FERNANDO IKOMA:
UM DOS GRANDES ÍCONES
DAS HQs NACIONAIS!
DAS HQs NACIONAIS!
A entrevista a seguir começou a ser
realizada uma semana antes das
eleições presidenciais de 2010, que,
no segundo turno culminou com a
eleição da primeira presidenta do
Brasil, Dilma Rousset –, que venceu
outro pretendente ao cargo: José Serra .
Este delicioso bate-papo se
prolongou até duas semanas depois
do segundo turno eleitoral e veio
totalmente fragmentada, aos
poucos, visto que o meu entrevistado
além de ter dificuldades para
digitar as respostas – que segundo ele,
foram digitadas com apenas dois dedos -,
também dedicou total atenção a dar
seu depoimento de forma minúsciosa, sem
abster-se da verdade e respeitando a ordem
cronológica dos fatos.
Editar esta entrevista também foi
uma novela, um verdadeiro quebra-cabeça.
Principalmente, devido a falta absoluta
de tempo. Porém, por fim, depois de
dois dias trabalhando em cima
desta edição, afinal pude postar
esta (no dia 15/11/2010) que é,
sem dúvida, uma das mais
esperadas entrevistas pelos fãs
e amigos deste grande mestre das
HQs nacionais, que há muito
vem militando nas artes plásticas,
com sucesso, e que tanto contribui
com sua excelente produção
diferenciada dos demais autores
contemporâneos nos
tempos da editora Edrel.
uma novela, um verdadeiro quebra-cabeça.
Principalmente, devido a falta absoluta
de tempo. Porém, por fim, depois de
dois dias trabalhando em cima
desta edição, afinal pude postar
esta (no dia 15/11/2010) que é,
sem dúvida, uma das mais
esperadas entrevistas pelos fãs
e amigos deste grande mestre das
HQs nacionais, que há muito
vem militando nas artes plásticas,
com sucesso, e que tanto contribui
com sua excelente produção
diferenciada dos demais autores
contemporâneos nos
tempos da editora Edrel.
Mas, tudo isto, valeu a pena... pois
sua obra é imortal e entrou para
os anais da historia das HQs tupiniquins.
sua obra é imortal e entrou para
os anais da historia das HQs tupiniquins.
A seguir... leia o bate-papo – via e-mail,
graças ao bengala-friend da
confraria dos Bengalas Boys
Club, Sir Lancelott -, que precedeu
esta polêmica e reveladora
entrevista. Confira...
graças ao bengala-friend da
confraria dos Bengalas Boys
Club, Sir Lancelott -, que precedeu
esta polêmica e reveladora
entrevista. Confira...
Tony: É um imenso prazer poder entrevistá-lo para
este Blog e poder conhecer um pouco mais
sobre você, mestre Ikoma, uma pessoa que,
na época, inovou o mercado com suas
fantásticas criações, com temáticas que
faziam a diferença dos demais textos.
este Blog e poder conhecer um pouco mais
sobre você, mestre Ikoma, uma pessoa que,
na época, inovou o mercado com suas
fantásticas criações, com temáticas que
faziam a diferença dos demais textos.
Ikoma: Olá, Tony, tudo bem?
É um prazer conhecê-lo também!
É um prazer conhecê-lo também!
Principalmente porque ambos começamos
com o Minami Keizi e partilhamos da
amizade do Lancellott e ainda porque atuamos
um bom tempo na mesma área que são as HQs.
com o Minami Keizi e partilhamos da
amizade do Lancellott e ainda porque atuamos
um bom tempo na mesma área que são as HQs.
Nesses últimos meses, tenho tentado
responder a várias entrevistas e tudo tem
ficado pela metade , porque não é fácil
lembrar-me de tudo , ainda mais que já
se passaram mais de 30 anos.
responder a várias entrevistas e tudo tem
ficado pela metade , porque não é fácil
lembrar-me de tudo , ainda mais que já
se passaram mais de 30 anos.
Tenho cometido alguns deslizes de datas e
cronologia, alguma coisa tem ficado na
frente da outra, mas coisas sem muita importância...
cronologia, alguma coisa tem ficado na
frente da outra, mas coisas sem muita importância...
Tony: Sem problema... de vez em quando
também me dá uns brancos... acho que é
coisa da idade... (Rsss...). Eu e você, mestre,
fizemos muita coisa no setor editorial e fica
difícil, realmente, a gente lembrar de tudo
cronológicamente... isto é normal...
preparado? Então vamos lá...
também me dá uns brancos... acho que é
coisa da idade... (Rsss...). Eu e você, mestre,
fizemos muita coisa no setor editorial e fica
difícil, realmente, a gente lembrar de tudo
cronológicamente... isto é normal...
preparado? Então vamos lá...
Ikoma: Vamos...
COM FERNANDO IKOMA, LENDA
VIVA DAS HQs NACIONAIS!
Tony: Ainda me lembro muito bem... eu era
garoto quando pela primeira vez vi uma revista
da extinta e saudosa editora Edrel, na casa de
um amigo. Esta lendária casa editorial tinha
uma gama imensa de títulos dos mais
diversos gêneros, inclusive mangás.
Muitos anos depois - na década de 70 -,
entrei para o ramo, via M&C Editores,
dos queridos Minami e Cunha, e então tive
a grata satisfação de saber que o Minami era
um dos ex-sócios da Edrel.
Como você o conheceu?
Como era o seu relacionamento, com o mestre
Minami, escritor, desenhista e editor?
garoto quando pela primeira vez vi uma revista
da extinta e saudosa editora Edrel, na casa de
um amigo. Esta lendária casa editorial tinha
uma gama imensa de títulos dos mais
diversos gêneros, inclusive mangás.
Muitos anos depois - na década de 70 -,
entrei para o ramo, via M&C Editores,
dos queridos Minami e Cunha, e então tive
a grata satisfação de saber que o Minami era
um dos ex-sócios da Edrel.
Como você o conheceu?
Como era o seu relacionamento, com o mestre
Minami, escritor, desenhista e editor?
Naquela época, eu jamais poderia imaginar
a importância da Edrel ou do Minami - o cara
que me deu a primeira oportunidade -,
e de todo o time de excelentes profissionais
que compunham aquela casa.
Você fez parte deste time e deve ter
muitas histórias para contar...
Quantos desenhistas formavam a
a importância da Edrel ou do Minami - o cara
que me deu a primeira oportunidade -,
e de todo o time de excelentes profissionais
que compunham aquela casa.
Você fez parte deste time e deve ter
muitas histórias para contar...
Quantos desenhistas formavam a
grande equipe naquela época?
Ikoma: Quando eu cheguei na Edrel, os grupos
já estavam formados . Tanto o Seto como o
Fukue e o Fabiano já eram veteranos lá .
Eu entrei por acaso, mas como eu também
sou descendente de japoneses , deu- se a
impressão que comecei junto com a turma
do mangá, que aliás não manjo nada.
Na minha região, que era Alta Sorocabana,
tinha muitos nisseis, mas eram todos "fajutos",
porque ninguém conversava em japonês e
os nossos gibis eram os tradicionais da época .
Acho que ninguém da minha família
chegou a ver um mangá.
já estavam formados . Tanto o Seto como o
Fukue e o Fabiano já eram veteranos lá .
Eu entrei por acaso, mas como eu também
sou descendente de japoneses , deu- se a
impressão que comecei junto com a turma
do mangá, que aliás não manjo nada.
Na minha região, que era Alta Sorocabana,
tinha muitos nisseis, mas eram todos "fajutos",
porque ninguém conversava em japonês e
os nossos gibis eram os tradicionais da época .
Acho que ninguém da minha família
chegou a ver um mangá.
Tony: O interessante é que todos associam seu
nome aos mangás tupinquins... mas, agora a
coisa foi esclarecida. “Nisseis fajutos”?
Japoneses do Paraguai? (Rsss...). Esta foi ótima...
Grande mestre Fernando Ikoma,
aonde você nasceu?
nome aos mangás tupinquins... mas, agora a
coisa foi esclarecida. “Nisseis fajutos”?
Japoneses do Paraguai? (Rsss...). Esta foi ótima...
Grande mestre Fernando Ikoma,
aonde você nasceu?
Dia, mês e ano?
Ikoma: Nasci em Martinópolis, SP. Perto de
Presidente Prudente, no dia 22 de janeiro de1945.
Mas eu não acredito... penso que ainda sou um
garotão e gosto muito de esportes ( pratico alguns
deles) e a s vezes sonho que estou jogando
num estádio lotado, vestindo a camisa do
Borússia Dortmund . Por que Borússia?
Nem eu sei! Não tenho a mínima afinidade
com o futebol alemão .
Se fosse o Barça ou o Milan... até vai.
Presidente Prudente, no dia 22 de janeiro de1945.
Mas eu não acredito... penso que ainda sou um
garotão e gosto muito de esportes ( pratico alguns
deles) e a s vezes sonho que estou jogando
num estádio lotado, vestindo a camisa do
Borússia Dortmund . Por que Borússia?
Nem eu sei! Não tenho a mínima afinidade
com o futebol alemão .
Se fosse o Barça ou o Milan... até vai.
Não decifrei o meu sonho ainda.
Tony: Mais um caipira-cabeça no mundo
das HQs... (Rsss...) isto é maravilhoso...
Quer dizer que há um craque do futebol
adormecido aí dentro, mestre? (Rsss...).
Os espíritas diriam que esses antigos
registros mentais dos seus sonhos são
resquícios de sua última “encadernação” (Rsss...).
Digo, encarnação. Sou adepto da filosofia espírita.
Pra mim, Alan Kardec era o cara... perdemos
um craque, mas ganhamos um gênio das HQs...
muito bom... mas, pergunto:
Como e quando surgiu o
interesse por quadrinhos?
Ikoma: O interesse por quadrinhos
veio através da leitura.
Nada mais do que isso.
Queria ter muita grana para comprar gibis,
mas como a gente era durango, ficava muito feliz
quando conseguia trocar alguns, em frente ao
cinema nas matines. O interesse para fazer quadrinhos
não foi espontâneo... um camarada que punha fé em mim...
ele insistia o tempo todo para que eu fizesse gibis.
Coisa que eu acreditava que jamais faria, porque
veio através da leitura.
Nada mais do que isso.
Queria ter muita grana para comprar gibis,
mas como a gente era durango, ficava muito feliz
quando conseguia trocar alguns, em frente ao
cinema nas matines. O interesse para fazer quadrinhos
não foi espontâneo... um camarada que punha fé em mim...
ele insistia o tempo todo para que eu fizesse gibis.
Coisa que eu acreditava que jamais faria, porque
eu é que não botava fé em mim.
Tony: Este cidadão, que botava fé em você,
merece uma medalha. Ele tinha visão...
graças a ele pudemos conhecer o seu trabalho...
Deus salve esta boa alma... (Rsss...). Quem eram
seus ídolos ou revistas, da sua época de
infância e adolescência?
merece uma medalha. Ele tinha visão...
graças a ele pudemos conhecer o seu trabalho...
Deus salve esta boa alma... (Rsss...). Quem eram
seus ídolos ou revistas, da sua época de
infância e adolescência?
Ikoma: Meus ídolos eram aqueles que faziam
as histórias que eu e meus irmãos curtíamos:
Mandrake / Fantasma / Nick Holmes /Jim Gordon /
Capitão Marvel / Recruta Zero/ Os Sobrinhos do
Capitão / Pinduca / Big Ben Bolt, etc.
Mas o desenho que mais me marcou foi o
rosto e o jeitinho elegante da Branca de Neve
e os Sete Anões. Não sei quem desenhou,
mas posso dizer que foi a minha primeira
grande paixão. Dormia com o gibi debaixo
do meu travesseiro e senti uma dor de corno
bem grande quando alguém afanou a revista.
Nunca mais vi essa edição e como quase sempre
acontece, a nossa fantasia aumenta a qualidade
do desenho e a beleza da Branquinha de Neve.
as histórias que eu e meus irmãos curtíamos:
Mandrake / Fantasma / Nick Holmes /Jim Gordon /
Capitão Marvel / Recruta Zero/ Os Sobrinhos do
Capitão / Pinduca / Big Ben Bolt, etc.
Mas o desenho que mais me marcou foi o
rosto e o jeitinho elegante da Branca de Neve
e os Sete Anões. Não sei quem desenhou,
mas posso dizer que foi a minha primeira
grande paixão. Dormia com o gibi debaixo
do meu travesseiro e senti uma dor de corno
bem grande quando alguém afanou a revista.
Nunca mais vi essa edição e como quase sempre
acontece, a nossa fantasia aumenta a qualidade
do desenho e a beleza da Branquinha de Neve.
Claro que já superei tudo isso.
Só não acredito como eu poderia ser tão ingênuo
e idiota aos 13 anos! ... Meus filhos, quando tinham
sete ou oito anos já iam dormir debaixo
das cobertas das vizinhas.
Só não acredito como eu poderia ser tão ingênuo
e idiota aos 13 anos! ... Meus filhos, quando tinham
sete ou oito anos já iam dormir debaixo
das cobertas das vizinhas.
Tony: Pois é... nossa geração era babaca, esta
é que é a verdade... (Rsss...). A turma hoje
nasce antenada, ligeira... olha, também curti
muito os gibis citados por você, mesmo
pertencendo eu a uma geração depois da sua...
Voces – a galera da Edrel -, foram os precursores
do mangá no Brasil, apesar de você ter afirmado
que unca jamais pensou em fazer mangás.
