quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

ENTREVISTA COM FÁBIO SANTORO! UM EXPERT EM HISTÓRIAS EM QUADRINHOS!


Edição de autoria de Fábio Santoro

A entrevista a seguir é inédita, apesar de ter sido feita 
o ano passado pelos bengalas friends e colaboradores,
 Rod Gonzales – autor de Blenk, o surfista das HQs nacionais,
 editado pela editora Júpiter II -, e Lancelott – autor do 
maior compêndio de super-heróis brasileiros já 
realizado no Brasil. Os dois feras e grandes 
batalhadores da HQs tupiniquins entrevistaram 
Fábio Santoro, uma sumidade em termos de
 histórias em quadrinhos, no país. Confiram a seguir!
Tony Fernandes


 Fábio Santoro é advogado e um grande estudioso 
das histórias quadrinhos. Nasceu em São Paulo 
em 1952. Está em contato com a música desde
 sempre e com a TV e o Cinema, desde os dois anos. 
Com os Quadrinhos, desde os três. Colecionador 
inveterado, estudioso convicto, Santoro escreveu 
inúmeros textos a respeito desses temas para alguns 
dos melhores fanzines brasileiros e para as
 grandes edições históricas de Quadrinhos no 
Brasil, como: O TICO-TICO 100 Anos, Príncipe 
Valente, Recruta Zero,Os Sobrinhos do 
Capitão - Piores, Impossível - 1936 a 1938 -, 
entre outras edições recentes, que sempre
 trazem a abalizada palavra de Fábio Santoro
 com sua sempre bem fundada pesquisa. 
Sem dúvida este homem é uma das maiores
 memórias vivas sobre estas mídias publicadas no Brasil...

BATE PAPO COM O MESTRE,
 EM HISTÓRIAS EM QUADRINHOS...


FÁBIO SANTORO!

 
Fot1 - FÁBIO SANTORO POR FÁBIO SANTORO?

Fábio: Amante e estudioso esforçado das HQs, 
do Cinema, da TV e da Música Popular, 
entre muitos outros temas.

2 - COMO COMEÇOU SEU FASCÍNIO POR QUADRINHOS?

Fábio: Já conhecia a TV e o Cinema. 
Com três anos e meio, ao ganhar um exemplar 
de Luluzinha, no início de 1956, fiquei encantado. 
Logo em seguida, tive contato com quadrinhos 
Disney e com todas as publicações infantis daquele tempo.
 Meu pai me comprava revistas praticamente 
todo dia (bons tempos). Ele também curtia
 quadrinhos, desde os tempos do Suplemento
 e do Globo.Tenho raízes, portanto rs rs rs

3 - VOCÊ DESENHA OU ESCREVE ROTEIROS TAMBÉM?

Fábio: Infelizmente, não, por falta absoluta de tempo.

4 - COMO VOCE VÊ OS QUADRINHOS NO BRASIL? TRACE UM RÁPIDO PANORAMA DESDE O TICO-TICO ATÉ OS TEMPOS ATUAIS.

Fábio: Esta é uma questão difícil, traçar 
um "rápido panorama" sobre as HQB. Tentemos: 
Angelo Agostini, J. Carlos, Max Yantok, 
Nico Rosso, Flávio Colin, Júlio Shimamoto, 
Ziraldo, Primaggio, Franco de Rosa, Mozart 
Couto, Watson Portela, Deodato Filho,
 Lourenço Mutarelli e outros grandes craques,
 tanto nas idéias como no desenho.

5 - PARA VOCÊ, O QUADRINHO AUTORAL, 

INDEPENDENTE, TEM ALGUMA 
IMPORTÂNCIA PARA A HQ BRASILEIRA?

Fábio: Sem dúvida alguma. Desse caldeirão 
sempre saem muitos talentos, como
 alguns dos acima citados.

6 - ENFIM, QUAIS SERIAM OS QUADRINHOS 

COMERCIAIS QUE O BRASIL TEVE, NA SUA OPINIÂO?

Fábio: Talvez os brasucas da antiga Editora
Continental/Outubro/Taika, Ziraldo, Maurício 
de Souza, Primaggio, principalmente.
 E, presentemente, alguns mangás, com os quais
 não estou muito familiarizado e, por
 isso, pouco autorizado a comentar.

7 - NA INTERNET HÁ MUITOS GIBIS 

VIRTUAIS,ATUALMENTE, ELES REPRESENTAM 
UM NEO-MOVIMENTO DA HQ INDEPENDENTE?
 UM NOVO BIG-BANG?
QUAL A DIFERENÇA DA DÉCADA DE 1960, NOSSO 
BIG-BANG, PARA O MOMENTO ATUAL?

