segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

OS QUADRINHOS DE TERROR DA EC ! Matéria Especial!





Durante a implantação do famoso Código de Ética, 
que impunha censura aos editores americanos e
 que fora instituído e comandado por eles mesmo,
 após a publicação do livro Sedução dos Inocentes,
 uma editora em particular foi uma das mais visadas. 
Nosso amigo, colaborador e atual editor, Daniel Saks, 
a seguir, faz uma bela explanação de como esta
 casa editorial, após inovar o mercado com títulos
 destinados aos leitores adultos, provocou a
 ira do povo e das autoridades locais. 
A seguir saiba mais sobre...

CONTOS DA CRIPTA – 
OS QUADRINHOS DE
 TERROR DA EC 
(ENTERTAINING COMICS)!



Na passagem de ano de 1990 para 1991 a terceira e
 última edição da revista especializada em quadrinhos 
“HQ” da editora Palermo (sobre a qual vale a pena
 fazer outra matéria) trazia uma série de atrações.
 Entre os destaques dessa edição estavam uma
 entrevista traduzida com o escritor escocês 
Grant Morrison na época revelação do mercado 
americano, cujo trabalho estava sendo apresentado
 no Brasil com o Homem-Animal na revista 
DC 2000 da editora Abril, e uma matéria sobre
 três lançamentos da editora Record para 
o início de 1991.








Os lançamentos anunciados eram o excelente 
“Love and Rockets” dos irmãos Hernandes, o 
retorno do faroeste italiano “A História do Oeste”
 e a revista “Cripta do Terror” com os quadrinhos
 clássicos da década de 1950 publicados nos 
EUA pela Entertaining Comics.
A matéria muito bem feita, juntamente com os
 anúncios publicitários na mesma edição 
atiçaram os ânimos dos leitores para os 
lançamentos. 



Esta matéria irá focar a coleção da Cripta.

A TRAJETÓRIA DO TERROR

 DA EC


A história dos quadrinhos da “Cripta do Terror
” surgiu nos EUA  pós-Segunda Guerra Mundial
 quando Willian (Bill) Gaines após se formar bacharel 
em Química herda e assume a editora de seu pai
 (MaxGaines, a quem se credita a criação das revistas
 em quadrinhos como as conhecemos). 
A Educational Comics, especializada em roteiros infantis e quadrinizações de histórias da Bíblia Sagrada.

O mercado de quadrinhos, principalmente o seguimento 

líder de super-heróis,  enfrentava a crise de vendas 
e o desaparecimento de personagens do pós-Guerra. 
Embora os números e tiragens do mercado daquela
 época ainda fossem superiores aos atuais, 
os editores assistiram quedas de vendas 
superiores a 80% em suas tiragens, que durante
 o conflito superavam um milhão de exemplares.

Seguindo o caráter inovador de seu pai, Bill
 Gaines deu uma nova direção à produção editorial
 em 1949, além de ter mudado o nome da empresa
 para Entertaining Comics (EC), voltou seus
 títulos para publicação de enredos de romance, 
guerra, humor, crime, ficção científica bizarra, 
suspense e terror.
















Dentro da editora Gaines se preocupava com
 a administração do negócio e garantia à sua equipe
 de artistas plena liberdade criativa, permitia que 
eles empregassem estilos pessoais diferenciando 
a arte entre si, e creditava as histórias aos 
criadores, prática rara na época. 
Seus principais editores também trabalhavam
 na parte criativa, como era o caso de Al Feldstein
 e Harvey Kurtzman.


Bill Ganes e Al Feldstein - 1950
Harvey Kurtzman
O modelo de gestão de Gaines o fez montar um 
time de artistas de excelência e um clima de
 satisfação entre eles, o que refletiu claramente
 na qualidade dos trabalhos. 
Faziam parte do time estrelas como Jack Davis, 
Frank Frazetta, Graham Ingels (Ghastly), Wallace 
Wood, Reed Crandal, John Severin, Al Willianson, 
Bern Krigstein, Joe Orlando, e outros de igual calibre. 
Como líder a frente dos negócios, Gaines 
era muito devotado à sua equipe.


