony 6 - Entendo... também vivi este drama... eu fazia muito 
desenho cômico e o pessoal tinha o maior preconceito – puro
 falso moralismo -, de quem fazia HQs de sacanagem... mas, a
 coisa vendia e era a única alternativa pra gente faturar uma
 grana a mais e manter o estúdio... foi aí que eu também inventei 
o Zanzibar... Você para mim sempre foi um grande mestre 
e um dos melhores caras que já vi desenhar mulheres
 gostosas, bonitas e sensuais... (rsss..). Sempre adorou 
anatomia feminina?

Seabra - Acho que foi um lance de “formação”
Durante o primeiro ano que fazíamos a tira do 
Capitão Caatinga e uma outra tira de humor – 
Chucrutz – para o jornal Notícias Populares, o então
 editor Ebrahim Ramadam 
me pediu que fizesse 
uma página de novela... 
Um romance em quadrinhos...
 Mas o problema era que eu não sabia 
desenhar mulheres.
Diariamente o jornal publicava fotos das
 strippers paulistas seminuas... Era, claro, referência
 na mão. Copiava todas as fotos e estudei como um 
doido a anatomia feminina para finalmente apresentar
 para ele uma primeira HQ 
(acho que um ano depois ou mais).
Mas anos depois tive acesso a muitos e bons livros
 de anatomia, aulas livres de modelo vivo na 
Pinacoteca do Estado, etc. Tudo isso me ajudou
 muito a formatar minhas figuras.

Tony 7 – Está explicado... Sempre fui seu fã e 
adoro as fêmeas que você faz... 
Commu - Este era o nome de uma agência 
comandada por um tal de Pete não sei das quantas, que se
 propunha a agenciar autores brasileiros na Bélgica. 
Você também trabalhou para ele?

Seabra - Piet du Lombarde.
Sim, durante dois anos ou mais... Fiz quatro 
ábuns e uma ou outra HQ solta...

Tony 8 – Hmmm... o nome dele era Piet... pensei que
 fosse Pete... (Rsss...). O cara foi no meu estúdio, que ficava 
em cima do bar do Jeca, nas esquina da av. São João com a
 Ipiranga... você conseguiu receber?




Seabra - Sim, claro. Foi tudo perfeito.
Esse tipo de agenciador é muito comum lá fora
Existem centenas de agencias de artistas.

Tony 9 - Sim, eu sei... parece que eu e o Felipe
 (vulgo Tulipa e ex-sócio da Felipe e Fernandes Produções
 e depois da Phenix Editorial), demos azar... 
O Pete, na década de 90, esteve no meu estúdio, 
como falei, e encomendou uma HQ do Buana Savana. 
Fizemos originais imensos, pesquisas sobre o continente 
africano, fatos históricos, etc... pois, segundo o tal Pete...digo, 
Piet, os europeus só apreciavam HQs documentadas.
 Até hoje tenho os originais, o cara sumiu... (Rsss...). 
Seu relacionamento com a Commu terminou
 bem ou também levou “chapéu”?

Seabra - Foi tudo tranqüilo pra mim e para mais uns 
dez outros artistas na época, que trabalhava pra ele... 
Piet era um cavalheiro.

Tony 10 – É... infelizmente não posso dizer o mesmo... 
de fato, parece que demos azar... (Rsss...) 
que fim deu o tal Piet?

Seabra - Bom... Eu perdi o contato com 
ele e creio que os outros artistas também.
Assim que o Collor entrou na presidência
 e baixou o dólar (pela metade eu acho) não 
ficou mais interessante pra gente 
trabalhar pra Commu.
Trabalhávamos meses num álbum, para 
receber tudo de uma vez... Só que, com o dólar 
valendo a metade
 que valia acabou a nossa ilusão de
 fazer quadrinhos pra fora.

Tony 11- O que mais admiro em você, meu amigo, é sua capacidade de produção - coisa rara em desenhista tupiniquim que, em geral, faz 10 págs por mês e se acha o bambambam. E você também, meu caro bengala-friend, tem um tremendo potencial e se adapta a qualquer estilo. Isto é fantástico.

Seabra - Mas infelizmente isso revela outro imenso problema do nosso precário mercado de trabalho: não há continuidade. Hoje você faz algumas páginas de quadrinhos de aventura, outras de terror, no mês seguinte são ilustrações de mangás japoneses ou qualquer coisa infantil... Enfim, não se constrói nada assim. Estamos sempre recomeçando.

