sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

BATE PAPO COM FAHF, UM DOS BAMBAS DO JUDOKA!




Na década de 70 a saudosa Editora Brasil-América (EBAL), 
do saudoso Adolfo Aizen, lançava um título em quadrinhos
cujo tema era artes marciais. O título da serie original era 
JUDO MASTER, que era publicada pela Charlton Comics, editora
americana que se notabilizou por lançar diversos títulos, naquela
época, sobre carros de corridas, como Hot Hells, etc. Algum tempo 
depois, a serie gringa, para a surpresa dos leitores brasileiros, 
foi substituída por uma série nacional chamada O Judoka. 
Inicialmente as primeiras HQs foram feitas por Pedro Lima e 
Eduardo Baron. Dentre os inúmeros bons profissionais do traço 
um deles se destacou, por seu estilo e quadrinização moderna 
e arrojada. É com este desenhista fora de serie e inovador 
que vamos bater um bom papão, para sabermos mais 
sobre ele. Fiel, webleitor, tem início mais um talkie show 
virtual descontraído e revelador, desta feita com...

FHAF,

UM DOS GRANDES DESENHISTAS
 DO JUDOKA!



Tony 1: Mestre, jamais pensei que pudesse um dia entrevistar
um dos meus ídolos das HQs da adolescência, você. Quando
você assentiu em dar o depoimento a seguir, confesso que 
tive um orgasmo. Rsss... Posso dar o tiro de largada?


FHAF: Claro...


Tony 2: Você nasceu em que dia, mês, ano, estado, cidade? 
E, qual é seu verdadeiro nome?


FHAF: Nasci no dia 17 de dezembro de 1935 aqui mesmo
 no Rio de Janeiro, em São Cristóvão, de onde só saí quando me casei. Meu nome é Floriano Hermeto de Almeida Filho, daí o Fhaf.


Estação do metro de São Cristovão


Tony 3: Sempre adorou rabiscar? Lia muitas revistas em 
quadrinhos, durante sua infância e adolescência?


FHAF: Desde cedo gostava de revistas infantis.
Comecei com o Tico Tico e à medida que ia crescendo 
passei para o Gibi, Globo Juvenil etc... E aí não parei mais.


Tony 4: Tem formação acadêmica? Fez algum curso
 especificamente de desenho?


FHAF: Sou engenheiro formado pela antiga Escola Nacional de Engenharia que ficava situada no Largo de São Francisco. 
Nunca estudei desenho. Tudo que sei fazer aprendi praticando.


Tony 5: Hmmm... Autodidata, nasceu com o dom para arte... 
Qual é sua real profissão?


FHAF: Já disse em cima. Sou engenheiro.


Tony 6: Ops! Desculpe-me, pelo deslise... de
vez em quando meu “HD” falha, coisa da idade... Rsss. Como surgiu a
 oportunidade de fazer O Judoka, para a Editora Brasil América?


FHAF: Posso dizer que essa oportunidade eu mesmo criei. 
De tanto comprar e ler livros e revistas de quadrinhos, 
um dia me deu um estalo. Por que não fazer eu mesmo uma
 HQ e achar um jeito publicá-la? Naquela época, publicada 
no Rio, só havia uma revista desenhada por brasileiros:
O JUDOKA. Então não havia outro jeito. Era o JUDOKA
mesmo.... Criei parte de um enredo e desenhei 11 páginas.
O problema seguinte era apresentar 
o trabalho a alguém da EBAL.



Tony 7: Interessante... de repente, deu um estalo, surgiu a ideia 
de fazer uma HQ do personagem e “mandou bala”... prossiga... 


FHAF: Nessa época trabalhava no Metrô e um dia, na sede da companhia, conversando com colegas comentei que havia
desenhado parte de uma HQ e precisava de um contacto 
na EBAL. Uma secretária que estava próxima ouviu isso 
e me disse que conhecia o Naumin Aizen e poderia
apresentar-me a ele.


Tony 8: Que coisa incrível... então ela conhecia o Naumin... os
deuses das HQs, parece que eles estavam conspirando
a seu favor... continue...




FHAF: No dia marcado, aproveitando a hora do almoço, 
fomos eu, Heloisa (a secretária) e Lelo, um amigo (para me
dar apoio moral... rs) a caminho da EBAL. Chegando lá fui 
muito bem recebido pelo Naumin e tratei logo de explicar 
que tinha desenhado algumas pranchas do JUDOKA e 
queria ouvir a opinião deles. Ele deu uma olhada, pediu 
para se ausentar por uns instantes e ficamos
lá aguardando.
 

Tony 9: Tcham-tcham-tcham-tacham! Que suspense. 
Você deve ter ficado apreensivo, suponho...