Fábio: A Internet representa, por certo, um 
novo big-bang em todos os setores onde ela se intromete.
 Na década de 60 não havia tanta diversificação de
 lazer, como hoje, portanto não sei se algum fato,
 ainda que bombástico, na HQB poderá fazer
surtir o mesmo efeito. Só o tempo, mesmo,
 responderá satisfatoriamente essa pergunta.

8 - TEMOS MEMÓRIA DA NOSSA HISTÓRIA DA HQ?
EXISTE INTERESSE DE ALGUM SETOR 

(CULTURAL OU POLÍTICO) NO ESTUDO DESSA HISTÓRIA?

Fábio: Essa coisa de memória no Brasil não é muito 
levada a sério, como noutros países culturalmente
 mais desenvolvidos. Não é só nas HQs, mas 
também nas outras formas de manifestação artística. 
Setores culturais ou políticos ? Nem pensar. 
Falta cultura a essa gente. Pessoas como o 
antigo presidente Washington Luiz, ou mesmo
 D. Pedro II, realmente interessados, praticamente 
não existem mais nestes postos. 
Há necessidade de uma grande 
reciclagem em tais setores.

Edição comemorativa de 100 anos
9 - O QUE IMPEDE O QUADRINHO 
BRASILEIRO DE SE DESENVOLVER?
ACREDITA EM MÁFIAS INTERNACIONAIS 

AGINDO NO BRASIL, EM LAVAGEM 
CEREBRAL E IMPOSIÇÃO 
CULTURAL ESTRANGEIRA ?

Fábio: As tais máfias de fato estão por aí há muito tempo.
 Mas não creio que haja a manifesta intenção 
criminosa por trás, mas, sim, apenas
 interesses financeiros 
como se apenas fosse pouco...).

 10 - FALANDO NISSO, VOCÊ TEM PARTICIPADO, 
DESDE O TEMPO DO “FANZIM”, COM OUTROS 
GRANDES, NO RESGATE DESSA MEMÓRIA
 COM MUITOS TRABALHOS RELACIONADOS 
A HQ DE UM MODO GERAL – 
FALE DESSE MOMENTO...

Fábio: Sinto extrema necessidade de prestar 
alguma contribuição para o "resgate dessa memória", 
nas sua palavras. Tenho o hábito de, pelo
 menos tentar, fazer um trabalho multimídia,
 em que o estudo das Agaquês se imiscua com
 o do Cinema, da TV, da Literatura, basicamente estas.
 E, ao contrário, tenho dificuldade de falar só 
sobre as Agaquês, sem penetrar nas referidas
 mídias paralelas. No mencionado 
Fanzim, bem como no Fon-Fon !, ambos 
editados pelo eminente A. B. Cassal, tive
 amplo espaço para a exposição
 de coisas, fatos, idéias etc. 

11 - VOCÊ TEM RESGATADO COM MUITA 

PROPRIEDADE TEMAS RELACIONADOS AO 
CINEMA, SÉRIES TELEVISAS, FAR-WEST,
 TODOS EM TERRAS BRASILEIRAS – 
QUANDO SAIRÁ UMA COLETÂNEA OU 
UM LIVRO COM ESTAS PRECIOSIDADES?

Fábio: Ainda não sei, meu amigo. Luto com 
falta de tempo, pois o meu trabalho de advogado 
consome muito dele. Porém, estou batalhando
 para me aposentar da advocacia em três ou
 quatro anos e, aí, sobrar o tal tempo
 necessário pra dar andamento
 a estes trabalhos maiores.

12 - COMO ARTICULISTA ENVOLVIDO COM 

QUADRINHOS, COMO VOCÊ VÊ A IMPORTÂNCIA
 QUE A MÍDIA ESPECIALIZADA DÁ PARA 
O ASSUNTO? VOCÊ, WALDOMIRO VERGUEIRO,
 FRANCO DA ROSA E OUTROS MESTRES 
TÊM PARTICIPAÇÃO NO LIVRO "100 Anos d´O Tico-Tico", 
COMO FOI PARTICIPAR DESTE PROJETO?


 Fábio: A mídia impressa dá uma importância 
até razoável ao assunto. Mas, a TV, principal
 mídia, de um modo geral, não focaliza 
os quadrinhos como deveria: quando mostra
 alguma coisa é mais pelo ângulo 
comercial do que pelo artístico. 
A nossa participação no livrão sobre o
 centenário do Tico-Tico foi uma momento
 bastante glorioso para cada um de nós, pelo 
resgate, pela História da HQB que pudemos 
desenvolver, entre outros aspectos. 
O Franco de Rosa, em verdade, foi o grande 
articulador; além de também redigir
 textos e selecionar a iconografia, teve o 
mérito de reunir aquele grande time, do
 qual me orgulho de ter feito parte. 
Outra grande sorte que tive foi a de ter 
entrevistado o expert Affonso Botari 
pouco antes do seu falecimento: 
era ele a memória viva da HQB antiga. 

