domingo, 25 de setembro de 2011

ENTREVISTA COM PAULO HAMASAKI, O HOMEM QUE CONVIVEU COM MAURICIO DE SOUSA E SABE TUDO SOBRE A TRAJETÓRIA PROFISSIONAL DELE!

Este nosso talkie show virtual já virou
 ponto de encontro daqueles que adoram arte 
em geral e, principalmente, 
histórias em quadrinhos. 
É nesse nosso pequeno espaço, ante a 
imensidão que é a WEB, 
é que fizemos nosso cantinho onde reunimos 
semanalmente 
grandes feras das HQs nacionais, 
gente que fez e faz acontecer. 
O entrevistado de hoje foi o braço direito
 do Mauricio de Sousa, durante anos, 
quando o Disney 
brasileiro começou sua luta 
para implantar no mercado 
editorial nacional – que era tomado por 
publicações estrangeiras, nos anos 60 -, 
seus geniais
 personagens: Mônica e Cebolinha,
 que hoje são publicados 
em diversos países e 
são recordistas de vendas no Brasil. 
Nosso entrevistado, também é eclético, 
escreveu e desenhou, criou e publicou
 seus próprios personagens, 
fez parcerias importantes, trabalhou
 para várias editoras, foi diretor de arte e,
por fim, abriu sua própria 
editora chamada Hamasaki. 
Enfim, trata-se de um 
guerreiro incansável, de ascendência oriental, 
dono de uma grande bagagem cultural 
e profissional. 
Ele tem uma vasta experiência no setor
 editorial e sempre foi polivalente. 
Tem muita história para contar.
Levei seis meses para conseguir colher
 este depoimento, pois a criatura é avessa
 a computadores, a tecnologia.
 Curta, agora, o bate papo informal 
com o bengala brother 
e old friend, o mestre...

PAULO HAMASAKI ,
 Ex-braço direito do Mauricio 
de Sousa e o criador de Torn, Jana,
Cris (a repórter), A Turma do Miúdo,
Caruncho e Caroço,
e de milhares de páginas de HQs


 de diversos gêneros!


Getúlio Delphim, Paulo Hamasaki,
J. B. Pereira e Luscar (em primeiro plano).
Foto rara de Hamasaki
Tony 1– É uma honra poder entrevistá-lo,
 velho parceiro de árduas 
batalhas e grande guru do Oriente.
 Trabalhamos juntos durante
 5 anos na extinta editora Noblet.
 Você era o nosso diretor de arte ou editor. 
Você era o cara que
 bolava os projetos da casa (Rsss...). 
Aquilo foi uma escola. Também chegamos até 
a trabalhar em conjunto para a Bloch Editores
 fazendo Os Trapaçhões
 e Trapasuat, lembra?  Faz tempo... (Rsss...).
 Somos anti- diluvianos, jurássicos, uma espécie 
em extinção.
 Há tempos a gente não nos viamos. 
Somos sobreviventes e ainda estamos aí, 
“firmes na paçoca” nesse incrível e oscilante 
mercado editorial nacional. Pelo visto, nem o capeta 
quer a gente lá embaixo (Rsss...). 
O pessoal “sobe a serra”, “desce o morro” e nós 
ficamos por aqui, contrariando a 
Natureza que insiste em levar nossos 
oldies bengalas friends
 “pro lado de lá”. Vou dar o “tiro de largada”... 
O que você anda fazendo últimamente, Paulo?


Hamasaki: Estou escrevendo histórias e contos de 
diversos gêneros, que pretendo, posteriormente,
 transformá-los em Histórias em Quadrinhos, Tony. 
Mas antes gostaria de vê-los publicados como livros.


Arte: de Paulo Hamasaki - Um fã de seres jurássicos -
Cores: Tony Fernandes

Tony 2 – Deixe-me ver se entendi... você 
é um desenhista que virou, de vez,  um escriba,
 mas que um dia pretende voltar 
a desenhar e que pretende  transformar seus
 textos em HQs, é isso? Entendi. Aliás, você sempre 
escreveu muito bem, sou seu fã ... digo, fã dos seus 
textos, professor Hama (Rsss...).
 Livros... vamos falar sobre eles...
 O que o levou a se dedicar,
 nos últimos anos, só a escrita?  
Alguma decepção com as HQs? 
Enfim, decidiu parar de desenhar, 
temporariamente, por quê?


Hamasaki: Fiquei cansado de fazer sempre a 
mesma coisa. 
Estou dando um tempo, estudando novas fórmulas de 
fazer Quadrinhos, procurando adivinhar o que o 
leitor deseja e se o que ele quer
 corresponde ao que desejo fazer.



O genial Alex Raymond ainda é um dos autores
preferidos de Paulo Hamasaki
Tony 3 – Interessante. Caraca... comecei nosso bate 
papo pelo meio, vou recomeçar... (Rsss...). 
Nobody is perfect, muito menos eu... Paulinho Hamasaki – 
pros íntimos- , em que dia,  mês, ano e estado, país, você
 nasceu? E qual é seu nome de batismo?


Hamasaki: Nasci em Araçatuba,
 estado de S. Paulo,
 em 29 de setembro de 1941 e fui batizado na 
Igreja Católica como Paulo. 
O meu nome verdadeiro japonês é 
Yasukasu, que na grafia oriental significa:
 imperador.


Tony 4 – Imperador? Hmmm... que chique... (Rsss...). 
Sua família é originária do Japão, pelo que sei (tá na cara, 
é óbvio). Mas, de que região eles vieram?


Hamasaki: Hiroshima. 
Sou descendente de família
 quase milenar (950 anos para mais). 
Meu avô ia aportar em São Francisco, 
na Califórnia, mas
 mudou de ideia e veio para o Brasil. 
Pouco antes de estourar a 
Segunda Grande Guerra Mundial, 
ele regressou a Hiroshima e ali 
faleceu, em conseqüência das radiações 
da bomba que os americanos jogaram na cidade.
 Os Hamasaki sempre viveram no litoral e até hoje 
possuem frota pesqueira, bastante modernizada. 
Tradicionalmente comerciantes, descendentes 
dos antigos coreanos, os Hamasaki ganharam 
o nome através de decreto do imperador. 
Antes disso, segundo meu pai, a família 
era chamada Tanaka.


Hamasaki (de Costas), Shimamoto (de perfil), Flávio 
Colin (de frente).
Em segundo plano: Rodolfo Zalla, J. B. Pereira e 

o mestre Getúlio Delphim.

Tony 5 – Caramba! Voces são daquela cidade que
 os americanos detonaram. Aquilo foi desumano, 
foi pura sacanagem dos imperialistas da América, 
my friend... mas, isto é uma outra história... Então o
 velho patriarca Hamasaki ia para
 a América, mas decidiu vir para o Brasil. Captei. 
Que “zica”, bengala friend. Você na América, no
 passado, fazendo comics, teria se dado bem melhor
 do que por aqui... (Rsss...).
 Mas, vamos em gente e a pergunta a seguir é fatal... 
não dá pra te entrevistar sem falar nele... (Rsss...). 
Sem falar no cara, você sabe de quem eu estou falando... 
Sua primeira experiência profissional foi com o Mauricio 
de Sousa, ou você já havia publicado antes de conhecê-lo?


Hamasaki: Um ano antes, de ir trabalhar
 com ele, eu já publicava meus quadrinhos
 em algumas editoras paulistanas. 
Por excesso de autocrítica, raramente
 assinava meus trabalhos.

Tony 6 – Timidão? Hmmm... entendi. Como e 
quando foi que você conheceu o aclamado
 “Disney brasileiro”, nosso campeão 
de vendas, que eleva o nome das HQs tupiniquins
 além das fronteiras do nosso pais?

Hamasaki: Foi na redação da editora Outubro 
(ex-Continental). 
O Mauricio apareceu por lá para entregar seus
 originais das tiras em quadrinhos de seus 
personagens que haviam sido publicadas 
no jornal Folha de São Paulo. 
Eu fazia as montagens,
 transformando-as em páginas da revista Bidu. 
Foi assim que o conheci. Um ano depois,
 ele me veio procurar na editora do Brasil,
 onde eu ilustrava livros
 didáticos e me fez proposta de 
artefinalizar seus personagens.


Paulo Hamasaki e Paulo Fukue - Arte feita
por Hamasaki em 1973
Tony 7 – Interessante, grande Hama... 
Muitos descendentes de orientais, em geral, fazem
 arte no estilo mangá – principalmente, 
hoje em dia. Mas, você, o Shima, o Seto e o Fernando
 Ikoma, preferiram seguir a escola americana, por quê? 
Nunca apreciou mangás na infância ou adolescência?

Hamasaki:  O Shima tem estilo único e 
inconfundível e é sem dúvida um dos
 nossos maiores e melhores artistas 
dos quadrinhos. Os outros desenhistas 
que citou são
 de escolas japonesas, que difundiram 
os mangás no Brasil. 
Quanto a mim, apreciava mais o estilo 
americano, as histórias, as técnicas, 
o claro\escuro, essas coisas.

Tony 8 – Acho que a grande maioria de nós, 
autores, brasileiros
 sofremos influência da técnica dos grandes mestres da
 América, bengala brother. Com certeza. Pergunto:
 O Mauricio era, inicialmente, repórter policial do jornal
 Folha de São Paulo, correto? 
Você sabe me dizer por que ele decidiu 
fazer tiras de jornais?

Hamasaki: Nos intervalos de folga entre uma 
reportagem e outra, ele desenhava 
piadas nos espaços em branco do jornal, 
dividindo-os com latinos-
americanos, europeus e americanos. 
Não foi por muito tempo; logo ele criou o Bidu e 
o Franjinha como personagens de HQs, ocupando 
rapidamente seu espaço 
no meio de todos aqueles gringos.
 O que deduzo é que
 o Maurício começava a esboçar os
 primeiros projetos
 para edificar a sua futura organização e 
as tiras eram só início.

Tony 9 – Sei que Mauricio ralou muito pra
 chegar onde está. 
Merece e inovou a linguagem das HQs infantis. 
Naquele tempo de “vacas magras” você era, 
digamos, o diretor de arte do Mauricio, OK?
 Era você que comandava o estúdio 
enquanto o chefe fazia suas
 reportagens e vendas, correto? 
Onde ficava o estúdio e quem 
mais trabalhava com vocês nessa época?




Hamasaki: Nesse período o Mauricio
 não era mais repórter, mas um 
empresário estruturando 
seus negócios.
 Quando ele me contratou, atuamos, por uns
 tempos, em Mogi das Cruzes; depois, na
 rua Helvética, em S. Paulo;
 uns dois anos depois, num andar do edifício Notícias
 Populares, que era propriedade do jornal 
Folha de São Paulo.
 Foi ali que começamos a contratar gente.






Tony 10: Então, tudo começou em Mogi... continue, Paulo...

Hamasaki: Principalmente moças, algumas 
origem japonesa (meu pai havia 
me dito que no Japão,
 a produção de mangás era feita 
por 70% de elementos 
femininos, que faziam letras,
 balões, corrigiam falhas, requadravam 
páginas, apagavam
 traços a lápis, coisas assim...

Tony 11: Bem observado. O senhor seu 
pai tinha razão. De fato, atualmente, ainda há
 muitas mulheres envolvidas na 
produção dos mangás. 
Aquilo é uma loucura soltam edições 
semanais, quinzenais e mensais, 
com mais de 400 páginas a
 preços super populares, pois o material
 é impresso em
 papel de péssima qualidade e de várias cores. 
Assim, os mangás são consumidos 
por todas as classes sociais. 
Mas, tenho notícia atual de que até
 os mangás tiveram queda
 nas vendas, que atingiram todo o mundo. 
No Brasil, um país subdesenvolvido, 
onde a renda per capita
 ainda é ridícula um “gênio” inventou
 de fazer revistas de 
alto nível gráfico, publicações chiques. Is
to acabou espantando a grande massa
 que, apesar de adorar 
HQs, acabou deixando de comprá-las devido
 aos preços extorsivos.
 Eu só queria saber o nome desse
 “gênio”, para matá-lo...
 Prossiga, bengala friend, este 
papo está interessante...

Hamasaki: Passei a sugestão do meu velho 
para o Mauricio, que era de 
decisões tão rápidas quanto acertadas. 
Claro que, no princípio, para mim, 
foi extremamente difícil agüentar a adaptação
 da turma ao estilo Mauricio.
 Passei uns anos fazendo serão, 
corrigindo falhas. 
Os nomes que me lembro: 
Graciano, Sérgio de Jesus,
 Lauro, Alvim, Luscar, Alice, Márcia, Laura, 
Herrero, Herreno, Sidnei.
  