Mesmo assim, gente como você, Paulo Fukue,
Cláudio Seto e outros, fizeram um trabalho
super importante na época, ao meu ver.
Porém, referindo-me especificamente
aos mangás...
é que é a verdade... (Rsss...). A turma hoje
nasce antenada, ligeira... olha, também curti
muito os gibis citados por você, mesmo
pertencendo eu a uma geração depois da sua...
Voces – a galera da Edrel -, foram os precursores
do mangá no Brasil, apesar de você ter afirmado
que unca jamais pensou em fazer mangás.
Mesmo assim, gente como você, Paulo Fukue,
Cláudio Seto e outros, fizeram um trabalho
super importante na época, ao meu ver.
Porém, referindo-me especificamente
aos mangás...
Naquela época remota (anos 60\70)
a garotada – todos nós -,
já era apaixonada por Nacional Kid, Ultraman,
Patrulha Fantasma, Speedy Race e outras poucas
séries japonesas que passavam a TV. Mas,
a gente nem sonhava em ver este estilo tipicamente
nipônico nas bancas. Quando os primeiros mangás
tupiniquins surgiram - feitos pelos "nossos
japoneses", ou seja, pelos descendentes dos
orientais-, foi um orgasmo total.
Naquela época essas inovadoras publicações
vendiam bem? Tem idéia das tiragens e
vendas alcançadas por esses produtos
vanguardistas da época?
a garotada – todos nós -,
já era apaixonada por Nacional Kid, Ultraman,
Patrulha Fantasma, Speedy Race e outras poucas
séries japonesas que passavam a TV. Mas,
a gente nem sonhava em ver este estilo tipicamente
nipônico nas bancas. Quando os primeiros mangás
tupiniquins surgiram - feitos pelos "nossos
japoneses", ou seja, pelos descendentes dos
orientais-, foi um orgasmo total.
Naquela época essas inovadoras publicações
vendiam bem? Tem idéia das tiragens e
vendas alcançadas por esses produtos
vanguardistas da época?
Ikoma: Quanto aos mangás, já expliquei que
sempre estive por fora. Só fui ver alguma coisa
e de montão na Edrel. Mas como não sei ler japonês,
nem me interessei, mas o pessoal lá curtia
bastante. ... Talvez, por isso, meus personagens
e histórias eram diferentes do que o pessoal
produzia lá. E talvez por isso mesmo o
Minami tenha se apegado a mim, pois
eu já vinha liberto das raízes orientais e no fundo
acho que era isso que ele também procurava ,
pois o seu personagem Tupãzinho
sempre estive por fora. Só fui ver alguma coisa
e de montão na Edrel. Mas como não sei ler japonês,
nem me interessei, mas o pessoal lá curtia
bastante. ... Talvez, por isso, meus personagens
e histórias eram diferentes do que o pessoal
produzia lá. E talvez por isso mesmo o
Minami tenha se apegado a mim, pois
eu já vinha liberto das raízes orientais e no fundo
acho que era isso que ele também procurava ,
pois o seu personagem Tupãzinho
não tinha nada à ver com mangá.
Guardei algumas reportagens elogiosas de
Minami a meu respeito e guardo isso com
muito orgulho, pois partindo dele, dono e
editor da Edrel, teve muito mais peso do que
muitas reportagens que se sucederam
no decorrer dos anos.
Quando lancei a Sibelle, A Espiã de Vênus,
ela foi matéria da página dupla no caderno
B do Jornal do Brasil.
O jornal falou sobre a minha Espiã de Vênus na
página central, dupla, do Jornal do Brasil.
Isso foi bom para o personagem, foi bom para
mim e foi bom também para a Edrel,
que aproveitando o gancho fez uma matéria
Minami a meu respeito e guardo isso com
muito orgulho, pois partindo dele, dono e
editor da Edrel, teve muito mais peso do que
muitas reportagens que se sucederam
no decorrer dos anos.
Quando lancei a Sibelle, A Espiã de Vênus,
ela foi matéria da página dupla no caderno
B do Jornal do Brasil.
O jornal falou sobre a minha Espiã de Vênus na
página central, dupla, do Jornal do Brasil.
Isso foi bom para o personagem, foi bom para
mim e foi bom também para a Edrel,
que aproveitando o gancho fez uma matéria
sobre a matéria da reportagem.
Fikom - Personagem criado por Fernando Ikoma para a editora Edrel, que marcou época, Tinha um texto criativo, que diferenciava o personagem dos demais títulos daquela casa editorial paulista. |
Tony: Você tem razão, se analisarmos
bem seu trabalho e o do Minami
nada tinham a ver com mangás...
muita gente associam voces ao estilo mangá,
mas pensando bem os “mangáseiros” eram
os outros...(Rsss...) quanto a Espiã de Venus,
comprei um exemplar. Era um ótimo material.
Sempre gostei do seu estilo.
Era corrido, mas muito bom, pra variar...
Lembro-me do famoso Curso Comics... cheguei até
a comprá-lo. Quem bolou aquilo,
bem seu trabalho e o do Minami
nada tinham a ver com mangás...
muita gente associam voces ao estilo mangá,
mas pensando bem os “mangáseiros” eram
os outros...(Rsss...) quanto a Espiã de Venus,
comprei um exemplar. Era um ótimo material.
Sempre gostei do seu estilo.
Era corrido, mas muito bom, pra variar...
Lembro-me do famoso Curso Comics... cheguei até
a comprá-lo. Quem bolou aquilo,
foi o Cláudio Seto?
Ikoma: O Curso Comics foi assim... os 2 ou3
primeiros fascículos foram feitos pelo Seto e
pelo Fabiano. Não sei porque carga d'água o
Minami passou o bastão para mim e à partir
do 4º (5º?) e até o 12º foi totalmente feito por
mim e longe da EDREL, já que eu
morava em Curitiba.
Se você tiver o curso completo vai notar que
houve uma mudança de estilo.
A única coisa que tenho do curso é o catálogo
a cores , com várias ilustrações que fiz na
época , com muita pressa , e que se fosse
hoje teria caprichado um pouquinho mais.
Também não tenho o livro A Técnica Universal
das Histórias em Quadrinhos e praticamente
nenhuma revista que escrevi.
das Histórias em Quadrinhos e praticamente
nenhuma revista que escrevi.
O que considero uma falta grave, pois quando
meu filho nº 4, fez 16 anos, ele veio me
perguntar se era verdade que eu já tinha feito HQ.
Respondi que sim e ele saiu meio que duvidando.
meu filho nº 4, fez 16 anos, ele veio me
perguntar se era verdade que eu já tinha feito HQ.
Respondi que sim e ele saiu meio que duvidando.
O meu contacto com o Lancellott e com tanta
gente boa que acabei conhecendo nesses
últimos meses só aconteceu porque
comecei a rastrear meus personagens
e tentar localizá-los na WEB. Na verdade
eu gostaria de saber quem está com meus
originais e se eles ainda existem.
E também estou procurando as revistas
com as histórias avulsas de sátiras e ficção
que andei escrevendo, intercalando
com as séries de Fikom, Satã,
Play-boy, Paquera, etc.
gente boa que acabei conhecendo nesses
últimos meses só aconteceu porque
comecei a rastrear meus personagens
e tentar localizá-los na WEB. Na verdade
eu gostaria de saber quem está com meus
originais e se eles ainda existem.
E também estou procurando as revistas
com as histórias avulsas de sátiras e ficção
que andei escrevendo, intercalando
com as séries de Fikom, Satã,
Play-boy, Paquera, etc.
Tony: Acho que não comprei o curso inteiro,
só as primeiras edições... pensei que ele tinha
sido feito só pelo Seto. Taí uma coisa que eu e
talvez muitos desconheciam... o Seto começou
o curso e você é que acabou assumindo a coisa...
interessante... o livro A Técnica Universal das
HQs acabei perdendo, na época. Sir Lancellott,
meu bengala-friend? Este é gente fina,
um grande pesquisador, assim como
Dom Alavrez, e o cara fez o maior compêndio
de super-heróis brasileiros, que já vi...
Mas, de volta a vaca-fria... Fora as revistas
de piadas, que eu achava geniais, os meus
heróis preferidos daquela época, além de
Fikom, eram: Pabeyma e Super Heros,
do Paulo Fukue, que anos mais tarde vim a
conhecer através do amigo Paulo Hamasaki.
De quem foi a idéia de lançar
heróis brasileiros?
só as primeiras edições... pensei que ele tinha
sido feito só pelo Seto. Taí uma coisa que eu e
talvez muitos desconheciam... o Seto começou
o curso e você é que acabou assumindo a coisa...
interessante... o livro A Técnica Universal das
HQs acabei perdendo, na época. Sir Lancellott,
meu bengala-friend? Este é gente fina,
um grande pesquisador, assim como
Dom Alavrez, e o cara fez o maior compêndio
de super-heróis brasileiros, que já vi...
Mas, de volta a vaca-fria... Fora as revistas
de piadas, que eu achava geniais, os meus
heróis preferidos daquela época, além de
Fikom, eram: Pabeyma e Super Heros,
do Paulo Fukue, que anos mais tarde vim a
conhecer através do amigo Paulo Hamasaki.
De quem foi a idéia de lançar
heróis brasileiros?
Ikoma: Não sei se já existia algum personagem
nacional na Edrel , mas desde que comecei,
só foi com personagens que eu mesmo criei.
Mas que poderiam ser criados em qualquer
país, pois acredito que eles tenham uma
linguagem universal. O Fikom foi noticiado
pelo Correio da Manhã de Porto Alegre
como o único personagem original brasileiro.
Talvez por causa do autor ter nascido
aqui na região, mas ele poderia ser ambientado
nacional na Edrel , mas desde que comecei,
só foi com personagens que eu mesmo criei.
Mas que poderiam ser criados em qualquer
país, pois acredito que eles tenham uma
linguagem universal. O Fikom foi noticiado
pelo Correio da Manhã de Porto Alegre
como o único personagem original brasileiro.
Talvez por causa do autor ter nascido
aqui na região, mas ele poderia ser ambientado
em qualquer lugar. Não acha?
Tony: Concordo, plenamente...
ele fala a linguagem
universal... sou defensor disto.
Pra mim uma boa HQ deve ter
linguagem universal...
mas, tem uma galera que insiste em fazer
personagens com fundo de pano regionalista,
isto nunca funcionou. Além do mais, quando
o pano de fundo é Brasil, agrada meia dúzia
de leitores, o resto torce o nariz pra coisa...
por outro lado tem uns babacas que dizem
que sou americanizado por ter criado um
super-herói chamado Fantatsicman e por
assinar Tony e por estar fazendo Apache
(uma publicação mensal da ed. As Américas),
uma HQ de western, é mole? Quer dizer
que uma banda nacional, não pode fazer
rock and roll? Isto é babaquice.
Quanto ao “Tony” –
só pra esclarecer pros panacas- , isto
vem de família e não é americanizado
porra nenhuma.
Era assim que a nona – minha avó, por parte
de mãe, que era italiana-, me chamava.
Mas, vamos em frente... Quando li Fikom,
pela primeira vez, notei que o personagem
era maravilhoso e diferenciado dos demais
produtos daquela casa editorial. Pirei,
literalmente. Era uma proposta totalmente
nova de HQ. Aqueles argumentos eram
fantásticos... Como surgiu a ideia de criar
este incrível personagem? Em que ano saiu a
primeira edição e quando a série acabou?
ele fala a linguagem
universal... sou defensor disto.
Pra mim uma boa HQ deve ter
linguagem universal...
mas, tem uma galera que insiste em fazer
personagens com fundo de pano regionalista,
isto nunca funcionou. Além do mais, quando
o pano de fundo é Brasil, agrada meia dúzia
de leitores, o resto torce o nariz pra coisa...
por outro lado tem uns babacas que dizem
que sou americanizado por ter criado um
super-herói chamado Fantatsicman e por
assinar Tony e por estar fazendo Apache
(uma publicação mensal da ed. As Américas),
uma HQ de western, é mole? Quer dizer
que uma banda nacional, não pode fazer
rock and roll? Isto é babaquice.
Quanto ao “Tony” –
só pra esclarecer pros panacas- , isto
vem de família e não é americanizado
porra nenhuma.
Era assim que a nona – minha avó, por parte
de mãe, que era italiana-, me chamava.
Mas, vamos em frente... Quando li Fikom,
pela primeira vez, notei que o personagem
era maravilhoso e diferenciado dos demais
produtos daquela casa editorial. Pirei,
literalmente. Era uma proposta totalmente
nova de HQ. Aqueles argumentos eram
fantásticos... Como surgiu a ideia de criar
este incrível personagem? Em que ano saiu a
primeira edição e quando a série acabou?
Ikoma: O Fikom foi criado há 40 anos atrás.
Na época eu havia escrito uns curtas de ficção
e era muito ligado nesse tema, tanto é que
mesmo após o Fikom e a Espiã de Vênus
escrevi muitas histórias de ficção.
Não de ETs, mas de teorias que
sempre encucaram a gente.
Por exemplo: "O Homem sem Sombra."
Fui o 1º a escrever uma história nesse gênero
a 40 anos atrás. Se hoje eu reeditasse essa
história me chamariam de plagiador.
" A moça da Janela da Frente " foi um título
interessante em 1970, mas agora,
”O Vizinho do Lado”, o”Vizinho da Frente”, etc.
Tem de montão por aí atualmente.
As histórias de ETs que escrevi, acho que
foram 3, mas não aparecia nenhum homenzinho
verde, não. A 1ª história - veja que estou
falando de 40 anos atrás-, por isso se
alguma coisa soar meio familiar
ou errado, dê um desconto.
