terça-feira, 26 de outubro de 2010

GETÚLIO DELPHIM: ENTREVISTA COM O MESTRE DAS HQS NACIONAIS!

Ele é de origem humilde. Batalhou muito, estudou, dedicou horas a fio 
 para desenvolver sua arte, entrou para o mundo da publicidade e 
das histórias em quadrinhos, onde sempre se destacou pela 
alta qualidade do seu trabalho. 
Nos últimos anos também conquistou o mercado internacional, 
fez sucesso na Europa. 
Ele pertenceu a uma geração de grandes mestres das 
HQs nacionais e da publicidade. E está de volta ao Brasil. 
E está aí na briga, detonando mais uma vez nas agências 
de publicidade e como me disse recentemente,
 num e-mail, está com "sede de quadrinhos". 
Este grande e incomparável mestre dos quadrinhos 
brasileiros é uma verdadeira lenda 
viva nacional e um exemplo a ser seguido pela nova geração.
 Exemplo de pai, de marido, de amigo, de guerreiro, 
que enfrentou muitas lutas, sempre com muita garra,
 perseverança e determinação.
Vivenciou muitas batalhas e glórias.
Com vocês...

O GRANDE MESTRE GETÚLIO 
DELPHIM NUMA SENSACIONAL
E REVELADORA ENTREVISTA





Tony: Grande mestre e grande amigo, Getúlio, como surgiu seu interesse por desenho, HQs e publicidade?


GETÚLIO: A aptidão para o desenho chegou quando eu era ainda 
criança (11 anos) e gostava de ler Histórias em quadrinhos de cowboy.
Rocky Lane, Durango Kid e Cavaleiro Negro eram meus 
preferidos.

Tony: Você começou fazendo HQs ou publicidade? 
Em que ano?



GETÚLIO: Comecei na Rio Gráfica Editora (atual Globo), aos quinze
 anos,como auxiliar de desenhista. Seis meses depois fiz o
 meu primeiro desenho para ser publicado. Foi para 
capa de uma HQ. O personagem era o Capitão Marvel 
Júnior, irmão do Capitão Marvel.Fiz várias capas para 
outros personagens como: Cavaleiro Negro, 
Bronco Piller, Rocky Lane (meu apelido na 
Rio Gráfica era Rocky Lane).



Tony: Qual era o nome da primeira editora que

 publicou uma HQ sua?
 Lembra-se do título desta HQ?

GETÚLIO: Editora Garimar (1958). A HQ era do 
Falcão Negro
 (personagem da TV Tupi-Rio).

Falcão Negro, herói da TV




Tony: Sua geração viveu um período maravilhoso onde
 se produzia muitos Quadrinhos no Brasil. 
Ele também foi marcado por verdadeiras feras do traço, 
tanto da publicidade, como no setor editorial. 
Você deve ter convivido com, Shimamoto, Benício, Adão 
Gonçalves, Luis Café,  Salatiel de Holada, Jayme Cortez, 
Dualibi, Ivan Saidenberg, Lírio Aragão, Fabiano, 
Gedeone, Izomar,Ignácio Justo, Reynaldo de Oliveira,
 Moya, o lendário editor Miguel Penteado, Salvador 
Bentivegna, Mauricio de Sousa, Nico Rosso, 
Edmundo Rodrigues, Pedro Mauro Moreno, 
Enio Mainardi, e outras feras do mercado nacional. 
Como era o seu relacionamento com toda esta gente boa? 
Muitas reuniões com a turma? Grandes porres? (Rsss...). 
Afinal, todos sabem que a nossa classe sempre foi
 boa em "levantamento de copos"... (Rsss...).

GETÚLIO: Um relacionamento muito bom, aprendi muito 
com eles, muitas reuniões(sempre nos bares)
e muito levantamento de copo. O problema era a saideira, 
a gente não saia nunca, Rsss....




