LA SELVA, UMA EDITORA
PAULISTA POPULAR!
(A saga dos valentes emigrantes
italianos,que ajudaram
a mudar o perfil
do setor editorial no Brasil)
italianos,que ajudaram
a mudar o perfil
do setor editorial no Brasil)
Contos de Terror - Para Adultos. O Império do Medo. Janeiro 1955. A editora La Selva foi a primeira a lançar uma revista em quadrinhos de terror, no país |
Eu nasci no dia 03 de junho de 1956, no bairro proletário
da Lapa, na cidade de São Paulo, Brasil. Mais especificamente
na Vila Romana, subdistrito da Lapa. Música, desenho
na Vila Romana, subdistrito da Lapa. Música, desenho
e o poder da escrita foram dons que recebi do
Supremo Criador.
Na adolescência, li muitas revistas
Na adolescência, li muitas revistas
de quadrinhos da EBAL (Editora Brasil -América),
RGE (Rio Gráfica-Editora – atual Globo), Editora
Abril, editora O Cruzeiro e de uma tal Editora La Selva.
Sempre sonhei em trabalhar na área de comunicação
e Histórias em Quadrinhos e esta era uma
matéria que fazia parte das disciplinas
matéria que fazia parte das disciplinas
da faculdade de comunicação. Ainda nessa época
(anos 60), participei de um concurso realizado
pela EBAL para desenhar a História do Brasil em
quadrinhos com meus desenhos toscos.
Não deu em nada. Mas, não desisti.
Não deu em nada. Mas, não desisti.
Foi somente em 1973 – após fazer vários
cursos e um estágio puxado com o grande mestre
Ignácio Justo -, é que consegui publicar minha
primeira revista chamada Sargento Bronca – uma
sátira militar inspirada em Recruta Zero, de Mort
De lá para cá jamais parei e sempre mantive um pé nas
casas editoriais e nas agências de publicidade.
Trabalhei e colaborei com as seguintes editoras:
Saber, Minami e Cunha, Noblet, Ônix, Luzeiro,
Imprima, Acti-Vita, Rios, Abril, Bloch,
Tálamus, Rio-Gráfica, Evictor,
Nova Sampa Diretriz, Ninja, FTD, Cristal,
Imprima, Acti-Vita, Rios, Abril, Bloch,
Tálamus, Rio-Gráfica, Evictor,
Nova Sampa Diretriz, Ninja, FTD, Cristal,
As Américas, Editora do Brasil,
Ática, Flama, etc.
Ática, Flama, etc.
Entrei definitivamente para o mercado editorial brasileiro
na década de 70, em plena crise do papel, quando o
mercado estava, literalmente, de pernas pro ar.
Gráficos e editores enfrentavam um momento difícil.
Muitos fecharam e outros reduziram seus funcionários.
Lembro-me bem que ao visitar pela primeira vez
a editora Graúna encontrei apenas o editor – que
mais tarde se tornou um grande amigo-, Reinaldo
de Oliveira, na sede. Inconformado, me explicou sobre
a tal crise do papel – que eu nem sabia que existia -,
ele me mostrou seu parque gráfico vazio, parado.
“Tive que dispensar meus funcionários e parar
de editar, Tony.” Explicou-me.
O país ainda vivia sob a ditadura do regime militar –
o povo não tinha o direito de votar, de eleger
um presidente-, e uma inflação galopante assolava
a nação. Mas, quando se é jovem e idealista
nada parece poder deter a gente.
Mas, sempre me perguntei: “O que aconteceu com o
mercado editorial, antes que eu me tornasse
um profissional? O que, de fato, aconteceu nos
bastidores dos primeiros editores nacionais?
Durante anos, busquei nos livros sobre o setor
editorial brasileiro as respostas para as questões
que despertavam minha curiosidade.
Tomei conhecimento de muitos fatos relevantes,
porém, nem tudo foi capaz de saciar minha
curiosidade.
Um dos fatores que me chamou atenção é o fato de que
os judeus sempre dominaram os meios de comunicação
pelo mundo e que os italianos tiveram também grande
influência no desenvolvimento deste
interessante segmento profissional.
Mestre e bengala friend, Nico Rosso, outro italiano dos bons, que muito contribuiu para as HQs nacionais |
Cortez, Ignácio Justo, Nico Rosso, Minami Keizi,
Carlos da Cunha, Cláudio Seto, Arlindo Pinto,
Queiroz, Toninho Duarte, Fernando Ikoma, Vito
e Jácomo La Selva, Edmundo Rodrigues,
Assis Chateaubrinad, Adolfo Aizen, Victor
Civita, Roberto Marinho, Milton Azevedo,
Carlos Cazzamatta, Nico Rosso, Lanzellotti
e Jácomo La Selva, Edmundo Rodrigues,
Assis Chateaubrinad, Adolfo Aizen, Victor
Civita, Roberto Marinho, Milton Azevedo,
Carlos Cazzamatta, Nico Rosso, Lanzellotti
e Hercilio, tiveram vital importância para o
desenvolvimento desse setor no país.
desenvolvimento desse setor no país.
Tomei conhecimento que em minha cidade,
bairros, como: o Brás, a Móoca e o Cambuci eram
tradicionais redutos de editores e
que na Vila Maria se concentravam os editores
de álbuns de figurinhas.
que na Vila Maria se concentravam os editores
de álbuns de figurinhas.
No entanto, eu desejava saber mais sobre os
emigrantes italianos, que eu ouvira dizer que
haviam contribuído muito para que
o metiê se desenvolvesse.
Quando comecei a trabalhar nesta área as grandes
editoras que publicavam revistas em quadrinhos
se concentravam na cidade do Rio de Janeiro.
Em São Paulo existia a poderosa editora Abril e
algumas pequenas casas editoriais.
Eu vivia viajando para a Cidade Maravilhosa, afinal
era preciso trabalhar, correr atrás
de possíveis clientes.
Mas uma coisa não saia da minha cabeça:
“Quais teriam sido os feitos dos italianos
em prol das HQs?
Foi somente na década de 80 que ouvi falar de Angelo
Agostini, o primeiro a publicar uma HQ no país e
que era de descendência italiana.
Quem conhece bem esta cidade onde moro sabe
que ela é tipicamente italiana e que bairros
como: o Bixiga, a Móoca e o Brás, ainda abrigam
muitas descendentes de italianos com suas
maravilhosas cantinas.
Conheci Reinaldo de Oliveira – um dos maiores
produtores gráficos do país -, quando ele era
proprietário da Gráfica e Editora Graúna
(editava Golden Guitar, etc), como
(editava Golden Guitar, etc), como
já citei -, e anos depois nos tornamos bons
amigos quando fui contratado para trabalhar
na editora Noblet, que ele também freqüentava.
Passou a ser comum eu, o Cortez e o Reinaldo,
freqüentarmos eventos sobre HQs no Museu da
Imagem e do Som, MASP, Sindicato dos Jornalistas
de São Paulo – onde iniciou a AQCSP
(Associação de Quadrinistas e Cartunistas de
São Paulo), etc.
São Paulo), etc.
Aos finais de semana costumávamos freqüentar
com nossas esposas as tradicionais casas italianas
do bairro gastronômico do Bixiga.
Enfim, eu e o Reinaldo, nos tornamos bons amigos
e até chegamos a fazer alguns
trabalhos em parceria.
e até chegamos a fazer alguns
trabalhos em parceria.
Na década de 80, o grande amigo Reinaldo se tornou
sócio do Mauricio de Sousa, na distribuição de tiras
de jornais, e pouco tempo depois montou sua própria
agência para distribuir material de imprensa
chamada DIME. E foi através da DIME,
que um velho personagem que eu havia criado
para a revista Jogos e Diversões (da Noblet),
chamado o Inspetor Pereira, acabou sendo
publicado em mais de 50 jornais do país.
Até hoje, a bengala girl Rita Carnetti,
comanda a DIME, que ainda distribui
material de imprensa.
chamado o Inspetor Pereira, acabou sendo
publicado em mais de 50 jornais do país.
Até hoje, a bengala girl Rita Carnetti,
comanda a DIME, que ainda distribui
material de imprensa.
O Reinaldão – com costumávamos chamá-lo, devido
ao porte físico atarracado, apesar da baixa
estatura -, adorava HQs e sempre foi eclético:
desenhava, escrevia – HQs-, revisava, editava e
produzia livros e ajudou muita gente.
Também foi editor da lendária revista Fiesta, de
Jácomo La Selva. Ele, Alvaro Moya e Jayme
Cortez, eram os representantes brasileiros das
HQs no tradicional Festival de Lucca, na Itália.
Perdi a conta de quantas vezes nos encontrávamos,
após ele voltar de Lucca, para apreciar as fotos que
ele trazia desse evento onde ele aparecia ao
lado de Hugo Pratt e outras feras do traço.
Aos poucos descobri que ele havia convivido com
os editores italianos do passado. Perguntei sobre
eles e o velho e saudoso amigo me disse:
“Estou preparando um livro sobre a família
La Selva, Tony. E vou fazer questão de lhe dar
um exemplar autografado no coquetel de
lançamento. Com ele você terá respostas à
todas as suas questões.”
Fui ao tal coquetel e ganhei o livro das mãos de
seu autor, Reinaldo de Oliveira – a edição
tinha o planejamento, produção e pesquisa
iconográfica de Maria Sousa de Almeida
La Selva, a viúva de Vito Antônio La Selva.
Durante anos guardei esta obra sui generis
a sete chaves. Hoje, esta edição deve ser rara.
Seu título? La Selva - Pequena História
de uma Editora Popular.
La Selva - Pequena História de Uma Editora Popular - Livro de bolso escrito por Reinaldo de Oliveira, lançado em 1987 - Ed. Sublime |
Esta obra é cheia de depoimentos de gente
importante do setor editorial tupiniquim
e narra a saga desta grande
família de emigrantes.
e narra a saga desta grande
família de emigrantes.
E é com imenso prazer que, a seguir, vou
compartilhar boa parte de seu conteúdo com
vocês, bengalas friends. Conheça...
A VERDADEIRA SAGA
DA FAMÍLIA LA SELVA!
(Homenagem a uma grande
editora paulista e à esses
empreendedores italianos!)
Num passado não muito distante – antes de 1888 -, os
emigrantes que chegavam ao Brasil eram maltratados,
afirmam alguns historiadores.