Tony 12 - É verdade... dificilmente a gente pode dar continuidade a um 
personagem, como na América... fora isto haviam alguns editores que ficaram 
famosos pois diziam que só a Ed# 1 vendia e se tornaram os reis dos
 números uns. Nesse mercado louco e instável ou cara é eclético e 
rápido ou não sobrevive... as revistas vendem menos a cada dia,
 qual é sua visão de futuro para as HQs?

Seabra - Tony... Eu acho realmente que as coisas
 estão se adequando.
Aconteceu com outras mídias.
A TV não matou o cinema como se previu, tampouco acabou 
com o rádio... Estão todos ai, brigando por seu espaço.
 Isso no mundo todo. E o vídeo também não matou a TV, nem
 a TV paga matou a TV aberta.
Como vê, sempre é tudo baba de lesma de pessoas que
adoram pregar o fim do mundo.
Outra coisa, como o advento do PC os intelectuais e 
ecológicos de plantão ficaram todos excitadinhos e 
determinaram o fim do papel; ledo engano. 
Nunca se usou tanto papel. As pessoas amam imprimir tudo.
Enfim... Há poucos anos era impensável ou distante
na nossa área vender HQ para a internet. 
Hoje já é rotina. Um monte de sites estão comprando HQs.
Pagam mal, mas é um começo. Além de ser cômodo e 
você não ter o desconforto de tratar cara a cara com 
o editor, que convenhamos, é um sako (kkkkkk).
Tinha um editor de São Paulo que, para eu receber
 dele eu tinha de viajar até lá, passar a tarde com o dito
 cujo, tomar cafezinho e tal para enfim pegar 
meu cheque. Convenhamos, é muito phoda isso.

Tony 13 – Foda? A moda antiga? Com “P” e “H”? (Rsss..). 
Muito bom... Também acho que aos poucos a poeira 
vai assentar... e todos terão o seu espaço. Passamos por
 um período de adaptação, é óbvio... esse editor pentelho
 que você citou, que pra receber você tinha que vir pra 
São Paulo e perder o dia, só pode ser um: Joseph Abourbih
 (vulgo Old Fox ou Mister No), meu ex-patrão da editora Noblet...
O seu José, ou seu Noblet, como a turma costumava chamá-lo 
era gente boa... (Rsss...). Só tinha um defeito... como todo
 bom judeu adorava chorar e pagar pouco...
Todo mundo (os colaboradores), para receber por lá era um
 saco, mesmo. Primeiro você tinha que ouvir a choradeira e 
reclamações dele – coisa típica da raça -, e só depois 
ele liberava a grana, caso você não o contrariasse (Rsss...). 
Nego que contrariava o personagem sai d bolso vazio... (Rsss...). 
Mesmo concordando com toda aquela aladainha o colaborador 
ainda assim acabava vendo o dia ir pro saco, cada vez 
que ia cobrá-lo. O cidadão era um sádico... gostava de 
torturar a galera... mas, já “subiu o morro” e a editora fechou.
 Trabalhei naquela casa editorial durante 5 anos – onde 
aprendi muito -, sempre brigando com ele. 
Eu cansei de pedir a conta, mas ele insistia em me recontratar. 
Comecei como free lancer e virei até diretor de arte, 
mesmo quebrando o pau, é mole? Por fim, cansados de 
brigas, ficamos bons amigos, depois que sai de lá pra montar 
o meu estúdio na década de 80. Há uns quatro anos atrás,
 eu e o Paulo Hamasaki (dois ex-funcionários da casa), 
e ele, almoçávamos juntos toda sexta... mas, a choradeira 
continuava nesses almoços... (Rsss...). Você publicou na
Noblet uma versão pornô-erótica do Vingador Mascarado, 
lembro bem e até tenho guardado este gibi... 
Como um dos mais prolíficos profissionais da área, pergunto:
 deu para ganhar dinheiro, fazer o pé-de-meia, nesses últimos anos?