13 – POR QUE É TÃO DIFÍCIL CONSEGUIR 

INFORMAÇÕES PRECISAS E COMPLETAS 
SOBRE OS AUTORES BRASILEIROS DE 
QUADRINHOS NO PERÍODO DE 1900 A 1950? 
VOCÊ POSSUÍ ESSES DADOS?

Fábio: Informações detalhadas e precisas 
sobre estes autores antigos nem 
sempre são fáceis. Muita coisa não ficou 
registrada em praticamente lugar nenhum. 
Tenho boa parte desses informes, por certo,
 mas, pra acessar outros, temos de 
recorrer a arquivos vários, 
públicos e particulares.

14 - AFINAL, O BRASIL TEM QUADRINHOS DE

 FATO, OU UM MERO ARREMEDO DELES?

Fábio: "Arremedo" ? Longe disso. O Brasil teve e
 tem muita gente de talento, que produziu 
HQ da mais alta qualidade. Os nomes que 
citei na resposta à pergunta 4 são apenas
 exemplos desse emérito grupo de cobras.

15 - É A FAVOR DE UMA LEI DE PROTEÇÃO 

PARA OS QUADRINHOS NACIONAIS?

R: Em tese, seria bem-vinda. Mas, pergunto: 
será que, no momento atual, haveria necessidade,
 ou real utilidade? Não seria melhor
 uma legislação que restringisse a propaganda 
do material estrangeiro? 
Quero dizer com isso que, se qualquer herói 
(ou autor) brasileiro tivesse a mesma publicidade 
de um Homem-Aranha, só como exemplo, 
tudo seria diferente por aqui. 
Com essa hipotética restrição de propaganda
 das agaquês enlatadas, os editores 
se voltariam mais pra divulgação das brasileiras. 
Abro esta discussão.

16 – Doutor Fábio Santoro, foi uma honra podermos 

colher este seu depoimento...
Fábio: Por fim, foi um prazer imenso 
falar com voces, Lancelott e Rod.
Abrações.
FABIO SANTORO


LIVROS DE FÁBIO SANTORO E ÁLBUNS QUE ELE PARICIPOU,
ENTRE 2006 E 2010!
www.operagraphica.com.br 
 
www.comix.com.br 
  
1º) O Tico-Tico - 100 Anos da Primeira 

Revista de Quadrinhos do Brasil
 
2º) Príncipe Valente - 1º volume (reedição do 

álbum da EBAL, mas com nova capa e novos
 textos e, cá pra nós, com um melhor tratamento gráfico)
 
3º) Recruta Zero - Ano Um
 
4º) Os Sobrinhos do Capitão - Piores, Impossível - 1936-1938
 
5º) Fantasma - Biografia Oficial do Primeiro 

Herói Fantasiado dos Quadrinhos
 
6º) Flash Gordon de Alex Raymond - 1º volume
 
Os cinco primeiros foram lançados pela Opera

 Graphica Ed. e o sexto, pela Ed. Kalaco.
 O único que apresenta textos somente de minha 
autoria é o dos Sobrinhos do Capitão. 
Os demais têm trabalhos de vários autores.
PARA ADQUIRIR AS OBRAS CONSULTE OS LINKS ABAIXO...




É BOM SABER QUE...

A lendária revista O Tico Tico, que durou 57 anos, 
foi lançada no Brasil pelo inovador jornalista Luís 
Bartolomeu de Souza e Silva
. Esta revista foi a primeira a publicar HQs no Brasil.
 Sua primeira edição saiu no dia  11 de outubro de 
1905, uma quarta-feira e não em uma quinta 
como dizia na capa. O modelo seguido pela 
Tico Tico era igual ao da revista francesa
La Semaine de Suzette, personagem francês 
que foi publicado pela revista nacional 
com o nome de Felismina. 
O Tico Tico era impressa em dois tipos de papel. 
Saia com quatro páginas em cores e as restantes -
 no lugar do preto e branco-, era impressa
 em dublês, ou seja, numa estranha combinação
 de branco com vermelho, verde ou azul. 
O primeiro exemplar custava 200 réis. 
Como não havia inflação naquela época a
 revista permaneceu com esse preço 
durante toda a década de 20.
O Tico Tico fazia muito sucesso entre 
os adolescentes e até adultos.
 O mais popular personagem da revista era, 
sem dúvida, Chiquinho, que era uma cópia 
não-autorizada de Buster Brown, criado por 
Richard Felton Outcault - o mesmo autor 
de Yellow Kid, que é tido como a primeira 
HQ moderna publicada no mundo, nos Estados
 Unidos. Isto é, que foi publicada com os balões de fala. 
IMPORTANTE: Inicialmente as falas de Yellow
 Kid vinham estampadas nas roupas, não
 havia balões. Em 1896, Outcault passou 
a usar balões nesta série pioneira. Este fato, 
do personagem ser uma cópia não-autorizada,
  só veio à tona em 1951 - por ocasião da Primeira
 Exposição Internacional de HQs, da qual o
 professor Álvaro Moya tanto se orgulha -, 
quando o plágio descarado foi denunciado por 
desenhistas paulistas, causando muita polêmica.
Quando o personagem americano Buster Brown 
deixou de ser editado nos Estados Unidos, 
sua “versão brasileira” passou a ser desenhada 
pelos desenhistas brasileiros, como: Loureiro, 
A. Rocha, Miguel Hochman, Alfredo 
Storni e seu filho Osvaldo.
Outros personagens que faziam muito sucesso
 nesta revista foram: Reco-Reco, Bolão 
e Azeitona, uma criação do 
genial desenhista Luíz Sá.


