segunda-feira, 8 de outubro de 2012

A ARTE ESPETACULAR DE BORIS VALLEJO!

   DESCOBRINDO 
UM GRANDE ARTISTA

Foi no final da década de 80 que eu descobri a lendária livraria Muito Prazer, comandada pelo querido bengala brother Valtão. Essa famosa livraria, que mais era uma gibiteria, ficava na avenida São João, bem no coração da capital paulista. Esse local era um verdadeiro paraíso para os artistas em geral e para os apreciadores de uma boa história em quadrinhos. Aos sábados editores, artistas e apreciadores de gibis se extasiavam com as publicações nacionais e com as luxuosas publicações importadas, que ela recebia de diversas partes do mundo. Naquele local o pessoal do metiê trocava informações sobre o mercado de trabalho, gibis, livros e, em geral, esse animado bate papo terminava num bom restaurante ou boteco da região regado com muita cerveja gelada. Franco de Rosa, Paulo Paiva, Gedeone Malagola, Primaggio, Vorney, eu, e outras feras, que faziam parte da população habitual flutuante que circulava semanalmente pelo aprazível local repleto de energia e novidades. Foi ali que pela primeira vez conheci a arte fantástica nos belos álbuns importados ilustrados por  Boris Vallejo. Suas maravilhosas pinturas acadêmicas, sempre fantasiosas, com certeza inspirou muita gente e fez despertar em nós, artistas e produtores gráficos, a paixão pela chamada “Fantasy art”.

A HISTÓRIA DO GENIAL PINTOR 
E ILUSTRADOR BORIS VALLEJO
        


      Boris Vallejo nasceu em 1941, em Lima, capital do Peru, país da América Latina. Ele estudou violino e também medicina. Curiosamente, abandonou o curso de medicina para estudar arte e ingressou na Escola Nacional de Belas Artes. Como em Lima não havia oportunidade para ele viver de sua arte decidiu emigrar para os Estados Unidos no ano de 1964, sem ter nenhum conhecimento do idioma inglês. A ideia inicial dele era trabalhar alguns anos na Américas, faturar, voltar ao Peru e abrir uma agência de publicidade.

 Naquela efervescente época a América estava às voltas com a guerra do Vietnã, o movimento hippie pregava paz e amor, enquanto a indústria do rock revelava ao mundo uma das melhores safras de músicos, compositores, intérpretes                                                                   e bandas de todos os tempos. Beatles, Rolling Stones, Bob Dylan, Elvis Presley, Janis Joplin, Jimmy Hendrix, Simon and Garfunkel e The Doors frequentavam as paradas de sucessos. Na América, as atenções para as artes estavam voltadas para o artista pop Andy Warhol (1928-1987), o homem que previu que no futuro o sucesso seria efêmero, de quinze minutos, para cada cidadão. Porém, Boris não queria seguir por esta mesma trilha. Não desejava enveredar pelo caminho da chamada “Pop Art”. Pensou até em desistir de sua arte.  Foi graças a um conselho do primo de seu pai que Boris não desanimou: “Se você não é o mais importante na pintura, deve ter controle na execução da técnica para fazer o que você realmente quer e ter seu talento reconhecido”.

   
  

  Boris sempre foi apaixonado pela arte clássica e pelas obras surrealistas de Rene Magritte e, especialmente pelas do gênio espanhol Salvador Dalí. Na década de 70, Boris Vallejo ficou impressionado com a arte fantástica do incrível Frank Frazetta (1928-2010). O peruano achava as figuras de Frazetta dinâmicas, seus personagens masculinos musculosos e suas mulheres voluptuosa, super sensuais. Toda aquela energia que ele via nos trabalhos de Frazetta lhe abriu os olhos para este tipo de ilustração, que ele tencionava há muito tempo desenvolver. Boris estava também muito interessado em fisiculturismo e na chamada “Fantasy Art”, que lhe oferecia a oportunidade de trabalhar com a perfeita anatomia  da figura humana e isto era o que ele mais desejava. 