Seabra - Nada. Trabalho para dar conforto e saúde para 
minha família e formar meus filhos, produzindo 
de 25 horas por dia, sempre com a ilusão de achar 
o pote de ouro atrás do arco íris... Mas de nada adianta. 
Pegamos todo trabalho que nos oferecem, mas são
 todos mal pagos e em todos eles tentamos deixar
 um mínimo de qualidade e por mais que tentemos
 viabilizar esses trabalhos o círculo vicioso se repete 
ad nauseam... Quando o dinheiro entra
 você deve pra meio mundo.
Um dos meus irmãos já previu que vou acabar como o 
Mozart, sem um puto no bolso e morto numa vala comum,
 rsss... Ao menos a comparação com o gênio da
 música foi lisonjeira, hahahahaha.

Tony 14 – É viver nesse mercado é um drama mesmo...
 a gente vive sempre balançando e você disse bem...
 quando entra 5 mil a gente já tá devendo 7 e por aí afora... 
pra manter o estúdio atual vivo trocando “papagaios” nos
 bancos... (Rsss...). Tem sempre um gerente correndo atrás
 de mim... o pouco patrimônio que consegui formar 
foi através da publicidade... se dependesse só das HQs
 nem teria formado minhas filhas, apesar de ter feito,
 como você, algumas toneladas de originais de 
HQs nos mais diversos estilos... e olha que eu não
 posso reclamar da vida não, dei sorte e houve
 épocas em que eu até cheguei a viver, razoavelmente
 bem – trabalhando feito louco-, só de HQs... porém,
 isto, como sempre, é temporário... a gente sabe... S
ei que você está fazendo um curso de desenho 
On-Line que está bombando. Quem quiser suas apostilas,
 como deve proceder?

Seabra - Parei de lecionar aulas presenciais há poucos 
meses e formatei e desenvolvi um Curso de Desenho 
e Anatomia Online... O mesmo conceito das aulas
 que eu ministrava em classe, com a vantagem que é
 muito mais barato, o aluno segue tendo toda a 
minha atenção e correção, e tem a vantagem de
 não ver a minha cara, nem eu a dele. É fantástico!
Não entendo como há tanta resistência em 
fazer um curso a distancia.
Quem quiser fazer ou conhecer o Curso é só me
 escrever que eu envio o primeiro módulo 
e todas as explicações necessárias.

Tony 15- Apesar de você também já ter feito vários heróis, 
dentre estes o Vingador Mascarado, que acabei publicando 
no tempo da minha editora (Phenix), você sabe desenhar 
mulheres sensuais como ninguém. Coisa rara entre esta nova
 geração que só sabe desenhar caras e mulheres bombadas. 
Toda esta tarimba, nas fêmeas, vem das HQs eróticas?

Seabra - Então... Como eu já citei, eu, com a testosterona 
a mil como qualquer adolescente me debruçava sobre as
 fotos de garotas que saia nos jornais e nas revistas; 
paralelo a isso eu sabia de antemão que jamais viraria 
um ilustrador de figuras sem ter um profundo
 conhecimento anatômico, por isso procurei e comprei
 na época um dos melhores livros de anatomia 
que tenho até hoje, “Desenho e Anatomia” 
de Victor Perard, uma edição aparentemente pirata 
da Tecnoprint, na época. Comprei e copiei cada página.
Nunca consegui que aluno algum fizesse essa trajetória,
percorresse um livro de anatomia humana de cabo a rabo. 
Portanto, infelizmente, duvido que algum deles, por mais
 brilhante que sejam, venha algum dia ser um 
prolífico desenhista de histórias em quadrinhos.
Desenhar quadrinhos profissionalmente não requer 
apenas talento natural. Requer muita técnica, muito 
estudo, muita paixão pelo ofício e muita 
disciplina para trabalhar.
Enfim, é um tremendo sacrifício.
Eu me emociono quando falo sobre desenhistas como
 o Rogério Cruz e o Deodato Filho. São artistas 
extraordinários que fizeram toda essa trajetória
 toda e venceram lá fora e deveriam ser reverenciados
 e aplaudidos sempre.
O desenhista brasileiro que vence lá fora trava
 uma luta injusta. Ganha menos, trabalha muito 
mais e trabalha só, em contrapartida dos seus 
iguais norte americanos que quase sempre tem 
muitos assistentes ou uma grande equipe para 
poder fazer em tempo hábil uma revista (ou mais) 
por mês. O dia que brasileiro parar de falar 
mal de brasileiro (um provável ranço herdado 
de Portugal) estaremos a um passo da 
evolução intelectual e artística.
Em tempo: eu não “fiz o Vingador e você acabou publicando”, 
eu fiz o Vingador a partir de um gentil e maravilhoso 
convite seu. Até então ele não passava de uma vaga idéia que
 provavelmente nunca sairia do papel, rs. Você como 
grande entusiasta que foi (e ainda é) e um dos raros 
e probos editores que eu conheço, me deu essa 
grande alegria (a mim e a alguns outros amigos)
 e eu lhe sou muito grato por isso.