O camudongo Mickey, de Walt Disney, fez sua 
primeira aparição em quadrinhos no país em 
1930 nas páginas de O Tico Tico. Entretanto,curiosamente, 
o famoso personagem dos estúdios Disney foi rebatizado 
em terra brasilis e foi publicado com 
estranho nome de “O Ratinho Curioso”.


A maioria dos desenhos das edições do Tico 
Tico eram copiados de revistas francesas. 
Mesmo assim, a revista acabou revelando 
talentosos artistas nacionais, como: J.Carlos, 
além de trazer alguns veteranos, como o lendário
 cartunista Angelo Agostini, que segundo os 
estudiosos, desenhou o logotipo da revista. 
O Tico Tico não teve nenhum concorrente à 
altura até o ano de 1930 , quando vários quadrinhos 
Made in USA passaram a ser publicados no Brasil.
 A coisa piorou, principalmente, depois do
 lançamento do também lendário  Suplemento 
Juvenil do saudoso Adolfo Aizen
(EBAL – Editora  Brasil América), em 1934.


O Tico Tico, aos poucos, foi perdendo espaço e seus 
fiéis leitores quando começaram a ser
 editadas no país as publicações criadas na América 
que traziam HQs de super-heróis em 1939.
A revista que foi pioneira no gênero HQs no
 Brasil deixou de manter a periodicidade 
e a partir de 1960 circulava apenas em forma 
de almanaques esporádicos até que
 finalmente foi extinta.
Apesar de sua vertiginosa decadência nos seus
 últimos anos de existência no mercado editorial 
brasileiro, o Tico Tico foi uma revista
 super popular, com uma tiragem que 
variava entre 20 mil e quase 100 mil exemplares,
 atingindo várias classes sociais, inclusive 
os intelectuais. Por exemplo: Ruy Barbosa,
 eminente político, foi um de seus leitores,
 assim como o grande poeta 
Carlos Drummond de Andrade.
O Tico Tico completou 100 anos em 11 de outubro de 2005.



OUTROS DADOS DO PIONEIRO 
PRODUTO EDITORIAL BRASILEIRO:

EDITOR: O Malho
FORMATO: Tablóide
ACABAMENTO: Panfleto
EDIÇÕES PUBLICADAS: 2.097
DATA DE SUA PRIMEIRA PUBLICAÇÃO: 11 de outubro de 1905
DURAÇÃO DE PUBLICAÇÃO 
DO PRODUTO EDITORIAL: 57 anos.

Por: Tony Fernandes


NOTA: Se você gosta de Jean Giraud (Moebius) 
e Jean-Michel Charlier, autores de Blueberry, 
um clássico de western, não pode perder as 
duas matérias especiais sobre esses geniais
 grandes mestres das HQs européias em...


http://bengalasboysclub.blogspot.com


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Uma divisão da Pégasus Publicações Ltda
Todos os Direitos Reservados

2 comentários:

  1. Fábio Santoro, talvez seja, no Brasil, uma de nossas melhores memórias vivas, de informações a cerca de mídias como cinema e quadrinhos... Seu conhecimento é fantástico! Das obras, ultimamente, lançadas no Brasil, sobre quadrinhos e cinema, com suas resenhas e apresentações, são dignas de serem catalogadas e condensadas em um livro. Fantástico a pesquisa de Santoro para estres trabalhos.

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  2. Eu não conhecia Fábio Santoro até ver a foto e ler a entrevista, e parabenizo a todos nesse empenho de resgate e memória. Muito importante para um país acostumado a esquecer o passado.

    José Valcir - conselheiro editorial da PADA.

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