Muitos italianos que migraram para este país
jamais haviam lido o livro de N. Marcone, publicado
na Itália, cujo título era "Os Italianos no Brasil",
no qual o autor revelava as condições de trabalhos
que tinham que enfrentar seus compatriotas
nas matas brasileiras.
“O Brasil não é o Eldorado que se proclama”,
afirmava o escritor.
Segundo escreveu um cronista no ano de 1900,
após visitar uma Hospedaria de Emigrantes, em
São Paulo, a coisa não tinha mudado.
Escreveu:
“Não encontrei uma só cama; creio que os
“Não encontrei uma só cama; creio que os
emigrantes dormem no chão! – e finaliza –
"Ao lado do edifício há um posto policial
para garantir a tranqüilidade do estabelecimento!”
Anos depois passaram a existir as chamadas
“Vilas de colonização italiana”, segundo declarou
um dos membros de uma família italiana.
um dos membros de uma família italiana.
Mas, o excesso de gente fazia os pobres emigrantes
dormir uns amontoados sobre os
outros à frente do prédio.
Curiosamente, apesar das agruras que esses emigrantes
italianos estavam passando no Brasil, centenas
de piróscafos - naus a vapor-, que eram verdadeiros
navios negreiros modernizados, onde seus
comandantes tinham ordens de encher
todos os espaços, visto que as companhias cobravam
por cabeça, saiam dos portos italianos com destino
ao Brasil abarrotados de gente.
A SAGA DA FAMÍLIA LA SELVA
(A CHEGADA AO BRASIL)
O pequeno Vito Antonio La Selva – que tinha
apenas 4 anos -, desembarcou com seus pais e avós
no Brasil, cheios de bagagens no caís de Santos, em
1904, oriundos da ilha do Eremita, em Polignano a
Mare, perto de Bari, Itália, onde
se originou a família.
A árida Ilha do Eremita, em Polignano, perto de Bari, Itália, de onde vieram os La Selva |
Depois de passarem pela inspetoria de emigração,
no porto de Santos – litoral paulista -, subiram
para cidade de São Paulo - o Planalto Paulista.
Primeiramente, foram morar na rua Conselheiro
Furtado, no # 26. Pouco tempo depois, eles se
mudaram para o bairro proletário do Brás, reduto
de emigrantes italianos. Primeiro, moraram na
rua Benjamin de Oliveira, depois
na Álvares de Azevedo.
Certa feita - segundo antigos relatos -, um candidato
a um cargo político, daquele distrito, foi visitar
a italianada para angariar votos.
Abaixo, observem o diálogo que se seguiu:
- Siamo intesi?
- No. Non sono elettore.
- Non è elettore? Ma perchè?
- Perchè sono italiano, mio caro signore”.
O Brás - Aquele era um bairro de trabalhadores,
onde fervilhavam movimentos que pleiteavam melhores
salários e menos horas de trabalho.
Os operários daquela época eram
escravizados nas fábricas.
“Naquela época existiam muitas legas (sindicatos)” –
declarou um historiador, que consultei.
E completou - “A classe trabalhadora brasileira
era constituída de elementos díspares, de muitas
raças, idiomas, temperamentos, culturas e hábitos.
Era muito difícil reunir e organizar essa gente.
Operários e camponeses imigrantes estavam no
país fugidos da guerra, dos ditadores europeus
e eram obcecados para voltar às suas pátrias.
Viviam individualmente “na América”, como
costumavam dizer.
Em 1906, surgiu o Primeiro Congresso
Operário Brasileiro.”
Operário Brasileiro.”
Naquela época, um italianinho vindo da região
de Bali só tinha duas opções profissionais:
Ser peixeiro ou jornaleiro.
O pai de Vito La Selva decidiu ser jornaleiro.
Uma imprensa incipiente e desorganizada
acontecia no país.
acontecia no país.
Segundo, costumava dizer, o alemão
Carl Von Koseritz:
Carl Von Koseritz:
“É insuportável o sofrimento dos
vendedores de jornais, engraxates
e vendedores de bilhetes.
e vendedores de bilhetes.
Esses maltrapilhos perambulavam pelas
ruas aos milhares – negros, mulatos, italianos
e até garotas -, apregoando aos berros as
qualidades dos jornais e revistas que vendiam –
recentemente saídos das tipografias -, entre os
bondes que circulavam pela cidade."
Nas casas das típicas famílias italianas as mammas
tentavam economizar ao máximo o minguado
dinheiro que a família conseguia arrecadar
durante o mês.
Carne? Ela era só para os homens, quando tinham.
Carne? Ela era só para os homens, quando tinham.
Feijão? Era uma luta encontrar um grão na
panela cheia de água.
Arroz? Era sempre pouco. Tempero?
Arroz? Era sempre pouco. Tempero?
Era banha frita com cebolas e alhos. Trigo?
Só para doentes, assim como o pão.
Chupetas e maizenas para engrossar as
mamadeiras das crianças? Nem pensar.
As famílias de melhor posse mantinham uma
cabrita para fornecer leite aos pequeninos.
Quando o leite era pouco aumentava-se ele
com água adocicada com melado de cana, pois
açúcar era um produto caro.
Comia-se muita polenta, que era barata e dava
para enganar o estômago.
Dormia-se tarde e levantava-se cedo.
Dormia-se tarde e levantava-se cedo.
Aos poucos os italianos foram se organizando.
Foi nesse ambiente estranho que o pequeno
La Selva cresceu estudando num dos colégios
do Brás e trabalhando muito para vender
jornais para ajudar sua família, entre a cantoria
da molecada cuja letra dizia:
“Italiano grita
Brasileiro fala
Viva o Brasil
E a bandeira da Itália!”
Aos 17 anos, Vito Antonio La Selva teve que voltar
à Itália para servir a Pátria, em 1917.
O REGRESSO AO BRASIL
Ele só voltou ao Brasil em 1925,
após servir na marinha
após servir na marinha
italiana, que o fez participar da parte final da
Primeira Grande Guerra Mundial.
Um emigrante casar com uma brasileira era
raridade na época.
Assim, o jovem La Selva voltou casado com
uma italiana, Crescência Boccuzzi.
Se instalaram no decadente bairro do Brás.
Assumiu, desta feita, a profissão de jornaleiro,
assim como outros seus outros compatriotas
que ficaram famosos, como:
Zambardino, Labate, Siciliano, Pelegrini,
Modesto e Mastrochirico.
No mesmo bairro nasceram seus filhos: Paschoal,
Jácomo. Antônio, Ana, Maria Anita, Ana Afonsina,
Antonietta, Olga Teresa, Estevão e Helena Lucia,
vieram ao mundo quando o casal se mudou para
o bairro da Vila Mariana, em 1933.
Os rapazes, desde pequenos ajudavam o pai a
vender jornais e revistas.
As meninas estudavam.
As meninas estudavam.
Em 1933, a família já possuía uma banca de
jornal na Praça da Sé, esquina com a rua
Venceslau Brás. Mas, o grosso da venda ainda
era feita aos gritos pelas ruas.
Os pequenos jornaleiros gritalhões empesteavam
as ruas da capital paulista.
Muitas vezes esses vendedores ambulantes
(marreteiros) deturpavam as manchetes, visando
empurrar toda a mercadoria e levar
alguns trocados para casa.
DÉCADA DE 30
Na metade desse período, quando a famosa revolução
constitucionalista já havia ficado para trás, jornaleiros
e jornalistas enfrentavam uma situação difícil.
A pobreza imperava entre esses profissionais.
Os jornais mais vendidos na cidade de São Paulo
de Piratininga eram: A noite; A Galegada; A Defesa
dos Portugueses; A Gazeta de Notícias,
A Folha Nova, etc...
Aqueles garotos e meninas mal-vestidos vendendo
jornais animavam a paisagem cinzenta da cidade
que era conhecida como “São Paulo, Terra da Garoa”.
Bancas improvisadas surgiram por toda a cidade
e as frotilhas de distribuição, fruto do incipiente
progresso industrial das empresas editoriais.
Esses pequenos vendedores eram peças importantes
na nascente industrialização dos jornais brasileiros,
num país tipicamente agrícola, e eles não eram
apenas uma exclusividade da cidade paulista.
Em outras cidades como:
Rio de Janeiro, Porto Alegre, etc, centenas de
jovens iniciaram sua vida como
arautos de jornaleiros.
arautos de jornaleiros.
Muitos deles ficaram famosos e bem conhecidos
do público-leitor.
Com o lento crescimento do mercado editorial
Os jornais e revistas eram vendidos, aos gritos, pelos garotos e garotas jornaleiros, para ganhar alguns trocados |
os pontos de venda também começaram a aumentar.
SURGE A AGÊNCIA
1935 – O então prefeito Prestes Maia regulamentou
a profissão de jornaleiro. Os La Selva tinham montado
uma pequena distribuidora.
Nela passaram a distribuir um novo jornal do
Rio de Janeiro chamado A Nação.
Este periódico logo passou a trazer um suplemento
humorístico, infantil, policial, feminino ou esportivo.
Graças a esses suplementos, principalmente o
infantil, fez um tremendo sucesso.
Mas distribuí-lo dava um trabalho danado.
O produto editorial vinha do Rio, diariamente,
pelo trem da Central e este trem costumava
atrasar. Como não se tinha o direito de devolver
encalhes, naquela época, chegasse à hora
que chegasse, com sol, chuva ou tempestade,
fosse dia ou noite, era preciso vender, se
possível, todos os jornais.
Dia de chuva aquela era uma tarefa
quase impossível.
Lá pelo décima quinta edição desse jornal popular
o Suplemento Infantil, devido ao sucesso,
Porém a distribuição foi entregue a outra
agência concorrente, que eram parentes deles.
Todas as grandes publicações que traziam quadrinhos
e que faziam sucesso estavam nas mãos dos
distribuidores italianos, como: Zambardino
(A Gazetinha), Siciliano (O Globo Juvenil),
Modesto (Suplemento Juvenil).
As agências (distribuidoras) estavam sobre o
comando de nomes que se tornaram famosos no
setor editorial paulistano, como:
Polano, Scafuto, Annunziato e Soave.
Primeiramente essas pequenas agências se
concentraram na Galeria Pirapitingui, na rua João
Bricola, em frente a antiga redação do jornal
Na outra extremidade da rua, na Boa Vista, ficava
o velho e famoso jornal O Estado de São Paulo.
Em pouco tempo a Praça Antonio Prado virou
o centro de distribuição de todas as publicações,
por ela estar próxima aos jornais mais
vendidos da época.