         


Durante quatro décadas, que Boris viveu nos Estados Unidos  publicou mais de vinte cinco livros com suas pinturas e gravuras, além de ilustrar livros, capas de filmes e discos de bandas, HQs, entre outros e ele é na atualidade o artista mais bem sucedido na área da ficção, erotismo e “fantasy art”. Nos últimos anos, ele executou belos trabalhos artísticos para a Marvel Comics, Paramount Pictures, Ford Motor Company, Sony, Nike, Vintage Books e outros clientes renomados.
      Boris viveu durante 17 anos em New York, onde teve que superar inúmeras dificuldades até conseguir vender sua arte. Aos poucos seu talento passou a ser reconhecido. Quando a coisa melhorou mudou-se para Maplewood, New Jersey, que fica a quinze minutos da ilha de Manhatthan. Anos depois, fixou residência em Allentown, na Pensilvânia, onde ainda mora em uma casa com grandes jardins e dois ateliês, onde passou a ministrar aulas a seus discípulos.

 


Casou-se com a artista e fisiculturista Julie Bell em 1994. Ela além colaborar nas obras do marido – como modelo -, também trabalha executando pinturas de sua autoria (obras estas bem parecidas com as de Vallejo).
      Vire e mexe, Boris Vellejo viaja o mundo, pois é chamado para dar palestras e para expor suas obras. Porém, ele nunca recebeu um convite de seu país de origem, “Apesar do meu sucesso ter sido construído nos Estados Unidos, eu queria ter uma relação artística mais próxima com o meu país, com a minha gente.”



  
   
   


O PROCESSO DE TRABALHO
 DE BORIS VALLEJO

      Após adquirir meu primeiro livro do Boris, chamado  Mirage, lançado em 1982 -, eu ficava pensando: como um pintor poderia chegar a resultados tão fantásticos? Quando consegui comprar outro livro - Boris Vallejo: Fantasy Art Techniques, 1985, nele pude conhecer todo o processo de construção utilizado pelo artista para executar suas obras. Esse álbum é excelente  para quem deseja desenvolver uma boa arte e técnica de pintura e tem curiosidade em saber como ele trabalha. Nesta edição pode-se observar toda a excelência de seu talento. O texto a seguir foi baseado neste álbum fantástico que mostra passo a passo a forma como este genial autor constrói e executa suas obras.


A PRIMEIRA ETAPA (O Esboço)

      Na primeira parte da construção de uma pintura, Boris faz diversos rafes para criar a ideia do trabalho. Após definir o rafe, que representa a ideia original inicial com suas características como, por exemplo, luz, sombra, forma, personagens, tema, cenário, etc, Boris começa a definir um esboço mais complexo. “O pensamento de alguma forma vê as coisas diferentemente dos olhos. Na minha cabeça as coisas estão em movimento, eu tenho uma chance de pegá-las e colocá-las no papel. É como desenhar uma figura em movimento”, declarou o artista. Só depois que o esboço mais complexo está totalmente definido é que Boris parte para o “esboço final da ideia” finalizando com tinta nanquim e, às vezes até com tinta acrílica.     
       
   


  
   
SEGUNDA ETAPA (Utilizando a Fotografia)

     Depois que o esboço está bem definido, está pronto, o artista passa a utilizá-lo como base, como referência, para que ele passe para a segunda etapa no processo de criação, onde ele irá tirar fotos que irão ser utilizadas como base para o trabalho final, quando o artista prima pela perfeita anatomia. Neste segundo passo, após Boris contratar modelos para fotografá-los segundo sua concepção incial que ele já esboçou. Os modelos pousam utilizando o esboço inicial como referência. Segundo Boris, alguns alunos e outros artistas costumam questioná-lo, pois acham que essa técnica de pintar utilizando fotos, não seria uma forma correta de de  “trapacear” para executar uma obra artística? Pois os “antigos mestres” não utilizavam esta ferramenta. Em resposta Boris diz que utilizar a fotografia como apoio economiza tempo e dinheiro e o fato dos “antigos mestres” não a utilizarem foi porque não a haviam inventado, os “antigos mestres” faziam arte com modelos vivos, o que explica a questão de tempo e dinheiro.




      
  


TERCEIRA ETAPA
(Definindo a pintura)

      Boris, utilizando as fotografias dos modelos faz um último esboço bem detalhado, agora com grafite. Depois de concluído o esboço final, Boris faz a transferência do esboço para um papel chamado “Strathmore” da série “Cold Press Illustration Board”, que na verdade é um tipo de papel especial para a pintura com a tinta óleo. Utilizando os lápis H e 6H para desenhar bem definido o contorno dos objetos neste papel, Boris dá início a primeira 
fase da pintura.



