Se
você tem mais de 45 anos, com certeza, deve estar
lembrado de uma época incrível
em que uma centena de
Series
de livros de bolsos, que ficaram conhecidos como bolsilivros, eram lançados no
Brasil.
Escrevi essa matéria com o intuito de reavivar a
memória dos mais
velhos e expor aos
mais jovens como foram...
OS
ANOS DOURADOS DOS
BOLSILIVROS
NO BRASIL
Até hoje existe um mercado paralelo de livros de
bolsos
antigos no Brasil – em bancas e livrarias de sebo –
que é movimentado por
saudosistas que compram, vendem e trocam essas verdadeiras raridades, que
fizeram muito sucesso
e história nas décadas de 50, 60 e 70, e que há muito
tempo
deixaram de circular em nossas bancas de jornais.
Se nos Estados Unidos
as publicações pulps (de baixa qualidade) proporcionavam belos momentos de
entreterimento aos leitores, mesmo sendo consideradas literaturas de péssimas
qualidades, em nosso país os denominados bolsilivros cumpriram a mesma função e
também foram desprezados pelos pseudos-intelectuais.
A matéria a seguir é uma singela homenagem a uma centena
de autores e ilustradores que contribuíram de forma contundente para fomentar
esse incrível tipo de publicações, que apresentavam uma literatura popular que
movimentou milhões no Brasil, gerou empregos, motivou diversas editoras a
continuar e a publicar novas series, consagrou autores e proporcionou prazer a
Milhares de leitores, que se deliciavam com essas...
HISTÓRIAS QUE FIZERAM
HISTÓRIAS!
Segundo
consta, o precursor dos chamados livros
de bolsos, que muito sucesso fizeram no
Brasil e no mundo,
no passado, foi o
escritor espanhol Jose Mallorqui, que
Criou
a consagrada serie chamada Coyote,
que
narrava as aventuras de um justiceiro mascarado.
Antes
da criação de Coyote, havia na Espanha um editora
chamada Cliper, sediada em
Barcelona, que publicava
Vendia
folhetins com as aventuras do Zorro.
Após
constatar as boas vendas, um outro editor, decidido a concorrer com a Cliper
encomendou a um jovem escritor um personagem na mesma linha.
Assim,
Jose Mallorqui foi incumbido para criar
algo que pudesse concorrer com o
justiceiro de capa e
espada,
no formato livro de bolso.
Mallorqui
não perdeu tempo, examinou seus arquivos e após encontrar alguns contos de
Coyote, decidiu adapta-los para o formato livro de bolso.
Na
realidade, o primeiro conto de Coyote foi publicado em 1940, num jornal
espanhol e fez sucesso. Tanto que o autor passou escrever outras histórias
desse curioso personagem que
vivia na Califórnia.
Ao se lembrar do sucesso que tinha feito aquele personagem, o autor passou a criar
novas
histórias
mais complexas para edições de livros de bolso, que fizeram um sucesso danado.
No
total ele escreveu 119 episódios, que foram produzidos até 1953.
Oficialmente,
o primeiro pocket book de Coyote foi lançado em 1950, na Espanha. No Brasil a
serie só foi lançada em 1956, pela recém fundada editora Monterey e teve foi
um grande sucesso. Coyote foi publicado durante anos no Brasil pela Monterey.
AUTORES,
DESPRESTIGIADOS,
PELOS
CRÍTICOS, ERAM
VENERADOS
PELO POVO
Os
autores de livros de bolso eram mal vistos pelos
intelectuais, da época. Porém,
naquele tempo
frequentar livrarias era coisa de bacana, de gente que tinha
dinheiro, pois os clássicos literários tinham preços além
do poder de compra do
proletariado. Os denomnados pockets
Books
vieram preencher a lacuna e para encantar essa
nova classe de leitores que
surgiu, no Brasil e no mundo,
que tinha sede de leituras de aventuras.
O
PRIMEIRO LIVRO
DE WESTERN
EDITADO
NA AMÉRICA
Na
América, o primeiro livro editado, do gênero
western, que se tornou um fenômeno
de venda, foi
The Virgian, em 1902, de autoria de Owen Wister.