Pouco tempo depois os La Selva se associaram
a Pelegrini e passaram a distribuir também
revistas, como: Vida Doméstica, Jornal das
Moças, Parati, além de publicações menores.
Com a distribuição de Vida Doméstica surgiu o
contato com outras praças do país e foi possível
montar uma lista de novos agentes, embrião
para que fosse montada a bem estruturada e
lendária Distribuidora La Selva, que em curto
espaço de tempo contava com 600
A primeira grande publicação distribuída para
todo o país, pela La Selva, foi Bom Humor, que
havia sido fundada por um grupo de empresários
vindos da Argentina, que decidiram lançar aqui
no país uma versão nacional de uma publicação
argentina que fazia muito sucesso
naquele país chamada Rico Tipo.
O novo produto editorial obteve um sucesso
extraordinário.
O magazine vendia quinzenalmente cerca de 45 mil
exemplares. Isto fez despertar a curiosidade das
agências concorrentes.
Esse sucesso espetacular da revista animou o
distribuidor Vito La Selva e ele decidiu entrar
definitivamente para o ramo editorial,
como editor.
como editor.
SURGE A EDITORA LA SELVA
Os editores, Paschoal e Jácomo La Selva, e o jovem diretor de arte Jayme Cortez, sentado à esquerda |
Assim, foi fundada a primeira editora paulista.
A primeira de uma série de empresas editoriais
paulistas que surgiram entre os anos 50 e 60 e que
viriam a ser denominadas de “Editoras do Brás”.
Com o sucesso de Bom Humor, os empresários
argentinos lançaram outros produtos em solo
tupiniquim, como:
Aventuras -publicação homônima que também era
sucesso na Argentina-, e que era editada pelo
desenhista Horácio Gutiérrez, etc.
Esta revista trazia em cada edição uma novela ou
Revista de Humor - A Marmita |
filme de sucesso, adaptada por um bom roteirista
e desenhada por ilustradores como:
Breccia, Veroni, Novele, entre outros.
Essa novela ilustrada era impressa num caderno
central especial que podia ser facilmente
destaca e colecionada.
Vendas em alta. Outros concorrentes decidiram
entrar no ramo.
Um outro grupo decidiu lançar uma nova revista
de contos policiais chamada Fantomas, cheia
de ilustrações de brasileiros, como:
Italo Cencini, Darcy Penteado, Guilherme e
Sigismundo Walpeteris.
Outro produto também foi lançado pelo mesmo
grupo editorial, mas teve breve duração:
Caricatura.
1947 – A ASCENÇÃO
Neste ano a família La Selva desfez a parceria
com os Pelegrini.
De repente, a distribuidora La Selva começou a
crescer cada vez mais, quando passou a distribuir
a revista Sesinho, dirigida por Vicente Guimarães,
que ficou conhecido como Vovô Felício, da
esquecida publicação mineira chamada
Revistas como:
Ciência Ilustrada - de Salvador Bentivegna,
Auro Teixeira e Giovani Costa Júnior-,
também entraram para
Ciência Ilustrada - de Salvador Bentivegna,
Auro Teixeira e Giovani Costa Júnior-,
também entraram para
valer no mercado editorial.
Assim como outras publicações:
A Marmita – tablóide humorístico
A Marmita – tablóide humorístico
de Edson Machado-;
Televisão – tablóide de rádio-novelas
“fotonovelas”, de Normet Pinheiro; O Cômico
Televisão – tablóide de rádio-novelas
“fotonovelas”, de Normet Pinheiro; O Cômico
Colegial – de Auro Teixeira-; Seleções Práticas –
de Reinaldo de Oliveira, Clóvis Tavolaro e Jacy
“Comecei na profissão fazendo
Seleções Práticas, uma
Seleções Práticas, uma
revista diferente daquilo que eu mais gostava:
HQs. Tomei essa iniciativa influenciado pela
admiração que eu tinha pela revista americana
chamada Popular Mechanics.
A revista era minha e de alguns amigos do bairro
do Bixiga, onde eu morava. A publicação morreu do
do Bixiga, onde eu morava. A publicação morreu do
mal do sétimo número.” –
declarou Reinaldo de Oliveira.
Nota: Até hoje existe esta lenda de que se uma
publicação passar da sétima edição ela será um sucesso.
Daí o termo “Mal do sétimo número”.
“ A distribuidora La Selva “ – explicou Reinaldo – “, que
distribuíra minha revista, me apresentou para um
editor do norte do país, Pelódidas Galvão, que tendo
trazido para São Paulo sua publicação, resolvera
voltar para Recife e deixar alguém
aqui para cuidar dela.
aqui para cuidar dela.
E lá fui eu editar Lavoura e Criação, que
trazia artigos sobre plantios, rações, avicultura
e uma recomendação expressa do dono da editora:
“Clichê novo só o da capa! No miolo repetir os
clichês do arquivo, indefinidamente, pois uma
galinha é uma galinha e um boi é um boi!”
Sentenciava o econômico empresário e
Nota: Naquela época não existiam fotolitos
(celuloses transparentes que registravam as artes que
seriam impressas nas revistas).
As revistas eram todas feitas com clichês.
A EDITORA LA SELVA
Sem parar de distribuir os produtos de editores,
timidamente a La Selva começou a editar suas
próprias publicações, que mais pareciam panfletos.
A primeira foi Seleções de Modinhas, cuja a única
diferença dos concorrentes, que em sua grande
maioria vinham do Rio de Janeiro, era a capa que
era chamativa, bem colorida.
Os La Selva sabiam que esta diferença chamaria
mais a atenção dos leitores no ponto de venda.
Assim, as capas de Seleções de Modinhas
(Músicas) traziam sempre uma fotografia
multicolorida de um cantor famoso.
Com o dono da revista Cômico Colegial,
Auro Teixeira foi feito um acordo e a revista
passou a ser editada diretamente pela La Selva.
Aos poucos essas novas publicações foram
conquistando público e com o sucesso da
revista Polícia foi criado outro título:
O Crime Não Compensa.
Modelos posaram para a capa abaixo - O ator Lima Duarte e Anita Greis, esposa do Alvaro Moya |
O Crime Não Compensa |
Cortez trabalhando com modelo vivo |
“Foi nessa época que fui contratado
pela Editora La Selva
pela Editora La Selva
para tomar conta de todas as revistas da casa
e fazer mais uma: Seleções Enigmáticas “ –
declarou Reinaldo de Oliveira.
“Levei para trabalhar comigo, como free-lance, o
desenhista João Batista Queiroz.”
"Eu fazia os desenhos de piadas para o
Governador e Seleções Humorísticas,
de Laio Martins Filho” –
de Laio Martins Filho” –
explicou Queiroz e continuou:
"Eu ainda era um principiante e a primeira vez
"Eu ainda era um principiante e a primeira vez
que o Reinaldo viu meus desenhos implicou
logo com a minha assinatura: Jobarth."
"- Isso é nome de desenhista? – disse-me o Reinaldo -
Assine simplesmente Queiroz!”
Nota:
Meu velho e saudoso amigo e bengala brother, Queiroz,
lembou-me sobre um detalhe curioso: Reinaldo
era tido como encrenqueiro. Brigava com editores
e autores, para defender seus irredutíveis
pontos de vista. Mas, sempre nos demos bem.
Meu velho e saudoso amigo e bengala brother, Queiroz,
lembou-me sobre um detalhe curioso: Reinaldo
era tido como encrenqueiro. Brigava com editores
e autores, para defender seus irredutíveis
pontos de vista. Mas, sempre nos demos bem.
“Além disso, vendo um título que eu desenhara
para um rótulo, o Reinaldo descobriu em mim
uma habilidade que eu mesmo não tinha
percebido: eu era um bom letrista.
E isso, na época em que não existia Letraset,
era uma grande vantagem.” - concluiu Queiroz.
Nota:
Letraset – Este era o nome de uma cartela –
Letraset – Este era o nome de uma cartela –
vendida em papelarias -, que continha todas as
letras do alfabeto, e que por serem autocolantes
podiam ser facilmente transferidas e alinhadas
para um original, para se fazer títulos e manchetes.
Evitava-se assim ter que desenhar as letras
manualmente, como no passado.
Inicialmente o material
vinha do exterior.
Evitava-se assim ter que desenhar as letras
manualmente, como no passado.
Inicialmente o material
vinha do exterior.
Antes dessa fantástica invenção títulos e
manchetes eram desenhados a mão por
especialistas que eram muito
bem remunerados.
bem remunerados.
“Pouco tempo depois, o Reinaldo
me passou serviços de
me passou serviços de
uma nova editora em que ele estava trabalhando.
Era o começo da Editora La Selva.
Todos os títulos das revistas, as chamadas de
capas, os títulos internos, anúncios e vinhetas,
além de inúmeras piadas, inseridas na revista
humorística Seleções de Rir Ilustrada, foram
feitos, nesta primeira fase, por mim.” –
afirmou Queiroz.
Seleções de Rir Ilustrada - capa com a arte de Queiroz. Abaixo: A mesma publicação substituiu as ilustrações por fotos de garotas de escandalosos biquinis, para a época |
NOTA:
Em 1950, Seleções de Rir Ilustrada –
lançada pela La Selva -, passou a ser uma
das mais famosas revistas de pin-ups
(garotas em trajes menores) do país.
Em 1950, Seleções de Rir Ilustrada –
lançada pela La Selva -, passou a ser uma
das mais famosas revistas de pin-ups
(garotas em trajes menores) do país.
Esta revista durou até 1958, apesar deste título
ter sido substituído posteriormente e ainda
ter subsistido por mais dez anos, quando então
a empresa foi dissolvida.
Grande parte do sucesso desta publicação
se deve aos desenhos,
Grande parte do sucesso desta publicação
se deve aos desenhos,
a paginação e as fotos produzidas por
Jayme Cortez, que de forma pioneira dava
destaque às modelos brasileiras –
geralmente vedetes, que posavam em
seus camarins ou em hotéis.
Certa feita, o grande mestre Jayme
Cortez se lembrou com malícia, das
confusões que sobrevinham
Cortez se lembrou com malícia, das
confusões que sobrevinham
durante essas deliciosas
jornadas fotográficas...
jornadas fotográficas...
“ A Editora La Selva ficava na rua Pedro de Toledo,
231, na Vila Mariana. Era uma casa de um só andar,
com fachada de pedras vermelhas, recuada um pouco
da rua, com um pequeno jardim à frente.