Na época eu havia escrito uns curtas de ficção
e era muito ligado nesse tema, tanto é que
mesmo após o Fikom e a Espiã de Vênus
escrevi muitas histórias de ficção.
Não de ETs, mas de teorias que
sempre encucaram a gente.
Por exemplo: "O Homem sem Sombra."
Fui o 1º a escrever uma história nesse gênero
a 40 anos atrás. Se hoje eu reeditasse essa
história me chamariam de plagiador.
" A moça da Janela da Frente " foi um título
interessante em 1970, mas agora,
”O Vizinho do Lado”, o”Vizinho da Frente”, etc.
Tem de montão por aí atualmente.
As histórias de ETs que escrevi, acho que
foram 3, mas não aparecia nenhum homenzinho
verde, não. A 1ª história - veja que estou
falando de 40 anos atrás-, por isso se
alguma coisa soar meio familiar
ou errado, dê um desconto.
Tony: Sem problema... gozado, também gosto
muito de ficção-científica... Lincoln
Ishida, ele tambem fazia
muito de ficção-científica... Lincoln
Ishida, ele tambem fazia
parte do cast da editora, né?
Ikoma: Olhe, não me lembro do Lincoln.
Pode até ter sido meu companheiro, mas
como já falei, em 40 anos a gente esquece
alguma coisa. Talvez ele até fosse meu
contemporâneo, só que eu morava em
Curitiba e muita coisa que rolava na Edrel, aí em
S. Paulo, eu não ficava sabendo.
Pode até ter sido meu companheiro, mas
como já falei, em 40 anos a gente esquece
alguma coisa. Talvez ele até fosse meu
contemporâneo, só que eu morava em
Curitiba e muita coisa que rolava na Edrel, aí em
S. Paulo, eu não ficava sabendo.
Tony: Entendi, mestre... (Rsss...). Tupãzinho e
as Gatinhas, criações do fantástico Minami Keize,
também eram geniais. A garotada se matava
lendo as Gatinhas, que eram super sexys, pra época.
Não há dúvida de que os produtos
criados por voces eram arrojados e
inovadores. Garotas e Piadas, também era
um dos títulos de voces? Qtos anos durou
este verdadeiro "Boom" das
HQs na editora Edrel?
as Gatinhas, criações do fantástico Minami Keize,
também eram geniais. A garotada se matava
lendo as Gatinhas, que eram super sexys, pra época.
Não há dúvida de que os produtos
criados por voces eram arrojados e
inovadores. Garotas e Piadas, também era
um dos títulos de voces? Qtos anos durou
este verdadeiro "Boom" das
HQs na editora Edrel?
Ikoma: Olha, isso não posso responder com
certeza. Pois conforme já lhe expliquei, peguei
o bonde andando e desci antes do ponto final.
Então, é claro... perdi o começo e o final do filme.
Mas sei quem conhece o filme de cabo a rabo
e até de detalhes surpreendentes. Li o livro
do Gonçalo JR. “A Guerra dos Gibís nº 2” e o
que eu pensava que era um livro de efemérides,
era na verdade um documento
histórico brilhantemente
certeza. Pois conforme já lhe expliquei, peguei
o bonde andando e desci antes do ponto final.
Então, é claro... perdi o começo e o final do filme.
Mas sei quem conhece o filme de cabo a rabo
e até de detalhes surpreendentes. Li o livro
do Gonçalo JR. “A Guerra dos Gibís nº 2” e o
que eu pensava que era um livro de efemérides,
era na verdade um documento
histórico brilhantemente
contada pelo Gonçalo.
Vale a pena ler! São 500 páginas de pura emoção.
Li de uma tacada só e posso dizer que
através dele conheci um bocado do íntimo,
da índole, das fraquezas e das ambições
(ou ganâncias) de cada elemento que
fazia parte da EDREL e também do universo
de HQ daquela época. Como também fiz parte
daquele conjunto (mas fora do redemoinho)
senti em vários momentos a adrenalina subir
por causa de muitas injustiças que
fizeram com o Minami.
Li de uma tacada só e posso dizer que
através dele conheci um bocado do íntimo,
da índole, das fraquezas e das ambições
(ou ganâncias) de cada elemento que
fazia parte da EDREL e também do universo
de HQ daquela época. Como também fiz parte
daquele conjunto (mas fora do redemoinho)
senti em vários momentos a adrenalina subir
por causa de muitas injustiças que
fizeram com o Minami.
Tony: Sério? Não li este livro e vou procurá-lo,
com certeza... muita gente me disse que
sacanearam muito o mestre Miami.
Zoaram um cara que jamais fez mal à ninguém.
Ao contrário, ele ajudou muita gente, inclusive eu
e você... Mas, como se diz por aí “fdps e
Coca-Cola a gente encontra em qualquer
parte do mundo”... (Rsss...). Em todos os
ramos tem gente boa e ruim, o que salva
é que tem mais gente boa do que cretinos.
Anos depois, conheci o lendário editor
Marcílio e o excelente desenhista Fabiano –
este também foi um dos meus colaboradores
no meu estúdio -, que também fizeram parte
da editora. É verdade, que naquela época, a
Edrel era maior do que a Abril?
Ou isto é pura lenda?
A Edrel tinha parque gráfico,
caminhões, etc?
com certeza... muita gente me disse que
sacanearam muito o mestre Miami.
Zoaram um cara que jamais fez mal à ninguém.
Ao contrário, ele ajudou muita gente, inclusive eu
e você... Mas, como se diz por aí “fdps e
Coca-Cola a gente encontra em qualquer
parte do mundo”... (Rsss...). Em todos os
ramos tem gente boa e ruim, o que salva
é que tem mais gente boa do que cretinos.
Anos depois, conheci o lendário editor
Marcílio e o excelente desenhista Fabiano –
este também foi um dos meus colaboradores
no meu estúdio -, que também fizeram parte
da editora. É verdade, que naquela época, a
Edrel era maior do que a Abril?
Ou isto é pura lenda?
A Edrel tinha parque gráfico,
caminhões, etc?
Lembro-me da última vez em que lá estive,
ainda na sede antiga.
Fiz, como de costume, pegava o último
ônibus noturno em Curitiba e chegava
em São Paulo de manhã.
A editora estava vazia e eu fui
entrando até chegar numa sala
onde estavam reunidos o Marcílio, o Minami e
o Jinky. Não sabia que eles tinham dispensado
o pessoal para fazer aquela reunião que deveria
ser importante para eles. Nem me toquei e como o
Minami me falou para sentar, fiquei por lá ouvindo
a conversa. O que deu para notar é que cada
um estava puxando a brasa para a sua sardinha
e o que mais se ouvia era: “...se não fosse eu “,
...ou ... “se não fosse a minha gráfica”... etc.
Numa visível fogueira de vaidades.
Claro que se o papo era esse, cada um estava
se vangloriando do sucesso da EDREL.
Quando cheguei em Curitiba, falei para
minha noiva que a Edrel estava se dissolvendo
e foi isso o que aconteceu mais tarde.
O que me deixou revoltado quando li o livro,
foi que o Minami, o idealizador de tudo
ficara com a parte podre da maçã.
minha noiva que a Edrel estava se dissolvendo
e foi isso o que aconteceu mais tarde.
O que me deixou revoltado quando li o livro,
foi que o Minami, o idealizador de tudo
ficara com a parte podre da maçã.
Tony: Pelo que me consta, quem comandava o
parque gráfico era o Marcilio... Jinky, bem
lembrado, este nome... conheci ele anos depois...
tornou-se o bamba dos fotolitos lazer em
São Paulo... Olha, quando o Fabiano – desenhista
que fez muitos trabalhos para a Ed. Luzeiro, como:
a famosa série de catecismo com a marca
“Carreira” e milhares de outras séries, edições
de piadas e, inclusive, Juvêncio, o herói do
sertão, etc -, passou a freqüentar meu estúdio
ele era um cara completamente abalado
psicológicamente e vivia afogando as
maguas na cachaça. Por mais que eu
bronqueasse com ele por causa da “mardita”,
não tinha jeito. Ele foi um grande profissional,
pintava como ninguém, mas era, infelizmente,
um dependente alcoólico terrível.
Mas, tinha um bom coração, era uma boa pessoa.
Chegava a ser ingênuo. Como eu tinha ouvido
muitas lendas sobre Edrel e sobre o
Marcílio, um dia decidi perguntar sobre
essas lendas. Ao tocar no nome do Marcílio
o Fabiano se transtornou. Começou a xingar
e disse que odiava o cara que tinha sacaneado
ele e acabado com a vida dele.
Revelou que ele – Fabiano - fora convidado
para participar da sociedade - da Edrel -,
quando ela estava indo pro saco, literalmente,
e que quando a editora fechou todos os
demais sócios sumiram – inclusive o Minami.
Quando a bucha estourou, ainda segundo
o Fabiano, a coisa explodiu no rabo dele.
Me contou, também, que os oficiais de
justiça foram bater na porta da casa dele, na
Vila Maria, para retirar seus móveis alegando
que tudo ia para leilão para pagar as dividas
deixadas por seus ex-sócios.
O Fabiano bravejava e chorava de raiva.
Fiquei boquiaberto de ver e ouvir tudo aquilo,
de gente que eu nem conhecia.
Nunca disse isto a ninguém, mas fiquei
impressionado de ouvir aquele relato.
Daí, sempre fiquei com um pé atrás em relação
ao tal Marcílio. Achei o cara um tremendo
mau-caráter, o capeta, e até cheguei a
questionar sobre o Miami, juro.
Muitos anos depois, conheci o Marcílio
pessoalmente. Era um senhor calvo, gordo,
de meia idade, simpático, bom papo que,
segundo me disseram - pós-Edrel-, ficara rico
e que tinha se estabelecido numa cidadezinha
do interior paulista. Quando o conheci estava
quebrado e de volta a esta cidade.
Ele não pareceu ser o monstro que eu imaginava.
Até ficamos amigos e cheguei até produzir
HQs eróticas para ele – MED editora – coleção New Eros.
Pagou direitinho. Enfim, pessoalmente não
tenho nada contra ele. O homem ainda vive
em São Paulo, tem uma editora e anda com
sérios problemas de saúde.
Seus tempos áureos já passaram. Um dia,
perguntei pra ele sobre o Fabiano...
ele enalteceu o cara, como um grande artista que,
infelizmente, era alcoólatra.
De fato, tempos depois o amigo Fabi acabou
morrendo de convulsão alcoólica.
E eu, até hoje, fico matutando aqui sobre aquela
irada narrativa, sobre o Marcilio, Jinky e Minami...
será que eles sumiram mesmo, e deixaram
o pobre Fabiano na mão? Eterno mistério...
Hmmm... desculpe-me, divaguei... me
alonguei demais... o entrevistado aqui é
você... Na sua opinião, o que levou a editora
Edrel a quebrar ou a fechar?
parque gráfico era o Marcilio... Jinky, bem
lembrado, este nome... conheci ele anos depois...
tornou-se o bamba dos fotolitos lazer em
São Paulo... Olha, quando o Fabiano – desenhista
que fez muitos trabalhos para a Ed. Luzeiro, como:
a famosa série de catecismo com a marca
“Carreira” e milhares de outras séries, edições
de piadas e, inclusive, Juvêncio, o herói do
sertão, etc -, passou a freqüentar meu estúdio
ele era um cara completamente abalado
psicológicamente e vivia afogando as
maguas na cachaça. Por mais que eu
bronqueasse com ele por causa da “mardita”,
não tinha jeito. Ele foi um grande profissional,
pintava como ninguém, mas era, infelizmente,
um dependente alcoólico terrível.
Mas, tinha um bom coração, era uma boa pessoa.
Chegava a ser ingênuo. Como eu tinha ouvido
muitas lendas sobre Edrel e sobre o
Marcílio, um dia decidi perguntar sobre
essas lendas. Ao tocar no nome do Marcílio
o Fabiano se transtornou. Começou a xingar
e disse que odiava o cara que tinha sacaneado
ele e acabado com a vida dele.
Revelou que ele – Fabiano - fora convidado
para participar da sociedade - da Edrel -,
quando ela estava indo pro saco, literalmente,
e que quando a editora fechou todos os
demais sócios sumiram – inclusive o Minami.
Quando a bucha estourou, ainda segundo
o Fabiano, a coisa explodiu no rabo dele.
Me contou, também, que os oficiais de
justiça foram bater na porta da casa dele, na
Vila Maria, para retirar seus móveis alegando
que tudo ia para leilão para pagar as dividas
deixadas por seus ex-sócios.
O Fabiano bravejava e chorava de raiva.
Fiquei boquiaberto de ver e ouvir tudo aquilo,
de gente que eu nem conhecia.
Nunca disse isto a ninguém, mas fiquei
impressionado de ouvir aquele relato.
Daí, sempre fiquei com um pé atrás em relação
ao tal Marcílio. Achei o cara um tremendo
mau-caráter, o capeta, e até cheguei a
questionar sobre o Miami, juro.
Muitos anos depois, conheci o Marcílio
pessoalmente. Era um senhor calvo, gordo,
de meia idade, simpático, bom papo que,
segundo me disseram - pós-Edrel-, ficara rico
e que tinha se estabelecido numa cidadezinha
do interior paulista. Quando o conheci estava
quebrado e de volta a esta cidade.
Ele não pareceu ser o monstro que eu imaginava.