            
 

QUARTA ETAPA
(Trabalhando com as cores)

      Na primeira fase da pintura, o artista começa usando uma única cor de tinta acrílica muito diluída. Segundo ele, na teoria, tintas a base de água e tinta a óleo não se misturam, pois não se combinam, visto que uma tende a isolar a outra. Mas isto depende de como você faz a diluição. “Eu uso o acrílico como se fosse tinta aquarela, ou seja, extremamente diluída”, explicou Boris, aos seus alunos.



        
               

QUINTA ETAPA
  (A segunda fase da pintura)

      Depois de concluída a pintura das formas com a tinta acrílica ele passa uma camada de tinta óleo com cores ainda bem transparentes, basicamente essas serão as cores que serão utilizadas na pintura final. Estas devem ser transparentes para não acobertar totalmente o esboço feito com a tinta acrílica. Estes dois estágios constituem no que é chamado “The underpainting”,
 ou seja, uma subpintura.
Segundo Boris: “Alguns artistas usam óleo de linhaça misturado com a tinta óleo para torná-la transparente. Esse é o método tradicional, mas demora demais para secar. Óleo de linhaça funciona sem problemas, mas retarda a secagem. Eu prefiro usar tiner para pintura e não a terebintina, que é produzida para artistas. Para mim o tiner feito nas indústrias de tintas – uma espécie de solvente fabricado a partir da resina de pinheiro - é o ideal ”.


SEXTA ETAPA (A fase final)

      Após ele terminar a etapa da subpintura, tem início a etapa de coloração final.
“Eu sempre começo trabalhando aplicando as cores do fundo. Acho que as figuras devem se ajustar ao fundo ordenadamente para dar a elas mais força. Quando você está pintando, as coisas no primeiro plano elas devem sobrepor o segundo plano.
”Após ter o fundo bem definido,  intensificado, Boris, passa a pintar o primeiro plano, geralmente começa pela cabeça e pescoço das figuras. Ao contrário dos demais artistas, ele não passa para outra parte da pintura sem que esteja finalizada a que está trabalhando. Por exemplo, enquanto não finalizar a cabeça não passará para o braço. Boris também ressalta em seu álbum: “Uma coisa que é muito importante para o artista iniciante é saber quando parar de trabalhar na sua pintura. Não se deve empastelar a obra. Mas, isto só se aprende com o tempo, com a experiência. Quanto mais inseguro é o artista, mais ele tende a sobrecarregar sua pintura. Todo artista deve se concentrar nas pequenas partes do quadro, inicialmente.”

O mestre latino das pinturas fantasiosas maravilhosas também dá uma última dica de suma importância:
“Há uma forte tendência das pessoas desistirem de trabalhar com óleo, pois as cores em suas telas se tornam “amarronzadas” devido à sobreposição de cores. Para se obter uma boa coloração com sucesso, não se pode simplesmente sobrepor uma cor a outra. O que eu faço é colocar uma cor bem perto da outra e depois misturar os seus limites. Desta forma as cores permanecem limpas, claras, originais, mantendo suas próprias características”.
Se você tem pretensões artísticas e conhece bem os trabalhos do mestre Boris Vallejo, siga as dicas acima e mãos à obra. Caso você não conheça bem o trabalho desse genial e talentoso latino, veja a seguir quais são os principais livros com as incríveis ilustrações de Boris que foram editados e podem ser adquiridos nas melhores casas do ramo e em livrarias especializadas:

Imaginistix (2006)
The Fabulous Women of Boris Vallejo and Julie Bell (2006)
The Ultimate Collection (2005)
Twin Visions (2002)
Fantasy Workshop
Sketchbook
Superheroes
Dreams: The Art of Boris Vallejo (1999)
Fantasy Art Techniques (1985)
Mirage (1982, reprinted 1996 & 2001)
The Fantastic Art of Boris Vallejo (1980)
Titans 

OBS: Anualmente Boris e Julie Bell lançam um calendário com 13 pinturas espetaculares, que são disputadas a peso de ouro pelos fãs e colecionadores .

Maiores informações?
Visite o site oficial: http://www.imaginistix.com/
Fontes: Biografia:
e os álbuns: Fantasy Art Techniques e Mirage.

Por Tony Fernandes\Estúdios Pégasus\Divulgação
Estúdios Pégasus é uma Divisão de Arte e Criação da
Pégasus Publicações Ltda – São Paulo – Brasil
Todos os Direitos Reservados.

OBS: Os direitos das imagens contidas nessa matéria especial pertencem ao autor e são meramente ilustrativas. Têm como único objetivo divulgar e prestar uma homenagem ao grande mestre de origem latina.

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