Ao lado, havia uma entrada para carro que ia
até ao fundo." - recordou o mestre, que
também adorava fotografar.
também adorava fotografar.
Família La Selva, na Vila Mariana. Na esquerda: Maria Teresa, Estevão, Helena e Afonsina. Em segundo plano: Jácomo, Antoninho e Antonieta |
Foto: Jácomo, em pé e Paschoal sentado, quando a família morava no bairro do Brás Continuou, Cortez: "Ali numa garagem ampla, com um quarto em cima, era a redação onde trabalhávamos todos. O Paschoal estava sempre controlando os agentes do interior, com enormes fichas de remessa-deve-haver. O Jácomo fazia a distribuição e as incansáveis cobranças dos agentes nas ferrovias, pois naquele tempo cada linha de estrada de ferro – Central, Sorocabana – Santos - Jundiaí – tinha um agente que mantinha jornaleiros vendendo publicações dentro do trem em movimento. Esse vendedores iam e voltavam com o trem, sempre percorrendo os vagões. Um parente da família, fazia os pacotes para serem despachados para o interior. O senhor Vito ia de madrugada para a praça Antonio Prado, com um velho e possante Lincoln Zephir, verde, abarrotado de revistas. Levava as nossas e o Sesinho, única publicação que continuou distribuindo depois que se tornou editor. E todo dia, tentava vender o único encalhe homérico da editora: O Álbum dos Artistas, que era publicado em 4 cores, em couchê, 129 gramas, mas que não vendia nada." |
Ainda segundo Jayme Cortez,
quando se oferecia O Álbum dos Artístas aos
quando se oferecia O Álbum dos Artístas aos
jornaleiros, eles diziam: “ Joga na água!”
Lá pelas onze horas “seu” Vito voltava
trazendo os números não vendidos, ou o
encalhe de alguma revista anterior que
já havia sido substituída por
uma nova edição.
uma nova edição.
"Também era comum ele trazer uma enorme
cesta de compras, sempre com enormes
camarões, pois a boa mesa era, também,
uma característica daquela casa editorial.” -
narrou Cortez.
narrou Cortez.
Jayme Cortez e o grande desenhista Lanzellotti |
Declarou Reinaldo de Oliveira...
“Meu serviço era tratar das edições, ir às gráficas,
“Meu serviço era tratar das edições, ir às gráficas,
contratar desenhistas e ser “ajudado” pelo
“seu” Vito, que “teimava” em recortar
pin-up-girls de uma revista alemã chamada
Golden e atirá-las em minha mesa. –
Esta serve, Reinaldo?, dizia ele.”
Nota: As pin-ups de 1950 usavam biquínis enormes,
mas faziam muito sucesso. Essas belas garotas
alavancavam as vendas.
Ainda esclareceu Reinaldo...
“ Perto do carnaval editavam-se modinhas com as
músicas de sucesso. Nesses dias todos da família
trabalhavam. Até parte do serviço Gráfico, como:
dobrar e grampear eram feitos na redação,
com esses grampeadores de escritório mesmo.
Foi nessa época que os La Selva tiveram uma
oportunidade de ouro. A editora ainda lançando
produtos com o nome genérico de Cômico
Colegial, editou uma edição mensal com um
super-herói Made in USA desenhado por
Jerry Robinson, com o título de Cômico
Colegial apresenta... Terror Negro.
A edição nacional teve a capa desenhada pelo
pintor Waldemar Cordeiro, no ano de 1951."
Segundo as declarações do livro,
tudo começou naquele início da década de 50, quando
tudo começou naquele início da década de 50, quando
o representante da agência internacional ICA
Press (APLA), era José Viegas, que ofereceu para a
editora a edição americana de Beyond, uma das
muitas revistas de terror que estavam sendo
editadas com sucesso na América.
Um ano depois, quando a edição americana foi
suspensa nos Estados Unidos devido os
La Selva aproveitaram o título
La Selva aproveitaram o título
que vendia bem no país e decidiram lançar
HQs de terror produzidas no Brasil.
“ O aparecimento das revistas de terror obedeceram
a uma escala crescente do gênero.
Revista completa mesmo só surgiu em 1951;
mas histórias avulsas muito antes desta data
já eram publicadas no país.” – afirmou
"Dentre estas HQs avulsas de terror
estavam títulos, como: Doutor Oculto –
estavam títulos, como: Doutor Oculto –
que saia na revista Mirim, em 1937.
HQ desenhada por Leger e Reuths (Jerry Siegel
e Joe Shuster), que mais tarde criariam o
Superman, o primeiro super-herói do mundo
dos quadrinhos para a revista Action Comics." -
explicou Reinaldo e continuou:
explicou Reinaldo e continuou:
"Nessa mesma época surgiu com desenhos
a revista Eleven, uma publicação estranha e
diferente, um misto de Flanagan e Charles
Dana Gibson, bem
a revista Eleven, uma publicação estranha e
diferente, um misto de Flanagan e Charles
Dana Gibson, bem
rudimentar, do mesmo editor americano –
Ridder Haggard -, que publicava a revista Ela-
que naquele tempo era grafada como:
Ella, cheia de romances fantásticos, aventuras
e algumas HQs de terror."
1937 – A GAZETINHA
Foi através deste livro produzido pelo
Reinaldo, foi que eu descobri que
nesse ano a Gazetinha publicou pela primeira
Reinaldo, foi que eu descobri que
nesse ano a Gazetinha publicou pela primeira
vez uma história em quadrinhos autêntica
de terror desenhada totalmente no Brasil:
A Garra Cinzenta, escrita e desenhada
pelos brasileiros
de terror desenhada totalmente no Brasil:
A Garra Cinzenta, escrita e desenhada
pelos brasileiros
Francisco Armond e Renato Silva.
O sucesso foi imediato.
Nesta mesma edição foram publicadas:
O Castelo de Fauburg - de Thomas Morgan -, e
o Homem Invisível – não o de H.G.Wells -,
esta versão era desenhada por Tiradez.
Nota:
Essas HQs publicadas prenunciavam
Nota:
Essas HQs publicadas prenunciavam
timidamente o gênero intrevisto já bem
anteriormente nas HQs de Little Nemo,
do inovador Windsor McCay, em 1905, e
Piemouth, de Feininger, em 1906, além de
inúmeras outras criações que anteviam o
gênero que se tornaria independente
no final da década de 40.
PERÍODO PÓS-GUERRA
Com o término da guerra os super-heróis,
que na década de 30 tinham feito um
estrondoso sucesso na América, estavam
desgastados com o uso e o abuso de seus
superpoderes para vencer o inimigo comum:
os nazistas de Adolf Hitler.
Esses super seres tinham caído no
desprestígio e pela constante
Esses super seres tinham caído no
desprestígio e pela constante
repetição de suas histórias pouco criativas.
As publicações americanas estavam em crise
era preciso renovar para que os comics
não morressem.
Muitas editoras estavam
Muitas editoras estavam
fechando e milhares de pessoas ligadas
ao setor editorial daquele país
estavam ficando sem emprego.
da América coube ao genial Stan Lee que, renegando
suas criações anteriores – todas de super-heróis -,
após avaliar com olho clinico a coisa toda,
corajosamente decidiu lançar um novo título
chamado: Terror Tales. A criatividade do
jovem Stan Lee revitalizou o mercado
editorial, que estava prestes a desaparecer.
Com o sucesso de Terror Tales vieram
outros produtos editoriais, como:
Adult Fantasy, Tales of Suspense,
Strange Tales e outros títulos.
Os demais editores da América, diante do sucesso
da concorrente Timely (atual Marvel), também
decidiram investir pesado no gênero.
"Ao entrar para este novo segmento -
HQs de terror - a editora La Selva sentiu a
necessidade de ter mais colaboradores.
Os primeiros que foram convocados para
criar quadrinhos de terror no país, foram:
O mestre Gedeone Malagola, Francisco Oliveira,
João Batista Queiroz e, logo depois, Alvaro
Moya, Syllas, Jayme Cortez
e Miguel Penteado. " explicou Reinaldo.
E concluiu:
e Miguel Penteado. " explicou Reinaldo.
E concluiu:
“No ano de 1951 eu sai da editora La Selva, passando
a trabalhar na Abril, de Victor Civita, que estava
começando numa salinha no centro da cidade.
Para me substituir veio um moço que foi um
exemplo de amizade, competência e
profissionalismo: Milton Júlio.”
Dona Crescência e "seu" Vito, quando foram homenageados pela família, em 1950, quando fizeram bodas de prata |
MAIS DEPOIMENTOS IMPORTANTES
“Nós éramos um bando de moleques irreverentes,
desenhistas, fanáticos por uma forma de
expressão até então condenada pelos
pais, mestres, párocos e toda a sociedade:
Histórias em Quadrinhos." - disse Reinaldo.
Nota:
Anos depois, a coisa piorou. Principalmente
Nota:
Anos depois, a coisa piorou. Principalmente
quando um certo doutor americano –
que odiava HQs - publicou o livro A Sedução
dos Inocentes, nos Estados Unidos.
O livro provocou um rebu mundial.
Ainda segundo o livro...
Ainda segundo o livro...
Corria a década de 50. Em 1947 , havia aportado
por estas plagas, vindo de Lisboa, o desenhista
Jayme Cortez Martins, que viria a ser o grande
mestre não só daquela geração como de
outras levas de ilustradores
e desenhistas locais.
"Eu estava começando a aprender a passar tinta nos
meus desenhos à Lápis com um profissional, João
Gitahy, que me apresentara a um escritor,
que era um simples bancário, Syllas Roberg -
ambos, já falecidos. Eu tinha facilidade para
imitar com perfeição os desenhos de Alex Raymond,
Harold Foster e Milton Caniff e de outros
grandes mestres americanos – o que me valeu,
no início da carreira, vir a fazer as capas da
revista O Pato Donald, para a editora Abril.
Embaixo dos meus trabalhos aparecia sempre
a assinatura mundialmente famosa de Walt Disney.
Ciente de que meu trabalho era de um
iniciante, promovi João Gitahy, que era um
desenhista versátil, e o levei à redação da
Gazeta Juvenil, que estava em sua
terceira versão.
Lá, eu, Gitahy e Syllas ficamos conhecendo
Jayme Cortez, Messias de Mello, Lindbergh
Faria, Zaé Júnior, Cláudio de Souza, Sammarco,
Walter Geneviva e outros feras da época,
além de Jerônimo Monteiro. Messias era
fechadão e recebeu com frieza as belas
ilustrações de Gitahy. Uma página dominical
de uma HQ de western, escrito pelo Syllas.