FHAF: Pouco depois chega ele com o Fernando
 Albagli e o seu Aizen. Disseram que haviam gostado
 do trabalho e que poderia continuar que publicariam!
 Em seguida foram combinando o pagamento, 
um valor bem baixo, rss.  Mas naquela altura pouco 
importava porque, na verdade, faria até de graça só 
pelo prazer de ver a revista nas bancas...



Tony 10: Fez a coisa por diletantismo, desejava ver o
 trabalho publicado, apesar do preço ínfimo e assim as
 portas se abriram para você. Como digo sempre, quem
 deseja alguma coisa tem que correr atrás, conhecer gente etc. 
Afinal, mesmo tendo talento ninguém faz nada sozinho. 
Todos nós precisamos de um “empurrãozinho”, de alguém 
que ajude nossos sonhos a virarem realidade. 
Esta sua história é um belo exemplo para muitos 
da nova geração, pode acreditar.

FHAF: Chegando em casa, de noite, resolvi então prosseguir. 
Mas empaquei porque só tinha criado a história até aquela altura.

Dali para frente não sabia como seria... Se você notar, a 
partir da página 11 (15 na revista impressa) é como se 
começasse uma nova história com mais personagens.
Foi quando criei Irma, La Douce...
E assim a cada dia ia criando novas páginas, pois não 
tinha tempo de completar toda a história para então desenhá-la.

Tony 11: O bom dessas entrevistas é que a gente acaba sabendo esses detalhes interessantes dos bastidores, como esse que você acabou de contar... Irma, La Dulce, foi uma vilã marcante... Naquela época a Brasil América detinha o maior número de títulos de HQs do mercado. Publica quadrinhos da Marvel, DC Comics e outras casas editoriais gringas, 
como foi o caso do Judo máster, da Charlton, que virou O Judoca, 
no Brasil. Você sabe dizer, de quem foi a ideia de substituir a serie 
americana  chamada Judo Master por uma série produzida no Brasil?

A. maior parte das revistas da EBAL .eram estrangeiras









FHAF: Isso não sei dizer. Ouvi falar que a editora americana 
parou de publicá-la, pois não tinha muita aceitação nos EUA.


Tony 8: Pelo que sei, também, foi isso mesmo: A serie não deu certo
 na terra do tio Sam. Acredita que o editor já tinha a intenção de lançar um herói nacional, ou foi o roteirista Pedro Anísio que criou e apresentou
o novo projeto para o editor?


FHAF: Penso que quando deixaram de receber os originais resolveram continuar com a publicação e criaram um 
herói nacional. Como seu Aizen era muito fiel a seus amigos encarregou Pedro Anísio, velho companheiro, de escrever as histórias.


Tony 9: Então Adolfo Aizen e o Pedro já se conheciam, 
isto eu não sabia... Você, pelo que eu me lembro, escrevia
 suas próprias histórias do Judoka, enquanto os demais artistas
 trabalhavam com os roteiros de Pedro Anísio. Achava mais
 fácil trabalhar com seu próprio argumento?



FHAF: Eu desenhava para me divertir e fazer os 
desenhos que desejasse. Como não tinha um entrecho
 para me orientar, se me desse na telha desenhar, por
 exemplo, o Judoka numa motoca (vide Judoka nº 17 pag 19), conduzia a história para isso... RSS...


Tony 10: Bacana. Tinha total liberdade... isto foi ótimo. 
No geral, os roteiros de Pedro Anísio eram, ingênuos e 
simples, sem qualquer trama mais envolvente. Lembro-me 
bem de ter lido uma HQ feita por você chamada Irma La Dulce.
 Adorei este seu enredo, pois era mais consistente, mais 
estimulante, pois diferia dos demais escritos pelo escriba 
oficial da série, o Pedrão. Onde arrumou inspiração para 
escrever a HQ que citei?




FHAF: Quando tive que prosseguir após as 11 pranchas
iniciais pensei em fazer alguma coisa diferente para tornar
a história mais consistente. Achava, até então, os enredos
meio ingênuos e regionais demais. Então me veio a ideia de 
expandir mais a história e criar uma personagem vilã que fizesse contraponto com o herói. Como, por exemplo, a Satin do
ESPÍRITO. E assim surgiu Irma que apareceria ainda em
mais duas aventuras, no nº27 e nº37. E se desenhasse outros números, ela continuaria aparecendo. Pena que fui cansando 
e parei de desenhar.


Tony 11: Foi cansando... pelo visto o trabalho era estressante... 
Você fez quadrinhos por paixão, ou porque a proposta 
financeira era boa, interessante?


FHAF: Como já contei acima, posso dizer que foi por paixão. 
Paixão pelas HQs. Financeiramente era muito pouco em
 relação ao que ganhava como engenheiro. Aliás, eu não 
sei como alguém poderia viver apenas desenhando
 historietas. São verdadeiros heróis.