Tony 16 – Que é isto, mestre, sempre admirei seus trabalhos... 
além do mais, quando eu e o Felipe abrimos a Phenix, ninguém 
acreditava na gente, sabia? Muito nego dessa nossa classe desunida 
de merda, como você frisou, metia o pau na gente e falava aos
 quatro cantos que éramos duros, que não tínhamos como 
pagar os colaboradores. Estavam enganados, é óbvio... 
naquela época estávamos faturando alto com o Laboratório 
Catarinense S\A e também tínhamos acabado de vender
 os direitos autorais do Pequeno Ninja... mas, a turma 
adora falar merda... fazer o quê? O único que 
acreditou na gente foi você... você foi nosso primeiro colaborador...
 começamos editando revistas posters – Bruce Lee, 
Back To The Future, Robocop, etc-, lembra-se?
 Saimos arrebentando. Fomos os primeiros a lançar Robocop 
no Brasil, numa época em que o governo Collor tinha tomado 
a grana de todo mundo. O país inteiro foi pra cama –
 no dia anterior – com dinheiro no banco e acordou 
duro no dia seguinte... foi um rebú, confiscaram 
nosso dinheiro. As editoras, naquela época, pararam
 de publicar, para se readaptar a nova realidade... 
achei aquela a hora propícia pra entrarmos de cabeça 
novamente no mercado editorial. Mas, muita gente 
achou que estava louco, que íamos quebrar a cara.
 Saímos, em meio a crise, com Robocop, exatamente 
quando o filme foi lançado. Não deu outra. Pegamos na veia. 
Vendemos 800 mil exemplares... quando crescemos 
saímos daquela salinha da avenida São João com a 
Ipiranga e alugamos um local enorme no Brás.
 Daí começamos a investir nas HQs (principalmente em
 super-heróis)– apoiados pelos posters de Tom Cruise, 
Madonna, Back Street Boy, Van Damme, Indiana Jones,
 Gremelins, etc. Gastávamos muita grana com direitos a
utorais e locação de cromos de filmes e astros da música,
 mas valeu a pena. Só conseguimos editar os almanaques 
Phenix e Udigrudi –, revistas que tinham um custo alto - 
por ser 100% nacional-, e tinha uma porrada de 
colaboradores, graças aos posters. É gozado, na Europa 
existem editoras só de HQs. Aqui no Brasil é impossível 
viver apenas editando só quadrinhos. É necessário ter
 outros produtos para dar suporte, poucos sabem disto. 
Meu querido bengala-friend, Seabra, você se s
ente realizado, profissionalmente?

Seabra - Infelizmente não.
No Brasil não há como a gente se sentir realizado 
porque não há mercado de quadrinhos, e, você sabe, 
somos genuinamente autores de histórias em 
quadrinhos... Por mais que façamos coisas paralelas
 para sobreviver. Resta o mercado de fora.
O dia em que eu quebrar esse maldito bloqueio que
 devo ter e finalizar um dos inúmeros testes de
 páginas para o mercado americano que nossos
 amigos agentes me passam ai quem
 sabe eu me sinta realizado.

Tony 17 - Seus planos para o futuro?

Seabra - Este. Passar num teste para o mercado 
americano e trabalhar para as grandes editoras; ganhar
 razoavelmente bem e não me preocupar mais com as 
contas de luz, água, telefone... rsss... Com o maldito aluguel...

Tony 18 – Sei muito bem do que você esta falando... não é fácil...
 espero que este seu bloquei passe logo, seu trabalho tem nível
 internacional. Aqui não temos muito tempo pra se dedicar, 
om calma, a coisa... é tudo na pauleira, você sabe... pergunto:
 Sebastião Seabra por Sebastião Seabra?