Jayme Cortez, como era de seu hábito, recebeu-nos
com simpatia, chamando-nos para sua prancheta
e acabou nos convidando para ir à casa dele
que fica no bairro da Móoca, no sábado.
Essas reuniões na casa do mestre lusitano
viraram rotina e acabamos, todos,
ficando grandes amigos." - explicou
Reinaldo.
Reinaldo.
Na redação da revista Cine-Fan, em 1958, José Fioroni Rodrigues -tradutor e revisor da revista -, a jovem atriz Eva Wilma e Lindbergh Faria, um cidadão que se especializou em jogos e passatempos, anos mais tarde. |
"Depois, começamos a freqüentar
aos domingos o único zoológico que
existia na cidade: o do Agenor,
aos domingos o único zoológico que
existia na cidade: o do Agenor,
que ficava na Vila Guilherme.
Lá, ficávamos durante horas, desenhando,
ao vivo, animais, por influência do Cortez,
que nos tirou do hábito de plagiar (copiar)
autores americanos e nos ensinou a
trabalhar com modelos vivos. Todos nós
tínhamos visto numa revista argentina uma
foto de Milton Caniff trabalhando com modelos
vivos para séries, como: Madame Dragão,
Burma e Terry e Os Piratas. Aquilo serviu
de incentivo para que todos passassem a fazer
suas artes baseadas em modelos vivos, com
o apoio do Cortez. Na mesma revista de Los
Hermanos tínhamos lido que o artista americano
Milton Caniff era “zurdo” e pensamos que ele fosse
surdo, até descobrirmos que, em espanhol,
zurdo significava canhoto.
Caniff desenhava com a mão esquerda, tal
qual Burne Hogarth, famoso
desenhista de Tarzan.“ –
desenhista de Tarzan.“ –
ironizou Reinaldo.
Nessa época, ainda segundo ele, instalados na
ampla sala da casa de Gitahy, ele tentava melhorar
sua arte. Syllas, que trabalhava numa instituição
financeira a tarde (num banco) aproveitava as
manhãs e a noite para ficar com eles.
“Líamos de tudo. Quase todo dinheiro que
ganhávamos gastávamos com livros e gibis.” –
disse Reinaldo.
NOTA: Gibi - Termo pelo qual ficou conhecida
as revistas de quadrinhos no país, após o
lançamento da revista Gibi Mensal.
Continua com a palavra
Reinaldo de Oliveira...
Reinaldo de Oliveira...
“Líamos: Satre, Faulkner, Hemingway, Steinbeck,
Checov, Gogol, Poe, Jack London, Robert Louis
Stevenson,etc, e muitos autores de quadrinhos.
Lembro-me bem que, com o tempo, até aqueles
pseudos-intelectuais que eram contra os
quadrinhos acabaram escrevendo matérias
elogiando as HQs.
O motivo de lermos tanto era porque o Syllas
nos enfiara na cabeça que, para fazer uma boa
HQ, tínhamos de saber escrever.
Aos poucos, fomos descobrindo que ele estava
correto e que os quadrinhos como os de
Will Eisner (The Spirit) e Milton Cannif (Terry),
tinham a mesma linguagem de planos, luz e
sombra e enquadramentos usados pelo cinema.
Quadrinhos e cinema tinham tudo a ver.
Assim passamos a curtir os grandes
diretores daquela época, como:
Hitchcock, Kurosawa, Alfred Freen, Joseph
Lewis, Huston, Vincent Minelli, etc.
Adorávamos os filmes da RKO, Monogram, Mascot,
Republic, Allied Artists, etc. Percorríamos os
bairros da cidade em busca dos filmes dessas
produtoras e diretores. Também líamos críticas
de cinema, diariamente, escritas por Walter
George Durst.
Certo dia, Durst, criticando o filme
Certo dia, Durst, criticando o filme
O Rastro da Bruxa Vermelha, com John Wayne,
disse que aquilo parecia história em quadrinhos
ruins e elogiava autores como Al Capp,
Fiquei surpreso com aquela afirmação dele,
pois eu jamais tinha ouvido ninguém elogiar
quadrinhos. Telefonei, na hora, para a rádio
Tupi-Difusora e falei com o Durst.
Sua voz me pareceu fininha ao telefone,
bem diferente daquele vozeirão que eu estava
acostumado a ouvir no rádio.
Depois soube que quem lia os textos do Durst
era o ator Dionísio Azevedo. Marcamos uma
visita dele ao nosso estúdio.
Mas, ele não apareceu.
Mas, ele não apareceu.
Então decidimos ir até ele.
Pegamos um bonde e um ônibus e fomos até
a famosa “Cidade do Rádio”, que ficava no
alto de um dos bairros nobres da cidade, o
Sumaré. Lá conhecemos, além dele, Lima
Duarte, Cassiano Gabus Mendes e muitos
outros. Dessa forma ampliamos nossos
relacionamentos, fizemos boas e novas amizades.
Por intermédio desses talentosos atores e
radialistas conhecemos Biáfora, José Júlio
Spiewack, Marcelo Grassman e muitos outros,
a lém do famoso B.J. Duarte, que
não se dava com os demais. " -
detalhou Reinaldo.
detalhou Reinaldo.
Bonde - Antigo meio de transporte coletivo, que há muito tempo foi extinto das ruas de São Paulo e de outras cidades do país JOSÉ FIORONI |
"Houve uma segunda referência aos quadrinhos
que surpreendeu a mim e a todos nós.
Naquela época fazíamos inúmeras incursões pelas
que surpreendeu a mim e a todos nós.
Naquela época fazíamos inúmeras incursões pelas
bancas de jornais da cidade, diariamente.
Certo dia, vi estampado na capa de um jornal:
Certo dia, vi estampado na capa de um jornal:
“Terror Negro! Uma Revista Interessante,
Mas com Capas Fracas!”
Ao ler a matéria tive uma grata surpresa.
O artigo sobre Histórias em Quadrinhos
estava assinado por Reinaldo de Oliveira.
Eu, que na época, fazia o papel de agente do
Cortez, do Gitahy e do Syllas e que era o
que mais tomava iniciativas, incentivei o
pessoal a pegar um bonde e ônibus e
ira até a Vila Mariana, sede da Editora La
Selva, que lançava a revista Terror Negro.
E lá fomos nós, eu, o Cortez e o Syllas.
O Cortez levava alguns originais em cores
embaixo do braço. Estavam instalados num belo
casarão de pedras vermelhas. O lugar tinha
uma entrada lateral, uma garagem sem carro,
onde ficava a redação e lá no fundo, no
canto esquerdo, numa pequena mesa
encontramos trabalhando, de costas,
curvado, Reinaldo de Oliveira."
Nota: Pela primeira vez uma editora paulista obtinha sucesso com uma revista de quadrinhos, até então esse feito era primazia das editoras cariocas. Esse sucesso repercutiu na imprensa: "Os La Selva Espalham o Terror Negro!", anunciava as manchetes de jornais. E relatou Fioroni... |
"Fomos acolhidos pela família
La Selva calorosamente.
La Selva calorosamente.
Pai, filhos e a mamma, todos nos acolheram
de uma forma inesperada. Fomos aceitos,
de imediato, pelo clã. Só anos mais tarde,
freqüentando os Congressos de HQs de Lucca,
na Itália – reavendo meus ancestrais- , é que
compreendi a afeição peninsular que existia
entre nossos dois povos. Sempre houve
um forte elo entre brasileiros e italianos.
De imediato, o Reinaldo começou a falar de
HQs como nós, ou seja, entusiasmado.
Doze anos depois, vimos os europeus falar
de suas Bandas Desenhadas com o mesmo
entusiasmo como nós. Ou seja, muito antes
deles, víamos as HQs como a fusão entre o
cinema, a literatura e o jornalismo, com uma
linguagem própria e universal. Naquele
tempo, ninguém tinha ouvido falar em
comunicação de massa.
Mas, nós já tínhamos a visão conjunta de
tudo isso, que somente anos depois, ficou provado
através de estudos sobre as histórias em
quadrinhos, que passaram a ser classificadas
como um importante veículo de
comunicação de massa do século XX ."
Famosos títulos de heróis do western, que faziam sucesso no cinema, foram publicados pela editora La Selva Nota: Ainda segundo as declarações desse livro incrível, essa visão futurista e realista sobre as HQs uniu cada vez mais aqueles jovens idealistas que amavam os quadrinhos. Deste grupo ainda fazia parte um gráfico que tinha muito talento para desenhar, o jovem, Miguel Penteado – que anos depois se tornaria um grande editor. |
FIORONI
"De repente, estávamos cercados de gente que
falava a nossa língua: HQs. Essa turma nos apoiava
e dava dicas para que procurássemos trabalhos
em jornais, revistas e editoras. O trabalho para nós
foi aumentando gradativamente até que um dia,
por fim, o Syllas pediu demissão do banco em
que trabalhava para se juntar definitivamente
a nosso grupo de profissionais – embora ele não
soubesse desenhar uma linha reta ou torta.
Nossa equipe estava, a cada dia, conquistando
maior espaço de trabalho.
falava a nossa língua: HQs. Essa turma nos apoiava
e dava dicas para que procurássemos trabalhos
em jornais, revistas e editoras. O trabalho para nós
foi aumentando gradativamente até que um dia,
por fim, o Syllas pediu demissão do banco em
que trabalhava para se juntar definitivamente
a nosso grupo de profissionais – embora ele não
soubesse desenhar uma linha reta ou torta.
Nossa equipe estava, a cada dia, conquistando
maior espaço de trabalho.
Eu era o amais jovem, o mais impetuoso, o mais
radical e o mais espanhol da turma. Apesar disso,
o Reinaldo conseguiu ser mais briguento do
que eu. Mas, ma minha molequice cometi
diversos pecados.
Tenho a consciência pesada hoje.
radical e o mais espanhol da turma. Apesar disso,
o Reinaldo conseguiu ser mais briguento do
que eu. Mas, ma minha molequice cometi
diversos pecados.
Tenho a consciência pesada hoje.
Para impor as belas capas do Cortez, que eu
achava que fariam a revista de Terror dos
La Selva vender mais, critiquei o
excelente pintor Waldemar Cordeiro,
que fazia as capas da editora.