Ayres Campos - Capitão 7

Tony: Capitão 7, o herói vivido na TV pelo ator e amigo
 Ayres Campos... eu não perdia um seriado, quando 
era criança. Quando encontrei o gibi nas
bancas, feito por você, vibrei. Mal sabia que eu, anos
 depois, ia conhecê-lo pessoalmente. Você foi- e ainda é - , 
ídolo e um dos grandes ícones da minha geração. 
Seu trabalho inspirou muitos jovens, que tinham pretensões 
em se tornar um profissional um dia, como eu. 
Como surgiu a oportunidade de fazer o 
Capitão 7, em quadrinhos? De quem foi a ideia? 
Quantos anos você tinha na época?
 E... quantas edições durou esta serie?

Capitão 7, da TV para os quadrinhos

Turma da pesada. Artistas do passado. Dentre estes está
Getúlio, Moya, Ziraldo e outras feras. Muitos
abandonaram a profissão.
GETÚLIO: A oportunidade surgiu na Editora Outubro, 
do Jaime Cortez, que me convidou para desenhar 
as historias do Capitão Sete.Tinha dezoito anos.
Não me lembro quantas edições durou exatamente, 
mas foi suficiente para me trazer alguns dilemas, 
o Cortez queria que eu fizesse a cara do Capitão Sete 
quadrada como a cara do Flash Gordon e o Aires Campos
 me pedia para fazer parecida com a dele, que era 
arredondada,o problema era que ele era muito forte 
e o Cortez era o patrão e eu ficava sem saber o que fazer.



Tony: Outro seriado que também era imperdível na 
TV era Jet Jackson, o comandante meteoro. 
A produção era americana, mas quem acabou fazendo as 
HQs dele foi você. Lembro-me muito bem do gibi, 
comprei algumas edições, pois sempre adorei o
 seu traço. Como surgiu a ideia de lançar e
produzir Jet Jackson em quadrinhos, no Brasil?
 A revista saiu por qual editora?

GETÚLIO: Ela foi lançada, também, pela Outubro, do Cortez.

Tony: Em 1973 veio a crise internacional do papel...
 - foi justamente nessa época que eu estava começando
 a minha carreira nesta área.
 Muitos editores estavam fechando as portas e muitos 
bons profissionais estavam migrando para as agências 
de publicidade, por uma questão de sobrevivência. 
Foi também nesta época que você decidiu 
ir para a publicidade?

GETÚLIO: Sim. Eu fui para a publicidade para conhecer outro 
campo de trabalho e por causa da grana também,
 o nosso trabalho era mais bem pago.

Tony: Quantos anos você, de fato, trabalhou 
no setor editorial?

GETÚLIO: Na verdade eu nunca deixei o setor editorial, 
paralelamente desenhei o Aba Larga 
(Policia Montada da Brigada Gaúcha), 
e fiz muitas ilustrações para livros.


Tony: Falando ainda sobre agências, sei que você
 faz atendimento à elas até hoje. Mas, gostaria de 
saber, quanto tempo você 
milita na área publicitária?

GETÚLIO: Desde que vim  para São Paulo convidado 
pelo Cortez, em 1900 e antigamente.

Tony: Pelo que me consta, você não fez muitas HQs ao longo 
da sua carreira, OK? Porém, aquilo que fez marcou época,
 devido ao seu traço, talento e seus belos enquadramentos. 
Todos, até hoje, reverenciam suas HQs. 
Há quantos anos você não faz quadrinhos?

GETÚLIO: Não me lembro exatamente, mas 
já faz bastante tempo.

Espanha - Plaza de Toros

Tony: Espanha... você um dia decidiu ir para lá, por quê? 
Para faturar mais? Ganhar novas experiências? 
Ou por achar que no Brasil 
nossa classe era e sempre foi mal remunerada?

GETÚLIO: Fui para a Europa, porque sempre tive 
curiosidade de saber o que tem do outro lado do 
oceano e também para saber se meu trabalho era
 bom mesmo e competitivo 
ou se era porque tinha um certo nome na 
praça, e por isso tudo que eu fazia a turma elogiava.
 Lá ninguém me conhecia, assim eu tinha que fazer
 um trabalho bom ou morria de fome.
 Felizmente ele foi bem aceito, até mais do que
eu esperava. Me tornei o número um de 
Barcelona, Madrid e Paris. Até na Alemanha fui parar. 
Êta língua complicada, só aprendi a falar:
 ÒEIN BIERÓ (uma cerveja em alemão), pra não 
morrer de sede.

