Na década de 70 a saudosa Editora Brasil-América (EBAL),
do
saudoso Adolfo Aizen, lançava um título em quadrinhos
cujo tema era artes
marciais. O título da serie original era
JUDO MASTER, que era publicada pela
Charlton Comics, editora
americana que se notabilizou por lançar diversos
títulos, naquela
época, sobre carros de corridas, como Hot Hells, etc. Algum
tempo
depois, a serie gringa, para a surpresa dos leitores brasileiros,
foi
substituída por uma série nacional chamada O Judoka.
Inicialmente as primeiras
HQs foram feitas por Pedro Lima e
Eduardo Baron. Dentre os inúmeros bons
profissionais do traço
um deles se destacou, por seu estilo e quadrinização
moderna
e arrojada. É com este desenhista fora de serie e inovador
que vamos
bater um bom papão, para sabermos mais
sobre ele. Fiel, webleitor, tem início
mais um talkie show
virtual descontraído e revelador, desta feita com...
FHAF,
UM DOS GRANDES DESENHISTAS
DO JUDOKA!
Tony 1: Mestre, jamais pensei que pudesse um dia
entrevistar
um dos meus ídolos das HQs da adolescência, você. Quando
você
assentiu em dar o depoimento a seguir, confesso que
tive um orgasmo. Rsss...
Posso dar o tiro de largada?
FHAF: Claro...
Tony 2: Você nasceu em que dia, mês, ano, estado, cidade?
E, qual é seu verdadeiro nome?
FHAF: Nasci
no dia 17 de dezembro de 1935 aqui mesmo
no Rio de Janeiro, em São Cristóvão,
de onde só saí quando me casei. Meu nome é Floriano Hermeto de Almeida Filho,
daí o Fhaf.
Estação do metro de São Cristovão |
Tony 3: Sempre adorou rabiscar? Lia muitas revistas em
quadrinhos, durante sua infância e adolescência?
FHAF:
Desde cedo gostava de revistas infantis.
Comecei com o Tico Tico e à medida que
ia crescendo
passei para o Gibi, Globo Juvenil etc... E aí não parei mais.
Tony 4: Tem formação acadêmica? Fez algum curso
especificamente de desenho?
FHAF:
Sou engenheiro formado pela antiga Escola Nacional de Engenharia que ficava
situada no Largo de São Francisco.
Nunca estudei desenho. Tudo que sei fazer
aprendi praticando.
Tony 5: Hmmm... Autodidata, nasceu com o dom para arte...
Qual é sua real profissão?
FHAF:
Já disse em cima. Sou engenheiro.
Tony 6: Ops! Desculpe-me, pelo deslise... de
vez em quando meu “HD” falha, coisa da idade... Rsss. Como surgiu a
vez em quando meu “HD” falha, coisa da idade... Rsss. Como surgiu a
oportunidade de fazer O
Judoka, para a Editora Brasil América?
FHAF:
Posso dizer que essa oportunidade eu mesmo criei.
De tanto comprar e ler livros
e revistas de quadrinhos,
um dia me deu um estalo. Por que não fazer eu mesmo
uma
HQ e achar um jeito publicá-la? Naquela época, publicada
no Rio, só havia
uma revista desenhada por brasileiros:
O JUDOKA. Então não havia outro jeito.
Era o JUDOKA
mesmo.... Criei parte de um enredo e desenhei 11 páginas.
O problema seguinte era apresentar
o trabalho a alguém da EBAL.
O problema seguinte era apresentar
o trabalho a alguém da EBAL.
Tony 7: Interessante... de repente, deu um estalo, surgiu a
ideia
de fazer uma HQ do personagem e “mandou bala”... prossiga...
FHAF: Nessa
época trabalhava no Metrô e um dia, na sede da companhia, conversando com
colegas comentei que havia
desenhado parte de uma HQ e precisava de um contacto
na EBAL. Uma secretária que estava próxima ouviu isso
e me disse que conhecia o
Naumin Aizen e poderia
apresentar-me a ele.
Tony 8: Que coisa incrível... então ela conhecia o
Naumin... os
deuses das HQs, parece que eles estavam conspirando
a seu favor...
continue...
FHAF: No
dia marcado, aproveitando a hora do almoço,
fomos eu, Heloisa (a secretária) e Lelo,
um amigo (para me
dar apoio moral... rs) a caminho da EBAL. Chegando lá fui
muito bem recebido pelo Naumin e tratei logo de explicar
que tinha desenhado
algumas pranchas do JUDOKA e
queria ouvir a opinião deles. Ele deu uma olhada,
pediu
para se ausentar por uns instantes e ficamos
lá aguardando.
Tony 9: Tcham-tcham-tcham-tacham! Que suspense.
Você deve
ter ficado apreensivo, suponho...