Seabra - Bom... Eu tenho absoluta certeza de 
que eu sou o mesmo garoto que nos anos sessenta
 ficou embasbacado quando ganhou das mãos dum 
frentista duas revistas da Marvel (Super X e Capitão Z) ,
dum posto da Shell perto
 de casa, no tranqüilo bairro da Vila Xavier, 
em Araraquara... 
Foi assim que as revistas do Titio Stan Lee 
entrou no mercado brasileiro.
Ainda sou o mesmo fã que se emociona cada
 vez que abre um gibi desses e admira os
 desenhos arrojados
 dum Jack Kirby e seus pares...
Acho que foi o Franco quem disse numa entrevista
 que virou editor pelo prazer supremo de manusear 
tantos originais de tantos artistas 
fabulosos o tempo todo.
É isso, antes de profissionais da área, somos 
grandes fãs desses gênios todos (o Deodato me
 disse a mesma coisa, 
imagine...), daí a permanente felicidade e o sorriso 
estampado na cara, acho, rsss...

Tony 19 – Também comprei essas revistas no Posto Shell. 
Na época os heróis Marvel fizeram uma grande jogada de marketing... 
a recém-inaugurada TV Bandeirantes – de S. Paulo - lançou 
aqueles desenhos desanimados e a EBAl, simultaneamente, 
lançou os números zeros nos Postos Shell. Achei a idéia genial. 
Mas, em síntese: apesar dos pezares, somos felizes, né?
 Fazemos aquilo que gostamos... sei como é isto... eu, atualmente,
 penso assim: já cumpri minha missão, criei e formei minhas filhas.
 A fase difícil já passou... agora o que vier é lucro – estou em
 final de carreira -, e quero morrer publicando, fazendo aquilo
 que eu gosto e até quem sabe voltar a editar um dia... 
talvez... (Rsss...). Dê uma palavrinha para seus fãs e 
gente que quer seguir os seus passos no ramo de HQs, 
grande mestre e guerreiro.

Seabra - Realmente para mim é muita lisonja que tenho 
leitores que gostam do meu trabalho. Surpreendo-me 
sempre com isso e sou muito grato a todos eles.
Trabalho sempre pensando em agradá-los, é claro. 
Da mesma maneira que sou grato pela felicidade 
absoluta que artistas como Jack Kirby, Will Eisner,
 Neal Adams e uma infinidade de outros gênios do 
traço sempre me proporcionam com seus 
trabalhos maravilhosos é uma grande surpresa para
 mim que meus desenhos possam proporcionar 
algo aparecido a alguém.
Desenhar quadrinhos é achar solução para cada quadro,
usando referencial, ou criando de memória, é um 
trabalho duro... E será um trabalho impossível se o 
aspirante a desenhista não tiver uma sólida formação 
artística, seja estudando numa boa escola de arte ou 
se debruçando diariamente em bons livros de
 desenho e anatomia; metodicamente e sempre.
Quanto mais se sabe fica mais fácil achar as 
soluções e fazer um trabalho em tempo hábil.
Portanto, nada de perder tempo, encostem o barrigão
 na prancheta e mãos à obra.
Estou com 52 anos e estudo diariamente.
Ao contrário do que supõe certos alunos não se 
aprende a desenhar mãos com uma aula de mãos, 
ou desenhar seja lá o que for com algumas aulas. 
A coisa mais comum que eu ouço é “desenhar pessoas 
eu já sei, só me falta um pouco de perspectiva”, ora... 
Dureza ouvir isso né? É a parte insalubre de lecionar.
Grande abraço Tony, e vê se me “encomenda” outro
 personagem, caso contrário ficarei conhecido 
apenas como “o criador do Vingador Mascarado”.




Tony 20 - Não se preocupe, meu bengala-friend e velho amigo,
ainda quero te ver desenhado Apache, ou quem sabe um novo 
personagem (rsss...)... melhor seria se ressuscitássemos 
o seu Vingador Mascarado... acho ele um grande personagem...
See you later, warrior! The battle to be continued... GO ahead!
E muito obrigado por esta sensacional entrevista. Valeu!

Nota: Durante sua longa e produtiva carreira, o mestre Seabra, 
criou e desenvolvel diversos personagens de gêneros distintos. 
Na década de 90 decidiu, após termos uma conversação
telefônica, criar um super-herói, sua antiga paixão.
 Assim surgiu o Vingador Mascarado,
um personagem marcante e que tem uma figura impressionante.
 Com a falência da Phenix muitos autores de heróis não 
tinham mais aonde publicar seus personagens. Assim,
muitos desses autores foram obrigados a adaptar esses 
super-heróis para HQs com erotismo ou mesmo porno. 
Assim, O Vingador Mascarado ganhou uma versão
hard para sair na revista Sexyman, da ed. Noblet e eu 
acabei transformando a série
A Maldição do Guerreiro Ninja também numa versão erotizada.
Nesta etapa difícil de mercado até meu super-herói
 Fantastic Man ganhou uma
edição mais apimentada pelas Edições E.R.T.

