sexta-feira, 3 de março de 2017

ENTREVISTA COM EDUARDO VETILLO, UM DOS GRANDES MESTRES DA HQ NACIONAIS!




O entrevistado de hoje possui uma 
bagagem profissional incrível, ou seja,
 chuta com as dois pés. 
Desenha em diversos gêneros e em sua longa
 e produtiva carreira profissional já fez de tudo.
 Porém, pelo visto, sua grande paixão sempre 
foram as Histórias em Quadrinhos.
 Ele e o irmão, Valter, estão aí firmes atuando
 numa área cheia de altos e baixos onde ver uma
 publicação nacional nas bancas é fato raro. 
A seguir, vou compartilhar com vocês o
 sensacional depoimento que obtive de...

EDUARDO VETILLO, OUTRO
 GRANDE MESTRE DAS
 HQs NACIONAIS!



TONY 1: Meu Deus, sou um cara privilegiado do 
Universo, por ter a oportunidade de conhecer tanta 
gente talentosa como você e por ter a honra de 
poder entrevistar os bambas dos Quadrinhos 
brasileiros, mestre. Este nosso cantinho da WEB 
está se tornando um dos mais importantes, por 
colher depoimentos de novos talentos e de pes-
soas como você, gente tarimbada, que acabam 
relatando importantes fases do mundo editorial 
deste país e das HQs, nos últimos 50 anos. 
Seja bem-vindo...

VETILLO: Salve, Bengalabrother!

TONY 2: Vou chutar a pelota: Você
começou a rabiscar com que
idade, meu amigo

VETILLO: Desenhar foi dom natural...
 Comecei a desenhar aos 8 anos.
Fazer HQs foi uma opção natural...

TONY 3: Meus espiões, quase secretos, me 
confidenciaram que você estudou arte fora
 do Brasil... se isto está correto, quando isto
 aconteceu e quantos anos 
você tinha na época...

VETILLO : Estudei artes gráfica na School 
of Visual Arts de Nova York,
 entre1971 e 1973, e tinha,
 na época, 30 anos.




TONY 4: A primeira oportunidade de fazer 
HQs surgiu quando...


VETILLO: Antes, em 1966, na Edrel, mas a história
 não foi publicada - fiz sómente 3 pags. Era um episódio 
da Independência do Brasil com roteiro do
Carlos Cunha.

TONY 5: Qual era o tamanho de seus originais
 e que tipo de material você sempre utilizou...

VETILLO: tamanho dos gabaritos era de 
35cm x 25cm e eu finalizava em nanquim 
com as penas Gillot.:

TONY 6: Quando o saudoso desenhista 
e animador Ely Barbosa (criador dos Tutti-
Frutis e A Turma do Gordo) fechou contrato
 com a Rio-Gráfica para produzir Hanna-
Barbera no Brasil, você
 chegou a trabalhar com ele...

VETILLO: Sim, trabalhei para o estúdio Ely Barbosa
 com HQs dos personagens Hanna/Barbera e poste-
riormente com os Trapalhões... As minhas colabo-
rações com o Chet foi anterior ao meu tra-
balho no estúdio Ely Barbosa.












 TONY 7:Também fui informado, pelos meus xeretas
 espiões, que você também trabalhou com Chet,
 criação-Mor do bengala brother Wild 
Portella (irmão do mestre Watson)-, para a  
editora Vecchi. Isto é verdade...

VETILLO: As minhas colabo-
rações com o Chet foi anterior ao meu tra-
balho no estúdio Ely Barbosa.





TONY 8: Tomei conhecimento do seu trabalho
 quando você passou a desenhar para a Bloch 
a serie Spectreman. Como e quando surgiu a
 oportunidade de desenhar aquele herói 
nipônico que fazia sucesso na TV...

 VETILLO: O Edmundo Rodrigues gostou 
da dinâmica de movimentos que eu fazia 
com os Trapalhões e
me chamou para fazer o Spectreman.







TONY 9: Na época você morava no Rio de Janeiro...

VETILLO: Não, eu morava em SP e ia várias vezes
 ao Rio; mas foram 3 anos de colaboração
 via malote SP-Rio e vice versa.




TONY 10: Edmundo Rodrigues foi um grande cara, 
além de um excelente profissional. No tempo
 em que comandou o departamento de HQs
 da Bloch (década de 80), além de ressuscitar 
os super-heróis da Marvel, abriu espaço para
 nós, brasileiros. Flávio Colin desenhava 
O  Lobisomem, o Shima, A Múmia, eu e o 
Hamasaki fizemos Trapasuat
 e Os Trapalhões - que depois passou a ser
 feito pela equipe montada pelo Ely Barbosa -
 e você Spectreman...
 foi uma boa fase para as HQs tupiniquins,
 não é mesmo... não faltava trabalho...
















VETILLO: Realmente, foi uma época de ouro das
 HQ brasucas; o Spectreman teve 31 edições e 
fazia muito sucesso no Brasil inteiro, mesmo
 sem apoio promocional da Bloch...

TONY 11: Os roteiros eram também escritos
 por você...

VETILLO: Não, os roteiros eram do Luis 
Aguiar e vinham do Rio.