Até ficamos amigos e cheguei até produzir
HQs eróticas para ele – MED editora – coleção New Eros.
Pagou direitinho. Enfim, pessoalmente não
tenho nada contra ele. O homem ainda vive
em São Paulo, tem uma editora e anda com
sérios problemas de saúde.
Seus tempos áureos já passaram. Um dia,
perguntei pra ele sobre o Fabiano...
ele enalteceu o cara, como um grande artista que,
infelizmente, era alcoólatra.
De fato, tempos depois o amigo Fabi acabou
morrendo de convulsão alcoólica.
E eu, até hoje, fico matutando aqui sobre aquela
irada narrativa, sobre o Marcilio, Jinky e Minami...
será que eles sumiram mesmo, e deixaram
o pobre Fabiano na mão? Eterno mistério...
Hmmm... desculpe-me, divaguei... me
alonguei demais... o entrevistado aqui é
você... Na sua opinião, o que levou a editora
Edrel a quebrar ou a fechar?
Ikoma: Acho que com a resposta anterior já
respondi esta. Mas afirmo, a bondade e o coração
do Minami foi uma das causas. Se ele tivesse
jogado duro acho que a história seria outra.
respondi esta. Mas afirmo, a bondade e o coração
do Minami foi uma das causas. Se ele tivesse
jogado duro acho que a história seria outra.
Tony: Quando surgiu no Paraná a editora Grafipar,
com uma série de quadrinhos eróticos
assinados pelo Seto, pensei:
"Uau! O cara está firme ainda e, com certeza,
vai tentar fazer desta editora uma nova Edrel”.
Tive o prazer de conhecê-lo e trabalhar
também para a Grafipar, fazendo "freelas",
pois era funcionário da ed. Noblet, na época.
De fato, em pouco tempo a Grafipar
cresceu e era comum fazermos reuniões “mis”
com desenhistas de todo o país lá no Bairro
da Santa Felicidade em Curitiba, um paraíso
gastronômico. Só faltou você por lá. O time
reunido pelo Seto só tinha fera, como:
Franco, Watson, Mozart Couto, Shima,
Colin, e outros bambas. Não me lembro bem...
mas, me parece que você não produziu
nada para eles, correto? Por quê?
com uma série de quadrinhos eróticos
assinados pelo Seto, pensei:
"Uau! O cara está firme ainda e, com certeza,
vai tentar fazer desta editora uma nova Edrel”.
Tive o prazer de conhecê-lo e trabalhar
também para a Grafipar, fazendo "freelas",
pois era funcionário da ed. Noblet, na época.
De fato, em pouco tempo a Grafipar
cresceu e era comum fazermos reuniões “mis”
com desenhistas de todo o país lá no Bairro
da Santa Felicidade em Curitiba, um paraíso
gastronômico. Só faltou você por lá. O time
reunido pelo Seto só tinha fera, como:
Franco, Watson, Mozart Couto, Shima,
Colin, e outros bambas. Não me lembro bem...
mas, me parece que você não produziu
nada para eles, correto? Por quê?
Ikoma: Tenho boas recordações da Grafipar
porque eles editavam o jornal Correio de
Notícias e eles fizeram algumas reportagens
de exposições minhas. Reuni-me várias vezes
com O Seto na Grafipar e também com e
El Kathib de quem me simpatizei bastante.
Sempre fiquei de colaborar, mas eu não
queria seguir uma linha somente erótica.
Eu já estava nas artes plásticas e esse novo
público era meio puritano e me aconselhava
a ficar só na pintura. Claro que eu fazia o
que eu queria e pensei várias vezes em voltar
a escrever. Mas a arte e as aulas estavam
tomando muito meu tempo. Mesmo assim
escrevi uma única história que foi publicada
na revista “FÊMEAS” e se intitulava
" Olívia a Última Virgem". Curiosamente só
esses dias passeando na Internet é que vi
essa revista à venda e vi o meu título na capa.
Eu achava que a historia tinha
saído na Eros ou na Peteca.
Tony: Agora deu pra entender... você não quis
misturar as estações e ter que dar explicações
aos preconceituosos... mas, por fim, não resistiu
(Rsss...) e acabou publicando na revista
“Fêmeas”, isto eu não sabia... perdi
este raríssimo exemplar que trouxe a primeira
e única HQ erótica feita por você. Leram isto
colecionadores? Esta raridade deve valer
uma nota preta, hoje. Todos nós sabemos
das dificuldades de se viver de HQs no país
e no mundo. Aqui, a coisa é um pouco pior,
principalmente para quem constitui família
e quer levar uma vida normal.... Por isso,
ao longo dos anos, o que vi
foram muitos exôdos...
gente largando as editoras e correndo para
a publicidade, área onde a arte é mais bem
remunerada – umas 20 vezes mais.
Isto também ocorreu com você?
misturar as estações e ter que dar explicações
aos preconceituosos... mas, por fim, não resistiu
(Rsss...) e acabou publicando na revista
“Fêmeas”, isto eu não sabia... perdi
este raríssimo exemplar que trouxe a primeira
e única HQ erótica feita por você. Leram isto
colecionadores? Esta raridade deve valer
uma nota preta, hoje. Todos nós sabemos
das dificuldades de se viver de HQs no país
e no mundo. Aqui, a coisa é um pouco pior,
principalmente para quem constitui família
e quer levar uma vida normal.... Por isso,
ao longo dos anos, o que vi
foram muitos exôdos...
gente largando as editoras e correndo para
a publicidade, área onde a arte é mais bem
remunerada – umas 20 vezes mais.
Isto também ocorreu com você?
Ikoma: Para mim ocorreu o contrário...
Tony: Deve estar brincando...
Ikoma: Fui um publicitário, um layout man e
um diretor de arte que pirou e fui literalmente
pastar de porta em porta das editoras durante
mais ou menos 1 ano e ganhar uns 50 ou 60 “nãos”.
Em media eu recebia de 5 a 10 “nãos” de cada editora.
um diretor de arte que pirou e fui literalmente
pastar de porta em porta das editoras durante
mais ou menos 1 ano e ganhar uns 50 ou 60 “nãos”.
Em media eu recebia de 5 a 10 “nãos” de cada editora.
Tony: Dá pra explicar melhor?
Ikoma: Explico: A única área que nunca me
ofereceu resistência, onde sempre tive as portas
abertas e uma ascensão meteórica, altos salários
e convites, sem parar, foi na publicidade.
E se foi uma coisa que jurei nunca mais
por os pés foi numa agência de publicidade,
e mantenho essa palavra até hoje.
ofereceu resistência, onde sempre tive as portas
abertas e uma ascensão meteórica, altos salários
e convites, sem parar, foi na publicidade.
E se foi uma coisa que jurei nunca mais
por os pés foi numa agência de publicidade,
e mantenho essa palavra até hoje.
Tony: Coisa de maluco... acho que ninguém
podia imaginar que sua carreira começou numa
agência e, de repente, virou para
as editoras... continue...
Ikoma: Aqui, em Curitiba, trabalhei na Exclan e
com 17 anos fiz um folder para a refrigeração
Paraná (Prosdócimo), que era um livreto de
umas vinte páginas totalmente ilustrada com
muitas famílias e carinhas felizes que perdurou
por mais de 40 anos como o manual de instruções
das geladeiras Prosdócimo.
Aos 19 anos tornei-me diretor de arte da equipe
de propaganda daquela que era a maior
agência do Paraná e detinha as 30 maiores contas
do Estado. Dia e noite criava campanhas,
logotipos e storyboards que se tornaram
sucesso, mas me deixavam meio paranóico.
Na verdade essa foi a 1ª etapa da paranóia.
Acho que a mente tem um limite para a criação
e nessa agência acho que tive no limiar desse limite.
Eu era um garoto, de família pobre, e agora
estava ganhando como um superstar.
Era um prodígio na publicidade, mas estava
a cada dia mais infeliz!
com 17 anos fiz um folder para a refrigeração
Paraná (Prosdócimo), que era um livreto de
umas vinte páginas totalmente ilustrada com
muitas famílias e carinhas felizes que perdurou
por mais de 40 anos como o manual de instruções
das geladeiras Prosdócimo.
Aos 19 anos tornei-me diretor de arte da equipe
de propaganda daquela que era a maior
agência do Paraná e detinha as 30 maiores contas
do Estado. Dia e noite criava campanhas,
logotipos e storyboards que se tornaram
sucesso, mas me deixavam meio paranóico.
Na verdade essa foi a 1ª etapa da paranóia.
Acho que a mente tem um limite para a criação
e nessa agência acho que tive no limiar desse limite.
Eu era um garoto, de família pobre, e agora
estava ganhando como um superstar.
Era um prodígio na publicidade, mas estava
a cada dia mais infeliz!
Tony: Caraca...
Ikoma: Só Freud explica! Como é que eu poderia
estar pensando em largar aquela mina de ouro?
Até então eu nunca tivera um salário digno e
agora que podia amarrar o burro na sombra...
estar pensando em largar aquela mina de ouro?
Até então eu nunca tivera um salário digno e
agora que podia amarrar o burro na sombra...
Quando pedi demissão, ninguém acreditou!
Tony: Nem eu to acreditando, mestre...
Ikoma: Meu patrão deu-me mais um dos
inúmeros aumentos que ele me dera durante
a ascenção da agência.
inúmeros aumentos que ele me dera durante
a ascenção da agência.
Mas eu estava irredutível.
O chefe do pessoal levou-me num canto e
mostrou-me a contabilidade da agência
e tentando mostrar a
mostrou-me a contabilidade da agência
e tentando mostrar a
loucura que eu estava fazendo.
Tony: O cara foi descente...
Ikoma: Ele abriu a folha de pagamento e me
mostrou um dado confidencial que soa
inacreditável e até hoje parece mentira.
Mas, que afirmo que é verdadeira.
A agência tinha 31 funcionários, incluindo
contatos, redatores secretárias, desenhistas
e até pessoas de alto nível como Norton
Macedo que se tornaria deputado estadual
com uma expressiva votação, tempos depois.
mostrou um dado confidencial que soa
inacreditável e até hoje parece mentira.
Mas, que afirmo que é verdadeira.
A agência tinha 31 funcionários, incluindo
contatos, redatores secretárias, desenhistas
e até pessoas de alto nível como Norton
Macedo que se tornaria deputado estadual
com uma expressiva votação, tempos depois.
O meu salário era igual a soma
dos outros trintas reunidos.
dos outros trintas reunidos.
Tony: Ô loco...
Ikoma: Só aí tive a dimensão do que eu
representava para a agência.
Mas eu estava doente e precisava ir embora.
representava para a agência.
Mas eu estava doente e precisava ir embora.
Tony: Doente?
Ikoma: É. Eu já tinha um bom pé de meia e deixei
a maior parte com meus pais e meus irmãos
e fui embora para o Rio de Janeiro sem
mesmo saber o porque.
a maior parte com meus pais e meus irmãos
e fui embora para o Rio de Janeiro sem
mesmo saber o porque.
Tony: Surtou? Piração total, meu bengala-friend?
Ikoma: Eu já tinha estado no Rio, tempos atrás,
com uma turma de amigos e tinha gostado
e talvez por isso achei que lá eu poderia ser feliz.
Pelo contrário. Passei uma solidão lá é só não
voltei porque sou um pouco orgulhoso e
não queria dar a impressão de que quebrei
a cara e que estava arrependido.
com uma turma de amigos e tinha gostado
e talvez por isso achei que lá eu poderia ser feliz.
Pelo contrário. Passei uma solidão lá é só não
voltei porque sou um pouco orgulhoso e
não queria dar a impressão de que quebrei
a cara e que estava arrependido.
Continuei por lá, morando no Hotel Martinique,
na rua Sá Ferreira posto 6...
Tony: Conheço esta rua... perdão, continue...
Ikoma: ... e a cada dia comia num lugar diferente.
Meus amigos de conversa eram os porteiros e
ascensoristas do hotel. Não sei quanto tempo
morei no hotel, mas estava chato continuar lá.
Meus amigos de conversa eram os porteiros e
ascensoristas do hotel. Não sei quanto tempo
morei no hotel, mas estava chato continuar lá.
Então mudei para o Leblon...
Tony: Grande bairro, classe “A”...
Ikoma: ... e fui morar com uma mãe e filha
potiguar que aceitavam hóspedes. Os hóspedes
eram: eu num quarto e o filho de um diplomata no outro.
Nós dois bancávamos aquele enorme apartamento
em troca de almoço e roupa lavada.
Mesmo assim saia mais barato
do que morar no hotel.
Anos depois, fiquei sabendo que tinha sido
vizinho de prédio do grande Carlos
Drumond de Andrade.
potiguar que aceitavam hóspedes. Os hóspedes
eram: eu num quarto e o filho de um diplomata no outro.
Nós dois bancávamos aquele enorme apartamento
em troca de almoço e roupa lavada.
Mesmo assim saia mais barato
do que morar no hotel.
Anos depois, fiquei sabendo que tinha sido
vizinho de prédio do grande Carlos
Drumond de Andrade.
Tony: Que bacana...
Ikoma: Um dia o dinheiro começou acabar.
Eu nunca liguei para dinheiro, mas a falta dele
me deixa um bocado preocupado. Nunca deixo
ele acabar totalmente e antes que isso
aconteça eu já começo a me virar.
Minha cabeça já estava no lugar e resolvi
procurar uma agência de publicidade.
Eu nunca liguei para dinheiro, mas a falta dele
me deixa um bocado preocupado. Nunca deixo
ele acabar totalmente e antes que isso
aconteça eu já começo a me virar.