Tony 11: Hmmm... “pisei na bola”, mais uma vez... ando com a
 memória meio bamba... Rsss. Mas, você está coberto de razão, 
Fhaf, para se ganhar dinheiro fazendo HQs nesse país é preciso
 produzir aos quilos, porque os preços são aviltantes. Por causa 
desse louco ritmo de trabalho é que nossas HQs acabam saindo
 inferiores as importadas, obviamente. Mas, os leitores, em geral, não entendem e metem o pau nas HQs nacionais. O dia em que recebermos melhor, talvez a qualidade mude. Resta esperar para ver acontecer esse milagre. E como você mesmo disse, quem faz HQs no Brasil é um verdadeiro herói, apesar de não haver reconhecimento por boa parte dos leitores. Prosseguindo: Antes de começar a escrever e a desenhar 
O Judoka, você já havia tido outras experiência editoriais?


FHAF: Não. Essa foi a primeira e última.



Tony 12: Incrível, a coisa aconteceu na raça... 
Sempre sonhou em fazer e ver publicado suas HQs e desenhos?


FHAF: Embora gostasse muito de quadrinhos, essa ideia de ver publicada
 uma HQ desenhada por mim veio de repente.

Tony 13: Muitos autores que conheço me dizem: “Cara, de repente, me deu uma
vontade doida de fazer HQs. Isso não é estranho?” Sempre disse para eles: “Quando 
“baixa o santo” não tem jeito.” Rsss...  Creio, piamente, que arte, em geral, tem
 muito a ver com o lado espiritual.
Afinal, de onde vem a tal inspiração? Na época você se 
dedicava em tempo integral para desenhar os originais
do Judoka, ou fazia as HQs do herói mascarado tupiniquim, 
nas horas vagas?





FHAF: Desenhar para mim era um sufoco. Trabalhava na construção do Metrô, num trecho que ia da Cidade Nova até a Rua Uruguaiana e tinha muita responsabilidade nisso. Chegava em casa de noite, jantava, conversava um pouco com minha mulher e minhas duas filhas e depois sentava e começava a desenhar. Naquela situação era muito cansativo. Eram cerca de 28 pranchas e quando chegava na metade suava frio, doido para terminar... Nunca tive tempo para preparar um roteiro completo antes de iniciar a história. Sentava e não sabia que rumo dar à prancha... Vinha tudo por impulso no momento que pegava no lápis. Os esboços também eram muito toscos. Analisando tudo hoje, era coisa de doido... rsss.


Tony 14: Como já disse: “Baixava o santo”... Rsss.  Inicialmente o personagem atuava sozinho. Depois surgiu o contraponto da serie, o elemento feminino, a companheira do herói, Lúcia, que também era a namorada dele na vida real... de quem foi a ideia de incrementar 
o universo deste interessante personagem acrescentando
a figura feminina, também perita em judô?


FHAF: Não sei. Minha não foi, mas achei uma boa ideia.




Tony 15: Sem dúvida, foi genial.  Em quanto tempo você
 conseguia concluir uma edição?


FHAF: Isso variava muito. À medida que ia completando
 as histórias elas iam ficando mais espaçadas. 
Fui cansando dessa rotina toda. Não tinha tempo
 para mais nada. Felizmente na EBAL nunca 
me estipularam prazos.


Tony 16: Poxa, trabalhar sem prazo, sem pressão deve ser 
uma beleza...só consegui trabalhar assim nos últimos dez anos.
 Dentro das editoras, no passado, o esquema era rígido e
as datas deviam ser respeitadas e, na verdade,a maioria 
 dos editores, de menor porte, estavam pouco se lixando 
se o material era bom ou ruim. Queriam saber é de mandar
 o título para a rua e poder bater duplicatas contra as
 distribuidoras que, em geral, autorizavam faturarem 30% 
do valor da mercadoria. Tempo bom aquele... hoje a mamata
 acabou.  Para dizer a verdade, a maioria dos editores
 nunca entenderam porra nenhuma de arte o negócio 
deles são números, money, le argent,  Em que formato 
eram feitos os originais?


FHAF: Numa folha A3.





Tony 17: Que tipo de papel você usava? E que ferramentas 
(materiais) você também utilizava para executar os trabalhos? 
Penas, canetinhas de engenharia, tipo rotring, 
pincéis de pelo de marta?


FHAF: Ah, naquele tempo eu nem sabia se havia papéis 
especiais. Para achar os blocos que usava já tinha dificuldade. Quando achava, comprava logo uma meia dúzia deles. 
Até hoje ainda tenho blocos aqui em casa. O resto era
 lápis, borracha,  canetinhas e um pincel. Quanto às canetas resumiam-se naquelas penas antigas para nanquim, aquelas que tinham o cabo fininho. Tinham umas que eram boas, outras eram ordinárias... Quanto ao pincel era um de pelo de marta, sim.