Achávamos que os críticos de arte e os
grandes artistas como o Waldemar não
entendia nada sobre a linguagem dos gibis e,
portanto, não deveriam fazer capas para eles.
Acabei convencendo os La Selva a experimentar
lançar uma capa do Cortez.
Não deu outra: Absoluto sucesso!
achava que fariam a revista de Terror dos
La Selva vender mais, critiquei o
excelente pintor Waldemar Cordeiro,
que fazia as capas da editora.
Achávamos que os críticos de arte e os
grandes artistas como o Waldemar não
entendia nada sobre a linguagem dos gibis e,
portanto, não deveriam fazer capas para eles.
Acabei convencendo os La Selva a experimentar
lançar uma capa do Cortez.
Não deu outra: Absoluto sucesso!
Foi assim que a lendária Editora La Selva deu
início, no Brasil, a um ciclo dos mais ricos e
férteis para os artistas nacionais: o chamado
“Ciclo das revistas de terror!”,
feitas por editores de menor porte.
Assim, outros gráficos
do bairro da Móoca, se aproveitando do
sucesso alcançado pela revista Terror Negro
da La Selva, e da proibição desse gênero na
América, e também decidiram entrar na dança.
Em virtude disso, esse grupo de editores
menores acabaram conquistando uma
importante fatia do mercado editorial brasileiro
e com isso incentivando a produção nacional.”
início, no Brasil, a um ciclo dos mais ricos e
férteis para os artistas nacionais: o chamado
“Ciclo das revistas de terror!”,
feitas por editores de menor porte.
Assim, outros gráficos
do bairro da Móoca, se aproveitando do
sucesso alcançado pela revista Terror Negro
da La Selva, e da proibição desse gênero na
América, e também decidiram entrar na dança.
Em virtude disso, esse grupo de editores
menores acabaram conquistando uma
importante fatia do mercado editorial brasileiro
e com isso incentivando a produção nacional.”
A COMILANÇA
Contam alguns sobreviventes da época, que aos
sábados e domingos, aconteciam lautos almoços
e jantares na sede da La Selva. E que, nos dias
de semana, aconteciam muitas festas de aniversários
e outras comemorações. Enfim, tudo era motivo
para festejae ou para se comemorar,
segundo aquela alegre família italiana.
DEPOIMENTO DO
PROFESSOR
ALVARO MOYA
PROFESSOR
ALVARO MOYA
“O que para eles era o trivial, do dia a dia, para
nós eram verdadeiros banquetes dos deuses!
Se ganhávamos pouco com nossos desenhos
e ilustrações, recuperávamos tudo em comida.
Eu só voltaria a comer assim lautamente em
companhia do Reinaldo e do Cortez nos festivais
de Lucca, na Itália. Para a família La Selva,
comer era um ritual. A coisa era levada a sério.
Para nós, fanáticos pelas HQs, aquilo era
uma heresia. Levavam mais a sério a comilança
do que os quadrinhos. Mas, mesmo assim,
comíamos muito. E eles ainda queriam
que a gente levasse os amigos...”
Nota:
Nota:
Na época, a Editora La Selva conquistou um
importante espaço no mercado editorial
e cultural nacional, produzindo e distribuindo
revistas em geral e de HQs, e acabou fazendo
seu nome entrar de forma indelével para a
história das HQs no Brasil, ao lado de nomes como:
Adolfo Aizen, Roberto Marinho e Victor Civita.
Os nomes desses bravos guerreiros sempre
se destacaram no trabalho de difusão cultural do país.
Antes dos La Selva e dos Civita a supremacia
do mercado editorial nacional era dos
editores cariocas, como:
Adolfo Aizen e Roberto Marinho.
Adolfo Aizen e Roberto Marinho.
DEPOIMENTO DE JAYME CORTEZ
“A primeira vez que entrei na Editora La Selva,
em 1950, fui recebido pelo Reinaldo de Oliveira.
Ele estava acompanhado por dois amigos e colegas,
Álvaro Moya e o saudoso Syllas Roberg.
Pouco tempo depois, lá estávamos nós, tentando
vender um novo capista de gibi - eu -, cuja única
capa que fizera anteriormente fora feita para
a revista Repórter Policial, das Folhas.
Tanto o Reinaldo como o editor Vito La Selva
gostaram do meu trabalho.
Passei, então, durante muitos anos, a fazer
as capas daquela editora. Também tornei-me
parte do clã dos La Selva. Acabei virando
o diretor artístico da casa com total liberdade.
Nos especializamos no gênero terror, que
fora proibido nos States e criamos nossas
próprias histórias, nossa própria saga, que
acabou por revelar um grande
número de bons artistas brasileiros.
Fizemos revistas com comediantes de circos,
cinema e TV, sempre com autores nacionais.
Algumas histórias eram ainda importadas,
mas a maioria era escrita e desenhada pela
nossa grande equipe. Profissionais de São
Paulo e Rio de Janeiro. Tentávamos e muitas
vezes conseguíamos, com felicidade,
boas vendas nas bancas.
Nossos heróis e personagens nacionais atacavam
pelos flancos nossos queridos heróis importados,
como: Flash Gordon, Jim das Selvas, Tim
e Tok, Hopalong Cassid, etc.
Não posso me esquecer da dupla que fiz com o
saudoso colega Milton Júlio na revista
Contos de fadas, Varinha Mágica e Fantasia.
Essas revistas fizeram tanto sucesso que seus
direitos foram vendidos para o exterior.
Nota:
Naquela época, não tinham quase revistas policiais.
Naquela época, não tinham quase revistas policiais.
Mas a Editora La Selva teve a coragem de lançar
títulos como: Emoção e Contos de Mistério.
Neles Cortez fez parceria com o grande
locutor, jornalista e roteirista,
locutor, jornalista e roteirista,
Cláudio de Souza, que era o editor desses
novos produtos editoriais.
Anos depois, o desenhista e bengala brother,
Cláudio de Souza, se tornaria o poderoso
chefão da editora Abril, durante anos.
chefão da editora Abril, durante anos.
CORTEZ
"Também marcamos uns bons pontos no IBOPE
com o lançamento da revista Aventuras Heróicas
publicando obras do grande artista português E. T.
Coelho, meu mestre, e até Zumbi dos Palmares,
Prosseguiu Jayme Cortez...
"Conseguimos uma coisa importante para
"Conseguimos uma coisa importante para
a época: manter durante dois anos uma
revista de cinema, Cine-Fan, a única que nos
dava problemas econômicos, mas uma
grata satisfação.
Se somarmos tudo o que fizemos, a luta desses
valentes e honestos profissionais e os
grandes artistas que surgiram nessa época
e que continuaram batalhando no mercado
nacional, mesmo após o fechamento da
La Selva, acho que valeu a pena.
A editora cuja sede era na rua Pedro de Toledo,
com seu simpático sobrado, não era uma
multinacional, mas ajudou a lançar
muita gente boa...”
DEPOIMENTO DE JOSÉ FIORONE
“Gostando de quadrinhos e cinema, um dia
resolvi meter a cara e fui até a
antiga Editora La Selva,
antiga Editora La Selva,
onde conheci o Cortez e comecei a trabalhar –
isso foi lá por volta dos nos 50.
Como a gente não era registrado, trabalhávamos
como free-lancer, e assinávamos recibos de uma
só via, que ficava com a editora, nem sei exatamente
quando foi que comecei fazendo traduções
para as revistas Emoção e Contos de Mistério,
depois quadrinhos e artigos de cinema para a
Cine-Fan e, logo depois, tive a satisfação de
trabalhar ao lado do Cortez e do
falecido Milton Júlio”.
Nota: José Fiorone, anos depois, foi para a
editora Abril, onde se tornou o tradutor oficial
de todas as revistas Disney – inicialmente.
Essa parceria com a Abril durou muitos anos.
DEPOIMENTO DE
CLÁUDIO DE SOUZA
(radialista e jornalista, que anos
depois, se tornou o homem
forte da editora Abril)
“Em 1953, quando eu tinha apenas cinco anos de
(radialista e jornalista, que anos
depois, se tornou o homem
forte da editora Abril)
Capa do livro: O Homem Abril - Victor Civita e Cláudio de Souza |
profissão, começara em 1947 na Gazeta Esportiva
como repórter, passara no ano seguinte para
A Gazeta Juvenil, ainda em 1948 eu acumulara as
funções de redator da antiga Rádio Gazeta –
que tinha um alto padrão do rádio brasileiro,
que era seguido pelos concorrentes -, e em 1951
iniciara a minha longa carreira na editora Abril,
mesmo sem deixar a rádio, na qual eu passara
a trabalhar à noite.
Na ocasião, Jayme Cortez, velho companheiro da
Na ocasião, Jayme Cortez, velho companheiro da
Gazetinha, me perguntou seu eu ainda
conseguiria achar tempo para escrever alguma
coisa para uma pequena editora que estava
surgindo lá para os lados da Vila Mariana.
Embora, em 1953, a inflação não
fosse tão grave quanto
fosse tão grave quanto
a barbárie que virou nos anos 80 e 90, eu era
casado, já tinha duas filhas e estava pensando
seriamente em ter mais um filho,
ou uma terceira filha.
Naquele tempo, toda vez que um jornalista
pensava em aumentar a família, tratava logo de
arranjar mais um emprego. Aceitei a proposta.
A tal editora era de propriedade da família La Selva.
No meu primeiro contato com eles, aquele me
pareceu o melhor lugar de São Paulo para se
comer espaguete e beber vinho tinto.
A recepção que eles me ofereceram em sua
sala de jantar foi inesquecível.
Poucas semanas depois, eu já estava completamente
convicto de que eu passara a escrever para um
núcleo que permitia fazer uma bela carreira
no difícil ramo de editoras de revistas."
Nota: Gilda - Era o título de uma revista em quadrinhos destinada às garotas. Na América esse tipo de publicação era chamada de "Heartbreak" e fazia muito sucesso. O título aproveitava o embalo do filme homônimo de cinema, que havia obtido um grande êxito de bilheteria, e que foi estrelado por Rita Hayworth e Glenn Ford. |
Cartaz promocional do filme Gilda, um campeão de bilheteria |
"O meu trabalho com os La Selva sempre foi uma
saudável mistura de amizade e profissionalismo.
E assim se desenvolveu, e assim terminou, quando,
após vários anos, meus afazeres na editora
Abril me absorveram por completo.