Minha cabeça já estava no lugar e resolvi
procurar uma agência de publicidade.
Fui na Mauro Salles Interamericana
de Publicidade...
de Publicidade...
Tony: Uma grande agência... trabalhei pra uma
subsidiária dela aqui em São Paulo...
subsidiária dela aqui em São Paulo...
Ikoma: ...e mostrei alguns trabalhos. Incrível, mas
fui aceito na hora e já comecei num cargo bom
e com o salário praticamente igual ao que
eu tinha abandonado. Lá também tive uma
escalada acentuada, mas pirei de vez mesmo !
O meu local de trabalho ficava na rua da Passagem,
em Botafogo, e era o caminho obrigatório
de todos os ônibus que iam da zona
sul para a zona norte e vice versa.
fui aceito na hora e já comecei num cargo bom
e com o salário praticamente igual ao que
eu tinha abandonado. Lá também tive uma
escalada acentuada, mas pirei de vez mesmo !
O meu local de trabalho ficava na rua da Passagem,
em Botafogo, e era o caminho obrigatório
de todos os ônibus que iam da zona
sul para a zona norte e vice versa.
Tony: Conheço... aquilo é uma zoeira total...
Ikoma: Como o barulho era ensurdecedor a
agência era blindada com vidros de polegada
que praticamente substituiam as janelas da
agência e isolavam um bocado o barulho de fora.
Mas o inferno estava lá dentro. Eu era o único
não fumante e as vezes a fumaça dos cigarros
deixava tudo acinzentado lá dentro.
A Mauro Salles era muito maior que a Equipe –
nome da outra agência -, e só naquele setor
acho que tinha umas quarenta pessoas.
E todos fumavam.
Tony: Deve ter sido um sufoco,
literalmente... (Rsss...).
Ikoma: Naquele tempo fumar era uma coisa
bonita e era raro um cara que não fumava.
Por isso no 3º ou 4º mês não consegui acordar.
Estava com uma dor de cabeça incrível e o
quarto começou a girar e a virar uma montanha Russa.
Parecia um filme de pavor, tipo o Exorcista.
bonita e era raro um cara que não fumava.
Por isso no 3º ou 4º mês não consegui acordar.
Estava com uma dor de cabeça incrível e o
quarto começou a girar e a virar uma montanha Russa.
Parecia um filme de pavor, tipo o Exorcista.
Tony: Minha nossa...
Ikoma: Essa agonia durou três dias e três noites.
Não sei como as mulheres não notaram
que eu não saí do quarto nem para almoçar.
Estava tão mal que nem para
esboçar um grito eu tinha forças.
Meus braços estavam imobilizados e minhas
pernas duras como pedra.
Achei que iria morrer ali mesmo.
Não sei como as mulheres não notaram
que eu não saí do quarto nem para almoçar.
Estava tão mal que nem para
esboçar um grito eu tinha forças.
Meus braços estavam imobilizados e minhas
pernas duras como pedra.
Achei que iria morrer ali mesmo.
Tony: Cacilda... jamais pensei que a fumaça de
cigarros poderia provocar tanto transtorno
a um não-fumante...
Ikoma: Sorte que nem fiz xixi na cama, porque
no quarto dia uma das mulheres entrou lá e
vendo o meu estado saiu apavorada e foi buscar
socorro. A 1ª pessoa que vi no quarto foi um padre.
Pensei que ele veio me dar extrema unção,
mas ele veio junto com um médico que me examinou.
Uma semana depois eu já estava de pé.
Segundo o médico, eu tive uma sinusite
fulminante ocasionado pela inalação de
muita fumaça de cigarro. Parece que sinusite
é uma coisa banal, mas no meu caso
foi quase mortal.
no quarto dia uma das mulheres entrou lá e
vendo o meu estado saiu apavorada e foi buscar
socorro. A 1ª pessoa que vi no quarto foi um padre.
Pensei que ele veio me dar extrema unção,
mas ele veio junto com um médico que me examinou.
Uma semana depois eu já estava de pé.
Segundo o médico, eu tive uma sinusite
fulminante ocasionado pela inalação de
muita fumaça de cigarro. Parece que sinusite
é uma coisa banal, mas no meu caso
foi quase mortal.
Tony: Eu também já tive sinusite, é fria... fiquei
três meses de cama e fui probido de pitar...
a merda é que ainda continuo fumando...
três meses de cama e fui probido de pitar...
a merda é que ainda continuo fumando...
Ikoma: Então, o que aconteceu foi que decidi, de vez,
a abandonar a publicidade e só a idéia de entrar
naquela agência para acertar as
contas já me dava calafrios.
a abandonar a publicidade e só a idéia de entrar
naquela agência para acertar as
contas já me dava calafrios.
Tony: Imagino...
Ikoma: Quando cheguei lá, pronto para dar
umas boas respostas se me perguntassem
por que faltei tanto, notei que alguma coisa
tinha mudado lá. Lá também tinha havido uma
revolução e alguma coisa estava acontecendo.
No meu caso seria para melhor,
umas boas respostas se me perguntassem
por que faltei tanto, notei que alguma coisa
tinha mudado lá. Lá também tinha havido uma
revolução e alguma coisa estava acontecendo.
No meu caso seria para melhor,
se eu aceitasse.
O diretor que me contratou não estava mais lá.
Não sei se tinha sido promovido para outra filial
ou se havia sido demitido. A pessoa que falava
comigo naquele momento era um cara mais
importante, mas nem sei quem era.
Contou-me que a agência estava em
reformulação e alguns ajustes estavam sendo
feitos e como eles estavam satisfeitos com
os trabalhos que eu tinha feito para umas
multinacionais e viam um potencial em mim
queriam me dar aquele cargo que ficara vago.
ou se havia sido demitido. A pessoa que falava
comigo naquele momento era um cara mais
importante, mas nem sei quem era.
Contou-me que a agência estava em
reformulação e alguns ajustes estavam sendo
feitos e como eles estavam satisfeitos com
os trabalhos que eu tinha feito para umas
multinacionais e viam um potencial em mim
queriam me dar aquele cargo que ficara vago.
Tony: Que convite maravilhoso... mas, e daí? Topou?
Ikoma: Olha, o cara falou pensando que eu
fosse me exultar de alegria e ficar contente
com o cargo. Eu era um menino ainda e eles
estavam me dando uma posição importante
dentro de uma das grandes agências do
Brasil. Eu não hesitei um momento sequer
e disse que fui lá para acertar as contas.
O cara era classudo e bem comedido e
até fingiu que não ouviu bem e mostrou-me
uma série de vantagens, que eu sem
titubear recusei. Fui lá com a idéia fixa
de publicidade, nunca mais!!! Então ele tinha
umas cartas na manga e achou que aquilo
resolveria o problema. Me disse:
" Diga o seu preço e não se acanhe" .
Então, nos fitamos por
um momento e a situação
exigia que eu falasse alguma coisa...
Nota do entrevistador: aqui interrompemos a
entrevista que seria retomada dias depois.
Daí o mestre Ikoma me informou que talvez
faltasse alguns detalhes importantes sobre
a temática abordada acima. Ia pensar a
respeito e retomaria o esclarecimento.
entrevista que seria retomada dias depois.
Daí o mestre Ikoma me informou que talvez
faltasse alguns detalhes importantes sobre
a temática abordada acima. Ia pensar a
respeito e retomaria o esclarecimento.
CONTINUANDO A ENTREVISTA, DIAS DEPOIS...
Tony: Algo a acrescentar sobre aquela
história incrível da agência que você
recusou ser recontratado, my dear bengala-brother?
história incrível da agência que você
recusou ser recontratado, my dear bengala-brother?
Ikoma: Ainda vou pensar melhor
naquele assunto... posso?
Tony: Ok... então vamos em frente...
Há quanto tempo você não faz HQs?
Ikoma: Não faço Hqs desde a época em que
sumi do mapa. Ou seja, praticamente 40 anos!
sumi do mapa. Ou seja, praticamente 40 anos!
Tony: O que tem feito esses anos todos, mestre?
Dá aulas e pinta quadros?
Ikoma: Tenho feito o que lhe disse...
artes plásticas.
Conheci o céu e o inferno inúmeras vezes!
Casei e descasei duas vezes!
E estou no 3º casamento.
Toda vez que descasei fugi do inferno.
artes plásticas.
Conheci o céu e o inferno inúmeras vezes!
Casei e descasei duas vezes!
E estou no 3º casamento.
Toda vez que descasei fugi do inferno.
Tony: Também já fugi deste tipo de inferno
particular uma porrada de vez... (Rsss...).
Nem sempre o que reluz é ouro...
particular uma porrada de vez... (Rsss...).
Nem sempre o que reluz é ouro...
Ikoma: O plano econômico
da Zélia acabou comigo!
As demandas com separações também
me atingiram em cheio, nas finanças.
Ganhei muito dinheiro e perdi muito dinheiro.
Fui recordista numa série de coisas!
Já tive estabilidade financeira que
parecia que nada mais me atingiria.
Já tive estabilidade financeira que
parecia que nada mais me atingiria.
Tony: Já vivi esta ilusão, mas a grana acaba...
Ikoma: Na minha 2ª separação
eu tinha dez imóveis.
Alguns em regiões nobres. Mas devido a má
condução da minha defesa
perdi quase tudo de bandeja.
Se não tivesse me defendido perderia somente
o que a requerente estava solicitando, ou seja,
bem menos da metade do meu patrimônio.
eu tinha dez imóveis.
Alguns em regiões nobres. Mas devido a má
condução da minha defesa
perdi quase tudo de bandeja.
Se não tivesse me defendido perderia somente
o que a requerente estava solicitando, ou seja,
bem menos da metade do meu patrimônio.
Tony: Mulher é que nem furacão,
mestre... chegam
com fúria e quando se vão deixam a gente na
merda, sem nada ... alguém já me disse que
elas não gostam de homens, mas, sim, de:
jóias, ouro, diamantes, cartão de crédito,
cheque em branco... (rsss...). Este amigo
que vive apregoando isto, ainda completa:
“Quem gosta de homem é viado”. (Rsss...).
E o pior, é que eu acho
que ele tem razão... (Rsss...).
Demorou, mas caiu a ficha (Rsss...).
Fazer o quê? A gente gosta da fruta...
quero morrer com este defeito... (Rsss...).
Nada contra as fêmeas, mas que tem muita
mulher sacana, tem... usam os filhos
para saquear o marido... entretanto, também
tem muita mulher gente fina. O duro é achar...
Ikoma: Foi um golpe duro de assimilar.
Fiquei revoltado e com muita desconfiança de tudo.
Mas isso já passou. Como sempre, otimista
e perseverante continuo minha luta.
Fiquei revoltado e com muita desconfiança de tudo.
Mas isso já passou. Como sempre, otimista
e perseverante continuo minha luta.
Tony: Ainda bem... todo trauma é
necessário, sabia?
Afinal, só nos tornamos homens experientes,
após fazermos inúmeras cagadas... (Rsss...).
Quem não erra não pode jamais ser um homem
experiente. Um sonho?
necessário, sabia?
Afinal, só nos tornamos homens experientes,
após fazermos inúmeras cagadas... (Rsss...).
Quem não erra não pode jamais ser um homem
experiente. Um sonho?
Ikoma: Um sonho? O de todo Brasileiro... ganhar uma
“bolada” de repente e não se preocupar
nunca mais. E aí sim realizar todos os sonhos
que são muitos. Mas nada fúteis. Penso muito
em caridade e nunca beneficiar quem não merece.
Mesmo que essa pessoa seja próxima de nós.
Me dou bem com todo mundo, mas consigo
distinguir toda a fauna à minha volta.
Até aqueles que se mimetizam com perfeição.
Você sabe, temos ao nosso lado desde
o cachorrinho fiel à hiena ou ratazana disfarçada
de cordeirinho ou coelhinho.
“bolada” de repente e não se preocupar
nunca mais. E aí sim realizar todos os sonhos
que são muitos. Mas nada fúteis. Penso muito
em caridade e nunca beneficiar quem não merece.
Mesmo que essa pessoa seja próxima de nós.
Me dou bem com todo mundo, mas consigo
distinguir toda a fauna à minha volta.
Até aqueles que se mimetizam com perfeição.
Você sabe, temos ao nosso lado desde
o cachorrinho fiel à hiena ou ratazana disfarçada
de cordeirinho ou coelhinho.
Tony: Bota nego enrustido ao nosso redor,
my old-bengala friend... talvez, por isso, a
Bíblia diz: “Orai e vigiai”... Meu avô – por parte
de pai-, que era descendente de espanhol,
com ascendência moura, dizia: “Você
deve tomar cuidado é com os amigos,
os inimigos não chegam perto e não
entram em sua casa”. A traição vem sempre
do amigo... isto é bíblico. O velho sábio
estava certo... (Rsss..).
Alguma frustração em relação a arte ou a vida?
Ikoma: Muitas... mas também são muitas as
alegrias e as realizações que nos marcaram
e muito nossa vidas. Tenho 7 filhos maravilhosos,
de 3 casamentos que se dão melhor entre
si, do que se fossem de uma só união.
Isso é um caso raríssimo. Minha atual esposa
é a melhor amiga de minhas filhas e vice-versa.
Se dão tão bem que muitas vezes
estão unidas até comigo.
alegrias e as realizações que nos marcaram
e muito nossa vidas. Tenho 7 filhos maravilhosos,
de 3 casamentos que se dão melhor entre
si, do que se fossem de uma só união.