Nova versão do Vingador Mascarado, de autoria do genial Seabra.
Este personagem foi publicado pela primeira vez por
Phenix Editorial Ltda - na dácda de 90 -, editora do autor desta entrevista. 

Copyright 2010\Tony Fernandes\Estúdios Pégasus -
Uma Divisão de Arte e Criação da
Pégasus Publicações Ltda
São Paulo - Brasil
Todos os Direitos Reservados

11 comentários:

  1. Prezado Tony, que entrevista linda.

    Vamos ser acusados de rasgação de seda aqui mas obrigado novamente (acusados pelos nosso inimigos, é claro, mas aparentemente um deles está quase preso por difamação e calúnia, hahahahahahahahaha).
    Está lindamente editada, sem tirar nem por uma única linha do que o entrevistado falou.
    Muitos jornalistas (que se dizem jornalista) deveriam aprender com você.
    Além do mais você inventou um novo formato, uma verdadeira entrevista bate papo no melhor estilo "dá porrada" do Tony bengalon Boy, hahahahaha...

    Grande abraço meu amigo.

    Foi uma grande honra (está sendo)...

    Seabra

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  2. Só pra variar a entrevista está muito boa. Só assim ficariamos sabendo a trajetória do Seabra e suas criações. A discussão-entrevista postada neste blog dá um desânimo desgraçado. A gente fica pensando se vale a pena tanta luta num país onde não dão o mínimo valo para a arte sequenciada, as HQs. Mas enfim vamos em frente que parado é que não se pode ficar quando se quer chegar a algum lugar.

    Wilde Portella

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  3. Muito boa a entrevista Tony,,, estamos sempre acompanhando este blog.
    Abraços

    Fabiano

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  4. grande Tony, parabéns pela entrevista do Mestre Seabra...essa figura fanática e fiel da fauna e da flora! este prodigioso petis das tintas e pinceis!!!...enfim, um puta artista :)...grande abraço aos 2 mesmtres ( Tony e Seabra)

    Minighitti

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  5. Bravíssimo Tony.Grande entrevista...Enfática e sem Rodeios,aumentou ainda mais a admiração pela Obra do Magistral Seabra.Imperdível para os aficcionados.Afinal trata-se de um Bate papo entre Feras.

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  6. Tony,

    Mais uma grande entrevista, com um grande Mestre dos quadrinhos brasileiros.

    Parabéns a você por esta iniciativa, que já é vencedora, nos passando um pouco mais da intimidade e pensamento de nossos ídolos.

    Ao Seabra um grande abraço e a grande admiração que sinto por sua exuberante arte.

    Alvarez

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  7. Pô, nem acaba uma entrevista já saca outro monstro sagrado do Quadrinho Brasileiro? Parabéns ao Tony e ao Mestre Seabra, por inusitadamente (ambos) abrirem o verbo... Boa!

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  8. Bynho Castro, orkut: Rogerio.0709@ig.com/Severino castro, facebook: bynho.castro@hotmail.com
    gostei de saber, tirei muitas dúvidas sobre o mestre Sebastião Seabra, agora sei porque o guerreiro ninja do mestre tony frnandes ganhou aquela versão Hard.

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  9. Comprei estes dias num sebo aqui nas quebradas da ZS (perto do Autódromo de Interlagos) uma edição do DAGOR, ao ver o nome deste grande artista!
    Excelente entrevista, muito enriquecedora para nós amantes da arte sequêncial!!
    Vida longa aos bravos Guerreiros!!

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  10. Adorei a entrevista. Conheço o Seabra de nome, desde a epoca da Noticias Populares. Me valeu a noite e estou indicando no twitter

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  11. À todos q nos visitaram, ao logo do ano,somos gratos (eu e o Seabra). Nosso intuito é mostrar o que tb rola nos bastidores desse conturbado e maravilhoso mundo editorial brasileiro!
    Boas Festas, bengalas friends!

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