Tony 18: Quantas HQs deste carismático personagem, que
 marcou época, você publicou? - Cheguei a colecionar  toda 
a serie, mas como não a tenho mais, não me recordo de 
certas coisas. Por isso estou curioso para comprar e ler o
 livro que o mago Dom Alvarez de La Mancha – um dos
 irresponsáveis que colaborou para a fundação e 
ressuscitação – em solo tupiniquim - da confraria mais 
odiada do Universo: A Bengalas Boys Club - está fazendo 
sobre O Judoka e seus artistas. Nele, na certa deverá
 ter boas revelações.


FHAF: Desenhei apenas 5 HQs. Foram os números
 14, 17, 24, 27 e 37. Assim, nunca cheguei a adquirir 
um estilo próprio, pois para alcançar isso são necessários 
muitos anos de trabalho. As primeiras aventuras de 
Terry e as que Canniff desenhou alguns anos depois não
 parecem ser do mesmo autor. Raymond também
 pelejou para chegar a seu traço “clean” de Rip Kirby. 
Quem vê os quadrinhos da fase barroca de Flash
 Gordon não acredita que o autor de Rip Kirby 
seja o mesmo. Infelizmente para mim não deu...


Tony 19: Quanto a Canniff e Raymond você tem toda razão, 
demoraram para encontrar um estilo próprio. Os últimos 
trabalhos deles diferiam muito da fase inicial. Bem observado. 
No que se refere a sua arte, fez apenas 5 edições e ganhou
 notoriedade, achei isso incrível. Tem gente que escreve e 
desenha a vida toda e não chama a atenção. Você, com 
poucos trabalhos, se fez notar. Meus parabéns, mestre. 
Suas artes apareceram em diversos livros sobre HQs e
creio que isso aconteceu por causa da sua inovação, do seu
jeito peculiar de desenvolver suas HQs. Devido ao sucesso
 do gibi do Judoka, foi lançado um filme cinematográfico 
do herói que, infelizmente foi exibido em poucas salas 
pelo Brasil afora.

Os personagens foram encarnados por Pedrinho Aguinar 
(o Judoka) e Elisângela (Lúcia, a namorada do herói, que o 
ajudava a combater o crime na cidade do Rio de Janeiro).
Elisângela, na época, era jovem e talvez nem sonhava 
em se tornar uma atriz 
de peso das novelas da poderosa Rede Globo de Televisão, 
que há anos exporta suas telelágrimas para diversos países do 
mundo e que hoje também lança longas-metragens com marca
Globo Filmes. Mas o tal filme ele não emplacou.
Você viu o filme? Sabe quem escreveu o roteiro 
do filme, quem o dirigiu?


FHAF: Sei muito pouco sobre o filme. Não assisti e
 parece que foi muito ruim.




Tony 20: Também nunca vi o tal filme em cartaz num 
cinema aqui de S. Paulo, mas ouvi falar que foi uma meleca...
 acho que não perdemos nada, Fhaf... Rsss. Quem inventou 
as novelas foram os mexicanos mas, pelo visto, a Globo produz
 mais do que suas concorrentes mexicanas. Os filmes lançados 
pelo selo Globo são de qualidade e têm atraído muita gente 
aos cinemas, dando um novo conceito ao cinema nacional. 
Por falar em cinema, quais são seus diretores preferidos, 
nacionais e internacionais? E, qual é seu gênero de filme preferido?


FHAF: Tenho em casa mais de 5000 DVDs. 
Desde criança ia muito ao cinema e aprendi a gostar. 
Curto filmes de suspense, de aventuras, os filmes “noir”, 
mas sendo bom vejo drama, comédias, tudo que vier. 
Tenho ainda algumas “fitas em série” como chamávamos
 no meu tempo de criança e me divirto muito as assistindo... rs. Quanto a diretores poderia citar Fellini, Scola, Eduardo 
Coutinho, Spielberg, Lang, Bertolucci, Kubrick, Polanski, 
Saura, Jorge Furtado, Nelson Pereira dos Santos, Claudio
Assis, Caca Diegues, Carol Reed, Costa Gravas, Bunuel, 
Visconti, Mario Monicelli,  Eduardo Escorel, René Clair, 
Bergman, Hitchcock, Chaplin, Billy Wilder, Woody Allen, 
Welles, Ford, Glauber Rocha, Huston, Truffaut, Miyazaki, 
Stanley Donen e muitos outros que agora
me fogem à memória.