Davis


Frazetta
Ingels
Wood

Severin


Williamson
Joe Orlando
Havia um esforço completo dos artistas em se aprimorar a cada trabalho, muitos dos temasdas HQs se repetiam e mesmo assim inovações de abordagem no enredo e na arte eram mostradas a cada nova edição. 
A capacidade inerente de Gaines e seus editores em 
agregar em torno de si os melhores profissionais é
 comprovada até fora das revistas em quadrinhos 
normais, exemplo visto a revista “MAD”
 e seus artistas.









A empreitada resultou em sucesso, os quadrinhos 
da EC lideravam o mercado e as vendas alcançavam
 a cifra de meio milhão de edições (próximo às 
médias do período da Segunda Guerra Mundial).
As HQ eram apresentadas por três perso-
nagens bem carismáticos usando metalinguagem, 
cada qual em revistas dedicadas geralmente:
 “The Crypt Keeper” (Zelador da Cripta), “The Old Witch”
 (Bruxa Velha) e  “The Vault Keeper” (Guardião
 da Câmara). A simpatia dos apresentadores e o uso 
do humor negro para imputar bons moralismos às
 histórias foi uma parte significativa da fórmula
 do sucesso dos quadrinhos da EC.







CAÇA AS BRUXAS

Como o que é bom dura pouco, após cerca de 
quatro anos do seu lançamento, os quadrinhos 
da EC sofreram contemporaneidade com a escalada 
da Guerra Fria e a caça às bruxas do macartismo na
 política americana. Também foi lançado o livro 
“Seduction of the Innocent” do psiquiatra
 Fredric Wertham, onde os quadrinhos eram 
difamatoriamente acusados de incentivadores 
da delinquência juvenil e do homossexualismo.
 Os quadrinhos da EC foram os mais perseguidos
 não somente devido ao alto volume de vendas,
 como também às temáticas e abordagens
 mais polêmicas.

A esta altura nos EUA já havia campanhas 
de demagogos convocando a sociedade 
para queima de revistas em quadrinhos 
em várias cidades, também pontos de venda
 se recusavam a receber edições, com medo
 que suas lojas fossem depredadas e boicotadas.
Bill Gaines foi convocado para depor em CPI
 de defesa do interesses americanos, onde 
até o Dr Wertham era testemunha/consultor.


William (Bill) Ganes

 Gaines não foi declarado comunista, ele próprio 

passava muito longe da descrição de um 
anti-americano ou anti-capitalista pelas 
suas notórias técnicas de negociação comercial,

 o motivo principal dele ter de prestar depoimento

 foi a associação com artistas que pudessem
 ter tendências esquerdistas. Muitos dos enredos 
da EC tinham forte contexto social, e usavam 
das injustiças do capital com as classes 
menos favorecidas.

Gaines foi incapaz de se defender judicialmente,
 até concordou com a própria culpa e acabou 
tendo que encerrar a sua linha editorial de
 quadrinhos de terror e crime
. Alguns dos artistas da equipe da EC que 
perderam o trabalho com o fim desses
 quadrinhos ficaram arruinados, encerraram 
carreira para se dedicar a outras atividades
 profissionais, houve caso de alcoolismo, 
falência pessoal.

Do processo de perseguição à EC 
resultou que as demais editoras se defenderam
 de possíveis ofensivas de orgãos oficiais 
através da criação de um código de ética
 auto-regulador, onde as editoras que
 desejassem publicar revistas em
 quadrinhos deveriam observar uma
 serie de regras a serem obedecidas.

Esta associação de classe inicialmente 
foi iniciativa do próprio Bill Gaines, 
mas quando a ideia foi posta 

em prática John Goldwater, 
 editor da ArchieComics, tomou a 
frente da organização.


Jonathan e John Goodwater


Algumas das regras criadas para o Código
 atingiam especificamente itens editoriais da EC,
 como não poder haver título com a palavra 
Horror ou Crime na capa, forçando a editora
 de imediato a cancelar alguns dos seus 
principais títulos. Estava claro que os ataques
 desleais à EC não vinham apenas de 
associações socio-familiares
e órgãos oficiais, mas dos próprios
 editores concorrentes.
































SURGE A REVISTA MAD

A EC teve a oportunidade de estampar o
selo do Comics Code em algumas de suas 
publicações, mas seu orgulho pessoa l o impediu
de assumir atitudes classificadas por ele mesmo 
como hipócritas,a exemplo do que fizeram seus
 concorrentes. Usou dinheiro de seu próprio bolso para
 liquidar débitos da empresa e decidiu dedicar
 as atividades editoriais na mais lucrativa revista 
da editora, a humorística “MAD”.