Tony 12 – Alvim, Alice, Herrero 
e o grande Luscar, eu  também os
 conheci, bengala samurai.
 Continuando... No início, quando você 
começou a trabalhar com “o fera”,
 suponho que voces passaram 
por muitas dificuldades financeiras, etc.
 Aonde vocês arrumaram tanta garra 
e perseverança pra seguir em frente? 
Dizem que o homem comprou 
um livro sobre a vida e a luta de Walt Disney
 e que ele vivia com o tal livro pra lá
 e pra cá e vivia apregoando 
que um dia ia ser o Disney tupiniquim....
 (Rsss...). O pessoal devia achar ele maluco... (Rsss...). 
Mas, acabou chegando lá e até superou Disney 
em vendas, no Brasil.
 O homem sempre teve muita garra...


Hamasaki: Mauricio jamais se 
autodenominou o Disney brasileiro. 
Na verdade, fui eu que disse que 
um dia ele seria conhecido assim. 
Quanto ao livro, da editora Vecchi,
ele deve possuí-lo até hoje.
 Realmente algumas pessoas achavam que 
o Mauricio era um sonhador, 
outros um megalomaníaco
 e, s ei lá porque, vinham 
dizê-lo a mim. 
Como conhecia os planos dele
 e ele jamais os ocultou de mim, procurava
 dar todo o meu apoio. 
Sob o meu ponto de vista, achava 
perfeitamente natural, 
não tanto como colaborador, mas
 sobretudo como amigo. 
Nesse sentido, creio que
 ele demonstrou ser
 muito mais do que eu. 
Tenho que reconhecer.


Salvador Daly e Walt Disney
Tony 13 – Na década de 70 eu 
também colaborei com a 
Folhinha de São Paulo, mas receber 
da empresa Folha da
 Manhã – que comanda o grupo Folha-, 
era um drama mexicano... 
(Rsss...). Os caras eram ruins 
para pagar. Pagavam, depois de
 muita briga. Pergunto... 
como vocês conseguiam receber deles? 

Hamasaki: Colaboradores de editoras 
sempre foram os últimos a receber (quando 
recebiam, é claro), pois não 
havia vinculo empregatício, somente um
compromisso
 informal, que poderia ser desfeito sem aviso 
prévio (você teve uma experiência semelhante, 
na editora Saber, Lembra-se?)

Tony 14: E como me lembro... Bem lembrado, 
Paulinho... 1973. 
Eu era garoto, estava começando... 
eles foram o meu primeiro cliente e quase tomei 
o meu primeiro calote no ramo. 
Pra receber tive que ameaçar dar umas 
porradas nos editores... 
a coisa se espalhou e acabei ficando famoso
 como “o cara que 
tentou assassinar aqueles doidos...” (Rsss...). 
Um dia foi na editora Abril e 
o fulano que me atendeu 
me disse: “Você é o cara que 
apavorou os editores do Brás?” (Rsss...). 
Recém-casado, duro, com uma filha pra comprar 
leite Ninho... fiquei macho pra cacete... 
(Rsss...). Conta mais... é bom 
relembrar os oldies times...

Hamasaki: Essas empresas, Tony, dependiam 
das vendas em bancas, pois 
assinaturas e anúncios
 em HQs eram incipentes na época e não 
cobriam as despesas de produção.

Tony 15: Sim, hoje eu sei disso. Mas, na época 
eu não quis saber de
 história, bengala friend... parti pra cima deles... (Rsss...). 
Quanta besteira a gente faz na vida, não?




Hamasaki: Em referência
 a sua última pergunta: 
Mauricio, como o cofundador da Folhinha 
de São Paulo – criação dele e de Lenita Miranda
 de Figueiredo, esta como redatora-chefe do veículo-, 
faziam o jornal titular vender mais aos domingos. 
Outra coisa, nós sempre recebíamos nossos 
pagamentos em dia. Falatório não procede.




Tony 16: Tia Lenita, putz... até já 
havia me esquecido dela... 
Discordo de você, bengala friend, 
no que se refere a pontualidade dos
 pagamentos do referido jornal.
 Também quase tomei um cano deles na 
década de 70. Só recebi depois de 
fazer um puta escarcéu... 
pode acreditar. 
Voces podem ter recebido em dia, mas eu, não, 
logo no primeiro freelance.
Comecei a carreira derrapando, literalmente, 
continuei de teimoso... (Rsss...).
 Prosseguindo, old friend... Pelo que me consta,
 a Mauricio de Sousa Produções 
começou pequena, fazendo
 desenhos de merchandising para
 copos e etc, para as lojas tipo 
Pernambucanas, da vida.
 Confere? 
Isto ocorreu antes ou depois 
da tiras saírem no jornal?

Hamasaki: O Mauricio sempre
 procurou vender seus trabalhos 
para empresas que necessitavam de 
desenhos para seus produtos tais, como: 
copos, pratos, guardanapos, fronhas, 
roupas de cama, etc. 
Produtos voltados para o público infantil. 
Disse-me que as tiras de jornal
 eram insuficientes
 para promover seus bonecos. 
Naqueles tempos, as pesquisas afirmavam 
que apenas 30% dos leitores
 brasileiros eram plenamente alfabetizados. 
O Mauricio desejava a fatia 
maior, aquela que não lia jornais.


Tony 17: Só 30%? Poucos leitores...
 e o pior, parece que a coisa não mudou
 muito nos últimos anos, my friend... 
lamentável. 
O homem tinha visão e sabia muito bem 
qual era seu objetivo: 
popularizar suas criações 
atingindo assim a grande massa. 
Um marketeiro nato. Corre um boato que...
 a primeira editora a lançar uma revista 
com os personagens do 
Mauricio, foi a milenar e lendária 
Gráfica e Editora Bentivegna.
 Isto é correto ou é lenda?
Você sabe, há muitas lendas no mercado... 
Fale-me sobre isto...




Hamasaki: Foi a editora Outubro, de 
Miguel Falcone Penteado, lendário 
ilustrador, pintor e editor, que 
possuía grande compreensão dos problemas que o 
artista brasileiro enfrentava para vender seus
 trabalhos o primeiro a lançar Bidu.


Miguel Penteado (um dos fundadores da
Gráfica e Editora Penteado) e 

o mestre Jayme Cortez
Tony 18: Miguel Penteado, já ouvi muita 
história sobre ele.
Então, ele foi o cara. 
O primeiro a editar uma revista do Mauricio. 
Dizem que foi um grande editor, além 
de ser um grande artista, e que ele deu muito 
apoio aos autores tupiniquins da época... 
conta mais, jurassik friend (Rsss...)...

Hamasaki: A dificuldade das tiras de jornal, 
que seriam utilizadas como páginas 
de gibi através das montagens, 
era que tinha que aguardar o 
término das histórias no
 periódico, o que, logicamente, 
atrasava a confecção da revista.


Tony 19 – A revista do Bidú, durou 
quantas edições, mestre?

Hamasaki: Não sei ao certo, talvez 
cinco ou seis edições, três ou quatro histórias 
completas e as restantes
 parcialmente desenhadas pelo Mauricio.


Capa da edição #1 da revista Cebolinha,
publicada pela editora Abril
Tony 20 : Pelo que sei o projeto 
da revista da Mônica não foi feito 
para Abril, na época, e parece 
que vocês estavam negociando 
com outra editora... qual era o 
nome dessa editora e por que a 
coisa acabou não dando certo?

Hamasaki: Tony, eu julguei que 
a entrevista fosse sobre a minha 
fantástica e quixotesca jornada 
dentro dos quadrinhos, mas 
você está me ludibriando...

Tony 21: Eu, grande guru do Oriente? 
Ludibriando? (Rssss...). 
Por que estou lhe perguntando c
oisas do tempo em que você
estava lá no Mauricio, o pai da 
Turma da Mônica? (Rsss...). 
Bengala friend, é impossível falar 
da sua carreira, sem falar ou 
questionar algo sobre o Mauricio, final 
você estava lá, foi o braço direito
 do homem, viu a 
coisa surgir, crescer (Rsss...). 
Além do mais, meus webleitores,
 com certeza, vão adorar saber essas 
coisas de bastidores, que um dia você
 me contou e que agora
 temos a oportunidade de 
relatar para a galera neste seu revelador
 e interessante depoimento.
 Acho isto fantástico.




Hamasaki: Sobre o "cara”, como diria 
Obama, existem 
quatro décadas e meia de literatura por aí...

Tony 22: Sim, eu sei... mas, você esteve la´in loco...

Hamasaki: Mas serei condescendente com você, 
em nome da nossa velha amizade e das lutas
 travadas no campo durante tantos anos.

Tony 23: Que sorte (Rsss...). 
E não se esqueça das milhares 
de “ampolas geladas" (cervejas) que 
 bebericamos, também, 
ao longo desses anos todos, my friend. 
Deixamos nuitos donos de 
botecos ricos  (Rsss...)...
 com certeza, somos grandes 
acionistas das cervejarias 
brasileiras... (Rsss...). Dá pra prosseguir? 
Ou tá difícil relembrar o passado? (Rsss...). 
Qual era o nome da editora em 
que estava sendo negociado o
 gibi da Mônica, antes da editora Abril? Diga a verdade, 
nada mais além da verdade, se quiser, bengala brother... 
coloquei você contra a parede? (Rsss...). Isto tá pior do 
que interrogatório policial, não é mesmo?
 Faz tempo que eu queri te pegar. Levei 6 meses 
para conseguir esta entrevista e você, agora, não 
vai escapar... (Rsss...). Tá na mira!

Hamasaki: A editora em questão
 chamava-se União Brasileira de Editores e
 não deu certo  porque as negociações entre
 o artista e o empresário eram 
mais sofisticadas por parte do primeiro,
 envolvendo tiragens,
 anunciantes, contratos, direitos autorais, 
porcentagens
 de venda, coisa desse teor...




Tony 24: Adorei isso, apesar de já conhecer 
esta história. 
Enfim, o Mauricião é um grande empresário, soube 
negociar e os caras se assustaram ante as exigências. 
Também ficaram contra a parede (Rsss...)...

Hamasaki:  Não eram simplesmente
 preço por página e pagamento em tal dia. 
Eu falei com o editor da citada
 empresa porque o Mauricio 
solicitou-me, usando um
termo que ficou na minha memória:
 “Discussões estéreis.”

Tony 25: Ele jogou certo, tentou vender sua obra da 
melhor maneira possível, como os syndicates da vida.
 Este é o mal da maioria dos autores brasileiros, não 
sabem como agem os syndicates e, 
portanto, não sabem negociar 
e acabam recebendo apenas 
uns trocados por página. 
O pessoal, nessas horas, precisa deixar 
de ser artista e ser empresário, 
é óbvio. Nunca vi um syndicate americano
 receber apenas o preço por página. 
Já trabalhei com os agentes gringos. 
Eles são durões nesse quesito. 
Exigem advance, etc. 
Você sabe.

Hamasaki: O próximo passo foi a editora
 Abril; havia 17 números da Mônica prontos
 para publicação.
 O número 17 também correspondia à nossa produção
 diária de páginas (acredite se quiser, todavia, minha 
memória de elefante não me trai). 
É óbvio que naquela azáfama toda, 
a arte não era das mais primorosas.

Tony 26: Fantástica esta revelação! 17 números? 
Dezessete páginas por dia? 
As Hqs saiam feito pastel. Isto é super importante, pois
 falo sempre pro pessoal: “Sem produção nunca haverá 
nacionalização.”
 É isso aí! Também sou adepto dessa filosofia 
de trabalho, que vocês praticavam. 
Uma grande editora, como a Abril, quer
 garantia de continuidade do material e 
vocês agiram tal qual os syndicates, 
ofereceram uma gama de material
 e usaram de estratégia fazendo as mesmas 
exigências dos gringos. 
 Atualmente, o pessoal tá preocupado em fazer 
“obra de arte”, pra impressionar 
outro artista, pra receber elogios –
 principalmente na WEB -, ficam colocando d
ownload FREE, coisa de narcisista, você sabe.
 E acabam avacalhando ainda mais o
 minguado mercado editorial n
acional. Já bronqueei,
 mas alguns “abobrinhas” ainda 
insistem nisso. 
Fazer o quê? Não têm visão comercial 
ou qualquer experiência no ramo. 
Querem foder o mercado como
 aconteceu com a indústria da música. 
Enfim, estão dando um "tiro no próprio pe´". 
Espero que essa gente acorde.
 Levam um mês pra fazer 10 págs e se 
acham o máximo.
 Esta mentalidade tem que acabar. Isto é ridículo. 
Quanto a qualidade ou não do material que vocês 
produziram na época, pouco importa, pois, 
o que interessa é que o Mauricio foi lá e se deu bem, 
conseguiu vender “o peixe”. Isto também prova
 que o trabalho não era
 tão ruim assim, mesmo feito na pauliera.
Fizeram a coisa certa, bengala brother.
Indago: Voces fecharam com 
a poderosa editora Abril 
antes ou depois da campanha
 criada pela PROEME – 
famosa agência de publicidade do 
Enio Mainardi-, que
 tinha a conta da SICA 
(famosa marca de produtos alimentícios)?