Quanto aos filmes da Globo, você me desculpe, 
mas acho que embora de boa qualidade quanto 
à técnica, são meio imbecilizantes...



 Tony 21: Sim, também acho alguns imbecilizantes.
 Poucos são bons, mas a técnica equivale as produções 
americanas, eu acho. Mas, respeito sua opinião. Afinal, 
você tem bom gosto, basta ver os diretores que citou. 
Só feras. Vamos nessa... Atores e atrizes, 
nacionais e internacionais?


FHAF: Fica difícil com tantos filmes citar atores
 preferidos. Sempre vou esquecer de muitos.
Prefiro filmes com atores mais antigos.

Posso citar: Orson Welles, Humphrey Bogart, 
Edward G. Robinson, Claude Rains, Sean Connery, 
Ricardo Darin, Lawrence Olivier, Gene Hackman,
Marcello Mastroianni, Denzel Washington, Othon 
Bastos, Wagner Moura, Glenn Ford, Jose Wilker,
Ingrid Bergman, Stefania Sandrelli, Tilda Swinton, 
Catherine Deneuve, Juliette Binoche, Helen Mirren, 
Gene Kelly, Fred Astaire, Rachel Weisz, Leandra 
Leal, Victorio Gassman, Irene Jacob, Fernanda Torres,
Fernanda Montenegro, Dias Paes e muitos mais...

Escolho mais os filmes pelos Diretores.




Tony 22: Não há dúvida de que a assinatura de alguns 
diretores são sinônimo de qualidade cinematográfica... mas o
povão não se liga neles, infelizmente.  Autores de quadrinhos
favoritos, nacionais e estrangeiros?


FHAF: Também são muitos. Atualmente, poucos
americanos, bastante italianos e franceses e muitos 
espanhóis. Vou dizer algo que talvez possa chocar alguns:
não suporto mais super- heróis. Penso que eles sufocaram 
as HQs atuais. As histórias são pobres, 
sem nenhuma criatividade, apenas porrada... 
Uma produção maciça que anulou o estilo dos desenhistas. 
Os artistas atuais, tecnicamente, são superiores à maioria dos antigos, no entanto estes tinham o que falta hoje: estilo.

A gente via um quadrinho e identificava na hora seu autor:  
Raymond, Gould, Canniff,  Foster, Kubert, Eisner e todos
os outros. Agora fica difícil, são todos muito parecidos.



Tony 23: Concordo contigo... a coisa ficou pasteurizada. 
Temos, hoje, uma porrada de autores sem estilo.
É impossível distinguir pelo traço quem é quem...


FHAF: Gosto dos trabalhos de

Italianos: Toppi, Battaglia, Pratt, Manara, TaconnI,
Milazzo, Crepax, Bagnoli, Di Genaro, Uggeri, Mastantuono, 
Zaniboni,  Caprioli, Alessandrini.  Franceses e belgas: 
Giraud, Gillon, Poïvet, Hergé, Hermann, Gigi, Franquin, 
Cuvelier, Mezieres, Tardi. Espanhóis: Blasco, Victor De
La Fuente, Sió, Garcia, Fernandez, Pepe Gonzales, 
Maroto, Ortiz, Bermejo, Font, Bernet, Carlos Gimenez.
Palacios, Bielsa, Clavé. Americanos: A maioria dos desenhistas antigos (alguns deles citados acima) e hoje em dia Sienkiewcz, 
Neal Adams (que me parece meio decadente), Mignola, Lenil Yu, Charest, (este parece que pulou fora...), Frazetta, McKean.

Gosto também dos desenhistas filipinos entre os quais Niño. 
Alcala, Nebres, De Zuniga, Redondo, sem deixar de citar o
coreano Kim Jung Ji que acho extraordinário.

Esteban Maroto


Tony: Duvido que haja alguém, em sã consciência, 
que não considere os feras citados por você, 
como genuínos mestres.
 
FHAF: Quanto aos nacionais não me sinto à vontade 
para me referir a algum. Na minha opinião são todos
uns heróis, principalmente aqueles  mais antigos que 
abriram o caminho para a geração atual. Seria injusto 
citar apenas alguns deles. Queria entretanto mencionar 
grandes artistas que mesmo não sendo brasileiros
deram uma grande contribuição aos nossos quadrinhos
e que não estão mais entre nós: LeBlanc, Colonnese, 
Cortez e Nico Rosso. Não posso, também, deixar de me 
referir a Monteiro Filho, um quadrinista pioneiro, nascido
em Portugal, a quem conheci  pessoalmente nas
minhas idas à EBAL.

Colonnese

Tony: De fato, esses gringos enriqueceram as HQs nacionais. 
Quanto a Monteiro Filho, bela lembrança... muito se fala de Jayme
 Cortez, mas muitos se esquecem desse outro grande mestre
 lusitano da arte sequencial. Tanto Cortez quanto 
Monteiro eram geniais.