FHAF: Pouco
depois chega ele com o Fernando
Albagli e o seu Aizen. Disseram que haviam
gostado
do trabalho e que poderia continuar que publicariam!
Em seguida foram
combinando o pagamento,
um valor bem baixo, rss. Mas naquela altura pouco
importava porque, na
verdade, faria até de graça só
Tony 10: Fez a coisa por diletantismo, desejava ver o
trabalho publicado, apesar do preço ínfimo e assim as
portas se abriram para
você. Como digo sempre, quem
deseja alguma coisa tem que correr atrás, conhecer
gente etc.
Afinal, mesmo tendo talento ninguém faz nada sozinho.
Todos nós
precisamos de um “empurrãozinho”, de alguém
que ajude nossos sonhos a virarem
realidade.
Esta sua história é um belo exemplo para muitos
da nova geração,
pode acreditar.
FHAF:
Chegando em casa, de noite, resolvi então prosseguir.
Mas empaquei porque só tinha criado a história até aquela altura.
Mas empaquei porque só tinha criado a história até aquela altura.
Dali para frente não sabia como
seria... Se você notar, a
partir da página 11 (15 na revista impressa) é como se
começasse uma nova história com mais personagens.
Foi quando criei Irma, La Douce...
E assim a cada dia ia criando novas páginas, pois não
tinha tempo de completar toda a história para então desenhá-la.
partir da página 11 (15 na revista impressa) é como se
começasse uma nova história com mais personagens.
Foi quando criei Irma, La Douce...
E assim a cada dia ia criando novas páginas, pois não
tinha tempo de completar toda a história para então desenhá-la.
Tony 11: O bom dessas
entrevistas é que a gente acaba sabendo esses detalhes interessantes dos
bastidores, como esse que você acabou de contar... Irma, La Dulce, foi uma vilã
marcante... Naquela época a Brasil América detinha o maior número de títulos de
HQs do mercado. Publica quadrinhos da Marvel, DC Comics e outras casas
editoriais gringas,
como foi o caso do Judo máster, da Charlton, que virou O Judoca,
no Brasil. Você sabe dizer, de quem foi a ideia de substituir a serie
americana chamada Judo Master por uma série produzida no Brasil?
como foi o caso do Judo máster, da Charlton, que virou O Judoca,
no Brasil. Você sabe dizer, de quem foi a ideia de substituir a serie
americana chamada Judo Master por uma série produzida no Brasil?
A. maior parte das revistas da EBAL .eram estrangeiras |
FHAF:
Isso não sei dizer. Ouvi falar que a editora americana
parou de publicá-la,
pois não tinha muita aceitação nos EUA.
Tony 8: Pelo que sei, também, foi isso mesmo: A serie não
deu certo
na terra do tio Sam. Acredita que o editor já tinha a intenção de
lançar um herói nacional, ou foi o roteirista Pedro Anísio que criou e
apresentou
o novo projeto para o editor?
FHAF:
Penso que quando deixaram de receber os originais resolveram continuar com a
publicação e criaram um
herói nacional. Como seu Aizen era muito fiel a seus
amigos encarregou Pedro Anísio, velho companheiro, de escrever as histórias.
Tony 9: Então Adolfo Aizen e o Pedro já se conheciam,
isto
eu não sabia... Você, pelo que eu me lembro, escrevia
suas próprias histórias
do Judoka, enquanto os demais artistas
trabalhavam com os roteiros de Pedro Anísio.
Achava mais
FHAF:
Eu desenhava para me divertir e fazer os
desenhos que desejasse. Como não tinha
um entrecho
para me orientar, se me desse na telha desenhar, por
exemplo, o
Judoka numa motoca (vide Judoka nº 17 pag 19), conduzia a história para isso...
RSS...
Tony 10: Bacana. Tinha total liberdade... isto foi ótimo.
No
geral, os roteiros de Pedro Anísio eram, ingênuos e
simples, sem qualquer trama
mais envolvente. Lembro-me
bem de ter lido uma HQ feita por você chamada Irma
La Dulce.
Adorei este seu enredo, pois era mais consistente, mais
estimulante,
pois diferia dos demais escritos pelo escriba
oficial da série, o Pedrão. Onde arrumou
inspiração para
escrever a HQ que citei?
FHAF:
Quando tive que prosseguir após as 11 pranchas
iniciais pensei em fazer alguma
coisa diferente para tornar
a história mais consistente. Achava, até então, os
enredos
meio ingênuos e regionais demais. Então me veio a ideia de
expandir
mais a história e criar uma personagem vilã que fizesse contraponto com o
herói. Como, por exemplo, a Satin do
ESPÍRITO. E assim surgiu Irma que
apareceria ainda em
mais duas aventuras, no nº27 e nº37. E se desenhasse outros
números, ela continuaria aparecendo. Pena que fui cansando
e parei de desenhar.