Esse autor
nasceu em Ohio, em 1872, estudou e se formou em Haward, estudou música em Paris
e acabou se tornando um advogado profissional conceituado. Adorava tirar férias
no Wyoming e foi nessas viagens que
acabou se apaixonando
pelas histórias que ouvia sobre aquela região e seus
lendários personagens. Certo dia, ele
decidiu
escrever aquelas histórias fantásticas e assim
se tornou um escritor. Essas
edição clássica que
marcou época foi editada em larga escala e a
unidade de
cada exemplar passou a ser acessível às
classes menos privilegiadas
financeiramente.
No Brasil e em diversos países o preço das boas obras
literárias estavam – e ainda estão – além do poder
aquisitivo da grande
população.
LIVROS BARATOS
PARA
O POVO
Nos
anos 30, na América, alguns editores decidiram
publicar as famosas edições
pulps e nelas foram narradas as primeiras aventuras sobre o velho Oeste
selvagem, de ficção científica, terror e suspense.
Antes
disso, folhetins eram editados
pelo
famoso circo de Buffalo Bill, que eram bastante
consumidos. Visando
propiciar um produto barato ao grande público alguns editores decidiram
contratar escritores baratos e
Desconhecidos,que
acabaram se revelando excelentes contadores de histórias sobre o velho Oeste,
guerra e outros temas.
E
assim, esses pockets books impressos em papel de baixa qualidade passaram a ser
devorados por uma população
ávida por lazer, mas que tinha pouco dinheiro.
A
ERA DOS WESTERNS
A
partir dos anos 50 até a década de 70 os livros de
bolsos, de cowboys e de
outros gêneros fizeram muito
sucesso em terras tupiniquins.
Baseando-se
nos inúmeros filmes do gênero feitos
por Hollywood, que arrecadavam um bom
dinheiro
nas bilheterias e no sucesso de seriados feitos
exclusivamente para a
TV, por atores considerados
de segunda categoria, como: Gunsmoke – que
durou
por 20 temporadas e só foi cancelado
na década de 70. Outro fenômeno do gênero
foi Bonanza,
serie que
foi lançada em 1959 e que fez um imenso
sucesso durante 10 anos consecutivos -,
alguns editores
nacionais decidiram lançar no formato livro de bolso – torpes
edições, segundo os críticos - uma centena de títulos que conquistaram
gerações.
Estefania também foi uma serie de western lançada
em pocket book que
caiu nas graças dos leitores, por
suas aventuras cheias de ação, tiros e ritmo
acelerado.
Esta serie foi criada e escrita pelo espanhol
Marcial Lafuente.
Porém,
os cowboys começaram a sair de circulação
aos poucos e o reinado dos cowboys no
cinema,
na TV e nas histórias em quadrinhos sucumbiu
definitivamente nos anos
70, para o desespero
daqueles que apreciavam esse gênero.
BONANZA
Em
1959, quando Bonanza foi lançado na TV,
pela NBC (National Broadcasting
Corporation), criada pelo produtor David Dortort e patrocinada – durante 13 anos – pela
General Motors, que ao perceber que os índices de audiência estavam abaixando,
após a morte de Dan Blocker (o simpático, gordo
e popular Hoss Cartwright), que faleceu no dia
13 de maio de 1972,
cortou o patrocínio.
Assim, a partir da décima quarta e derradeira
temporada
Bonanza foi patrocinado pela Ford Motors,
mas os índices de audiência da serie
caiam cada vez
mais e isso provocou o encerramento de uma das series
mais
carismáticas do gênero, que findou
antes
de terminar a décima quarta temporada, que teve
apenas 16 episódios. Há quem
afirme que ao ser convocado
para filmar o último episódio dessa famosa e
saudosa serie,
que foi realizada no dia 6 de novembro de 1972, o
ator Lorne Greene (o patriarca dos
Cartwrights) não
compareceu ao set de filmagens.
GUNSMOKE
O
mesmo ocorreu com Gunsmoke, a mais longeva
serie de western da TV americana,
que após 20 temporadas
de sucesso acabou sendo cancelada em 1975.
Os seriados e
filmes de cowboys acabaram
desaparecendo da mídia em 1975, quando as
series
policias se tornaram populares na TV.