Revista Cascão edição # 1 -
Lançada pela editora Abril
Hamasaki: Creio que a CICA veio 
um ano depois. 
Quando tudo isso aconteceu, eu já estava 
aventurando-me em outras plagas.

Tony 27 – O grande bengala friend Dag Lemos t
ambém deu 
uma "forcinha" nesse caso da Cica, 
Pensava que os comerciais 
da CICA  (desenhos animados –
 para comerciais de TV -, com os personagens 
do Mauricio, onde o garoto propaganda 
era o Jotalhão, para o extrato de 
tomate Elefante), tinha vindo antes.
 Quantos anos você 
trabalhou com o Mauricio?
 Saiu, por quê? Então, voces já tinham fechado
 com a Abril... entendi.

Hamasaki: Meu início foi 
em outubro de 1961, mas, efetivamente, 
em 1962 (eu ainda não havia feito o
 serviço militar), daí o hiato. 
Fiquei na MSP (Mauricio de Sousa Produções)
 por uns oito anos; nos últimos meses,
 estava trabalhando num 
roteiro de Gedeone, “Johnny Star – 
No Mundo dos Gigantes” e
 não dava para conciliar as duas tarefas, 
uma tinha que ser sacrificada.

Tony 28: Eu sei disso, jurassik friend. 
Você, um dia me confessou – entre um trago
 e outro -, que não queria ficar fazendo Mônica a
vida toda, tinha outras pretensões artísticas.
 Entendo isso. 
Você é um cara inteligente, criativo, escreve 
bem, sempre criou seus personagens e 
obviamente queria desenvolver 
seu próprio trabalho. Sempre foi idealista, tanto 
quanto eu.
 Não fazemos HQs só pela grana. 
Quanto a Johnny Star, cara, eu comprei 
este almanaque, 
formato magazine, e adorei o gibizão. 
Voces fizeram isso aproveitando o 
sucesso de uma
 série americana que era sucesso na TV: 
Terra de Gigantes, apesar da 
versão de vocês explorar
 a mesma temática ela nada
tinha a ver com a série 
televisiva. Foram criativos.
 Foi um show de roteiro do 
professor Gedeone e de arte sua.
 O material era excelente e haja fôlego pra 
desenhar aquela porrada de 
páginas. Um trabalho de titãs. 
 Apenas abordaram o 
mesmo tema de uma forma 
brilhante. Parabéns.  
Naquela época eu era adolescente 
e nem sonhava em conhecer 
você e o saudoso mestre
 Gedeone (criador do Raio Negro), 
um dia. Nos tornamos
 amigos de longa data. Desculpe-me,
 bengala friend, pelas
interrupções, mas é impossível 
não intervir nesses seus
 saudáveis comentários. 
Um verdadeiro flash back... (Rsss...). 
Prossiga, por favor...

Hamasaki: Em referência a Abril, o 
fechamento das negociações foi realizado
 pelo Mauricio. Algum tempo 
atrás, ele havia dito que tinha que 
falar com “Deus” e 
não com o “santo”.
 Lembrei-lhe a frase e ele era 
um autêntico self made man.


Edição especial comemorativa de 25 anos de
publicação da revista Mônica
(Editora Abril)
Tony 29: Eu sei , você já me contou esta 
história no passado. 
O cara não foi falar com os 
subalteros da Abril, foi logo falar com o dono,
 o Civita. Na certa, os subalternos 
iriam “barrá-lo no baile”, é óbvio. 
Ele foi um grande estrategista. 
Sabia o que queria e foi fundo.
Prosseguindo este nosso sensacional e
 esclarecedor bate papo... 
Já ouvi dizer por aí que o professor Gedeone 
ensinava o Mauricio a desenhar... (Rsss...). 
Isto é verdade? Isto só pode
 ser piada... o Gê era um gozador...

Hamasaki: O que sei é que o 
Mauricio pediu algumas opiniões ao Gedeone, 
enquanto caminhávamos na avenida Rio Branco, 
em companhia do Lyrio Aragão, 
investigador e quadrinista,
 que conversava comigo. 
Mais tarde, o Mauricio contou-me 
o breve diálogo. Como todos os artistas, o 
Gedeone tinha certa tendência ao exagero. 
Mas, se fosse verdade, o que
 não é, seria exatamente o contrário.

Tony 30:  Também acho, sem querer 
desmerecer o talento e o trabalho do professor 
Gê, é claro... (Rsss...). Essas coisas,
“causos”, fazem parte do folclore, do metiê...
Pelo que sei, foi você que fez as primeiras 8 edições da 
revista da Mônica ou ajudou a fazê-las, é certo isto? 
O Mauricio fazia apenas os roteiros, na época, e 
vendia “o peixe”, ou também rabiscava?


Mestre Gedeone Malagola, autor de Raio Negro
Hamasaki: As primeiras 17 edições
da revista Mônica foram todas desenhadas
 pelo Mauricio, mas a totalidade 
foi artefinalizada por mim, fora 
do expediente normal do estúdio. 
E, a propósito, há que se fazer justiça 
ao Márcio de Sousa, irmão caçula do 
Mauricio, que, além de ajudar nos roteiros,
 ainda coloria as páginas.
 Ele era elemento preciosíssimo, nunca
 haverá outro como ele.  

Tony 31:  Não conheci o Márcio, mas ouvi
 dizer que ele era muito criativo, desenhava, tocava,
 escrevia letras de música, e fiquei sabendo também
 que as músicas gravadas da Turma da
 Mônica, todas, foram compostas por ele. 
Há algum tempo atrás, 
fiquei sabendo que ele faleceu, infelizmente.
 Indago: Sem dúvida,
 era um cidadão de múltiplos talentos.
 Você também ajudou a criar 
alguns personagens da turma da Mônica,
 correto? Quais foram, 
jurássico guru? Aliás, nós dois
 somos, jurássicos... (Rsss...).





Maura, Márcio e Mauricio de Sousa
(os três irmãos)


Hamasaki: Desde os tempos de 
Mogi das Cruzes, eu e o Mauricio costumávamos
 bater papo nas longas viagens de
 trem ou ônibus. Nessas ocasiões,
 contava-lhe alguns casos acontecidos em
 Araçatuba, interior paulista,
minha terra natal, e o Mauricio, ouvindo 
atentamente, foi criando, mais tarde,
o Penadinho, o Horácio
 (eu adorava dinossauros), 
o Astronauta, o Nicodemo, o Cascão
 (que era o termo que se usava ao 
referir-se a pessoa que
 não tomava banho), etc. 
Daí ele atribuir-me a coautoria, conquanto 
a criação das imagens fosse inteiramente dele. 
Lembro-me de Os Dez Ajustados, tira 
sobre uma família maluca, 
que saía diariamente no jornal Diário
e que eu, após assistir o filme Os Desajustados,
 de John Huston, com 
Clark Gable, Marilyn Monroe e Montgomery
 Clift, comentei a trama com ele.
 Como afirmei antes, 
Mauricio era de decisões rápidas. 
Uma semana depois,
 as tiras eram publicadas.


Marylin Monroe a diva sexy do 
cinema do passado
  Tony 32:  Por fim, vamos falar agora de sua 
prolífica carreira. 
Ou melhor, da sua quixotesca carreira, pra você não
 me amaldiçoar, bengala friend .. (Rsss...)...
 Quando você saiu da MSP e decidiu
 “partir pra briga”, pra qual editoras
 você começou a trabalhar?

Hamasaki: Retornei às editoras da 
Móoca e do Brás; fiz 
alguns trabalhos para a Bloch e Ebal, ambas do 
Rio de Janeiro.
 Mas, foi para a M&C – MInami e Cunha –
 que mais quadrinhos eu fiz: terror, 
sci-fi, westerns e selvas.
 Na Abril, desenhei histórias 
da Cris, a repórter; na Gazeta Ilustrada 
do Grupo Folha realizava duas tiras diárias, 
uma sobre dois caipiras do interior paulista,
 lá pelos anos 50 (Caruncho e Caroço) e 
outra sobre um repórter atrapalhado 
(Egberto), calcado no
 colunista Giba Um, muito famoso na época...


Caruncho e Caroço, dois caipiras atrapalhados
Tony 33: Uma carreira prolífica, quanta coisa... 
Caruncho e Caroço, sempre gostei desta série de 
temática rural. Continue, bengala friend...

Hamasaki: As duas tiras que eu 
fazia pra Gazeta duraram uns três anos.
 Para todas essas editoras, foi 
apenas um príncipio; quando aceitei 
o cargo de editor-chefe 
da editora Noblet, foi  começo, meio e fim. 
Também para as revistas infantis da 
Abril fiz inúmeros roteiros do
 Zé Carioca, mas, lá, para 
ser aprovado, era preciso passar 
pelos seis especialistas
 em Disney, o que não era fácil. 
Ao encontrar o Ivan Saidenberg, dei-lhe a dica 
e falei-lhe sobre as dificuldades 
que iria enfrentar.
 Muito tempo depois, contou-me ele 
o que fizeram, com um único roteiro seu. 
Fizeram ele
 voltar 21 vezes para corrigir.
 A cada retorno, mandavam 
ele corrigir isto corrigir aquilo. 
Ele foi, regressou, insistiu e se
 tornou o roteirista número
 um do grupo Disney, criando o Morcego 
Vermelho e outros personagens para 
o universo do criador do Pato Donald.


Morcego Vermelho, criação de
Ivan Saidenberg, para a Disney


As tiras dos dois caipiras foram distribuidas
 em mais de 50 jornais do país, pela DIME 
(Distribuidora de Material de Imprensa)


Tony 34: Também trabalhei com a Abril, aquilo era
 um pé no saco. 
Lembro-me bem do Ivan, grande cara, e muito criativo.
 Quando eu era garoto... faz tempooo... 
o primeiro gibi que conheci, 
feito por você, se não me engano, foi Jana ou Torn 
(Minami e Cunha Editores) – personagens que viviam 
numa selva pré-histórica. Sua arte era super
 “punhetada”, detalhada. Adorei. Daí pensei comigo, 
esse cara é fã do Kubert, que também fez um personagem
 chamado Torn, se não estou equivocado. De fato, você 
se espelhava nesse famoso
 e lendário desenhista americano, que fez o espetacular 
Sargento Rock, Tarzan, etc?


HQs lançadas pela editora Hamasaki:
Terror Total e Torn






Hamasaki: O personagem do americano 
chamava-se Tor e não me espelhei nele.
 Sempre fiz pesquisas sobre 
a pré-história e possuo não só obras de
antropologia (Linton, Keesing, Coon, Leroi-
Gurhan, Leakey, etc.), 
como inúmeras revistas científicas,
 ilustrações de artistas especializados e
 um sem-número de
 recortes de jornais sobre o assunto. 
Na verdade, quem 
me fez ficar apaixonado pelos 
dinossauros foi o artista 
Frank Frazetta, com o seu personagem
 Ta-Nor, conhecido
 como Thunda, na América em 1953.


TOR - Joe Kubert




Tony 35: Sei que você tem uma imensa
bagagem cultura. 
Então pesquisou a fundo? Legal. Grande 
Frazetta, um grande mestre das pinturas e das HQs. 
O cara fazia cada capa de 
arrasar quarteirão, então foi ele... pode proseguir...

Hamasaki: E, é óbvio, a paixão levou-me 
aos Tarzans de Foster, Hogarth, Maxon, 
Lubbers, Celardo, Manning, 
Wildey, Marsh, etc. Você sabia
 que cada autor tinha 
uma anatomia diferente para 
desenhar o tiranossauro?