Jamais pude esquecer a simpatia e o calor
humano de “seu” Vito e de dona Crescência,
que sempre procuravam (e como conseguiam!)
colocar em destaque o departamento
gastronômico da empresa, ao qual aderíamos
com grande entusiasmo nas memoráveis
noites de sábado; assim como guardarei para
sempre, as tertúlias editoriais com o Cortez,
Alberto Maduar, Jácomo, e os saudosos Paschoal
e Milton, quando elaborávamos revistas em
quadrinhos inteiramente nacionais – as
primeiras de publicação regular no país –
e realizávamos duas revistas policiais mensais,
que se mantiveram com ótima
circulação durante anos,
circulação durante anos,
fato inédito em nossos meios editoriais.
Naquela época, escrevi uma incontável série
de HQs com: Arrelia e Pimentinha, Fuzarca e
Torresmo, Fred e Carequinha ( famosos palhaços
de circo, rádio e da TV), Mazzaropi, Oscarito e
Grande Otelo (grandes astros das comédias do
cinema nacional).
Nota: Arrelia e Pimentinha eram os palhaços mais populares da TV e do circo. Também fizeram sucesso nos quadrinhos |
O veterano Messias de Mello desenhava a revista Arrelia e Pimentinha, inclusive as capas. Um grande sucesso editorial |
Cortez e o comediante e o grande cineasta Mazzaropi |
"Eu as escrevia durante a transmissão das
gravações musicais.
Como em meu horário de transmissão havia
sempre, pelo menos, um programa de música
clássica, com peças de longa duração, era ao
som de Chopin, Beethoven e Respighi que
saíam no papel as aventuras de todos aqueles
personagens – que eram famosos na época.
Para as revista policiais da casa, Emoção e
Contos de Mistério, cujo material eu
programava e editava, também escrevi com
enorme prazer duas séries de trabalhos.
Na primeira - Emoção -, desenvolvi a história
da literatura policial, através de biografias
dos grandes autores do gênero, o que muitos
anos mais tarde – mais precisamente em 1980 –
serviria de base para a série (de 15 programas),
chamada Elementar, Meu Caro Watson,
que escrevi e produzi em Londres para
o Serviço Brasileiro da BBC."
Nota:
Cláudio de Souza sempre foi um excelente
e criativo escriba. Continue lendo o
relato dele...
Nota:
Cláudio de Souza sempre foi um excelente
e criativo escriba. Continue lendo o
relato dele...
"O segundo trabalho que fiz para Contos de
Mistério, foi uma série de histórias de gozação
do próprio gênero policial, uma
sátira de estereótipos
sátira de estereótipos
consagrados, principalmente, pelos autores
americanos da área pulp.
Foi assim que surgiram, entre outros,
numa balbúrdia de anti-heróis,
o desconfiadíssimo detetive
Mike Dentedecoelho e a inefável
o desconfiadíssimo detetive
Mike Dentedecoelho e a inefável
Joaninha Maconha, a mais desdentada e
desbocada das contraventoras.
No meio de tudo isso, ainda achava tempo para
No meio de tudo isso, ainda achava tempo para
escrever desde crônicas sentimentais até
páginas de humorismo.
Entre estas, havia uma que Cortez e eu
perpetrávamos, às gargalhadas, talvez já sabendo
de antemão que poucos mais iriam rir com nossas
piadas: era uma seção chamada Caipirinha,
onde gozávamos tudo e todos, prudentemente
resguardados nos pseudônimos Cláudio Martini
e Jaime Cavalo Branco.
Bons tempos aqueles! E boas coisas aquelas!”
A GRÁFICA LA SELVA
a editora imprimia suas revistas em tudo quanto
era gráfica que tinha capacidade, principalmente
de acabamento. Empresas gráficas, como:
Bentivegna (que está na ativa até hoje);
Brusco e Cia, Gráfica Sangirardi e a
Editora Nova Mundo, eram algumas
daquelas que atendiam a família La Selva.
"Naquele tempo os produtos editorias da editora
La Selva não eram impressos em offset e
carregar para as gráficas, 32 páginas, mais 4 cores
das capas, em clichês montados, era uma tarefa
da pesada, literalmente. Havia muitas clicherias
em São Paulo e as que atendiam os
La Selva eram: a Universal e a Arte e Zinco.
Pouco tempo depois, as capas passaram a ser
impressas em offset pela Arte Gráfica do Brasil,
na rua Adolfo Miranda. A coisa só melhorou,
evoluiu, quando foi fechado um contrato
para a impressão do miolo com a
SAIB, gráfica da Editora Abril." -
elucidou Reinaldo de Oliveira.
elucidou Reinaldo de Oliveira.
A editora continuava crescendo
a passos largos, conquistando
novos leitores. Lançava 28 títulos por mês e a
tiragem total atingia um milhão de exemplares\mês.
Para agilizar a distribuição, em 1951, foi fechado
um contrato de exclusividade em todo território
nacional com a Fernando Chinaglia
Distribuidora, empresa que ficou famosa
que era da cidade do Rio de Janeiro.
que era da cidade do Rio de Janeiro.
Nota:
Recentemente, a segunda maior distribuidora do
país - Fernando Chinaglia -, foi comprada pela
DINAP (Distribuidora Nacional de Publicações),
do grupo Abril. Dessa fusão surgiu a
Trilog e o monopólio da distribuição no
território nacional.
DE VOLTA AO PASSADO...
Foi em 1958, com as revistas vendendo cada vez
mais, que surgiu o primeiro grave problema,
quando a gráfica SAIB comunicou À editora
La Selva sua decisão de não mais imprimir as
revistas, devido ao acúmulo de serviço – afirmaram –
causado pelo incremento das vendas da
Editora Abril, sua associada, segundo
o livro.
o livro.
DEPOIMENTO DE ENÉAS
GURGEL DO AMARAL
“Em pânico, nosso editor, teve que tomar uma
atitude drástica. Comprar e ampliar a Gráfica
e Editora Novo Mundo, de Victor Chiodi,
Miguel Penteado e Luiz Vicente Neto, que
também tinha sua linha de revistas, como:
Mundo de Sombras, Gato Preto, Lili, Sobrinhos
do Capitão e outras, foi a solução encontrada.”
Nota:
Nota:
Na certa, a seção de acabamento – ponto crucial
de toda editora que tem um parque gráfico –
foi modernizada para atender a demanda.
GURGEL...
GURGEL...
"O início foi tumultuado, afinal, uma gráfica é
um negócio complexo que exige tecnologia de
ponta e funcionários especializados.
A gerência desse novo empreendimento
da família foi entregue ao filho Jácomo.
Nessa etapa, já cansado, seu Vito já
havia se retirado dos negócios
entregando a editora aos seus filhos
havia se retirado dos negócios
entregando a editora aos seus filhos
Paschoal, Jácomo, Antoninho e Estevão."
quando fui trabalhar com
ele na Gráfica Editora Novo Mundo\Editora La
Selva, em 1960. Mesmo sendo da família e, inclusive,
morando na casa de seus pais eu o conhecia pouco.
Convivendo no dia a dia na gráfica aprendi a vê-lo
como ele realmente era: dinâmico, empreendedor,
seguro, com grande capacidade de liderança
e, coisa rara na época, tinha um excelente noção
de justiça social e de respeito.
Dava valor ao trabalho e ao trabalhador.
Jácomo, enquanto dirigiu a empresa, jamais
deixou de dar aumentos, às vezes até mensais,
ao funcionários e nunca, na data base
estipulada pelo sindicato dos gráficos.
Os salários pagos por ele estavam sempre
bem a frente do teto recebido pela categoria.
Os empregados adoravam ele.
Havia respeito mútuo."
Segundo aqueles que conviveram com Jácomo,
se no lazer, fora do ambiente de trabalho, ele era mão
aberta, no negócio fazia contas de centavo por
centavo. Era muito organizado, sabia separar as
coisas. Era honesto de nascença, fazia
tudo com absoluta correção.
GURGEL...
GURGEL...
"Aproveitando a força de suas boas tiragens, a
editora organizou um bom reembolso postal de
livros, tendo até editado, sozinha ou em
co-edição, diversas obras.
Várias empresas especializadas em fazer fotolitos
(os filmes que contém as páginas das revistas e
que iam para a gravação das chapas para imprimir
as cópias em offset), como a W. Storti e outras.
Esses filmes (fotolitos) eram bem rudimentar na
época. Foi só com o surgimento do lendário
Yanguer Estúdio Gráfico Ltda foi que
o processo se modernizou."
Nota:
Atualmente, as gráficas mais modernas,
Atualmente, as gráficas mais modernas,
nem precisam mais de fotolitos.
Dão saída diretamente de arquivos digitais fechados
em PDF. Com a evolução da informática milhares
de empresas de fotolitos acabaram, ou se
modernizando, ou fechando suas portas.
DÉCADA DE 60: ANO DA CISÃO
Os filhos do "seu" Vito, que em determinado momento dirigiram a editora mais popular de São Paulo, que mantinha 28 títulos e um milhão de exemplares por mês, nas bancas. Em pé: Jácomo e Antoninho. Sentados: Paschoal e Estevão |
Em 1960 houve uma cisão entre os membros
da família La Selva. Com a editora ficaram
Paschoal e Antoninho. Se retiraram dela o
Jácomo e, posteriormente, o
irmão mais novo, Estevão.
DEPOIMENTO DE HELENA
DEPOIMENTO DE
LÚCIA LAZARINI
LA SELVA
LÚCIA LAZARINI
LA SELVA
“ A impressão máxima que ficou de meu pai
foi os eu sentido de luta, sua hombridade, seu
espírito forte e senso de justiça. Costumava dizer
que o perdão era uma necessidade e
devia ser praticado sempre.
Eu me lembro que à mesa, no almoço e no jantar,
era comum meu pai contar para nós, filhas e filhos
e mãe, os incidentes do dia a dia na sua faina de
distribuidor de revistas; quando as revistas iam
bem e quando, infelizmente, iam mal.
Assisti também, e me lembro bem, do seu
contentamento quando, tornando-se editor, sua
vida econômica e financeira ficou melhor.
Nós, as mulheres, não trabalhávamos na editora,
apesar da mesma ficar e nossa própria casa, na
garagem, porque meu pai ainda era do sistema
do sistema que cabia aos filhos homens tomarem
conta do negócio. Para nós, as filhas mulheres,
só o estudo, que ele custeou para todas.
Quando saiam as revistas, cada qual
lia as que lhe interessava.
lia as que lhe interessava.