A EC só não encerrou suas atividades a
 partir de 1954 graças à transformação da revista 
“MAD” em um magazine para não ser sujeita 
ao Código. A satírica “MAD” foi a revista líder do
 mercado americano de quadrinhos até meados
 da década de 1990.
Quase todo este tempo com Gaines e seus 
editores mais próximos (como Al Feldstein) 
na frente dos negócios e das decisões editoriais.
Com o passar das décadas, as mesmas 
grandes editoras envolvidas na elaboração 
do Código de Ética, e também a posteriormente
 inaugurada Marvel Comics, promoveram a
 revisão (com abrandamento) do Código.

Também foram essas editoras que em 
dado momento da sua trajetória editorial
 romperam completa ou parcialmente 
com o Código. O movimento underground
 alternativo nos quadrinhos também teve
 forte influência sobre o enfraquecimento
 do Código de Ética como instituição.

Apesar de toda a campanha difamatória 
sofrida pela EC, seus quadrinhos 
jamais deixaram
 de ser reverenciados pelos fãs e críticos. 
Os quadrinhos da EC foram republicados
 nos EUA com o passar dos anos, seja 
em revistas simples, ou mais frequen-
temente em coletâneas.

Alguns roteiros dos quadrinhos da EC
 foram adaptados para o cinema. 
Também foi criado um ótimo seriado de 
televisão com a franquia, 
“Tales From The Crypt”, que durou várias 
temporadas contando com atores, rotei-
ristas e diretores de prestígio para a
 mídia; um excelente paralelo para o que 
representavam os cartunistas envolvidos
 na produção das HQs.
 Um desenho animado com uma abordagem 
mais infantil também foi exibido na televisão.

QUADRINHOS DA EC NO BRASIL


No Brasil os quadrinhos EC tiveram poucos 
e breves momentos de publicação. Editoras antigas 
de São Paulo como a La Selva e a Novo Mundo publi-
caram o material em revistas que mesclavam
 com HQs de outros franqueadores. 
Em algumas das edições da editora La Selva 
era possível ver cenas e personagens dos
 quadrinhos da EC na capa e no interior 
das revistas não constar nenhuma história, 
entre elas tinha muitos trabalhos de
 Jack Kirby e Steve Ditko, feitos para as 
editoras Atlas e Timely, embriões da Marvel.


HQs DE TERROR:
PRODUÇÃO NACIONAL

O bom legado foi que o gênero terror agradou os
 leitores brasileiros, e como o material estrangeiro 
era insuficiente para atender a demanda, as editoras
 começaram a encomendar material de terror
 para artistas nacionais.
Entre o final dos anos 1980 e começo dos 1990 a 
editora gaúcha L&PM publicou dois álbuns 
de luxo encadernando HQs da EC. 
No entanto o que se explicitou nas duas 
edições foi o nome de Ray Bradbury, cujo
 alguns contos haviam sido adaptados para
 os quadrinhos pela EC, muitos sob a pena
 do excelente Jack Davis.




Sem dúvida o melhor momento dos quadrinhos 
EC no Brasil foi, o citado anteriormente, na
 editora Record em 1991, na 
revista “Cripta do Terror”. 
Foi um lançamento de peso. 
Com 100 páginas por edição, formato
 magazine, papel jornal 
(reproduzindo bem o período em que foram 
lançadas nos EUA) em preto e branco.
 As capas eram inicialmente plastificadas
 com reproduções de capas originais
 por artistas brasileiros.






As capas eram muito bonitas, e como a distribuição 
era dirigida a lojas especializadas atendidas pela
 Devir, não vinham com preço impresso. 
Nas capas internas da revista vinha uma etiqueta
 com o preço escrito a caneta.  O número de estréia trazia
 uma capa impactante de Carlos Chagas com os 
três personagens apresentadores. Até o quarto número 
Carlos Chagas e Rogério
W S alternaram na reprodução das capas, a partir
 do quinto número utilizaram capas 
originais de Jack Davis.