Tarzan -Por Lubbers

Tarzan - Por JohnCelardo
Russ Manning fez Tarzan, entre outros trabalhos
incríveis,  mas sua criação-Mor foi Magnus,
publicado pela Gold Key, na América,
 e pela editora O Cruzeiro, no Brasil

Desenhos: Hamasaki - Cores: T. Fernandes

O mais próximo do esqueleto exibido no Museu 
Britânico era o de Foster. 
Em referência a Joe Kubert, 
embora apreciasse sua arte, nunca 
foi dos meus favoritos.
 Torn, o meu personagem, que em inglês 
tem significado mais apropriado, é
 diferente do de Kubert 
(a criação do heróis era dividida com
 Norman Maurer, roteirista que dividia 
o estúdio com o artista mais
 tarde, tornar-se-ia cineasta) 
cujo nome parecia remeter aos deuses nórdicos.
 Eu sabia, contudo, que as comparações seriam 
inevitáveis, mas segui adiante.





Tarzan - Por: Joe Kubert






Tarzan - Por Burne Hogarth


Tarzan - Por: Russ Manning


Tony 36: Perfeito, captamos vossos “sinais de fumaça”, 
tudo ficou bem claro...  Em que ano você 
criou Jana e Torn?

Hamasaki: Entre junho e julho de 1973.
 Nessa ocasião, quando entregava os originais aos 
editores, você e o Wanderley Felipe apareceram 
por lá e fomos apresentados, lembra-se?

Tony 37: É verdade, você tem razão. Pensei que havíamos 
nos conhecido no famoso “Barraco do Justo”.
 Agora caiu a “ficha”. 
Depois comprei e conheci vários personagens e gibis que 
você fazia em parceria com o Paulo Fukue. 
Voces fizeram diversos gêneros. 
Fale-me como você conheceu o Fukue e quanto tempo 
durou esta prolífica parceria?

Hamasaki: Conheci o Paulo Fukue na editora 
Edrel, onde era editor-chefe e logo nos tornamos 
amigos, fazendo parceria em diversos trabalhos de HQs.
 Abordávamos tudo:
 Sci-fi, policial, terror, selvas, westerns, piadas, etc. 
Ele era dinâmico e talentoso e escrevia ótimos roteiros. 
No entanto, era uma época ingrata; a maioria das 
pequenas editoras (tínhamos contrato com quatro: 
MeC, Graúna, Maravilha e JS) sofria com aquisição
de papel de imprensa e, consequentemente 
atrasavam-se a impressão e os lançamentos das
 publicações e, por tabela,
 os nossos pagamentos. Fomos obrigados a dissolver a
 sociedade. Tudo isso durou pouco mais de um ano.


Tony 38: Recordo bem dessa parceria fantástica de voces. 
Comprei muitos gibis feitos por vocês, pela MeC. Júlio
Shimamoto – autor do gaúcho e de milhares páginas de HQs dos
 mais variados gêneros - ... vamos falar sobre o grande mestre
 samurai guerreiro, que você um dia me apresentou... 
vocês chegaram a trabalhar e a morar juntos, na adolescência? 
Como se conheceram?


O Gaúcho, do mestre Júlio Shimamoto
Hamasaki: Conheci o Shimamoto em 1960, na
 editora Outubro. Ele morava em Santo André, assim 
como eu. Fizemos alguns trabalhos em quadrinhos em 
parceria, normalmente os
 roteiros e a arte-final eram meus. Quando ele entrou na
 MCCann-Erickson, próspera agência de publicidade
 americana fazendo storyboards, executava também um
 personagens de quadrinhos, O Gaúcho, que entregava
 semanalmente na redação da Folha, para ser publicada 
na Folhinha. Propus-lhe divirmos um quarto de hotel 
em São Paulo, nas proximidas das firmas e, dessa 
forma, evitar o estresse das viagens diárias.




Tony 39: Lembro-me de você ter me apresentado ao 
Shima na Noblet. Se não me engano ele, naquele dia,
 levou umas tiras do Gaúcho que acabaram sendo publicadas
 numa revista da casa.
 Depois, estivemos no Rio, em Jacarepaguá, na casa dele, 
quando surgiu a oportunidade de fazermos 
Os Trapalhões e Trapasuat, 
para a Bloch. Fomos sócios nessa empreitada... (Rsss...). 
Naquela época, também, a Grafipar estava a milhão 
e mais uma vez nós, os autores nacionais, pudemos ver
 reacender a chama dos quadrinhos brasileiros. 
Época em que surgiu Rodval Matias, 
Mozart Couto,  e outras tantas feras. Os bengalas friends,
 Cláudio Seto e Ataide Braz, foram de suma importância 
para a classe. Eles abriram as portas da editora curitibana 
para nós os autores de HQs. Aquele foi um grande momento 
para os desenhistas e escribas nacionais, Paulo. 
Voltando ao salutar bate papo... Mundo dos Gigantes... 
este era o nome de um gibizão – almanaque – escrito pelo
 Gedeone e desenhado por você, baseado num seriado 
americano da TV, de muito sucesso na época chamado, 
Terra de Gigantes. 
Cara, comprei e adorei aquele trabalho de vocês... como 
surgiu a idéia de fazer aquele tema apaixonante e a revista
 saiu por qual editora? Não me recordo o nome dela...

Hamasaki: A idéia do personagem foi do Gedeone 
Malagola e a editora foi a GEP – Gráfica e 
Editora Penteado.




Tony 40: Exato! O professor Ge sempre foi muito criativo
 e um excelente escriba. Além dos seus super-heróis,
 escreveu muitas histórias de terror, aventuras, cômicas, e fez 
muitas adaptações de clássicos da literatura para as HQs. 
A GEP também foi a primeira a lançar o Surfista
 Prateado e X-Men no Brasil,  formato magazine.
Eram belos almanaques. O Gedeone chegou até a 
escrever umas HQs curtas do X-Men para completar
 a edição brasileira, se não estou equivocado.
 Prosseguindo... Você sempre foi muito 
eclético, bengala friend... fazia infantil, cômico e 
figuras anatômicas... enfim, qualquer estilo... um dia fui 
na banca e comprei Super Mico (uma HQ de um macaco
super-herói), da editora Luzeiro. 
Era um gibi em cores, muito bem feito. 
Gostei bastante e me surpreendi ao ver sua assinatura 
nele, pois na época eu não o conhecia e nem sabia que 
você já havia trabalhado
 com os personagens cômicos do Mauricio.
Pensei comigo... “Cara, esse japa é f... (Rsss...). 
Pois sei que não é fácil dominar vários estilos assim. 
Mas, você dominava bem os estilos... fale-me sobre este 
período, de quem foi a idéia desse 
super macaco das HQs e sobre quantas edições 
durou esse produto...










Hamasaki: Não aprecio muito o estilo dos desenhos
 infantis, embora goste de Calvin, Garfield, Pogo, 
Hagar e outros. 
Ironicamente, eram os trabalhso que mais me 
encomendavam. O Super-Mico foi uma criação do Luís 
Carlos dos Santos, o Luscar, chargista que adotou esse 
nome quando saiu dos 
estúdios do Mauricio e foi trabalhar no Pasquim.


Luscar
Tony 41: Quem bolou aquilo foi o Luscar? Putz... 
eu não sabia. Conheci o trabalho dele como chargista, 
sempre gostei, mas não sabia que o cara era polivalente,
 super criativo. A fase em que ele trabalhou no Pasquim
 eu acompanhei bem. Comprava muito aquele tablóide 
que revolucionou a linguagem da imprensa brasileira 
numa época de repressão militar. Todo jovem estudante 
que era idealista, que sonhava com um Brasil melhor, pois 
a nação sofria nas mãos
 do regime ditatorial dos militares, curtia O Pasquim, genial
 criação de feras que se reuniram, como: Henfil, Ziraldo, 
Millôr Fernandes e Paulo Francis.


Capa da primeira edição do Saci Pererê - de Ziraldo -
editora o Cruzeiro (década de 60). Anos depois
Ziraldo seria um dos fundadores do
tablóide O Pasquim
 
Esse jornaleco, no bom sentido, vendia muito naquela
 época opressiva. Lembro-me que eles, ao lançarem no jornal 
o disco (compacto simples em vinil) daquela famosa música 
francesa Je T’aime, onde um homem e uma mulher gemiam
 simulando uma relação sexual, acabaram indo em cana. 
Mas, o jornal não parou. Os caras o produziam mesmo
 estando atrás das grades, cada vez mais apimentado.
 Foi uma grande época aquela. 
Eu era estudante e adorava O Pasquim. 
Mas, voltando a vaca fria... Espoleta e Miúdo...
 vamos falar sobre isto agora... um dia fui numa banca e 
comprei a revista Akim – da editora Noblet - e pensei
 que era do mesmo autor de Tex, pelo formato, etc.
 Na época, não gostei dos desenhos – nem do Tex e nem 
do Akim. Estava acostumado a ler Marvel e a ver
 aqueles desenhos impactantes do mestre 
Kirby e outras feras. Daí, achei os desenhos de Tex e Akim 
tímidos de mais, sem força e até pensei que ambos eram 
nacionais. Não sei porque, mas quando a gente não gosta 
de uma coisa já pensa logo: “Deve ser nacional”... (Rsss...).
 Eu também era preconceituoso e totalmente americanizado
 na época. Também pudera, nossas rádios dificilmente 
tocavam musicas nacionais. Tudo era americanizado na 
época, como: cinema e TV, etc. Até para se comprar um
 jeans a gente tinha que apelar para as
 famosas e caras calças Lee,
 lembro-me bem. Todo jovem sonhava ter uma calça 
desbotada da marca Lee, americana. No Brasil, apesar de 
exportamos o índigo blue pros gringos, só se fabricava
 as famosas calças “rancheiras”, da São Paulo Alpargatas.
 Daí, quando li Akim e Tex adorei os roteiros e passei a 
colecioná-los. Acho que foi no final da década de 70. 
Ao ler o expediente notei que a Nobelt ficava 
em São Paulo city, na rua Marquês de Itú, próxima
 a praça da República –
 bem no centro -,mas não fui procurá-la. Dias depois, 
comprei uma revista, também na Noblet, chamada 
Espoleta, em cores, e que tinha sua assinatura e
 seus personagens:A Turma do Miúdo. 
Eu tinha me casado recentemente,
 tava numa pindaíba danada, e como já tinha visto você 
uma vez na casa do Ignácio Justo, decidi lhe 
procurar na Noblet. 
Mas, me decepcionei quando vi que a editora era apenas 
uma salinha. Conta pra gente, como e quando foi que você 
passou a fazer este gibi infantil (Espoleta\Miúdo), em cores,
 pra Noblet, e como conheceu o Sr. Joseph Abourbih 
(vulgo Mister No... Rsss...)– cidadão de origem hebraica e 
egípcia, que morou em diversas partes do mundo e que 
futuramente ia se tornar nosso patrão? É mole?


Akim - Lançada no Brasil pela editora Noblet
Hamasaki: A “salinha” era o escritório, que 
também servia de recepção. Havia outra, na parte 
superior do conjunto, onde era a redação e mais outras
 duas, próximas ao corredor,
 que serviam para abrigar os encalhes.

  Tony 42: É mesmo? Nunca reparei. Achei aquilo tão pequeno...
 (Rsss...). Vamos em frente, prossiga...

Hamasaki: No que refere a revista citada, Carlos Avalone, 
criador original dos personagens e do título da 
revista, ao desistir da mesma, passou-a para o 
Sérgio Militelo. 
Quando ambos se empregaram na editora Abril, fui 
contratado para fazê-la, graças a uma indicação do
 Reynaldo de Oliveira 
(o Publisher da editora Graúna).




Tony 43: Avalone, não o conheci, mas me lembro 
do trabalho dele... Militelo, eu o conheci, foi o autor 
do Godofredo (personagem de revista de atividades
 infantis, da Noblet). 
Reynaldão, grande amigo, grande 
produtor gráfico, que foi editor de Golden Guitar e 
do Homem Fera... 
o Rey também foi sócio do Mauricio, na década de 90, 
no esquema de distribuição de tiras de jornais.
 Depois abriu a DIME (Distribuidora de Material de Imprensa) 
e foi graças a ele e a 
Ritinha que meu Inspetor Pereira e o seu Caruncho e Caroço 
acabaram sendo publicados em muitos jornais do país.
 Quanta gente boa, hein? Alguns se foram, infelizmente. 
Mas, vamos em frente, continue...


Hamasaki: A revista Espoleta durou durou exatos doze
 números, todas desenhadas e escritas por mim. 
O Mauricio e o Shimamoto elogiaram muito; os leitores, 
no entanto, não se entusiasmaram e foram, número 
após número, diminuindo, apesar dos meus esforços
 para melhorá-la.


Tony 44: Já vi este “filme” antes... (Rsss...). É sempre assim.