TONY 12: Você fazia tudo sozinho 
ou contava com a colaboração 
 do seu irmão (Walter Vetillo), que também é um
 excelente desenhista... Parece que o DNA
da arte emplacou  na família. Rsss...




VETILLO: Desenhava e arte finalizava; eram 
40 págs. mensais e como produzia os Trapalhões
 paralelamente contratava letristas e coloristas 
para o guia-côr. Desenhei o Spectreman de 
1983 a 1986.

TONY 13: A Bloch foi uma grande editora,
mas trabalhar com Adolfo Bloch sempre foi 
problema, a verba era minguada e muitas vezes
 demorava para sair, mas saia. 
Nos anos 80, eu e o Hamasaki nem esquen-
távamos porque trabalhávamos como 
funcionários da ed. Noblet. A coisa degrin-
golou quando eles lançaram a TV Manchete. 
Receber da Bloch virou uma novela. 
Muita gente debandou, Você colaborou com 
eles até o final, ou deu o fora antes...

VETILLO: Felizmente, não tive problemas finan-
ceiros na Bloch; me pagavam bem e em dia.

Adolfo Bloch



TONY 14: Você deu sorte. Rsss. Eu, o Hama e
o Shima sentimos o drama. Acho que
estavam passando por dificuldades 
momentâneas.
Coisas de um mercado instável.
Que outras experiências você teve 
profissionalmente, além das HQs...

VETILLO: Naquela época me dedicava inteiramente
 aos quadrinhos. logo depois, no início da década 
de 90 a Editora Globo me chamou para fazer o
 Chaves e o Chapolim, que estouraram nas bancas.








TONY 15: Na década de 80, meu estúdio acabou 
virando uma editora. Lancei pelo selo E.T.F: 
Fantasticman (pela segunda vez, visto que da
 primeira o personagem foi publicado pela 
editora Evictor) e Fantasma Negro.
 Este último era o preferido do professor
 Gedeone, que frequentava a nossa sede. 
Tanto, que ele decidiu escrever um roteiro
 para o personagem.

Acabei passando o tal roteiro para você. 
Sempre admirei seu traço
 e suas figuras em ação. 
Quando você me trouxe as
 primeiras amostras da sua arte do
 Fantasma Negro, babei, literalmente.

 Porém, a empresa estava sem fluxo de caixa
 e acabamos não fechando negócio com 
você, lamentavelmente. Acontece que eu não
 tinha a mínima noção de como funcionava a
 parte comercial de uma casa editorial e ao
 fechar o contrato com a DINAP nem me dei 
conta de que o recolhimento e os pagamentos 
do lançamento só viriam 55 e 125 dias depois.

Acho que você nunca entendeu o que houve. 
Por isso, caro amigo, estou me redimindo
 publicamente à você que, na época deve 
ter ficado puto comigo. O Gedeone também
 ficou revoltado quando soube da história. 
Fazer o que... para aprender as coisas da 
vida tem que se pagar um pedágio... 
o meu saiu caro. Perdemos a oportunidade 
de trabalhar com um grande 
artista como você.

VETILLO: Meu caro, bengala brother, você não
 têm que se redimir absolutamente; são 
contingencias do mercado editorial e inerentes 
à nossa vontade. O que lamento, realmente, 
foi não ter tido a satisfação de ter trabalhado
 com você, a quem respeito muito como o 
grande amigo e profissional que é.



TONY 16: Grato, por sua compreensão...
eu precisava lhe explicar isto, ou não morreria 
em paz. Rssss... A história das HQs no Brasil
 sempre teve altos e baixos, infelizmente -
assim como na América.
 Esta instabilidade deve passar...

VETILLO: Sim, se houver uma recuperação
 econômica, poderá haver uma luz no
 fim do túnel...

Tony 17: Nos últimos anos, você e seu irmão 
enveredaram pelo campo de obras em forma
 de HQs didáticas, como Grande Sertão
 Veredas e outros clássicos.  Aliás, estão de
 parabéns. Algum sonho à ser realizado... 

VETILLO: Conseguir publicar minhas produções
 independentes, como consegui fazer com a Sesi
Editora (Zoo City e Motim a Bordo).









TONY 18: Alguma frustração profissional...

VETILLO: Várias, mas isto é uma longa história...

TONY 32: Grande e querido guru, só me resta
 agradecer por sua valiosa contribuição. Suas 
experiências profissionais, seu depoimento,
 na certa, farão os novos talentos refletirem 
mais sobre a nossa profissão e o mercado
 editorial local. Alguma consideração final...

VETILLO: Um profissional brasileiro de HQs, 
não é melhor, nem pior do que os estrangeiros...
somos apenas mais um nesse nosso contexto
editorial.

TONY 19: Até breve, cowboy!
 E vamos em frente!













VETILLO: Meu querido bengala, foi um grande
 prazer dialogar com você e se esse modesto
 depoimento puder contribuir como um incentivo
 a novos valores, já me sinto inteiramente 
recompensado. Até breve, companheiro de traço,
 e um grande abraço !
Onde vai, valente ?
Vou pra linha de frente !


Copyright Tony Fernandes\Pegasus Studio –
Uma Divisão de Arte e Criação da
Pégasus Publicações Ltda
S. Paulo – SP – Brasil
Todos os Direitos Reservados





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