FHAF: Centenas de outros artistas devem
ter sido esquecidos por mim...



Tony 23: Sem problema, grande guru... é impossível lembrar
 de todos. Em nosso país surgiu muita gente boa de traço... 
Caro bengala brother (termo criado por mim que é uma alusão
 as pessoas como nós, de certa idade avançada, que ainda 
mantém vivo o espírito jovem), dentre todos os desenhistas 
que fizeram o Judoka, seu trabalho se destacou por seu 
traço diferenciado e por sua paginação moderna. 
Sua arte tinha um “Q” de Guido Crepax, consagrado 
autor italiano de HQs cheias de erotismo, e que também 
criou a famosa Valentina, um grande ícone do quadrinho
erótico mundial. Sempre admirou os fumetti 
daquele italiano criativo e inovador? 


FHAF: Quando li as primeiras aventuras de Neutron 
de Crepax e depois Valentina, fiquei impressionado.
 Para mim foi uma descoberta nova em matéria da 
linguagem dos quadrinhos. Embora tecnicamente seu 
traço não fosse dos melhores, era uma narrativa diferente e inovadora. Depois de certo tempo, entretanto, acho que 
Crepax deixou-se levar pelo erotismo e seu traço ficou
 meio rococó. Paralelamente a Crepax descobri também
 Enric Sió com uma técnica bem mais apurada, com quadrinhos nitidamente baseados em fotografias, mas com uma narrativa semelhante a de Crepax, embora menos prolífico.






 


Tony: Cacilda! Sió... belo resgate. Há anos não ouvia 
falar mais desse grande mestre. Maravilha... bem lembrado,
Fhaf... você tem um profundo conhecimento sobre HQs e 
seus autores. Genial.


FHAF: Alguns  desses artistas que citei podem ser 
encontrados em álbuns que coloquei na minha linha 
do tempo ou na de Marvie, também no Facebook.


Tony 24: Boa dica. Vou lá conferir e sugiro que todos façam 
o mesmo... Como era o sistema de trabalho implantado pela 
editora (EBAL) na época. Vocês, desenhistas, recebiam os
 roteiros, pelo correio, em casa? Ou se reunião com o 
editor e o escriba periodicamente na 
sede daquela bela casa editorial?




FHAF: Eu trabalhava em casa. Inventava minhas
próprias histórias (não posso chamar de roteiros... rs), 
desenhava, escrevia as legendas, fazia as capas indicando
as cores e depois de tudo pronto ia lá na EBAL apresentar as pranchas. Felizmente nunca tive nenhum trabalho recusado, 
nem mesmo aquele que seu Aizen pediu-me para fazer com uma história de Pedro Anísio e que em minha opinião ficou 
horrível... rs.


Tony 25: Confesso que esta que você fez em parceria
com o Pedro eu não me recordo. Mas, duvido que tenha
saído uma porcaria, como você mencionou... Você chegou a 
conhecer ou a conviver com algum dos 
demais desenhistas da serie?


FHAF: Infelizmente não conheci nenhum deles. 
Como trabalhava em casa e tinha muito pouco
 tempo disponível, isso não foi possível.


Tony 26: Ok. Dentre os bambas do traço que desenhavam o Judoka, lembro-me de: Eugênio Colonnese, Eduardo Baron, Fernando 
Ikoma, Mário Lima, você, e... e...Putz! Deu um branco terrível!
 Acho que meu “HD”, hoje, tá saturado. Pifou (Rsss...).
 Você recorda mais de alguns nomes de outros desenhistas da série?







FHAF: Depois de passados mais de 30 anos e com 
a minha idade, não recordo não. O Alvarez sabe
 o nome de todos de cor. 


Tony 27: Dom Alvarez, por caridade, manda para a gente
 o nome dos demais colaboradores, please... 
Quando foi que a serie acabou? E, você sabe 
por que deram fim nela? 
 

FAHF: Não sei precisar quando acabou porque parei 
de desenhar antes e com o trabalho que tinha nem 
revistas comprava mais. Acho que acabou quando 
a EBAL naufragou.


Tony 28: Hmmm... esse naufrágio editorial traumatizou
 muitos leitores, como eu, que colecionava diversos títulos
 lançados por ela. Deu para ganhar um bom dinheiro 
na época, ou a coisa só deu status?


FHAF: Não, rs... Era muito pouco. Por isso acho que nossos desenhistas são heróis. Sobreviver com esse trabalho
não é ou pelo menos não devia ser fácil. Quero ressaltar, 
entretanto, a honestidade e a seriedade do pessoal da EBAL que cumpriam fielmente tudo que era combinado. 
Até hoje sou grato ao seu Aizen, Naumin,
 Fernando e Paulo Adolpho. 