Tony: Esta da cerveja, foi ótima...(Rsss...). 
Quanto tempo você ficou na Espanha, país onde a
 sua esposa tem parentes?

GETÚLIO: Fui para a Espanha primeiro porque 
a minha esposa é espanhola e isso me facilitou a
 entrada no país.
 Primeiro fiquei quatros anos na Espanha, depois
fui para a França e fiquei sete anos por lá. Depois, 
retornei `a Espanha e fiquei mais dois anos.

Tony: Lá, você atendeu agências e editoras, 
ou apenas agências?

GETÚLIO: Trabalhei mais para agências do que para editoras.


Tony: França... você também morou lá por um bom período, 

pelo que me consta. Fale-me sobre a experiência 
de morar em Paris... a ideia me parece fascinante. 
A "Cidade Luz", de fato, é merecedora deste título? 
Como foi viver por lá?



GETÚLIO: Paris é realmente fascinante... é merecedora 
deste título, é uma cidade fantástica, tanto no
 aspecto cultura como no aspecto social, apesar
 da famosa arrogância dos franceses.  
Eles, os franceses, respeitam aquele ou aquilo 
que tem valor.O governo Francês tem um
 departamento só para receber as pessoas que
 chegam com uma bagagem profissional.
(LE ENTRAIDE DES TRAVAILLEURS INTELLECTUELE).




Ilustração de Getúlio Delphin


Tony: Na França, você disse que trabalhou apenas 
com as agências... Pergunto: Encontrou algum tipo 
de preconceito, por ser latino?

GETÚLIO: Na França, trabalhei nas maiores agências 
de publicidade, nacionais e internacionais e jamais
 tive problemas de preconceito, muito pelo contrario,
era mais respeitado do que sou aqui.



Tony: Quantos anos você e a sua esposa 
permaneceram na Europa? Deu para faturar bem, por lá?

GETÚLIO: Fiquei cerca de 13 a 14 anos. Ganhava muito bem,
comprei uma bela casa, rodava numa Mercedes Benz, 
BMW etc. Não fiz pé de meia, nem tinha intensão,
 pois vivia uma vida típica européia ao invés
 de ficar botando dinheiro embaixo do colchão.

Tony: O que o trouxe de volta ao Brasil? 
Conheci muita gente que saiu daqui e nunca
 mais quis saber de voltar, porque diziam que arte,
 por lá, sempre foi respeitada, muito bem remunerada.

GETÚLIO: Dizem que todo mundo comete pelo menos 
um erro na vida, comigo não foi diferente, eu cometi
 vários erros, mas esse foi o pior deles.

Tony: Errar é humano... (Rsss...).
 Lembro-me bem que um dia nosso amigo em 
comum e ex-sócio, o grande ilustrador Adão
Gonçalves , uma fera em manchas publicitárias, 
levou você até a minha editora (Phenix), lá no Brás, 
e nos apresentou. Você estava
com sua esposa, Amelinha... 
por sinal, muito simpática...
 Voces tinham acabado de chegar da França.
Se não me engano, isto foi em 92 ou 93...  
Aquilo, para mim, foi um momento histórico
 e inesquecível. Afinal, pude conhecer o grande 
mestre, que sempre admirei, Getúlio Delphim, 
ao vivo e em cores. Sempre fui seu fã.
 Agora, diga-me... voltar ao Brasil, depois de
 um longo período fora daqui, sempre traz 
problemas para a gente se adaptar, se ajustar
 ao mercado atual. Você também encontrou 
este tipo de dificuldade ou conseguiu se encaixar
 logo no mercado das agências e editoras, por aqui?