Tony 11: Foi cansando... pelo visto o trabalho era
estressante...
Você fez quadrinhos por paixão, ou porque a proposta
financeira
era boa, interessante?
FHAF:
Como já contei acima, posso dizer que foi por paixão.
Paixão pelas HQs.
Financeiramente era muito pouco em
relação ao que ganhava como engenheiro.
Aliás, eu não
sei como alguém poderia viver apenas desenhando
historietas. São
verdadeiros heróis.
Tony 11: Hmmm... “pisei na bola”, mais uma vez... ando com
a
memória meio bamba... Rsss. Mas, você está coberto de razão,
Fhaf, para se
ganhar dinheiro fazendo HQs nesse país é preciso
produzir aos quilos, porque os
preços são aviltantes. Por causa
desse louco ritmo de trabalho é que nossas HQs
acabam saindo
inferiores as importadas, obviamente. Mas, os leitores, em geral,
não entendem e metem o pau nas HQs nacionais. O dia em que recebermos melhor,
talvez a qualidade mude. Resta esperar para ver acontecer esse milagre. E como
você mesmo disse, quem faz HQs no Brasil é um verdadeiro herói, apesar de não
haver reconhecimento por boa parte dos leitores. Prosseguindo: Antes de começar
a escrever e a desenhar
O Judoka, você já havia tido outras experiência
editoriais?
Tony 12: Incrível, a coisa aconteceu na raça...
Sempre
sonhou em fazer e ver publicado suas HQs e desenhos?
FHAF:
Embora gostasse muito de quadrinhos, essa ideia de ver publicada
uma HQ desenhada por mim veio de repente.
uma HQ desenhada por mim veio de repente.
vontade doida de fazer HQs. Isso não é estranho?” Sempre disse para eles: “Quando
“baixa o santo” não tem jeito.” Rsss... Creio, piamente, que arte, em geral, tem
muito a ver com o lado espiritual.
Afinal, de onde vem a tal inspiração? Na época você se
dedicava em tempo integral para desenhar os originais
do Judoka, ou fazia as HQs do herói mascarado tupiniquim,
nas horas vagas?
FHAF:
Desenhar para mim era um sufoco. Trabalhava na construção do Metrô, num trecho
que ia da Cidade Nova até a Rua Uruguaiana e tinha muita responsabilidade
nisso. Chegava em casa de noite, jantava, conversava um pouco com minha mulher
e minhas duas filhas e depois sentava e começava a desenhar. Naquela situação
era muito cansativo. Eram cerca de 28 pranchas e quando chegava na metade suava
frio, doido para terminar... Nunca tive tempo para preparar um roteiro completo
antes de iniciar a história. Sentava e não sabia que rumo dar à prancha...
Vinha tudo por impulso no momento que pegava no lápis. Os esboços também eram
muito toscos. Analisando tudo hoje, era coisa de doido... rsss.
Tony 14: Como já disse: “Baixava o santo”... Rsss. Inicialmente o personagem atuava sozinho. Depois
surgiu o contraponto da serie, o elemento feminino, a companheira do herói,
Lúcia, que também era a namorada dele na vida real... de quem foi a ideia de
incrementar
o universo deste interessante personagem acrescentando
a figura
feminina, também perita em judô?
Tony 15: Sem dúvida, foi genial. Em quanto tempo você
conseguia concluir uma
edição?
FHAF:
Isso variava muito. À medida que ia completando
as histórias elas iam ficando
mais espaçadas.
Fui cansando dessa rotina toda. Não tinha tempo
para mais nada.
Felizmente na EBAL nunca
me estipularam prazos.
Tony 16: Poxa, trabalhar sem prazo, sem pressão deve ser
uma beleza...só consegui trabalhar assim nos últimos dez anos.
Dentro das
editoras, no passado, o esquema era rígido e
as datas deviam ser respeitadas e,
na verdade,a maioria
dos editores, de
menor porte, estavam pouco se lixando
se o material era bom ou ruim. Queriam
saber é de mandar
o título para a rua e poder bater duplicatas contra as
distribuidoras que, em geral, autorizavam faturarem 30%
do valor da mercadoria.
Tempo bom aquele... hoje a mamata
acabou.
Para dizer a verdade, a maioria dos editores
nunca entenderam porra
nenhuma de arte o negócio
deles são números, money, le argent, Em que formato
eram feitos os originais?
FHAF:
Numa folha A3.
Tony 17: Que tipo de papel você usava? E que ferramentas
(materiais) você também utilizava para executar os trabalhos?
Penas, canetinhas
de engenharia, tipo rotring,
pincéis de pelo de marta?