Tony 28: Os caras eram profissionais de verdade...
 Depois que a revista do Judoka fechou, você fez 
mais alguma HQ para outra casa editorial, ou 
abandonou o ramo?


 FHAF: Não. Parei completamente. Há mais de 30 anos
 não desenhava mais nada. Agora no fim do ano é que 
para desejar um Feliz Natal aos amigos do Facebook 
me atrevi a desenhar alguma coisa.


Tony 30: Ótimo... precisamos de gente talentosa 
como você. Deus, seitas, religiões e família?


FHAF: Em princípio sou agnóstico, mas como dizem 
alguns, “yo non creo em las brujas, pero que las hay, las hay...”



Tony 31: Rssss... boa saída... Partidos e os políticos 
deste país? O que pensa deles?


FHAF: Sempre me alinhei com a esquerda. Na época 
da ditadura, ao votar em algum candidato, sabia que 
uns dois a três meses depois da posse ele seria cassado. 
Não falhou um... Os políticos daqui são... políticos. 
Uma classe meio desacreditada. Penso que não 
entendem o papel importante que representam
 numa democracia. Uma pena isso.


Tony 32: Bota pena nisso... mas, vamos ser otimistas, daqui
a uns 200 anos esse país vai ser bom. Vejo o Brasil como
 a América dos anos 30... corruptos, mafiosos, crime organizado, 
favelas etc...Dilma ou Marina Silva para presidenta? (OBS: Esta
entrevista foi realizada antes das eleições presidenciais
de 2014).


FHAF: No primeiro turno votei em Luciana Genro e 
nos candidatos do PSOL. No segundo em Dilma.



Tony 33: Nunca fui petista e nem em sonho votaria na Dilma, 
Mas, por fim, ela se reelegeu. Acabei achando bom, porque
ela maquiou a economia para ser reeleita e agora já está 
segurando o rojão...não seria justo outro candidato herdar 
esse monte de merda que o os políticos do PT fizeram. 
Esse ano a barra vai ser dura... eles estão desmoralizados
e vão provar do próprio veneno. Enfim, sentaram na 
própria mandioca... Rsss. Quero ver como vão consertar
a “casa”... mas sei que para variar quem vai pagar o pato 
é o cidadão. Mal o ano começou e a carga tributária aumentou, 
falta água, energia elétrica, o escândalo da Petrobrás etc.
Isso aqui tá um caos.  Quero ver até quando eles vão 
suportar as manifestações populares. O bicho vai pegar, 
com certeza. O país, aparentemente, ia bem. De repente,
degringolou. Isso parece piada. Diga-me: quem é FAHF?
Um desenhista frustrado, um sonhador, ou um 
profissional plenamente realizado?




FHAF: Olhando meu passado e vendo aonde cheguei
 só posso me considerar uma pessoa realizada e feliz. 
Como desenhista fiz o que desejava e como engenheiro
 participei de algumas das grandes obras do Estado.


Tony 34: Ainda desenha ou está apenas curtindo a 
vida desfrutando sua aposentadoria?


FHAF: Atualmente não desenho não, embora de vez 
em quando sinta falta, sinta alguma vontade...


Tony 35: Participar de uma serie que se tornou tão popular no país, na década de 70, foi importante para sua carreira profissional?


FHAF: Para minha carreira profissional não, porque 
minha profissão era outra. Como desenhista era apenas
um diletante, mas fazer o Judoka, para mim, foi importante
porque acho que venci um desafio que me impus.




Tony 36: Sem dúvida... Em se falando de arte, você 
prefere a escola européia de quadrinhos, ou a linha americana -
isso é o que chamo de pergunta idiota (Rsss...)?


FHAF: Pelo que você pode ver até agora acho que deu
 para perceber que atualmente prefiro mil vezes a escola 
europeia. Como disse, acho que os super-heróis arruinaram, soterraram, os quadrinhos americanos. E vem acontecendo
 a mesma coisa com o cinema.


Tony 37: Concordo e assino embaixo... Mangás, quadrinhos
orientais, você gosta do estilo? Alguns títulos lançado no
Brasil, caiu no seu agrado? Confesso que eu particularmente
apreciei Lobo Solitário, Akira (lançado pela editora Globo)
e Vagabond...



FHAF: Também acompanhei Akira e um outro cujo
 nome começava por Mother “não sei o que” (esqueci 
o resto...), mas de um modo geral não gosto de mangás. 
Aqueles olhos grandes e os queixos finos não fazem
o meu gênero...