Isso é um caso raríssimo. Minha atual esposa
é a melhor amiga de minhas filhas e vice-versa.
Se dão tão bem que muitas vezes
estão unidas até comigo.
Tony: Planos para o futuro?
Ikoma: Claro que um camarada, que não se acertou
em nada até os 50 anos, fica desesperado e quase
não espera mais nada da vida.
Claro que meu pai deve ter ficado desanimado,
muitas e muitas vezes.
Mas o segredo é continuar acreditando.
Continuei lutando
e acabei me ajeitando, graças a Deus.
Por isso meus planos e meus sonhos
( velhos planos ou novos sonhos )vão continuar
vivos e acontecendo enquanto eu existir.
Tony: Beleza, grande guru... sonhar é preciso...
Fernando Ikoma por Fernando Ikoma?
em nada até os 50 anos, fica desesperado e quase
não espera mais nada da vida.
Claro que meu pai deve ter ficado desanimado,
muitas e muitas vezes.
Mas o segredo é continuar acreditando.
Continuei lutando
e acabei me ajeitando, graças a Deus.
Por isso meus planos e meus sonhos
( velhos planos ou novos sonhos )vão continuar
vivos e acontecendo enquanto eu existir.
Tony: Beleza, grande guru... sonhar é preciso...
Fernando Ikoma por Fernando Ikoma?
Ikoma: Eu já falei tanto de mim, que essa
pergunta acho que já foi respondida...
Tony: Deus? Qual é sua concepção Dele?
Ikoma: Toda vez que olho para o espaço
e tento imaginar o inimaginável... toda vez
que testemunho o nascimento de uma
criança, de sua evolução, dia a dia, e de
como foi concebido e de como vai ser
seu crescimento, uniforme, (unhas, cabelos,
mãos, cérebro), todo seu sistema funcionado
(rins , bexiga, coração, visão , pensamento
e individualidade...), fico maravilhado e
profundamente agradecido por ele ter
me dado a vida e a oportunidade
de conhecer esse mundo
e tento imaginar o inimaginável... toda vez
que testemunho o nascimento de uma
criança, de sua evolução, dia a dia, e de
como foi concebido e de como vai ser
seu crescimento, uniforme, (unhas, cabelos,
mãos, cérebro), todo seu sistema funcionado
(rins , bexiga, coração, visão , pensamento
e individualidade...), fico maravilhado e
profundamente agradecido por ele ter
me dado a vida e a oportunidade
de conhecer esse mundo
maravilhoso.
Tony: Legal... também reverencio o “Chefe”,
lá em cima... e estar vivo é o maior de
todos os milagres...
lá em cima... e estar vivo é o maior de
todos os milagres...
Ikoma: Contesto um pouco, alguns tipos de
crenças e religiões, mas dentro de mim,
nunca tive dúvidas de que um ser supremo
e bondoso está, não só regendo
minha vida, como todo o Universo.
Tony: Seitas e religiões, são um mal
necessário, eu acho...
Isto foi lindo meu bengala-friend... também
não acredito nestas crenças e no pseudo-deus
que foi criado pelo homem, para catequizar
o povo, para justificar as mazelas, para
proteger os poderosos senhores do sistema
e para enriquecer os pseudos-profetas
do “Chefe”... mas é inegável de que o inominável,
o princípio inteligente existe e é ele que
nos mantém ativos e rege todo o cosmos.
Fazemos parte de um todo que é uma
verdadeira maravilha da Natureza, a grande mãe.
Aliás, acho que os patriarcas hebraicos
mataram as antigas deusas com aquela lenda
teológica sobre a traição de Eva, no Paraíso,
para poder implantar o Deus-macho.
Nas culturas antigas o Deus sempre foi fêmea,
é óbvio... mas, isto fica pra outra vez...
estudei muito teologia... Pergunta: Vamos falar
sobre dois escribas da pesada e bastante
produtivos para o mundo das HQs... Quero saber,
o que você tem a dizer sobre os
bengalas-boys: Gedeone Malagola
e R. F. Lucchetti?
necessário, eu acho...
Isto foi lindo meu bengala-friend... também
não acredito nestas crenças e no pseudo-deus
que foi criado pelo homem, para catequizar
o povo, para justificar as mazelas, para
proteger os poderosos senhores do sistema
e para enriquecer os pseudos-profetas
do “Chefe”... mas é inegável de que o inominável,
o princípio inteligente existe e é ele que
nos mantém ativos e rege todo o cosmos.
Fazemos parte de um todo que é uma
verdadeira maravilha da Natureza, a grande mãe.
Aliás, acho que os patriarcas hebraicos
mataram as antigas deusas com aquela lenda
teológica sobre a traição de Eva, no Paraíso,
para poder implantar o Deus-macho.
Nas culturas antigas o Deus sempre foi fêmea,
é óbvio... mas, isto fica pra outra vez...
estudei muito teologia... Pergunta: Vamos falar
sobre dois escribas da pesada e bastante
produtivos para o mundo das HQs... Quero saber,
o que você tem a dizer sobre os
bengalas-boys: Gedeone Malagola
e R. F. Lucchetti?
Ikoma: Conheço eles como mitos.
Como uma legenda das HQs. Ouvi falar muito
deles, mas tive pouco contacto, ou quase
nenhum, pois na época que estive atrás
de editoras, conheci outros desenhistas
e quando finalmente comecei a publicar,
não saia mais de Curitiba.
Como uma legenda das HQs. Ouvi falar muito
deles, mas tive pouco contacto, ou quase
nenhum, pois na época que estive atrás
de editoras, conheci outros desenhistas
e quando finalmente comecei a publicar,
não saia mais de Curitiba.
Nota do entrevistador:
Nesta altura campeonato, após repensar sobre
questões anteriores, que já haviam sido
respondidas, o mestre Fernando Ikoma, decidiu
retomar... ou melhor, completar, a primeira
pergunta que fiz à ele, no começo da
entrevista: “Como ele conheceu Minami
Keizi?”. Óbviamente, ele concluiu que
havia faltado algum detalhe curioso,
como de fato, você poderá constatar a seguir.
Confira...
Nesta altura campeonato, após repensar sobre
questões anteriores, que já haviam sido
respondidas, o mestre Fernando Ikoma, decidiu
retomar... ou melhor, completar, a primeira
pergunta que fiz à ele, no começo da
entrevista: “Como ele conheceu Minami
Keizi?”. Óbviamente, ele concluiu que
havia faltado algum detalhe curioso,
como de fato, você poderá constatar a seguir.
Confira...
Ikoma: Antes de voltar a contar como conheci o
Minami, vou falar um pouco da
minha luta e dos “nãos”
Minami, vou falar um pouco da
minha luta e dos “nãos”
que recebi nas editoras, Tony.
Tony: Ok. Fique a vontade, honorável
Bengala-friend...
Ikoma: Muitos deles foram sinceros e gentis
comigo, muitas vezes. Porque não sei
quantas vezes, bati nas mesmas editoras.
Mas tinha um cara, que era um verdadeiro ogro
comigo, muitas vezes. Porque não sei
quantas vezes, bati nas mesmas editoras.
Mas tinha um cara, que era um verdadeiro ogro
e só desse camarada guardei mágoa.
Tony: Um ogro, que te magoou? (Rsss...).
Qual era o nome dele?
Qual era o nome dele?
Ikoma: Não posso falar o nome dele, porque
já não falei para o Gonçalo e como tenho um
imã que atrai os processos mais esdrúxulos,
tenho medo até de abrir a boca.
Mas, o cara era razoavelmente conhecido no
meio das histórias em quadrinhos.
já não falei para o Gonçalo e como tenho um
imã que atrai os processos mais esdrúxulos,
tenho medo até de abrir a boca.
Mas, o cara era razoavelmente conhecido no
meio das histórias em quadrinhos.
Tony: Conta sobre o fulano, vou fiçar “ligado”,
pra ver se consigo captar quem é o cretino,
ou quem foi ele... manda bala...
pra ver se consigo captar quem é o cretino,
ou quem foi ele... manda bala...
Ikoma: O cara era desenhista e também uma
espécie de porteiro da editora. Nada entrava
sem passar pelas mãos dele e o sacana escondia
e não mostrava os trabalhos da turma para o
editor... isto é, aqueles que poderiam
incomodá-lo ou fazer sombra para ele.
Isto eu só descobri na última
vez que fui falar com ele.
Tony: Em síntese, a criatura era um FDP, é?
Temia os concorrentes... já vi muito disso...
sempre tem uma peste dessas por aí, ainda...
Temia os concorrentes... já vi muito disso...
sempre tem uma peste dessas por aí, ainda...
Ikoma: E não foi só por isso. Ele era asqueroso
e seu olhar era intimador e acho que
ele se esforçava para deixar
os outros desencorajados.
Muita gente boa e talentosa deve ter desistido
por causa dele. Eu era um tímido, mas um
tímido teimoso e razoavelmente audacioso.
Eu sempre fui um campeão da teimosia.
Minha teimosia suplantava a minha timidez
e me levava muitas vezes além dos
meus limites. ... mas eu estava
desistindo também...
por causa dele. Eu era um tímido, mas um
tímido teimoso e razoavelmente audacioso.
Eu sempre fui um campeão da teimosia.
Minha teimosia suplantava a minha timidez
e me levava muitas vezes além dos
meus limites. ... mas eu estava
desistindo também...
Tony: Conheci, ao longa da minha carreira, pelo
menos uma dúzia desse tipo, mestre... vai ser
difícil desvendar quem era ou é o personagem
cruel... mas, vamos em frente,
menos uma dúzia desse tipo, mestre... vai ser
difícil desvendar quem era ou é o personagem
cruel... mas, vamos em frente,
cowboy! Mas, suspeito de um...
Ikoma: Nesses últimos anos as HQs perdeu
muita gente boa empreendedora, como
o Minami, o Seto e tanta gente mais .
O que é lamentável. O sacana parece
que também foi para o outro lado.
Tony: Hmmm... “subiu o morro”... maravilha...
um pentelho a menos no mundo editorial... (Rsss...)
um pentelho a menos no mundo editorial... (Rsss...)
Ikoma: Mas, ao contrário dessa gente boa que
deve estar colhendo os frutos do que
semearam por aqui, esse, acho que foi ser o
porteiro de um lugar bem mais abaixo.
Lá ele deve estar levando uma chibatada de
cada cara que passa pela porteira.
E como morre muita gente ruim também,
deve ser um saco de pancadas e
deve estar recebendo o que merece.
Tony: (Rssss...). Com certeza... genial... (Rsss...)
Ikoma: Nas artes plásticas, também
conheci caras como ele e outros até pior ainda.
Nas HQs, fora esse cara, depois que
comecei a publicar normalmente ,
só fiz amigos.
Tony: Corno, também, é que nem Coca-Cola,
mestre... tem em tudo quanto é canto...
mas, o que salva é que há muita gente honesta, leal...
mestre... tem em tudo quanto é canto...
mas, o que salva é que há muita gente honesta, leal...
Ikoma: Nas artes plásticas, tem cara que te
seca a vida inteira. E pior, leva para o lado pessoal,
sem nunca ter te visto e sem nunca ter
trocado uma palavra contigo.
No meu caso, eu tinha duas coisas que eles combatiam.
Eu vinha do mundo das HQs (que para eles
uma arte inferior). E o meu maior pecado. ...
Era autodidata.
Tony: São invejosos e mesquinhos esses acadêmicos... ser autodidata é dom, coisa divina... pelo visto, no mundo das artes plásticas há mais preconceito do que no das HQs... que merda...
Ikoma: Hoje tenho dois filhos formados pela
Escola de Música e Belas Aartes do Paraná.
Mas hoje o pessoal
não liga muito para isso.
Eu teria muito o que contar das artes plásticas,
mas voltemos as HQs...
Quando vi a sacanagem desse camarada -
já contei como foi a história para o Gonçalo Jr.
e para o Guia dos Quadrinhos e não quero
ser repetitivo-, resolvi que não
faria mais quadrinhos.
já contei como foi a história para o Gonçalo Jr.
e para o Guia dos Quadrinhos e não quero
ser repetitivo-, resolvi que não
faria mais quadrinhos.
E para reforçar essa decisão, nesse mesmo
dia, tomei uma decisão que iria mudar minha vida.
dia, tomei uma decisão que iria mudar minha vida.
Antes mesmo de pegar o ônibus para
Curitiba, eu já tinha resolvido que
seria vendedor de sapatos.
Curitiba, eu já tinha resolvido que
seria vendedor de sapatos.
Tony: Vendedor de sapatos?
Putz... sem querer desmerecer esta classe
batalhadora e digna, mas, você, com
este baita talento? Ninguém poderia imaginar
uma coisa dessa... (Rsss...)
Ikoma: Foi assim, o tráfego intenso numa rua
de São Paulo, não estava me deixando atravessá-la.
Então quando olhei para o lado vi aquela oferta.
Três pares de sapatos por apenas 10 reais.
E eram muito bonitos.
Poderia revendê-los em Curitiba e ganhar
um bom dinheiro. Foi o que fiz.
Comprei 6 pares e seguindo a nossa tradição
para o comércio – desenhistas, em geral,
são péssimos negociantes-, quebrei a cara.
Só vendi um par e nunca o recebi.
Os outros cinco ficaram encalhados.
Quando entrei na loja, naquele dia, eu tive
que esperar um pouco porque o dono estava
atendendo um cliente e vendendo-lhe um
sapato que era novidade para a época.