Hamasaki: Joseph Abourbih, o Publisher, mostrou-me os 
gráficos de venda: da tiragem incial de 30 mil exemplares, 
acabamos em 13 mil. Então, o Sr. José, como todos o 
chamavam, colocou-me numa encruzilhada propondo-me:
 “Se você continuar, eu continuo.”
Retruquei: “Vamos cancelar.” Ele reagiu: “Por quê? 
Sou contrário a cancelamentos.” Respondi: 
“E como ficamos quando os leitores diminuírem 
ainda mais? 
Choramos um no ombro do outro?” Ele redargüiu: 
“Pode melhorar, por outro lado”. Disse-lhe:
 “Não acredito. Tenho 64 histórias preparadas e não
 pretendo modificá-las.”
Compreensivo, ele aceitou minha renúncia. 
E o Espoleta saiu de circulação.



   Tony 44: É, pelo visto, nada mudou, bengala friend. 
Desde os primórdios o drama das HQs nacionais continua 
o mesmo. Baixas tiragens, má distribuição e elas sempre 
começam a ter suas tiragens reduzidas até fechar. 
Mas, por um outro lado, fazer 12 edições de Espoletas foi um 
ato heróico tanto do “Mister No”, quanto seu. Raramente 
publicações tupiniquins atingem esse número.  
Mister Joseph Abourbih, como todo judeu, adorava reclamar 
das vendas, enfim, “chorar as pitangas” (Rsss...), 
principalmente, quando íamos pedir aumento. 
Apesar da choradeira do editor que
 só vivia reclamando da vida e dizendo que nada vendia bem 
(coisa típica do povo dele ) Rsss... a Noblet cresceu, montou 
parque gráfico assim que mudou para o bairro do Cambuci, 
antigo reduto de editores em São Paulo, assim como 
o tradicional bairro do Brás fora no passado. 
Um dia passei por lá, pra levar
 mais um freelance (para a revista Akim) e você acabou me 
fazendo uma proposta para trabalhar
 como assistente de arte. 
Topei, na hora. Estava precisando de um emprego. 
Afinal, eu era um cidadão casado e não dava pra viver
 de “bicos”, pequenas colaborações instáveis. Graças a você 
trabalhei nesta casa editorial durante 5 anos, apesar dos paus 
homéricos que eu tinha com o chefe, Mister No... (Rsss...).
 O meu “santo” e o “santo” do patrão não batia muito bem, 
eu acho... vira e mexe tínhamos uma bate-boca(Rsss...). 
Mas, apesar de ser muquirana, chorão pra cacete, tenho que
 admitir, pagava direitinho. Era gente boa, principalmente
 fora da empresa. Mas, dentro da firma, pra se conseguir
 um aumento era uma briga danada. Quando lia Homem 
Aranha eu mijava de rir, pois J.Jonas Jameson me fazia 
lembrar o nosso ex-patrão... (Rsss...).

Hamasaki: Não era coisa típica da raça, não; 
revistas de editoras pequenas ocasionalmente 
iam bem em vendas, na maioria das 
vezes era uma catástofre.
 Para concorrer no preço de capa com as editoras:
 Abril, Globo e Ebal - elas colocavam nas
 bancas mais títulos, obtendo dessa forma, 
custo menor. 
Como a tiragem de cada título nosso era limitada
 (em torno de 15 a 20 mil exemplares, ridícula se 
comparadas às da Abril e da Globo, que giravam 
por volta dos 100 a 150 mil exemplares), também sua 
distribuição pelo território 
nacional era minimizada. 
E em qualidade, não dá pra discutir. 
Mas, voltando o foco para a figura do Sr. José:
 Apesar dos comentários jocosos, quando não 
maldosos, sempre fiz questão de permanecer ao 
lado dele. Meu lema era jamais trair quem 
me pagava (no caso dele e do Mauricio, que me
 retribuíam muito bem nos cheques; entretanto 
minhas performances
 no trabalho mereciam, eram inquestionáveis) e, 
excluindo a amizade muito decente, havia 
também a experiência de 30 e tantos anos 
na Europa, que eu estava procurando captar,
 porque tinha interesse 
em, futuramente, fundar minha própria empresa. 
Mas não fui com tanta sede ao pote.


Tony 45: Apesar de você estar "fazendo média" com a raça,
adorei sua longa explanação, bengala friend.
 Principalmente sua visão real de mercado. 
Ele continua o mesmo 
até hoje, com os mesmos e velhos problemas.
 Ser editor pequeno não e nada fácil. 
Vamos em frente que atrás vem gente... 
 Os tempos da Noblet foi uma grande época,
 recebíamos semanalmente, as famílias estavam 
garantidas e fazíamos uma porrada de free lances
 para os concorrentes – 
dentro e fora da empresa-, sem o chefe saber,
 é óbvio... (Rsss...). 
Dá pra falar sobre o assunto?


Hamasaki: Ele sabia de tudo, não se iluda. 
Tinha consciência de não pagar muito as 
colaborações mas, após um ano, liberava os 
originais para que os vendêssemos
 para quem se interessasse. Eu repassei os 
meus para a Grafipar, lá no Paraná; você teve
 os 12 números da revista Jogos e Diversões.


Tony 46: Sabia de tudo? Não acredito. 
O pior é que eu achava que
 estávamos sendo espertos, é mole? (Rsss...). 
De fato, você está certo,
 uma ano depois ele liberava os originais para nós. 
Continue, jurassik friend do Oriente...




Hamasaki: Eu e ele conversávamos muito, depois do
 expediente para desespero da esposa dele que,
 quando não ia perder o horário das novelas, 
era obrigada a mudar também a hora dos
 compromissos marcados.
 Com as conversas, ele foi percebendo a minha 
crescente insatisfação com o cargo de editor-chefe. 
Foi honesto.
 Perguntou-me, se após o malogro da revista Espoleta, 
eu conseguiria, por um bom preço, realizar 30 páginas 
mensais, do jeito como eu desejava fazer. 
Pedi-lhe um tempo para pensar. Uma semana depois, 
cobrou a resposta. Também fui honesto. Eu lhe disse que
 não conseguiria (mesmo na América, com tanta mão de
 obra disponível, comic books executadas por só um 
artista era muito difícil). Mas, de quando em quando, 
pedia-me para desenhar de 4 a 6 páginas para
 complementar as nossas publicações de material
 estrangeiro.
 Acho que ele não queria ver seu editor frustrado. 
Curiosamente, o Mauricio também pensava dessa 
maneira. Durante 3 anos desenhei uma tira para o 
Diário de São Paulo, do Chateaubriand, chamada
 Polícia Fantasma (o título era do próprio Mauricio). 
Para você ter uma idéia de como ambos 
me consideravam. 
Essa faceta  humana, tanto de um como de outro, os
 detratores sempre desconheceram.

Tony 47: Mas, é evidente. Ninguém esteve com vocês 
nessa época. Nem poderíamos, o papo era íntimo entre vocês. 
 E o que ficava era uma imagem superficial das pessoas, com 
as quais trabalhávamos. 
Eu, por exemplo, sempre tive a imagem do Sr. José, como 
sendo um grande amigo fora da empresa (um gentleman) 
e um eterno chorão na hora dos negócios. 
Brigava por cada centavo, o que ele 
não estava errado vendo o lado empresarial da coisa. 
Sabia separar o joio do trigo. Sabia separar bem negócios,
 de amizades. Mas, o papo foi ótimo. Fiquei até
 com lágrimas nos olhos (Rsss...). Vamos em frente... 
Contos eróticos... vamos falar sobre isto... eu e
 você escrevemos milhares deles para
 as revistas Hot Girls e Contos Excitantes (publicações 
criadas para concorrer com a revista Peteca,
 da Grafipar, que vendia bem). Hot Girls e Contos 
Excitantes, ambas eram da
 Noblet e foram criadas pelo saudoso Toninho Duarte 
(vulgo Toni Duka), grande amigo espirituoso e que vivia 
tomando altos porres com  agente toda sexta, 
após o expediente... usávamos pseudônimos nesses
 contos e recebíamos a grana 
pelo correio, em casa.
O patrão pensava que eram de colaboradores, se ele 
descobrisse que era a gente estávamos na rua, 
eu acho (Rsss...).
 Mas, o que a gente queria era aumentar o faturamento. 
Só isso... (Rsss...). Você tem idéia de quantos contos desse 
tipo escreveu naquela época, Paulo? 
E quantos pseudônimos usou? Duvido...



Hamasaki: As revistas foram criadas por mim, 
para concorrer com a Peteca e Contos Eróticos, 
ambas da Grafipar.
 O Sr. José era contra tais publicações, disse-me várias
 vezes que era preferível vender drogas...


Tony 49: Por você!? Caspita! Tem certeza? 
Eu ia morrer pensando que elas tinham sido criadas 
pelo Toninho. Sobre o Mister Joseph, me lembro 
bem quando ele dizia: “No-No-No-No, meu amigo, 
aprende uma coisa na vida: Ao invés de fazer revistas 
de sexo prefiro vender coicaína”. (Rsss...). Por esses
 “no-no-no-nos” é que apelidamos 
ele de Mister No. Ironicamente, anos depois, ele
 foi o primeiro a lançar Mister No – dos Bonellis-, 
no Brasil. Desculpe-me pela
 estúpida e grotesca interrupção, bengala friend, mas não 
consegui resistir... eu mijava de rir, quando ele 
soltava esse “prefixo” tipicamente dele... (Rsss...). 
Pode continuar... 
Não sei se consigo levar esta entrevista em frente. 
Tá difícil parar de rir... (Rsss...). Ele era um sarro...


Hamasaki: Além dele não gostar desse tipo 
de publicação, na gráfica trabalhavam muitas
 mulheres. No final, ante minhas argumentações, acabou 
cedendo. O Antonio Duarte, amigo de longa data, 
colaborou apenas em alguns números. 
O negócio dele sempre fora revistas infantis.
O problema que eu enfrentava era como
 preencher textos, piadas, ilustrações, contos e 
informações, as duas edições mensais
 de formatos iguais, mas de conteúdos variados. 
Além disso, não havia colaboradores suficientes.


Tony 50: Lembro bem desta etapa. Nosso querido
bengala brother, Toni (Duka) Duarte, 
saiu e o abacaxi sobrou pra mim... mas, valeu. 
Eu nunca tinha trabalhado com publicações 
eróticas. Continue, professor Hama...




Hamasaki: Foi o próprio Publisher que sugeriu 
que eu escrevesse as matérias
 necessárias (pagamentos 
à parte). A Hot Girls foi uma 
das primeiras revistas a falar sobre a Aids...

Tony 51: Aids? Parece que bebe, bengala brother...
 Não se ouvia falar de Aids naquela época, grande guru do 
Oriente. Deu “pau” no seu “HD” 
que tem memória de elefante, pelo visto... (Rsss...).

 Hamasaki: ... E outras moléstias sexuais; para tanto 
fui obrigado a adquirir uma centena de livros sobre
 o assunto e o Sr. José ainda fornecia-me outro tanto 
de matérias compradas da França, que
 a Josete, sobrinha dele, traduzia para o português.

Tony 52: É... também recordo muito bem disso, mas no
 final das contas esses livros todos vinham parar na minha
 mesa e era eu quem ralava para reescrever os textos ou 
criar matérias, bengala friend, lembra-se? 
Eu fazia toda a redação e ilustrava os dois produtos.
 Isto foi durante anos. 
Você ordenava e eu fazia. Afinal, você era o chefe... (Rsss...). 
Quanto a publicarmos matérias da França, isto só 
ocorreu quando eu dirigia o jornal Polícia Magazine, 
que não durou muito tempo.




Hamasaki: A revista Contos Excitantes não
 tinha contistas em número suficiente 
para lançá-la mensalmente.
 Novamente partiu dele – 
do dono da empresa-, a sugestão 
para que nós, da redação, 
escrevêssemos os contos e
 usássemos pseudônimos. 
Lá pelos sexto número surgiram os 
colaboradores, deixando o Publisher 
desnorteado. Ele não sabia 
mais quem era quem e no 
fundo, notei que ele não 
estava nem aí (creio que tinha 
certo desprezo para com 
os escritores desse gênero de textos).
Então, sugeriu-me que anotasse o verdadeiro 
nome do escritor no verso dos originais. 
Como foi dito, ele não pagava muito,
 mas era extremamente 
correto; não falhava nunca. 
Uma coisa que você deve saber, Tony: 
O Sr. José era muitíssimo discreto, 
sabia o que acontecia e o que
 diziam, mas nunca abria a boca para 
comentar. 
Apesar de ser judeu, sua educação, 
no Egito,  era inglesa.
 Contou-me a Josette que por várias 
vezes ele este para ser expulso da 
Hebraica, por transgredir normas da fé.
 Penso que não levava muito
 à sério, conquanto a 
respeitasse até onde podia.