Tony 38: É duro, nós, os da velha guarda, aceitarmos esse 
estilo esquisito... eu também gosto de Lobo solitário, Akira e
 Vagabond, mas acho o resto uma meleca... mas fazer o quê? 
A nova geração adora... gosto não se discute. Um sonho?



FHAF: Sonhos, eu acho que devemos ter
durante toda a vida.


Tony 37: Sonhar é preciso... A mulher ideal...? Ela existe? 


FHAF: Para mim existe: minha mulher. Uma pessoa 
cuja bondade é fora de serie e a paciência infinita, 
pois me atura há 60 anos... rs. Conhecemo-nos no 
cursinho vestibular, cursamos a faculdade juntos
 e logo depois de formados, casamos.


Tony 38: Maravilha... isso é que é paixão declarada. 
Hoje em dia, infelizmente, esse tipo de paixão dura pouco... 
FHAF, colher este seu esclarecedor depoimento, só foi possível
depois que Dom Alvarez de La Mancha (vulgo El Don Juan carioca) descobriu você e me passou o seu e-mail. Na sequência vi 
os papos de vocês no Face e só então criei coragem de 
perguntar se você topava dar um depoimento. Portanto, sou
grato a você e ao Alvarez, por terem colaborado. Curiosamente, 
o mancebo (Alvarez)  nascido na Espanha é um dos cardeais da mais poderosa e temida confraria que já existiu no Universo.


A horripilante e quase secreta Bengalas Boys Club. A tal confraria, na verdade, não passa de um bando aloprado de tiozinhos que 
continuam se comportando como adolescentes porraloucas. Rsss...). 
Pois é, o cidadão, que também é um colecionador doido de HQs, teve a brilhante ideia de escrever um livro sobre este grande ícone das
 HQs de uma geração, o Judoka. Assim, nós, os malucos, que sempre admiramos a serie e seus autores ficamos, obviamente, excitados 
e doidos para ver o tal livro, que ele está escrevendo, realizado – 
será que vai demorar para entrar no prelo? Alvarez, então, 
decidiu ir atrás (pentelhar) todos aqueles que participaram do
 Judoka, para entrevistá-los. É um dos principais alvos era você, 
por causa do seu estilo marcante de fazer arte seqüencial. 
Como foi que o Alvarez o localizou? Se conheceram pessoalmente?
 Pelo que sei, você já concedeu um depoimento falando sobre 
o seu trabalho e sobre o personagem, pro Alvarez, que deve sair
 no livro, correto? O que você achou da ideia de lançar o livro 
sobre o herói nacional e seus autores?  


 FHAF: Não sei como me localizou. Um dia recebi um email dele dizendo que queria me entrevistar. Eu concordei e quase um ano depois apareceu... rs.


Tony: Um ano depois!? Tais brincando, mestre... Rsss.
 O cara deve ter ficado acanhado...




 FHAF: Conversamos bastante na minha casa. 
Acho que seria ótimo ver o livro publicado. 
Talvez o primeiro de uma serie sobre 
desenhistas brasileiros...

 Tony 39: Meu caro amigo, o papo está ótimo, mas estamos
 chegando ao fim. Algumas considerações finais para seus 
fãs, que se inspiram no seu traço dinâmico e paginação moderna?
 Ou para aqueles que desejam também ver seus títulos e 
personagens nas bancas de jornais deste país, um dia
Ainda há mercado, espaço para o quadrinho nacional? 
Há chance de surgir alguém que salve a Pátria do 
quadrinho nacional, que anda em baixa? 
 
FHAF: Pelo que tenho visto no Facebook existe muita 
coisa boa sendo publicada pelo sistema de crowdfunding
(é assim que se escreve?), mas infelizmente são
publicações de pouco alcance. Com o tempo, entretanto,
penso que nossos desenhistas atuais vão se impor.
Tenho visto desenhos incríveis! Só lamento que
fiquem batendo na tecla de super- heróis...


Tony: Crowdfunding? Sei lá... é tanto nome gringo na WEB...
nem parece que estamos no Brasil. Há muitas palavras
em inglês que usamos diariamente, um absurdo...
Ouço muito o pessoal falar em Cartase... ou coisa parecida. 
Sei que é uma forma de levantar fundos, com a colaboração 
das pessoas, para tornar um produto editorial ou cultural palpável...
 Algum e-mail, fone, ou site para contato?




Tony 41: FHAF, você é uma simpatia e super  atencioso. 
Grato, pela oportunidade de poder colher seu depoimento. 
Até breve parceiro e muito sucesso, saúde, dinheiro e paz. Fuiii!


FHAF: Obrigado a você. Foi um prazer dar essa entrevista.


Tony: Fique plugado em nossos blogs, mais depoimentos
 incríveis vêm por aí, com outras feras das HQs 
desse país. See you later, cowboy! Be well!
 


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