Até comprei um para meu uso pessoal.
O sapato tinha um salto embutido e deixava
que esperar um pouco porque o dono estava
atendendo um cliente e vendendo-lhe um
sapato que era novidade para a época.
Até comprei um para meu uso pessoal.
O sapato tinha um salto embutido e deixava
a gente 5 cm mais alto!
Tony: Devia ser o famoso salto carrapeto,
usamos muito ele... era moda: calça boca-de-sino,
cabelões e o tal salto... como éramos ridículos... (Rsss...).
Mas, o que é que o tal salto, tem a ver com
sua incrível história no mundo das HQs, mestre?
usamos muito ele... era moda: calça boca-de-sino,
cabelões e o tal salto... como éramos ridículos... (Rsss...).
Mas, o que é que o tal salto, tem a ver com
sua incrível história no mundo das HQs, mestre?
Ikoma: Notei isso no japonezinho que estava
comprando o sapato e dava uma diferença
acentuada na altura. Só que em determinado
momento, o tal japonezinho dirigiu-se a mim...
e para minha surpresa perguntou-me,
num tom de afirmação:
"Você desenha, né? "
Essa história também já contei e estou
sintetizando ela um pouco.
sintetizando ela um pouco.
" Te vi por aí !" – disse o japonezinho.
Tony: Quem era o tal japorunguinha, bengala-friend?
Ikoma: Foi assim que conheci o Minami.
Ele me falou que era dono da editora Edrel,
que eu nunca tinha ouvido falar e quando me
citou uns nomes, comecei a ligar os fatos.
Eu já estivera atrás de uma editora de japoneses,
mas nunca tinha visto um japonês lá.
Até pensei que eles ficavam desenhando num
outro departamento e não tinham
contacto com o público.
Acho que o Minami me viu numa dessas
ocasiões, porque ele tinha livre trânsito
em todas as editoras, na época.
Confundi a Taika , como sendo ela, a editora
dos japoneses. Conhecia uma japinha de
nome “Taika” e meu irmão em japonês se chama Taká.
dos japoneses. Conhecia uma japinha de
nome “Taika” e meu irmão em japonês se chama Taká.
Então eu nunca estivera na Edrel e pela
primeira vez, estava falando diretamente
com o dono de uma editora.
primeira vez, estava falando diretamente
com o dono de uma editora.
O Minami perguntou-me se poderia ficar
com o meu pacote que depois
ele daria uma olhadinha nele.
com o meu pacote que depois
ele daria uma olhadinha nele.
Sem problemas. O pacote já tinha ficado
um mês nas mãos do camarada que
citei e nem me lembro qual era a
editora que ele trabalhava.
um mês nas mãos do camarada que
citei e nem me lembro qual era a
editora que ele trabalhava.
Quando cheguei em Curitiba tentei vender
os sapatos e comecei também a jogar xadrez.
Um dia, saindo do clube de xadrez, fiz
o que normalmente eu fazia. Entrei na banca
do Zé para espiar as revistas, que naquela
época não eram plastificadas.
os sapatos e comecei também a jogar xadrez.
Um dia, saindo do clube de xadrez, fiz
o que normalmente eu fazia. Entrei na banca
do Zé para espiar as revistas, que naquela
época não eram plastificadas.
Eu já havia reparado que a Edrel existia e
tinha umas revistas em circulação. Só que desta vez vi uma coisa que eu conhecia e me chamou a atenção. Havia um gibi novo na praça. Era o Fikom !
tinha umas revistas em circulação. Só que desta vez vi uma coisa que eu conhecia e me chamou a atenção. Havia um gibi novo na praça. Era o Fikom !
Tony: Que grata surpresa...
Ikoma: Nem acreditei. Estava com planos de ir
para São Paulo nos próximos dias, para ve
r o que o Minami tinha achado dos meus trabalhos...
e naquela banca já estava a resposta.
Corri para casa para mostrar a revista aos meus pais e comemorar a ocasião,
para São Paulo nos próximos dias, para ve
r o que o Minami tinha achado dos meus trabalhos...
e naquela banca já estava a resposta.
Corri para casa para mostrar a revista aos meus pais e comemorar a ocasião,
Naquele tempo ninguém tinha telefone e
as surpresas aconteciam assim mesmo....
"de surpresa mesmo!"
as surpresas aconteciam assim mesmo....
"de surpresa mesmo!"
E foi muito surpreendente, também, quando
recebi uma carta dele... junto a ela havia um
cheque e um aviso de que eu não iria
mais trabalhar para a Edrel .
E ele ainda me chamou de traidor.
recebi uma carta dele... junto a ela havia um
cheque e um aviso de que eu não iria
mais trabalhar para a Edrel .
E ele ainda me chamou de traidor.
Tony: Ué!? O homem publicou Fikom, te pagou,
e te deu o cartão vermelho? E ainda, por
cima, te chamou de traidor? Por quê?
Ikoma: Alguém buzinou para ele, mentirosamente,
que eu tinha me bandeado para a editora
La Selva e ele se queimou com isso.
que eu tinha me bandeado para a editora
La Selva e ele se queimou com isso.
Tony: Outro, FDP? Caramba...
Ikoma: Fiquei com a cara no chão.
Mas resignado, me conformei.
Tony: Se fosse comigo, eu catava o maluco e...
Ikoma: Nunca foi do meu feitio me
justificar das injustiças, por isso,
como sempre, me calei.
justificar das injustiças, por isso,
como sempre, me calei.
Decidi começar tudo de novo...
Tony: Que história fantástica, intrépido
guru das HQs... valeu...
guru das HQs... valeu...
Nota: Dias depois, recebi outro e-mail que
registrava mais alguns detalhes que o
mestre Ikoma, na certa, havia se esquecido,
ainda sobre Fikom e Minami Keizi. Confira...
registrava mais alguns detalhes que o
mestre Ikoma, na certa, havia se esquecido,
ainda sobre Fikom e Minami Keizi. Confira...
Ikoma: Continuando...
Quando consegui publicar o Fikom achei que
as portas finalmente se abriram.
Mas era uma porta giratória que se fechou em seguida.
as portas finalmente se abriram.
Mas era uma porta giratória que se fechou em seguida.
Vou contar aqui, uma bobagem...
Naquela época, tinha um morador das
redondezas de casa , que era um bruxo
de verdade e eu tinha medo dele -
qualquer um teria.
redondezas de casa , que era um bruxo
de verdade e eu tinha medo dele -
qualquer um teria.
Numa ocasião, ele andava jururú, porque
as gurias tinham nojo de dançar com ele,
pois sua mão ( a que segurava a mão
da menina ) era cheia de verrugas
e ele andava chateado com isso.
as gurias tinham nojo de dançar com ele,
pois sua mão ( a que segurava a mão
da menina ) era cheia de verrugas
e ele andava chateado com isso.
Tony: O cara era asqueroso, mesmo, né?
Ikoma: Um dia, depois de ir num centro,
jogou uma mandinga em cima de mim.
Chamou-me no muro e dizendo que queria
ver a minha mão, agarrou-se à ela com
força e balbucionou um monte de
palavras estranhas.
No outro dia ele estava com a mão limpinha.
E eu com todas as verrugas dele.
jogou uma mandinga em cima de mim.
Chamou-me no muro e dizendo que queria
ver a minha mão, agarrou-se à ela com
força e balbucionou um monte de
palavras estranhas.
No outro dia ele estava com a mão limpinha.
E eu com todas as verrugas dele.
Tony: Esse tal bruxo não era fraco não... ô loco...
Ikoma: Não sei como é possível isso!
Até hoje não acredito como
foi possível ele ter feito essa transferência...
esse mesmo cara um dia secou a plantação
de um conhecido nosso.
As verrugas levei uns dois anos , queimando
com ácido para me livrar delas.
Tony: Cacilda... isto dá um bom roteiro de HQ de terror... (Rsss...)
Ikoma: Numa outra ocasião ele foi
protagonista de um
caso macabro que envolveu outras pessoas,
com final trágico. Mas, esta história não vem ao caso...
com final trágico. Mas, esta história não vem ao caso...
No dia que eu estava correndo para casa com
a revista do Fikom na mão fui interceptado por
ele, que queria de todo jeito ver
o que eu estava carregando.
a revista do Fikom na mão fui interceptado por
ele, que queria de todo jeito ver
o que eu estava carregando.
Eu não queria contar o que era, mas estava
tão eufórico que acabei contando.
A reação dele, foi digna de um grande invejoso.
Me fulminou com os olhos.
Foi incrível, lançou um olhar de ódio.
tão eufórico que acabei contando.
A reação dele, foi digna de um grande invejoso.
Me fulminou com os olhos.
Foi incrível, lançou um olhar de ódio.
Nada de me parabenizar!
Tony: O tal bruxo queria era te azarar, mestre...
que sacana...
que sacana...
Ikoma: Então ele pôs a revista na testa e
começou com a mesma sessão de voduísmo
das verrugas. Tirei também com raiva a
revista das mãos dele e só aí fui mostrar
para a minha família que ficou contente.
Eu também estava contente, mas
com uma sensação estranha...
começou com a mesma sessão de voduísmo
das verrugas. Tirei também com raiva a
revista das mãos dele e só aí fui mostrar
para a minha família que ficou contente.
Eu também estava contente, mas
com uma sensação estranha...
Tony: Acho que vou acabar escrevendo
uma HQ baseada neste seu relato
sui generis... (Rsss..), se me permitir...
Ikoma: Quando o Minami me dispensou,
achei que a causa tinha sido o bruxo ,
pois foi uma coisa estranha mesmo.
achei que a causa tinha sido o bruxo ,
pois foi uma coisa estranha mesmo.
Tony: Deve ter sido mera coincidência, eu acho...
ninguém pode ser tão poderoso assim... acho que o cara te
impressionou... só isso.
Ikoma: Depois de um tempo, voltei à São Paulo.
Estava à procura de um editor.
Nem sabia por onde começar... só sabia
que não deveria visitar a Edrel.
Ikoma: Depois de um tempo, voltei à São Paulo.
Estava à procura de um editor.
Nem sabia por onde começar... só sabia
que não deveria visitar a Edrel.
Da mesma forma que ele – o Minami -,
achou que eu tinha pêgo o exemplar do Fikom
para me bandear para a La Selva, eu
também achei que a revista tinha sido
um fiasco – em vendas -, e ele estava
dando uma desculpa esfarrapada para
se livrar de mim.
Nessas horas a gente pensa até
o imponderável.
achou que eu tinha pêgo o exemplar do Fikom
para me bandear para a La Selva, eu
também achei que a revista tinha sido
um fiasco – em vendas -, e ele estava
dando uma desculpa esfarrapada para
se livrar de mim.
Nessas horas a gente pensa até
o imponderável.
Conhecendo depois o Minami melhor e ele a
mim, descobrimos que nenhum de nós
seria capaz dessas baixezas.
mim, descobrimos que nenhum de nós
seria capaz dessas baixezas.
Tony: Que bom, eu tudo, por fim, foi
esclarecido...
esclarecido...
Ikoma: Dessa vez fui para São Paulo com dois pacotes.
Uma de histórias e a outra de encalhe dos sapatos.
Achei que se o cara fosse camarada e que
poderia trocar para mim por outra coisa.
Uma de histórias e a outra de encalhe dos sapatos.
Achei que se o cara fosse camarada e que
poderia trocar para mim por outra coisa.
Levei também um exemplar do Fikom,
mas tinha uma dúvida.
mas tinha uma dúvida.
Mostrar ou não mostrar? Era uma faca de dois
gumes , pois se me ajudava, por ter um
exemplar editado... por outro lado , poderia
ser o meu enterro, pois estava com medo
mesmo, que as vendas dele
tivessem sido um fiasco.
gumes , pois se me ajudava, por ter um
exemplar editado... por outro lado , poderia
ser o meu enterro, pois estava com medo
mesmo, que as vendas dele
tivessem sido um fiasco.
Tony: Que situação, hein?
Ikoma: A primeira coisa que fiz, depois de
tomar o café na rodoviária, foi a de trocar
os sapatos. Como o volume do pacote ia
me atrapalhar, pensei em revendê-lo
pela metade do preço.
tomar o café na rodoviária, foi a de trocar
os sapatos. Como o volume do pacote ia
me atrapalhar, pensei em revendê-lo
pela metade do preço.
Quando entrei na lojinha, fiquei sem jeito,
pois a mesma cena estava se repetindo.
Lá estava o mesmo dono.
Atendendo o mesmo japonezinho.
pois a mesma cena estava se repetindo.
Lá estava o mesmo dono.
Atendendo o mesmo japonezinho.
Pensei em sair da loja ,mas eles já tinham
me visto e ia ficar mais chato ainda.
me visto e ia ficar mais chato ainda.
Fiquei na minha. Não devia nada
à ninguém, mas não queria que
à ninguém, mas não queria que
o Minami me visse pedindo arrego para o
dono da loja. Senti que seria um pouco humilhante.
Eu fiquei um tempo meio cabisbaixo, mas
quando levantei os olhos ele estava
olhando para mim e sem cerimônia perguntou:
" Trouxe coisa nova, aí?"
dono da loja. Senti que seria um pouco humilhante.
Eu fiquei um tempo meio cabisbaixo, mas
quando levantei os olhos ele estava
olhando para mim e sem cerimônia perguntou:
" Trouxe coisa nova, aí?"
Fiquei surpreso, mas respondi que sim.
Depois perguntou-me se eu queria almoçar.