Eu não era ligada nas de terror ou policiais;
mas lia, habitualmente, revista como: Gilda, Lili,
Sobrinhos do Capitão e as infantis.
De todas as nós, apenas Afonsina teve um contato
direto com a editora.
Ela foi levada para trabalhar no escritório da
gráfica. E, com o falecimento de meu pai, em
1968, ficou com minha mãe à testa dos negócios,
até a dissolução da firma e venda das máquinas”.
Nota:
Porém, o negócio editorial não foi abandonado
pela tradicional família italiana. Estevão La Selva,
o mais novo dos irmãos, que começou trabalhando
na editora em 1957, quando da sua liquidação,
acabou montando sua própria firma, chamada
Editora e Gráfica Triestre.
Com as máquinas
Com as máquinas
e títulos adquiridos da antiga editora
reiniciou um novo ciclo de lançamentos editorias,
como: Gato Felix, Lili, Sobrinhos do Capitão
Varinha Mágica, Terror Negro, entre outros.
Nota: Oscarito e Grande Otelo eram comediantes populares do cinema nacional. O sucesso também aconteceu nas revistas em quadrinhos |
Estevão La Selva começou a editar em 1967,
na rua Carneiro Leão, e acabou se
estabelecendo definitivamente na rua
na rua Carneiro Leão, e acabou se
estabelecendo definitivamente na rua
João Alves de Lima, no bairro do Brás, dois
anos depois. Sua mais importante publicação foi
a revista masculina New Girl, cuja circulação
foi suspensa em 1981 – apesar do sucesso em
vendas -, por problemas com a censura prévia,
que naquela época chegava a proibir determinados
artigos, filmes, livros e produtos editorias
de sair nos pontos de venda.
A firma continua até hoje imprimindo
serviços de terceiros.
Em 1984, ela lançou a sofisticada revista Freezer –
sobre congelamento doméstico – que, se revelou
uma publicação de vanguarda, adiante do seu tempo
e foi um fracasso de vendas, visto que na referida
época os freezers ainda não eram tão popular
ou acessíveis no país.
Paralelamente a Editora La Selva, Jácomo La Selva,
tendo se desligado dos irmãos, inciou seu próprio
negócio em 1962, quando abriu a editora
Sublime e passou a editar as revistas: Só Risos e
Anedotas Para Todos.
Esses títulos de revistas humorísticas tinham
sido adquiridas de Victor Chiodi.
Nessas publicações ele criou, sabiamente,
o Reembolso Royal, que vendia
exclusivamente livros.
Esses produtos editorias tinham
material americano,
material americano,
mas elas eram completadas com desenhos
nacionais de Rivaldo e Queiroz. Essas revistas
de humor, inicialmente, eram rodadas na Editora
Griroflé, que tempo depois decidiu vender sua
oficina para o editor Jácomo La Selva.
No ano seguinte, ofereceram para Jácomo a
distribuição, para São Paulo, da revista americana
Playboy, que era distribuída para as demais
praças do Brasil pela Fernando Chinaglia.
Nessa altura do campeonato as duas revistas de
humor e a gráfica já tinham sido vendidas.
Os títulos foram para José Sidekerkis, da editora
Regiart – futuro editor de diversas publicações -,
e a gráfica, em troca de serviços, par
a o lendário Miguel Penteado, que mais
tarde pelo selo GEP (Gráfica Editora Penteado)
lançou revistas de quadrinhos, como: Capitão
Marvel e o Surfista Prateado, pela
primeira vez no país.
SURGE A REVISTA
PLAYBOY EDIÇÃO
AMERICANA
PLAYBOY EDIÇÃO
AMERICANA
A distribuição da edição americana da Playboy
foi feita com critério e acabou elevando a venda
deste produto para 10 mil exemplares, na
cidade de São Paulo. Graças ao sucesso obtido
pela editora Sublime, outros produtos
internacionais acabaram também sendo
oferecidos para que ela distribuísse no Brasil,
como: a revista Fiesta (italiana), Playmen
(americana), Mani di Fata (italiana)
e outros títulos. Somente Mano di Fata não
era publicação erótica.
era publicação erótica.
Essas revistas internacionais destinadas a adultos,
apesar das boas vendas, desencadearam uma série
de problemas com a censura existente no país
que às vezes liberava as revistas e outras as proibiam.
Houve um episódio ridículo em que a revista
Playboy foi literalmente presa e, não, apreendida.
Ela foi levada de camburão, por policiais, e
colocada numa cela destinada a presos políticos,
ou seja, numa cela destinada aos chamados
“terroristas” – gente que era contra o regime
ditatorial militar que estava instalado e ditava as
normas do país. Muita gente boa, na época,
acabou sendo torturada, pelos órgãos
repressivos do governo, ou acabaram desaparecendo
do mapa para sempre nesse período
cruel da história do Brasil.
cruel da história do Brasil.
A saída encontrada pelo editor foi parar
de distribuí-las durante dois
anos, entre 1974 e 1976.
Por fim, Jácomo decidiu – aproveitando o título
de uma revista italiana que ele distruíra e que
fizera sucesso -, lançar o título Fiesta, mas desta
feita, com material 100% nacional. Os editores
originais da Itália ficaram revoltados e
acionaram a Sublime na justiça, mas por
estarem mal assessorados perderam a causa e
ficaram sem receber os royalties que pleiteavam.
E apesar dos problemas que vira e mexe tinha
com a censura acabou se firmando no mercado
e chegou a vender 100 mil exemplares.
Durante um bom tempo este título deve uma boa
Esse sucesso levou a Sublime a lançar a
irmã menor de Fiesta, chamada de
Mini Fiesta, que passou a ser publicada
quinzenalmente, com uma tiragem
irmã menor de Fiesta, chamada de
Mini Fiesta, que passou a ser publicada
quinzenalmente, com uma tiragem
de 140 mil exemplares.
As edições especiais de
As edições especiais de
Carnaval da revista Fiesta também
vendiam muito.
vendiam muito.
Passaram pela redação de Fiesta, muitos
funcionários, desenhistas, redatores e
colaboradores, como:
Gaetano Gherardi, Vitor A. La Selva Neto,
Mário D. Capelossi, Pedro mauro Inforsato,
Darcy de Arruda, Carlos A. La Selva, Salvador
Ronzio, Luiz Rodrigues, João Batista Queiroz,
Mário Moraes, Alberto Maduar, Liba Frydman,
Amaury Júnior (o da televisão), Geandré
(cartunista), Alvaro B. de Jesus, João Francisco
( que se tornou dono da editora Flama,
que lançava a revista de HQ Abutre)
e inúmeros outros profissionais.
A editora Sublime marcou época e além desses
títulos de sucesso também enveredou por
outros lançamentos, de diversos gêneros,como:
humor, cinema, edições one-shot – como:
Emagrecer e Silvio Santos Magazine
(revista sobre o maior apresentador da
TV brasileira, que na época ainda não era
proprietário do SBT –
Sistema Brasileiro de Televisão).
Sistema Brasileiro de Televisão).
Em 1984, Simpatias que Curam – bimestral,
inicialmente -, foi lançada e também
se tornou um grande
inicialmente -, foi lançada e também
se tornou um grande
sucesso editorial.
Com a boa aceitação este título passou a
ser mensal e durou várias edições.
Diversificando suas atividades, mas sem
abandonar o mercado editorial, Jácomo Antonio
La Selva – rico -, decidiu implantar um complexo
turístico comercial na cidade de Atibaia,
interior de São Paulo. Esse complexo tinha
um centro comercial, restaurante, padaria,
lanchonete e até supermercado.
Jácomo La Selva sempre honrou o nome da
família e fez uma brilhante carreira no setor
editorial brasileiro até sua morte. Ele, assim
como seus ancestrais, deixou um legado
indelével nas páginas da história que
registram as grandes editoras que geraram
emprego, deram oportunidades para jovens
talentos e veteranos e que marcaram época
nesse país.
E pensar que tudo começou com
E pensar que tudo começou com
aquele italianinho chamado Vito Antonio La
Selva (1.900\1968), que um dia deixou a
Itália rumo ao Brasil.
Se o setor editorial brasileiro surgiu e cresceu muito
no último século devemos isto aos diversos povos que
vieram para o país, como: judeus, argentinos, italianos,
japoneses, etc.
Por Tony Fernandes
NÃO PERCA A SENSACIONAL ENTREVISTA COM
O ANIMADOR, ILUSTRADOR
E QUADRINISTA, QUE DESENHOU A PRIMEIRA
HQ DE METEORO, DE ROBERTO GUEDES,
CLÁUDIO OLIVEIRA
EM...
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Todos os Direitos Reservados
Grande historia dos La Selva. Apesar de, em um ou outro trecho, eu ficar confuso. Por não saber quem está falando o que. É maravilhoso ler depoimentos de quem viveu essa época que, infelizmente, não foi a minha. Muito obrigado por compartilha-las conosco, Tony.
ResponderExcluirEsperamos sua volta.
Grande Abraço
Só hoje, sábado, é que tive tempo de ler aqui no blog a postagem dessa matéria que escrevi na última sexta de madrugada e que postei ontem, nosso primeiro dia oficial de trabalho, após merecidas férias. O dia foi pauleira e foi impossível checar a postagem. De fato, descobri também trechos truncados no texto.
ResponderExcluirAcabei de ajustar tudo e acho que agora os depoimentos ficaram mais claros, caro bengala friend. Trata-se de uma grande história de luta, de garra e perseverança e está sendo um prazer poder compartilhar desses fatos com vcs.
Grato, pela visita, pelos comentários e pela ótima observação. Bom domingão!
Obrigado Tony! Sou o filho mais velho do João Batista Queiroz e emocionado pude ver coisas até ineditas para mim, a foto do meu pai engravatado é sublime!É muito gratificante ver que pessoas mantém a história viva! Continue e mais uma vez muito obrigado mesmo!
ResponderExcluirRene Queiroz
Grande, Rene... que prazer trombar com vc por aqui, filho de um desenhista fantástico, muito querido e um grande homem. Seu pai fez muito em prol das publicações nesse país, Rene, trabalhou para os estúdios Disney nos States e publicou trabalhos dos mais diversos estilos.
ResponderExcluirTive oportunidade de travar um contato mais próximo com ele qdo eu trabalhava com a editora Luzeiro, nos anos 80 e 90. O grande mestre Queiroz jamais deve ser esquecido. O que fiz foi resgatar um dos maiores nomes das HQs nacionais. Garto, por sua visita e apareça.
Gde mano amplexo!