Tony 53: Que merda, pensei que
 estávamos enganando o homem, ou você tá
"fazendo média", outra vez? ... (Rsss...). 
E você nunca me disse nada a esse respeito,
 sacana bengala friend. Bem, pelo menos, 
aumentávamos o nosso 
faturamento com esses contos 
que assinávamos milhares 
de pseudônimos – até femininos,
 é mole? (Rsss...). Eu via ele como um 
judeu egípcio autêntico 
(judeu nascido num país árabe, ele deve ter 
tido muita dor de cabeça por conta
 disso, na infância e na adolescência). 
Ele vivia dividido entre a sinagoga 
judaica e Mohamed
 (Maomé, o grande profeta muçulmano). 
Aliás, ele vivia citando Maomé.Parecia ter uma certa 
admiração por este grande homem, que foi uma espécie
 de Cristo dos árabes. 
Você me enrolou e não me disse se sabe ou não, 
 quantos contos eróticos escreveu, mas tudo bem.
 Nem eu me lembro de quantos
 eu fiz. Escrevemos muitos, com certeza...  
Editora Hamasaki... vamos falar sobre 
este selo criado por você. Eu já havia saído 
da Noblet há séculos e estava 
ralando com meu estúdio, no Jabaquara... 
aí fiquei sabendo que você também havia 
deixado a firma e que tinha aberto
 sua própria editora, que durou vários anos.
 Como, quando e por que você decidiu
 partir pras cabeças e fundar a editora e em que 
ano ela começou a funcionar?


Hamasaki: Eu tinha idéias próprias sobre as
 publicações que desejava lançar
 no mercado editorial.
 Em meados do ano de 1984, 
lancei duas revistas de HQs e 
sofri uma grande decepção:
 as duas não venderam o bastante 
para pagar os custos. 
Então, fiz duas edições
infantis que coincidiram 
com o Plano Cruzado do presidente Sarney. 
O congelamento dos preços deu grande 
incentivo à minha editora.



HQ de terror escrita por Hamasaki e
desenhada por Shimamoto






Tony 54: Grande fase foi aquela. Todos diziam que se
 vendia até merda em lata – graças aos tal congelamento de 
preços-, lembro-me bem. 
Tudo vendia bem, principalmente, revistas... Você, pela 
editora Hamasaki, lançava inúmeros títulos de revistas 
infantis e chegou até a lançar um almanaque de terror... 
aliás, a última publicação desse gênero que vimos 
nas bancas nos últimos 20 anos... como foram as vendas
 e quem eram os colaboradores desta edição?
 Outra coisa: qual foi a tiragem?

Hamasaki: Lancei treze
revistas infantis nas bancas, 
naquele período em que elas vendiam
 bem e durante os próximos cinco 
anos colhi os frutos dessa decisão.
 Quanto ao Almanaque de Terror, teve 30 mil 
exemplares de tiragem e (pasme!) deu 
significativo lucro. 
Os colaboradores eram todos novatos, à exceção
 de Júlio Shimamoto, José Málaga,
 Luís Sátiro e eu.

Tony 55: Terror sempre teve um público fiel... 
 Você se especializou em revistas infantis, na época... pergunto:
 não acha que faltou diversificar suas publicações?
 Por exemplo, HQs eróticas sempre 
vendiam bem, mas você, me parece 
que nunca fez este tipo de 
quadrinhos, ou fez? Se não fez, sabe dizer por quê?

Hamasaki: Acabei fazendo, Tony. 
Jamais gostei desse 
gênero e só entrei nesse mercado porque o meu 
sócio achava que era bom. Criamos dez títulos 
mensais de HQs eróticas e outro tanto de fotos; 
permanecemos uns três anos no ramo 
e fomos os últimos a abandonar esse
 nicho mercadológico.

Tony 56: Acho isto estranho. Ultimamente não se
 vê mais HQs eróticas no mercado, enquanto lá fora este
 tipo de publicação continua firme, eu acho. 
Vamos me frente, nessa entrevista
 interessante e quilométrica... No mesmo período em que
 existia a editora Hamasaki eu e o Wanderley abrimos
 a Phenix Editorial Ltda (anos 90) e diante das dificuldades 
do mercado comecamos a montar aquilo que chamávamos 
de “Sistema de Distribuição Alternativo”. 
Ou seja, pegávamos os encalhes e 
revendíamos eles para distribuidores regionais. 
Foi um bom tempo aquele... ganhamos muita 
grana com isso. Cheguei até a 
te indicar alguns dos nossos
 clientes... mas, de repente,
 fomos podados e a coisa
 piorou quando o ex-presidente 
Collor de Mello foi expulso 
do poder. As vendas degringolaram,
 abaixaram, e nós tivemos que fechar a Phenix. 
Mas, você agüentou o tranco e continuou por mais 
quanto tempo? Ou seja, a editora
 Hamasaki existiu até que ano? Aquilo foi um ato 
de heroísmo.

Hamasaki: Nos inícios dos anos 90, as bancas 
de revistas não comportavam mais as publicações
 baratas; o perfil do leitor 
havia mudado, a nova classe 
média, de baixa cultura, 
ascendendo materialmente, procurava novos 
entreterimentos; os valores da , média burguesia 
eram outros, e o público leitor, formado pela 
classe mais abastada, 
exigia produtos de maio
r qualidade, o que elevava os 
preços de capa. Daí para a segmentação 
foi um passo. 
Em relação à minha empresa, após revender todo
 o encalhe aos distribuidores alternativos, tomei
 uma drástica decisão:
 encerrar as atividades e partir em busca de 
novos horizontes. Aconteceu em 2001.






Tony 57: Adorei sua análise consciente sobre a brusca
 mudança de mercado da época. De lá para cá a coisa 
degringolou, my dear and old bengala friend. 
Para acabar de “fubecar” tudo entrou a era da
 informática, a alta tecnologia de ponta  e os antigos
 leitores de gibis partiram, 
aos poucos, para esses novos tipos de entreterimento.  
Enfim, o mundo das publicações em todo o mundo virou
 no avesso, principalmente no Brasil. Foi aí que a editora
 Abril deixou de publicar os heróis Marvel e DC.
 As vendas tinham desabado.  Prosseguindo... 
Por um bom tempo não nos vimos. 
Depois, voltamos a nos encontrar no estúdio do
 old bengala brother, Fausto Kataoka, 
(esse japa gente fina, que também 
trabalhou com a gente na 
Noblet, por longo período e que 
virou um grande produtor
 das revistas). 
A editora Escala estava bombando e o 
Faustão que era fotoliteiro e um 
grande produtor gráfico virou, 
de repente, produtor de revistas,
 graças a era da informática 
e ao filho dele, o genial Fabinho, que era professor 
de computação. 
Nós, os mais velhos, não entendíamos porra nenhuma 
de computadores e muitos dos nossos amigos, das antigas,
 jamais quiseram entender e simplesmente 
se afastaram do ramo editorial. Muitos velhos e 
bons companheiros de traço, tanto de agências quanto 
de editoras, acabaram se ferrando,
 perderam bons empregos, e até 
mudaram de ramo, por não se 
adaptarem a nova tecnologia. 
Eu mesmo tive muita dificuldade 
para aprender a lidar com a coisa 
e acabei perdendo muitos
 bons clientes. Este foi um período 
cruel para todos nós que 
trabalhávamos na área. E o pior, os computadores custavam
 caro, uma nota preta. Os velhos fotolitos fecharam – 
gerando ainda mais desempregos -, dando lugar
 aos modernos birôs. 
Enfim, o mundo desabou na cabeça dos designers 
e dos próprios gráficos do país.
Levei uns 5 anos tentando me 
adaptar e aprendendo a lidar 
com os programas. Não foi fácil.
Tal qual a revolução industrial, o passado, 
a era da informática também causou
 muitos prejuízos e desempregos, 
em diversos segmentos da sociedade.
 Não estávamos preparados pra
 essa mudança brusca.  De volta ao nosso bate papo...
Era o polivalente e experiente Faustão que cuidava
 praticamente da gráfica da Noblet. O cara era o famoso
 “Mister Bombril”... tinha inúmeras utilidades (rsss...)... 
gravava chapas, ajeitava as máquinas, montava
 astralões – antigamente, no nosso jurássico tempo, 
para imprimir  uma revista era 
preciso fazer a montagem 
dos fotolitos num acetato
 maior, do tamanho de uma 
folha de papel de impressão – 
tipo: 66 x 96 cms-, numa mesa de luz.
 O japa era bom nisso...
retocava os filmes com abideque, etc). 
Quando a última luzinha vermelha daquelas jurássicas 
salas escuras de revelar filmes (fotolitos) se apagou 
nosso amigo Faustão também pressentiu que o fim dos 
velhos e obsoletos fotolitos estava chegando ao fim e
 decidiu, sabiamente, partir pra outra . 
De repente, o estúdio FK (Fausto kataoka)
 passou a produzir para a Escala revista, que nem pastel, e a
 editora empesteou as bancas vendendo revistas a preço
 de banana. Você não acha que isto que
 a Escala fez acabou prejudicando os demais editores?


Fausto Kataoka (Estúdio FK\Editora Geek)
Hamasaki: O Fausto, assim como inúmeros
 profissionais da nossa área, foi obrigado a encarar 
as novas tecnologias na confecção de revistas e como
 ele estava em constante contato
 com a editora Escala, através de seu filho Fábio, que 
trabalhava lá, criando novos títulos, a empresa 
em questão encomendou uma série de publicações 
ao nosso amigo. 
Tal privilégio também se estendia aos outros vinte 
editores que, entusiasmados, infestaram as bancas e
 pontos de vendas com os mais diversos tipos de
 publicações, algo em torno de 100 a 130 títulos 
diferentes, a maioria 
descartável, principalmente aqueles que tinham 
temáticas bizarras.

Tony 58: Sim, eu sei... mas, me referia ao fato da Escala 
começar a lançar revistas a 1 real no mercado.
 Isto, ao meu ver, fez “balançar” a concorrência, que teve que
 reduzir seus preços para brigar com o 
ousado e novo concorrente de mercado, Paulo.
A editora Escala teve uma ascensão meteórica – 
numa época de crise, quando as caras revistas das editoras
 perdiam leitores, inclusive a própria Abril. 
A Escala cresceu, vendendo revistas a R$ 1,00, com 
tiragens monstruosas. Um absurdo. Deram um “tiro 
no próprio pé” e zoaram todo o mercado nacional, ao 
meu ver. Veja, sempre defendia a tese de que devemos 
vender revistas a preços populares,
 mas não assim na “bacia das almas”... desse jeito 
é impossível pagar as despesas básicas e os funcionários.
 Aquilo não fazia sentido...

Hamasaki: Não acredito que a 
Escala tenha prejudicado 
os demais editores. O Hercílio, 
dono da empresa, fez e faria o que
 qualquer empresário que possui meia
 dúzia de rotativas, precisando urgentemente
 alimentar as máquinas com serviços, 
independentemente dos gêneros. 
O mercado editorial não o
 obrigou a nada, eu o conheço desde 
a época em que ele dirigia a Gráfica
 Brasiliana; sempre foi um homem 
competente e tudo o que fez 
foi testar esses pontos
 de venda, em cada
 segmento. Arriscou e venceu, foi tudo.



Ágata - Uma das muitas criações de Hamasaki


Tony 59: Também conheço muito bem o Hercílio, 
bengala friend. 
A Phenix rodava muitos produtos na gráfica Brasiliana, que
era dirigida por ele. 
Também sei que ele sempre teve uma boa visão de mercado, 
que é competente, tanto é que correu na 
contramão do mercado.
 Ou seja, enquanto a Abril estava subindo
 os preços e sofisticando
 os produtos, como as HQs – 
num grave erro de estratégia de
 marketing -, ele fez justamente ao contrário: 
Rodava revistas aos quilos para vendê-las barato. 
Mas, não tão barato. 
Aquilo desestabilizou todo mundo. 
Não posso concordar 
com o seu ponto de vista sobre este tópico.
Mas, vamos em frente... (Rsss...)... 
afinal, isto aqui é um papo
 democrático e todos podem expor seus
 pontos de vista....
Há alguns anos atrás, quando o 
Sr. Joseph ainda era vivo,
 passamos a nos reunir toda sexta pra almoçarmos
 lá perto da Noblet... 
foi nessa época que surgiu Cavaleiros do Oeste (em 2005), 
sua última HQ publicada – e Apache, que hoje
 está saindo pela editora As Américas, após 
ficar cinco anos na gaveta... 
o nosso editor\amigo Sr. Joseph
 (Vulgo Mister No) parecia que 
era obcecado em publicar uma HQ para 
concorrer com o Tex, não é? Parece que 
uma vez os Bonellis ofereceram Tex 
pra Noblet e ele não acreditou
no produto, foi isto? 
A Vecchi pegou e vendia 
100 mil exemplares... (Rsss...). 
Parece que na época  o faro
 (feeling) do nosso editor para 
bons produtos parecia que não
 funcionava as vezes... (Rsss...).