GETÚLIO: Me lembro bem dessa visita que fiz a sua 
editora, estava de férias aqui, revendo os amigos
 e tive o prazer de conhecê-lo.
Tive muita dificuldade de readaptação (e ainda tenho), 
principalmente, no trânsito...
No trabalho não tive nenhuma dificuldade fui bem
 recebido pelos da velha guarda e pelos jovens
 também, o que foi uma surpresa pra mim,
 deu para refazer a vida.



Tony: Você nasceu na cidade de São Sebastião do
 Rio de Janeiro?
 Qual é sua idade atual?

GETÚLIO: Nasci no Rio de Janeiro no dia 16 de junho 
de 1938, portanto sou mais jovem do que você,
 porém há mais tempo... (Rsss...)

Rio de Janeiro - Baixada Fluminense
Tony: (Rsss...) Boa...Um sonho?

GETÚLIO: Ficar muito rico de grana e poder voltar 
a produzir Histórias em Quadrinhos.

Tony: Uma frustração?

GETÚLIO: Tive duas frustrações: uma ser desligado da 
Tropa de Paraquedistas, quando fui servir o Exército
 e outra quando torci o tornozelo jogando pelo time 
do colégio e não pude continuar no juvenil do Flamengo.

Tony: Perdemos um atleta, um craque... mas
ganhamos um grande artista (Rsss...).
 Quem foram seus ídolos das HQs?

GETÚLIO: Alex Raymond,(Flash Gordon), Harold Foster
 (Príncipe Valente, Hogarth (Tarzan) e Hugo Pratt 
(Corto Maltese).







Harold Foster autor de Princípe Valente


Alex Raymond criou: FlashGordon, Jim das Selvas eNick Holmes

Raymond em seu estúdio


Tony: Do cinema?

GETÚLIO: Al Pacino e Allan Lane, que fazia 
o Rock Lane no cinema.

Tony: Há pouco tempo atrás fiquei sabendo que você veio 
de São Sebastião, no litoral paulista, porque foi convidado 
para deixar a marca de suas abençoadas mãos 
na nossa "Calçada da Fama", aqui em S. Paulo,
 no centro cultural recém-inaugurado na estação 
Carandiru do metro. Quantos prêmios você
 já recebeu, tanto da área publicitária quanto 
na área das HQs? Algum prêmio internacional?


GETÚLIO: Recebi o Premio Ângelo Agostini em 

Janeiro de 94 (Mestre do Quadrinho Nacional)
 e o Troféu HQMix em 99 (Grande Mestre).
 Mas, nunca recebi um prêmio internacional, não. 
Nenhum. Na publicidade ganhei a Medalha
 de Ouro (Arte Final) na 
campanha DO DETRAN 2008.

Tony: Maravilha! Pretende voltar aos quadrinhos, um dia,
isto é óbvio...

GETÚLIO: Sim, tenho um amigo que é muito bom roteirista 
e me prometeu um roteiro... estou aguardando.

Tony: Acho que sei quem é este cara (Rsss...). Ainda
vamos trabahar juntos, um dia...
 Getúlio Delphim por Getúlio Delphim?

GETÚLIO: Não entendi a pergunta.

Storyboard feito para a agência DM9 por Getúlio Delphin

Tony: Sem problemas, mestre... grande amigo, foi uma honra
 poder entrevistá-lo, saber das suas histórias, experiências 
de vida e do campo profissional.
 Que o seu trabalho, sua arte e seu jeito de ser, simples,
inspirem muitos jovens deste país.Grato por sua atenção.
Saúde e muita paz... vou falar com o tal roteirista
 tratante... (Rsss...)
Pode deixar, assim que eu o encontrá-lo (Rssss...).

GETÚLIO: Eu é que me sinto honrado de ser entrevistado 
por um artista de nível elevado como você.


Tony: Para com isto, mestre... você é suspeito,

Getulião... você é amigo...(Rsss...) velho amigo
de grandes happy hours, bons restaurantes e
outros bichos ...
Conheçam, abaixo, o Aba Larga, mais uma criação
 desse amigo generoso da
nossa milenar Confraria os Oldies Bengalas
 Brothers, Friends, Girls and Sisters... (Rsss...).
 See you later, cowboys!



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