OUTROS
GÊNEROS
DE
BOLSILIVROS
Convém
lembrar que o que motivou as editoras nacionais a editarem bolsilivros de
cowboys foi o sucesso que o
gênero faziam entre os anos 30 e 50. Em 1959,
quando
Bonanza foi lançado havia 48 series de western
sendo exibidas nos
Estados Unidos.
Além
das histórias de westerns, editoras como a
Monterey, Bruguera e Tecnoprint, entre os anos 50 e 70, investiram alto
nesses livros baratos – lançando diversos
Títulos
– tornado-os bem populares.
Dentre
os inúmeros autores e títulos que surgiram ao longo
desses anos, a maioria eram
de autores de outros países, porém alguns foram escritos por escritores
brasileiros, como: Hélio do Soveral, David Nasser, Júlio Emílio Braz, Tony
Carson -
esses dois grandes amigos do passado - e outras feras, que assinavam pseudônimos estrangeiros.
Autores desconhecidos até então, como Keith
Luger,
que escrevia as aventuras de um espião aposentado que protagonizava uma
serie chamada K.O Durban –
uma espécie de 007 -, faziam muito sucesso.
Na
verdade, Keith Luger era o pseudônimo do brasileiro
Hélio do Soveral. Giselle, a espião, estrelava uma outra
serie
que caiu no gosto popular e suas histórias eram criadas
pelo jornalista David
Nasser, que inicialmente passou
a publicar as histórias dessa personagem
carismática
em capítulos no jornal carioca Diário da Noite,
antes
dela se tornar um fenômeno de venda
no formato bolsilivros.
Além
dos títulos que mencionei acima, também
eram publicados series de guerra,
aventura, suspense e ficção científica, todas sempre com boa receptividade por
parte dos leitores. Porém, os grandes
campeões de venda, eram duas
series incríveis que chegavam a vender cerca de 70 mil
exemplares
mensais: Coyote e a serie ZZ7 que trazia as
aventuras da sensual Brigitte
Monfort, a espiã que era filha de Giselle, que era agente da CIA e usava o
codinome de Baby.
O grande mestre das ilustrações dessa era de ouro dos pockets
books editados no país foi
o grande mestre ilustrador Benício,
que dava um show ao desenhar e pintar as
capas
de muitas dessas edições.
Nos
anos 80, cheguei a colecionar diversos títulos desses
livros de bolso e,
especialmente Brigitte Monfort -
por causa das magníficas capas do mestre Benício -,
que além de suas aventuras espetaculares tinham
capaz incríveis feitas por Benício, da sensual espiã.
Eu
vivia devorando a serie ZZ7 e outros livros de bolso,
além das revistas em
quadrinhos da EBAL, da RGE, da
editora
O Cruzeiro e revistas de caças e palavras cruzadas da editora Tecnoprint (Coquetel,
que até hoje fazem sucesso).
Tempo
bom aquele, quando nem sonhávamos com
computadores e um dos lazeres mais
baratos que tínhamos
era a boa leitura desse pequenos livros, bons e baratos,
que faziam a alegria de muita gente, além das revistas
de HQs, é óbvio.
Aos
domingos eu não perdia as matinês, para ver aqueles
bons e velhos filmes de cowboys, como Tim Holt e
outros, que fizeram a alegria da garotada.
Sempre adorei cinema, música, livros, teatro e gibis.
Com
o passar do tempo, os chamados bolsilivros
acabaram
desaparecendo de circulação, deixando
muita gente na saudade. Anos depois,
algumas editoras
tentaram ressuscitar aquele tipo de publicações,
mas
fracassaram.
Como
já citei no início dessa matéria, até hoje existe um
mercado
paralelo de revistas e livros usados, onde
saudosistas
e fãs daqueles incríveis pockets
books
ainda compram, trocam e vendem essas raras edições.
Tenho um amigo que até hoje
mantém a sete chaves algumas dessas coleções, que não empresta e não vende,
por
dinheiro algum.
Houve
um tempo em que os produtos editoriais
eram baratos e que todo mundo podia
adquiri-los
para ler. Mas
esse tempo acabou. Hoje – devido aos preços exorbitantes -, poucos são aqueles
que ainda buscam nas
bancas de jornais uma boa forma de lazer
e cultura,
infelizmente.
Por Tony Fernandes\Redação Estúdios Pégasus –
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