Hamasaki: As nossas sextas-feiras eram
 memoráveis, estendiam-se muitas vezes
 até altas horas da madrugada e, por duas 
décadas visitamos restaurantes 
e bares de São Paulo.

Tony 60: Foram inesquecíveis, sem dúvida. 
A farra era boa entre muitos comes e bebes. 
Não tinha mulher que aguentava nossas gandaias na 
sexta, depois do expediente. A semana toda
não bebíamos, mas na sexta...


Hamaski: O resultado dessas noitadas foi a 
separação de muitos casais. 
Quando almoçávamos com o Sr. José, a época 
era outra. Ele estava beirando os 90 anos, lúcido, 
mas um tanto enfraquecido por carregar 
seus 1,80 m de altura e tantas dores de cabeça
 proporcionadas pela firma. 
Entretanto, eu atendia às sua “intimações” – para
 almoçarmos juntos .
Era sempre interessante conversar com 
ele e essas sextas-feiras encerraram-se 
em 2008, simultaneamente
 com a editora.
 Quanto ao “faro” do empresário, sinto-me 
obrigado a contradizê-lo, velho chapa. 
O Sr. José e seu feeling eram notórios 
no Egito, contudo a Segunda
 Guerra Mundial obrigou a
 ele e sua família a um pouso forçado na França. 
O racismo de Paris, além de coibir suas atividades
 de editor, igualmente fazia-o aceitar empregos
 humilhantes e ele, 
nessas alturas estava na 
casa dos cinqüenta anos.





Tony 61: Adoro quando alguém discorda. 
Explique-se. Já ouvi parte deste história 
 dita por ele -, bengala Hama, 
sei que ele foi editor ou que trabalhou 
em editoras egípcias e que 
em virtude da guerra teve
 que rumar à Paris e que lá acabou se 
sujeitando a subempregos que 
não a sua área e que por fim acabou
 se tornando até um jogador
 profissional, antes de vir ao Brasil.
 Mas, continue, nossos
 webleitores nunca ouviram isso...

Hamasaki: Quando ele veio ao Brasil para se 
estabelecer, tinha apenas 400 dólares no bolso, e 
levando nas costas os erros que imigrantes passam
 na nova terra.
 A sua máxima, portanto era “Os erros custam caro”.
 É verdade que o homem teve nas mãos a Playboy,
 a National Geographic Magazine (após a Bloch 
perder os direitos) e o Tex, quando a Globo desistiu 
dele porque as vendas estavam baixíssimas. 
Em referência ao Cavaleiro do Oeste, 
eu estava visando os leitores saudosistas, aqueles que 
se lembravam do Zorro (o Lone Ranger mascarado, das 
balas de pratas). Mas as vendas forma decepcionantes, 
conquanto as cartas que chegaram às mãos do Publisher 
o entusiasmasse. E foi nesse estado de espírito que ele 
me encomendou os próximos números, ainda que eu 
necessitasse de 45 dias em média 
para finalizar cada edição. 
Ele me pagou tão bem, que fiquei rezando para que a 
revista desse certo. Então, um problema de saúde 
(inesperado, porque ele sempre se gabava de jamais ter
 sido hospitalizado) o fez repensar, 
impedindo que a revista seguisse seu curso normal. 
 Na realidade, o Sr. José estava mais preocupado com sua 
gráfica e seus vinte funcionários
 que não tinham nada a fazer do que com as
 vendas da revista, que ele queria continuar, 
eternamente, acreditando que as próximas edições
 trariam melhores resultados. E eu, novamente, 
lhe disse: “Seu José, vamos ser sensatos.” 
Foi nesse momento em que você irrompeu
 na sala e ele recusou seu faroeste porque ele tinha
 dois números inéditos do cavaleiro do Oeste.





Cavaleiros do Oeste - Criação de Hamasaki
(Série lançada pela Noblet)

Titulo criado por Hamasaki para a Noblet
Tony 62: Tenho minhas dúvidas... Na verdade, a Noblet não 
rodava mais nada de novo há um bom tempo – principalmente de
 quadrinhos -, desde a Maldição do Guerreiro Ninja, que
 também não passou da terceira edição, devido as
 baixas vendas. 
A Noblet vivia relançando pacotes promocionais de
seus encalhes. Os velhos funcionários de sempre daquela
 casa editorial já não tinham muito o que fazer. A velha 
gráfica agitada de outrora agora estava quase às moscas.
 Também sei que ele se preocupava em não
largar os funcionários na mão e nem pretendia despedí-los. 
Achei este gesto fantástico por parte dele.
 Sempre foi um patrão consciente. 
Você sabe, muita gente entrou lá jovem e saiu de lá 
aposentado com uma idade avançada ou quando a firma
 encerrou as portas. 
Grande guru e bengala friend do Oriente, eu também 
ignorava sobre esta doença repentina dele. 
Eu havia feito Apache, às pressas, pois ele me solicitou.
 Tinha deixado o material para análise, durante 
algum tempo, e foi naquele dia que ele ao recusar o trabalho 
alegou que a série era muito agressiva. 
Porém, isto não me abalou.
 Estou acostumado com este tipo de coisa.
 Aliás, nesse ramo, o que mais a gente ouve na vida é “não!”.
 Isto faz parte do jogo. 
Apache não estava concorrendo com a sua série.
 A temática, apesar de ser western, era diferente. 
O simples fato de saber que ele ia
 lançar Cavaleiros do Oeste – uma HQ Made in Brasil-, me
 deixou feliz. Afinal, sempre fomos unidos, nunca houve
viadagem entre a gente, e o seu material estava legal.
 É pena que a série durou tão pouco. 
Depois, sim, percebi que estava doente, pois aos poucos ele 
começou a definhar gradativamente. 
E, por ele não ter herdeiros, a Noblet fechou. Seguindo...
Paulo Hamasaki, por Paulo Hamasaki? Defina-se.

Hamasaki: Fui sempre um homem livre 
(eu e os meus irmãos tivemos uma educação bastante 
correta, mas liberal), no entanto 
permaneci a vida toda escravo das minhas convicções. 
Isso me custou ótimas ofertas de emprego e cargos.

Tony 63: Planos para o futuro? Alguma frustração? 
Seja sincero...

Hamasaki: Nunca deixei de planejar minha vida, 
sei conviver razoavelmente com os prejuízos, mas 
não me dou bem com 
frustrações. Parece frase feita, entretanto não é e
 eu tenho comprovantes.

Tony 64: Esta foi boa... Ah... eu ia me esquecendo de 
uma pergunta super importante. O mundo quer saber... 
tcham-tcham-tcham-tcham... é verdade que o Mauricio de
 Sousa te convidou para ser sócio e
 você se recusou? Qual o motivo dessa recusa maluca?
 Hoje você poderia estar tão bem quanto ele, bengala friend...
 não se arrepende desse, digamos, ato impensado?

Hamasaki: Não sei porque o mundo quer saber 
das trivialidades de um artista como eu, que nunca 
fez grandes esforços para
 ser o que sempre foi; de todo modo sou muito 
agradecido por tal interesse.




Tony 65: Eu também não sei, bengala brother... (Rsss...). 
Mas, se quiser saber,q eu tal perguntar ao mundo?
 E aí, vai responder esta questão ou lhe coloquei 
contra a parede, mais uma vez?

Hamasaki: Falando nesse fato impensado e
 da tal proposta
 do Mauricio... bem, foi um Tetê-a-tête há uns 40 anos
 num bar da rua Helvética, após a igreja do largo, onde 
eu tinha um estúdio que dividia com o 
tio do Décio Piccinini, e fornecia HQs para 
as revistas Capricho e Contigo, da Abril, 
que tentavam conquistar os adolescentes.

Tony 66: Tio do Décio Piccinini? 
O Piccinini eu conheci, era jurado
 no programa do Silvio Santos (Senõr Abravanel), do SBT,
 mas o tio, não... prossiga... vamos em frente... 
deixa de suspense... (Rsss...).

Hamasaki: Mas, vamos desfazer esse boato – tal 
convite jamais foi feito; o Mauricio nunca ofereceu e 
eu nuca me fiz de oferecido.
 Além disso, jamais estive mal (não tinha tempo para
 isso) e sempre escolhi bem meus caminhos,
 por mais percalços que se apresentassem.

Tony 67: Entendi, mestre. Por fim, mais uma lenda 
foi esclarecida neste talkie show virtual. Maravilha! 
Se um dia eu conseguir entrevistar o Mauricio (tá difícil),
 vai ser legal confrontar os
 depoimentos de vocês. Há quanto tempo você e o Disney
 brasileiro não se encontram ou se falam?

Hamasaki: Há muitos anos. Não se iluda, porém, 
ainda somos amigos. Nossas trilhas é que são outras.

Tony 67: Alguém disse o contrário? (Rsss...). 
Quem sabe, ele lê este seu  incrível depoimento e de repente, 
vocês voltam a se encontrar a se
 aproximar e até a trabalhar juntos, né? Quem sabe 
(espero que sim)?
 Na certa vocês, velhos amigos, devem ter muito o que
 conversar ou relembrar. 
Você e a Rita Carnetti (mulher do Reynaldo de Oliveira, 
que foi secretária dele) um dia precisam se encontrar, eu acho.
Opa! Ia me esquecendo de outra pergunta fatal... 
caceta... deve ser arteriosclerose... coisas da idade de caras
 jurássicos como eu... (rsss...). 
Pergunto: quando você e o Maurício começaram, os irmãos dele
 ( a Maura e o Márcio), já estavam com vocês?





Mauricio e a esposa atual, Alice Takeda
Hamasaki: Por sugestão minha, o Mauricio, que 
demonstrava não ter muita paciência com o 
Márcio, seu irmão caçula, admitiu-o na empresa, 
como uma espécie de faz-tudo. 
Pedi-lhe que o deixasse sob minha orientação na firma; 
em pouco tempo nos tornamos amigos e o rapaz 
mostrou-se extremamente útil, em todos os sentidos. 
Rápido, eficiente, talentoso, incansável, era 
elemento indispensável.
Nunca ouvi uma queixa dele sobre nada. 
Guardo ótimas lembranças dele, de nossa 
amizade, de como nos divertíamos com as coisa boas 
e más que aconteciam em 
nossa rotina. Talvez tudo isso fosse pelo fato de termos
 idades aproximadas. Sobre a Maura, nada sei. 
Ela veio bem mais tarde, quando eu já estava
 fora da empresa.

Tony 68: O Márcio, ele faleceu a pouco tempo atrás...
A Maria Helena foi a primeira esposa do Mauricio, OK?... 
Alice Takeda é a atual... você também as conheceu?


Hamasaki: A Alice (Takeda) veio com a Márcia Regina 
(parente da primeira esposa do Mauricio) trazendo 
desenhos dela feitos na Escola Panamericana de Arte. 
A segunda foi admitida pelo parentesco. 
Na época, a Márcia tinha muito
 mais jeito para o trabalho que a amiga. 
Você precisava ver como ambas eram bonitinhas
 e graciosas. 
Elas começaram a trabalhar após breve período 
de adaptação. A esposa do Mauricio (mãe da Mônica) 
chamava-se Marilene Spada de Sousa e era nascida
 no dia do aniversário de São 
Paulo. Era excelente pessoa, nos dávamos muito bem. 
Faleceu recentemente. Que Deus a tenha.



A bela família que Mauricio constituiu com sua primeira esposa, Marilene
Tony 69: Marilene? Pensei que fosse Maria Helena, 
bengala friend. 
Sem dúvida, que Deus a tenha num bom lugar.
 Poxa, cara, é incrível como você sabe de tudo até da família. 
Voces eram muitos íntimos, muito amigos, pelo visto. Legal. 
Na sua abalizada opinião, o que está faltando para as 
HQs brasileiras alçar vôo? 
Falta algo aos autores nacionais ou editores?