Entendi que aquele era um convite para
“fumarmos o cachimbo da paz”.
Pois era até meio cedo para o almoço.
Aceitei o convite, mas antes o cara aceitou de
volta os sapatos e devolveu-me o dinheiro na íntegra.
Claro que o Minami tinha moral lá na loja
e se não fosse a presença dele,
acho que teria sido bem mais
difícil a devolução.
Depois perguntou-me se eu queria almoçar.
Entendi que aquele era um convite para
“fumarmos o cachimbo da paz”.
Pois era até meio cedo para o almoço.
Aceitei o convite, mas antes o cara aceitou de
volta os sapatos e devolveu-me o dinheiro na íntegra.
Claro que o Minami tinha moral lá na loja
e se não fosse a presença dele,
acho que teria sido bem mais
difícil a devolução.
Tony: (Rsss...) Se você não me contasse esta
histótia toda eu jamais acreditaria nela.
É muito esquisita... um bruxo, uma loja de
sapato, um vendedor e um editor...
é, parece que o destino trançou os pauzinhos
pra você entrar no ramo, mestre e bengala-friend...
que coisa incrível. Estava escrito nas estrelas... (Rsss...).
Dá pra sentir como o Minami foi importante
para nós... sem ele eu e você não existiríamos
como autores de HQs.
Foi um grande homem, apesar da baixa estatura.
histótia toda eu jamais acreditaria nela.
É muito esquisita... um bruxo, uma loja de
sapato, um vendedor e um editor...
é, parece que o destino trançou os pauzinhos
pra você entrar no ramo, mestre e bengala-friend...
que coisa incrível. Estava escrito nas estrelas... (Rsss...).
Dá pra sentir como o Minami foi importante
para nós... sem ele eu e você não existiríamos
como autores de HQs.
Foi um grande homem, apesar da baixa estatura.
Ikoma: Aquele foi o meu retorno à Edrel.
O interessante é que nem durante o tal almoço
e nem depois, jamais tocamos no assunto.
Nunca falamos sobre o episódio...
e mesmo que nos encontremos um dia, diante
de Deus, sei que jamais um vai inquirir o
outro sobre aquele mal-entendido.
É como se fosse uma verdade
que não precisa ser dita.
É uma pena, mesmo, que pessoas como
ele e o Seto tenham nos
deixado tão precocemente.
ele e o Seto tenham nos
deixado tão precocemente.
Tony: Sem dúvida. Fora as HQs o Minami escreveu
milhares de livros usando pseudônimos.
Fazer o quê, meu bengala-friend?Quando
o “Chefe” chama, não adianta se esconder
de baixo da cama... (Rsss...). Partiram pra
uma melhor... a missão deles, nesta
orbe estava completada, com certeza...
milhares de livros usando pseudônimos.
Fazer o quê, meu bengala-friend?Quando
o “Chefe” chama, não adianta se esconder
de baixo da cama... (Rsss...). Partiram pra
uma melhor... a missão deles, nesta
orbe estava completada, com certeza...
Nota: Um ou dois dias depois, eu acho, recebi
outro e-mail do mestre Ikoma com um adendo
sobre a questão que ele achou que ficou
no ar sobre a agência de publicidade, da
sua doença e do que o levou a atitudes
tão radicais, como chutar boas propostas pro ar.
Confira na íntegra o e-mail que recebi...
outro e-mail do mestre Ikoma com um adendo
sobre a questão que ele achou que ficou
no ar sobre a agência de publicidade, da
sua doença e do que o levou a atitudes
tão radicais, como chutar boas propostas pro ar.
Confira na íntegra o e-mail que recebi...
Ikoma: Sabe, Tony, também o motivo de eu dar
uma respirada para responder as suas perguntas?
Estou tentando encontrar algumas respostas
que dei em outra entrevistas.
uma respirada para responder as suas perguntas?
Estou tentando encontrar algumas respostas
que dei em outra entrevistas.
Não quero passar por mentiroso e
nem quero cair em contradição
nem quero cair em contradição
porque esse longo tempo, longe do tema
abordado, pode trair nossa memória.
abordado, pode trair nossa memória.
Veja bem, nesse momento estou me
lembrando do que falei sobre o tempo da
publicidade e me esqueci de contar
uma coisa muito importante.
lembrando do que falei sobre o tempo da
publicidade e me esqueci de contar
uma coisa muito importante.
Sabe uma das coisas que mais me
estressava e me machucava na publicidade?
Era quando abortavam a sua criação mais genial!
estressava e me machucava na publicidade?
Era quando abortavam a sua criação mais genial!
Naquele tempo não era como é hoje.
A agência não tinha autonomia e na
verdade quem mandava mesmo era o freguês!
A agência não tinha autonomia e na
verdade quem mandava mesmo era o freguês!
Não adiantava nada o seu chefe e a turma
toda achar que foi uma tacada genial,
porque lá na frente um camarada obtuso
toda achar que foi uma tacada genial,
porque lá na frente um camarada obtuso
não achava nada.
Só para ter uma idéia, um industrial queria
que a agência criasse uma marca para ele.
E a gente criava.
Quebrava a cabeça para fazer um logotipo
marcante e de visualização e memorização
rápida. As vezes, a gente alcançava
tudo isso com dois ou três traços
inovadores e quando chegava no veredito
final que era dado pelo empresário,
o cara já tinha idealizado um também
e era aquele que tinha que ser.
A idéia genial dele era dos anos 1800 mais ou
tudo isso com dois ou três traços
inovadores e quando chegava no veredito
final que era dado pelo empresário,
o cara já tinha idealizado um também
e era aquele que tinha que ser.
A idéia genial dele era dos anos 1800 mais ou
menos. O"emblema" tinha que ter uns
ramos de café ou oliveira , umas engrenagens
que simbolizava trabalho e
quem sabe , até a fotografia dele.
ramos de café ou oliveira , umas engrenagens
que simbolizava trabalho e
quem sabe , até a fotografia dele.
Era de doer mesmo!
Vai somando tudo isso , mais a pressão de
tempo e o acúmulo de trabalho. ...
A gente pira mesmo!
A gente pira mesmo!
Outra coisa que eu gostaria de
dizer em relação à entrevista
dizer em relação à entrevista
(referente a 40 anos atrás), é que sempre
aparece um cara ou outro contando outra história.
aparece um cara ou outro contando outra história.
Aqui em Curitiba a gente debate muito com
amigos, coisas referentes A política, esportes
e coisas que vivenciamos juntos.
Sabe que tem cara que é capaz de inverter
tudo, lembrar tudo conforme a conveniência
e fazer disso uma verdade? Já pensou
pegar um cara desse para dar
um depoimento?
e coisas que vivenciamos juntos.
Sabe que tem cara que é capaz de inverter
tudo, lembrar tudo conforme a conveniência
e fazer disso uma verdade? Já pensou
pegar um cara desse para dar
um depoimento?
Graças a Deus, mesmo
tomando Dormonid
tomando Dormonid
e Lexotan há mais de 13 anos continuo
com uma memória boa e que já foi
excelente nos bons tempos.
com uma memória boa e que já foi
excelente nos bons tempos.
Vou enviar-lhe um depoimento do Seto
de 15 anos atrás onde ele dá uma
entrevista para um jornalista local e faz
referência à essa minha memória . Muita coisa que eu desconheço da Edrel
é porque eu não estava lá mesmo.
de 15 anos atrás onde ele dá uma
entrevista para um jornalista local e faz
referência à essa minha memória . Muita coisa que eu desconheço da Edrel
é porque eu não estava lá mesmo.
Nos tempos em que eu fazia HQs
sempre morava em Curitiba.
sempre morava em Curitiba.
Tony: Querido mestre e bengala-friend,
Fernando Ikoma, que relato incrível...
que entrevista memorável.
Você se ateve a cada detalhe a cada minúscia
tentando sempre mostrar a verdade.
Respondeu tudo na bucha.
Nesta sua memorável entrevista, você
desabafou, primou por cada detalhe e,
principalmente, abriu seu coração,
para seus fãs e amigos. Genial...
Foi uma honra entrevistá-lo.
Bem, só me resta agradecer por essa honra
de ter me concedido este belo e
revelador depoimento.
Que Deus ilumine sempre seus passos e os
passos de sua bela família...
e que um dia você volte a nos brindar
com seus excelentes trabalhos para
enriquecer ainda mais o mundo das HQs.
Muito sucesso!
Ikoma: Bom, acho que tomei um pouco mais do
seu tempo. Um abração e até mais!
Tony: Valeu, my dear bengala-friend and warrior!
A batalha continua...
tcham-tcham-tcham-tcham!!!
A batalha continua...
tcham-tcham-tcham-tcham!!!
Mestre Fernando Ikoma e família. Atualmente ele vive de artes plásticas. Mais entrevistas com os mestres das HQs brasileiras você encontra em... http://bengalasboysclub.blogspot.com |
Copyright 2011\Tony Fernandes\Estúdios Pégasus -
Uma Divisão de Arte e Criação da
Pégasus Publicações Ltda -
São paulo - Brasil
Todos os Direitos Reservados
Acabei de ler a entrevista....sensacional...parabéns a vc Tony por conduzir brilhantemente esta entrevista, assim como as outras do Seabra, Getulio ......e parabéns pela grande dignidade do Mestre Ikoma, se era fan dos trabalhos dele como artista, agora sou fan da pessoa que ele representa.....vou compartilhar esta entrevista...
ResponderExcluirabraços Tony ( mesmo sendo um apelido americano!! hahahahahahaha)
Parabéns Tony e parabéns ao Fernando Ikoma, que para mi era quase um mito. Excelente entrevista. A gente fica conhecendo um pouco o homem e artista Ikoma. Achei engraçado quando ele deixou a empresa por causa do cigarro DOS OUTROS! Essa foi de lascar. Acho que Fernando Ikoma tem uma vida de vencedor por causa da teimosia que citou e também pelo talento natural que Deus lhe deu.
ResponderExcluirWilde Portella
Um depoimento muito importante, Tony. Agora, precisamos ler também o seu depoimento sobre o Minami, O Fabiano, etc. Para se formar um perfil sobre essa "era de ouro" dos quadrinhos. E também conhecemos o Ikoma como pessoa. Era um dos grandes mestres sobre o qual pouco se sabia.
ResponderExcluirUm depoimento muito importante, Tony. Agora, precisamos ler também o seu depoimento sobre o Minami, O Fabiano, etc. Para se formar um perfil sobre essa "era de ouro" dos quadrinhos. E também conhecemos o Ikoma como pessoa. Era um dos grandes mestres sobre o qual pouco se sabia.
ResponderExcluirFernando Ikoma,Seabra,Getulio Delphim...vc está entrevistando só fera da HQ nacional!
ResponderExcluirVim aqui apenas para dizer "bravo,Tony!Continue o ótimo trabalho,valorizando a história da HQ brasileira".
Afinal,se não damos valor a ela,quem é que vai dar?
Valeu, amigos e grato pela visita!
ResponderExcluirSee you later, cowboys!
Não tem pra onde... Um registro memorável, este com o Mestre Ikoma... Nossa, quantos fatos, detalhes, sentimentos, que nos foi permitido conhecer... Essa sempre sua inusitada forma despretensiosa, sem regras acadêmicas, consegue burlar o insondável nos entrevistados, parabéns Druida Tony!
ResponderExcluirAo Mestre IKOMA, que sempre admirei, desde que folheie FIKOM e SATÃ, que almejava conhecê-lo. Ví a algum tempo atrás uma entrevista dele, mas, rápida, feita pelo ROD... E agora, aqui, nos possibilita conhecer sua trajetória, seus sentimentos - impressões de sua própria vida. Como fã, fico gratificado por esta partilha sincera, verdadeira que lhe é peculiar... Aliás, peculiares a simplistas e a Mestres! Obrigado Mestre IKOMA!
Realmente o Tony esta fazendo um trabalho sensacional com essas entrevistas.
ResponderExcluirEu fico me perguntado porque "naquela época" quando éramos jovens e lia-mos nossos gibis, não tinhamos essa interação com os desenhista responsáveis pelas nossas viagens pelo mundo imaginário dos nossos heróis.
Só pode ter sido falta de um veículo como a Internet.
é isso aí Tony, todas as entrevistas muito boas e divertidas,,, tá quase um David Letterman, daqui a pouco terá seu próprio talkshow hehehe
ResponderExcluirAbraços
Fabiano
Voltei pra ver se tinha aprovado meu comentário e acabei lendo esa entrevista. Não sou uma leitora muito assidua de quadrinhos, mas tenho alguns desenhistas que gosto, como li em algum post sobre o Manara. E aqui achei interessante conhecer quem está atrás das páginas e a luta de vocês para essa arte crescer mais.
ResponderExcluirBem legal essa entrevista e as que li. Vocês gostam mesmo de farwest.
Gostei do blog, bem curioso.
Beijos
Oi, gata... que bom ver vc por aqui e tb saber que vc tem apreciado minhas entrevistas. Visitei o seu Blog e adorei.
ResponderExcluirUm grande bjs, p\vc!
Mimmymiau, fiquei seu fã... grato pela visita e parabpéns pelo belo Blog q vc tem... adorei. Gde Bjjjj...
ResponderExcluirOi Tony, pode entrar e ficar a vontade lá no meu espacinho e se quiser comentar também será um prazer.
ResponderExcluirSeja bem vindo,
Bitoquinhas
Bigadinha pel oseu comentário, adorei.
ResponderExcluirBitoka
Grato, à todos pela visita!
ResponderExcluir