O lançamento foi capitaneado pelo já 
experiente editor Otacílio, Ota, um dos 
mais tradicionais editores/cartunistas
 modernos do Brasil, bastante conhecido 
pelo longo tempo editando a MAD 
brasileira, além de 
quadrinhos na mesma revista e tiras em 
jornais de grande circulação. 
Ota inclusive tinha histórico profissional 
a frente de títulos de terror na editora Vecchi.
 Surpreendentemente no segundo número 
ele já não constava no expediente da revista, 
os apresentadores apenas explicavam que 
ele não estava mais.





Já no número de estreia havia duas seções de
 cartas respondidas pelos personagens Zelador
 e Bruxa, no quarto número o Guardião também
 estreou sua seção de correspondência.
 As seções de cartas e os editoriais traziam 
muitas informações sobre o período áureo
 das HQs de terror da EC, sem dúvida
 um dos períodos mais apaixonantes da 
História das histórias em 
quadrinhos no Mundo.

Na quarta edição o editorial
 trazia uma biografia 
em homenagem ao desenhista 
Graham Ingels, então recém-falecido.
Promovendo um resgate nostálgico das HQs
 publicadas anteriormente no Brasil, 
a revista pedia que leitores envias-
sem fotocópias da primeira 
página das publicações antigas, que seriam 
expostas nas seções de cartas e com isso 
ganhavam de prêmio revistas
 da editora Record. 

Logo na largada da promoção,
um leitor da revista enviou várias fotocópias.
No quinto número a revista estreou uma seção 
que apresentava as capas originais das
 revistas em que algumas das HQs da 
edição foram publicadas no passado.

A impressão inicialmente ficou muito ruim,
 apagada. O Zelador ironizou numa das seções
 que a culpa era do papel, da impressão e dos
 profissionais, mas que tentariam melhorar isso. 
Realmente a impressão melhorou nos
 números posteriores e com o mesmo papel, 
porém nunca chegou a ser boa.

Endêmica no Brasil, o início dos anos 1990 
também foi um tempo de forte crise econômica,
 apesar dos muitos lançamentos do período, o
 panorama do mercado de revistas em quadrinhos 
não era favorável. Em algumas respostas de
 cartas, os personagens já recomendavam os 
leitores comprarem duas edições para que a 
revista continuasse.

A mega inflação do período Sarney já havia 
sido reduzida com o confisco das cadernetas
 de poupança do Plano Collor, mas em 1991
 a Inflação estava longe de ser
 controlada, alcançando 
cifras entre 20 e 30% ao mês. 

Como conseqüência disso, os preços

 foram subindo. 
Por exemplo, os dois primeiros 
números foram comercializados a
 Cr$750,00. No terceiro e
 quarto números  houve reajuste brutal.
 A publicação passou a custar Cr$1.100,00.
A revista infelizmente durou 
apenas sete edições.
 A única mudança estrutural que a revista
 sofreu durante o tempo de publicação foi 
somente a troca de papel das capas do 
plastificado para o couche,
além da já citada melhoria
 na qualidade gráfica.

Foi uma coleção curta, mas muito 
organizada e querida pelos fãs.
 Ao total foram publicadas 89 HQs 
de todas as revistas da EC, não somente as de 
terror, como as de crime, suspense e “ficção 
científica”. Havia o cuidado da editora em 
identificar a publicação original e o desenhista
 de cada uma das histórias.

Não é fácil de encontrar em sebos qualquer 
dessas edições nacionais citadas, por isso
 o colecionador que quiser comprá-las terá 
que se prestar a pagar um preço alto por
 edições bem conservadas. 

Ao mesmo tempo os quadrinhos EC não têm
 um apelo comercial tão grande que justifique
 uma grande editora a investir novamente na
 publicação deles em terra tupiniquim, 
pois os direitos de publicação também não 
devem ser baixos. Dessa forma tudo sinaliza 
que lamentavelmente os excelentes quadrinhos
 de terror da EC ficarão longe de uma publicação 
nacional por bastante tempo.


Até a próxima, webleitores, e não deixem 
de adquirir a nova serie de Mestre do Terror e 
Calafrio, os dois títulos clássicos do saudoso
mestre Rodolfo Zalla estão de volta. 
Complete sua coleção!
de volta.



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PEDIDOS E CONTATO: 

COLABORAÇÃO: DANIEL SAKS

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