Alice Takeda, Mauricio e os filhos dessa nova união
Hamasaki: As suas perguntas nem são mais pertinentes,
 porque os desenhistas de HQ de hoje enxergam que
 falta tudo, exatamente como em 1964, quando a 
tal Lei de Proteção ao Quadrinho Nacional 
foi aprovada pelo vice-presidente Jango Goulart, 
após a queda do presidente Jânio Quadros.
 Era impossível ser cumprida na íntegra ou em partes. 
Faltavam aos artistas brasileiros: 
organização, planejamento, distribuição,
 divulgação na mídia, agências – tudo aquilo que
 hoje temos conhecimento dos 
antigos métodos dos sindicatos americanos, europeu
s e orientais. No entanto, o Mauricio, na época, por 
conhecer muito bem o funcionamento das agências 
estrangeiras, pôs em ação o seu jeito pouco ortodoxo,
mas necessário, para realizar seus negócios, o que 
gerou muita crítica de seus desafetos, 
que não eram poucos.
 Entretanto, sem ligar para os maus-olhados, 
ele foi em frente, veio, viu e venceu. Pra você ver, 
old friend, desenhar HQs nestas bandas não é 
simplesmente deleitar-se com seu talento;
 o campo sempre foi uma indústria e não 
uma exposição de arte. 
Juca Chaves (cantor e compositor de humor) certa vez 
chamou-nos de “Proletários do pincel”.

Tony 70 – O Juca estava coberto de razão, pois como você
 também frisou HQs, principalmente na América, é indústria. 
Exige investimento e tem que gerar lucro. 
Enquanto houver gente por aqui achando que isto é 
obra de arte, sem pensar em retorno 
financeiro e sem dar produção os quadrinhos brasileiros,
 infelizmente, nunca irão pra frente. 
Sua lucidez em relação ao mercado bate 
com a minha. Valeu... Cite 10 grandes clássicos de 
HQs dos últimos anos? 
Você ainda tem aquele acervo imenso de gibis?



Um original de Frank Thorne 


Turok - Giovanni Ticci



Hamasaki: Tenho acompanhado os 
quadrinhos nacionais e estrangeiros lançados nos pontos
 de venda e, francamente, nenhum deles me impressionou.
 Mas se você está se referindo aos clássicos de todos
 os tempos, citaria tranquilamente: Harold Foster, 
Alex Raymond, Burne Hogarth, Al Capp, Milton
Caniff, Frank Robbins, Stan Drake, Roy Crane, Leslie 
Turner, José Salinas, Noels Sickles...


Alex Toth - Roy Rogers
Torpedo - Toth
...Frank Godwin, todos eles das tiras e páginas 
dominicais dos jornais do mundo inteiro.
Quanto aos clássicos no formato 
gibi, citaria: Will Eisner, 
Alex Toth, Frank Frazetta, Jesse Marsh,
 Walter Molino...




Rima - A moça das selvas - Joe Kubert (1975)


Giovanni Ticci, 
Eduardo Teixeira Coelho, 
Jean-Claude Forest, Russ Heath,
 John Severin, Frank Thorne, 
Joe Kubert, 
Alberto Giolitti. 
Em relação ao acervo de revistas, 
há exagero de sua parte. 
O que possuo não chega a um
por cento das cem 
mil que revistas que tem 
Rubens Luchetti. 




Conan - na visão do mestre Frank Frazetta


Vampirella (da Warren), por Frazetta


A bela família que Mauricio constituiu
com sua primeira esposa, Marilene


Tony 71 – Só feras, conheci boa parte do trabalho 
desses gênios do traço, das tiras e dos comic books.
 Luchetti... você lembrou o nome de um grande escriba
 das histórias em quadrinhos nacionais. 
Por onde andará o mestre? Ele e o Gedeone eram muito 
amigos. Preciso localizar e entrevistar o fera (se possível),
 deve ter cada história incrível pra contar.
Seguindo esta mega entrevista... Filmes preferidos? 
Sei que você adora cinema e
tem um grande acervo de DVDs...

Hamasaki: Conheço cinema e gosto muito, 
assim como literatura: ambos estão intimamente 
ligados aos quadrinhos. 
Nesse universo, também a fotografia, a pintura,
 o teatro e a música estão incluídos.

Tony 72: Sem dúvida, quem trabalha 
com arte está sempre sintonizado nessas outras
 formas de expressão artística...

Hamasaki: Conquanto nem 
sempre os utilizamos
 de forma adequada. Contudo, não são tantos 
DVDs como você imagina. 
Como é óbvio, num mercado dominado por fitas
 americanas, qualquer interessado 
possui um número expressivo delas. 
Todavia, faço minhas escolhas,
 igualmente em relação aos
 filmes franceses, italianos, alemães,
 poloneses, japoneses (naturalmente), 
suecos, brasileiros e, 
de uns tempos para cá, chineses, 
indianos e todos os 
cineastas do Oriente Médio. 
Entretanto, tenho imensa
 simpatia pelos filmes ingleses.
 Os da Ealing, Romulus, Rank, Hammer, etc.

Tony 73 –  Os ingleses produziam uns filmes Classe “B”
(filmes de baixo custo e pouca qualidade),
 interessantes.
 Isto é que eu chamo de um “cinéfilo de verdade”.
 Grande, doutor em HQs  e bengala brother, Paulo Hamasaki, 
já perdi a conta de quantas “brejas geladas” já tomamos juntos,
 sempre em animados bate papos, 
fazendo planos profissionais – durante horas -, 
discutindo os problemas do mercado ou contando “causos” 
pitorescos do passado... cara, foi muito
 bom poder trocar essas idéias com você nesse
 nosso descontraído bate papo. 
Além de frutífera a nossa conversa também foi 
esclarecedora. Grato, por sua colaboração e muito sucesso. 
Que suas novas obras literárias 
sejam publicadas em breve na forma de livros e de quadrinhos... 
e esperamos, todos, sua volta aos quadrinhos brevemente. 
Precisamos de mais gente como você. 
Precisamos de mais gente que faz acontecer e que tenha uma
 bagagem cultural, intelectual,
 know-how e noção de mercado, tão boa quanto a sua. 
Alguma mensagem especial para seus admiradores e
 para aqueles que pretendem seguir os seus passos nesta
 profissão de “doidos” (no bom sentido, é claro)?


HAMASAKI: Bebo apenas socialmente.

Tony 74: Eu também. Eu disse o contrário? 
Preocupado com a imagem, bengala friend? (Rsss...).
 Perdão, mas eu não resisto... (Rsss...).

Hamasaki: Digo-lhe isso porque, há alguns anos, 
o Luís Saidenberg, publicitário e ex-quadrinista, irmão
 do Ivan, ambos amigos de longa
 data, escreveu-me uma carta de cinco páginas
 contando os malefícios causados pela bebida.

Tony 75: E ainda assim continuou “enxugando
 o caneco”? (Rsss...). 
Sou incorrigível, mesmo... prossiga...

Hamasaki: Não sou alcoólatra, jamais fui e não 
sei de onde surgiu tal fama...

Tony 76 – Assim não dá pra ficar quieto, my old friend... 
a “tal fama” deve ter surgido de alguém que passou pelos
 botecos e viu a gente “enchendo a cara”, 
“enxarcando o esqueleto”, “tirando a poeira da goela”,
 nos últimos séculos, é 
óbvio, apesar de bebermos apenas “por esporte”.
Uma coisa é fato, ninguém jamais saiu de quatro
 ou de porre (Rsss...). Saber beber é uma arte e
saber a hora de parar é o mais sábio ainda.
Esta é a entrevista mais incrível e longa que já fiz na vida...

Hamasaki: Bom, voltando ao assunto... se, 
de tudo que expus, desculpando e descontando
 um certo excesso de por menores (na realidade, não 
contei nem um terço de tudo o 
que ouve no mundo dos quadrinhos com a
 minha modesta participação), recomendo aos 
admiradores e à nova geração
 que vem despontando no meio aprimorarem-se 
muito, tanto nas artes como nos roteiros.
A pantomina teve seu auge no cinema mudo 
e os textos pareciam secundários, mas no tempo
 do cinema falado, foi de vital importância.
 Assim, a maioria dos editores com 
quem trabalhei olhava as ilustrações
 rapidamente, detendo-se demoradamente
 no roteiro. 
Eles afirmavam que, por mais que os desenhos
 fossem importantes, não aumentavam as vendas.
 Davam como exemplos o Príncipe Valente, de 
Harold Foster, e O Espírito, de Will Eisner).
 A arte comercial, aprendi, faz-se
 nos mais diversos estilos e gêneros, mas 
preferencialmente naquele que dá maior produção.
 Não tenho dúvidas que as Histórias em Quadrinhos 
se encaixam nessa pressuposição.




Príncipe Valente - Um clássico de Harold Foster
Tony 77: Falou e disse tudo, old bengala master do Oriente! 
Concordo plenamente. 
Valeu, esta foi uma boa dica. Mais algum detalhe?


Tira de Décio Ramirez
Hamasaki: Um pequeno adendo: 
Décio Ramires entendeu 
mal, pessoalmente gosto muito dele (é educado,
 quase tímido, na época, e de boa índole), contudo, 
lembro-me, sua arte, num dia era muito boa, noutro, 
lamentável. Nunca entendi tantos 
altos e baixos (mais nestes do que naqueles). 
Quando disse-lhe que jamais ganharia dinheiro daquela 
forma, eu quis lançar-lhe um repto. Há artistas que 
reagem beneficamente. E não foi
 o que lhe aconteceu? Mas, como autêntico 
escorpião que é,
 o Décio ficou ressentido. Bem, com essa confissão 
de mea-culpa, espero que as nuvens negras passem.

Tony 78 – Não dá pra me segurar...  Leu isto, Décio? 
O mestre tá se justificando, deve ter lido sua entrevista,
 eu acho... mas, old  bengala friend Hama, o Décio não 
evoluiu nada continua a mesma  tranqueira, com aquela
 porrada de altos e baixos... (Rsss...). Brincadeirinha,
Decião! Sou seu fã, você sabe, meu jovem!

Hamasaki: Por fim, agradeço a paciência de 
todos os que  me leram até aqui, porque, sendo 
eu muito avesso a entrevistas e fotografias,
 provavelmente esta será a última. 
Boa sorte a todos e espero, sinceramente, que 
consigam mudar o panorama dos quadrinhos
 nacionais que, como
 todas as virgens, não vêem a hora.

Tony 79: Ainda existe virgem por aí, mestre Hama? 
Onde? Quero uma... (Rsss...). Velho parceiro de guerra,
 querido bengala friend, desculpe-me pelas brincadeiras, 
mas faço isso para não tornar a entrevista monótona, 
formal demais. 
Agradeço a você, caro amigo, por este maravilhoso
 e longo depoimento ultra esclarecedor e por sua 
especial atenção e por  responder um número tão grande 
de questões sem procurar se desvencilhar de nenhuma. 
Um grande mano amplexo, saúde e
 muita paz. Tendo isso, o resto a gente corre atrás.
 Valeu! Thanks!



Vampirella # 1 - Editora Noblet
NOTA DO ENTREVISTADOR: A Editora Noblet foi
 pioneira em lançar no Brasil: Vampirella e Mister No. 
Foi um importante ponto de encontro 
de grandes profissionais da área. Feras do traço e da 
criação também passaram por lá, como: 
Jayme Cortez, Reynaldo de Oliveira, Primaggio, Militelo, 
Júlio Shimamoto, Hélio Porto,  Fausto kataoka, 
Gilberto Firmino (editor da revista Porrada), Wanderley 
Felipe (Vanderfel), Décio Ramirez, Carlos Magno, 
Seabra, Mauro, J.B. Pereira, 
Bira, Eugênia Cecilia Brasiliense, Josete, Frida, Paula,
 Dona Janine, Juvenal, Jonas, Maria Pereira,
 Marcos e Dolores Maldonado, Sátiro,  Salatiel de 
Holanda, Mozart Couto, Seabra,
 Carlos Magno, Militelo, Pace, Avalone, Reynaldo 
de Oliveira, Toninho Duarte,  e muitos escritores 
e contistas de renome. 
A revista AKIM foi publicada por mais de 35 anos
 seguidamente.
Sexyman (revista de Hq erótica), durou uns 20 anos
 ou mais. E as revistas Contos Excitantes e Hot
 Girls foram publicadas até a empresa encerrar
 suas atividades, devido 
a idade avançada do editor.


OBS: As imagens contidas nesta entrevista pertencem
ao seus respectivos proprietários e foram usadas
aqui com o cunho meramente ilustrativo.

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