FHAF:
Ah, naquele tempo eu nem sabia se havia papéis
especiais. Para achar os blocos
que usava já tinha dificuldade. Quando achava, comprava logo uma meia dúzia
deles.
Até hoje ainda tenho blocos aqui em casa. O resto era
lápis,
borracha, canetinhas e um pincel. Quanto
às canetas resumiam-se naquelas penas antigas para nanquim, aquelas que tinham
o cabo fininho. Tinham umas que eram boas, outras eram ordinárias... Quanto ao
pincel era um de pelo de marta, sim.
Tony 18: Quantas HQs deste carismático personagem, que
marcou época, você publicou? - Cheguei a colecionar toda
a serie, mas como não a tenho mais, não
me recordo de
certas coisas. Por isso estou curioso para comprar e ler o
livro
que o mago Dom Alvarez de La Mancha – um dos
irresponsáveis que colaborou para
a fundação e
ressuscitação – em solo tupiniquim - da confraria mais
odiada do
Universo: A Bengalas Boys Club - está fazendo
sobre O Judoka e seus artistas.
Nele, na certa deverá
ter boas revelações.
FHAF:
Desenhei apenas 5 HQs. Foram os números
14, 17, 24, 27 e 37. Assim, nunca
cheguei a adquirir
um estilo próprio, pois para alcançar isso são necessários
muitos anos de trabalho. As primeiras aventuras de
Terry e as que Canniff
desenhou alguns anos depois não
parecem ser do mesmo autor. Raymond também
pelejou para chegar a seu traço “clean” de Rip Kirby.
Quem vê os quadrinhos da
fase barroca de Flash
Gordon não acredita que o autor de Rip Kirby
Tony 19: Quanto a Canniff e Raymond você tem toda razão,
demoraram para encontrar um estilo próprio. Os últimos
trabalhos deles diferiam
muito da fase inicial. Bem observado.
No que se refere a sua arte, fez apenas 5
edições e ganhou
notoriedade, achei isso incrível. Tem gente que escreve e
desenha a vida toda e não chama a atenção. Você, com
poucos trabalhos, se fez
notar. Meus parabéns, mestre.
Suas artes apareceram em diversos livros sobre
HQs e
creio que isso aconteceu por causa da sua inovação, do seu
jeito peculiar de desenvolver suas HQs. Devido ao sucesso
do gibi do Judoka, foi lançado um
filme cinematográfico
do herói que, infelizmente foi exibido em poucas salas
pelo Brasil afora.
Os personagens foram
encarnados por Pedrinho Aguinar
(o Judoka) e Elisângela (Lúcia, a namorada do
herói, que o
ajudava a combater o crime na cidade do Rio de Janeiro).
Elisângela, na época, era jovem e talvez nem sonhava
em se tornar uma atriz
ajudava a combater o crime na cidade do Rio de Janeiro).
Elisângela, na época, era jovem e talvez nem sonhava
em se tornar uma atriz
de
peso das novelas da poderosa Rede Globo de Televisão,
que há anos exporta suas
telelágrimas para diversos países do
mundo e que hoje também lança
longas-metragens com marca
Globo Filmes. Mas o tal filme ele não emplacou.
Você
viu o filme? Sabe quem escreveu o roteiro
do filme, quem o dirigiu?
FHAF:
Sei muito pouco sobre o filme. Não assisti e
parece que foi muito ruim.
Tony 20: Também nunca vi o tal filme em cartaz num
cinema
aqui de S. Paulo, mas ouvi falar que foi uma meleca...
acho que não perdemos
nada, Fhaf... Rsss. Quem inventou
as novelas foram os mexicanos mas, pelo
visto, a Globo produz
mais do que suas concorrentes mexicanas. Os filmes
lançados
pelo selo Globo são de qualidade e têm atraído muita gente
aos
cinemas, dando um novo conceito ao cinema nacional.
Por falar em cinema, quais
são seus diretores preferidos,
nacionais e internacionais? E, qual é seu gênero
de filme preferido?
FHAF:
Tenho em casa mais de 5000 DVDs.
Desde criança ia muito ao cinema e aprendi a
gostar.
Curto filmes de suspense, de aventuras, os filmes “noir”,
mas sendo bom
vejo drama, comédias, tudo que vier.
Tenho ainda algumas “fitas em série” como
chamávamos
no meu tempo de criança e me divirto muito as assistindo... rs. Quanto
a diretores poderia citar Fellini, Scola, Eduardo
Coutinho, Spielberg, Lang,
Bertolucci, Kubrick, Polanski,
Saura, Jorge Furtado, Nelson Pereira dos Santos,
Claudio
Assis, Caca Diegues, Carol Reed, Costa Gravas, Bunuel,
Visconti, Mario
Monicelli, Eduardo Escorel, René Clair,
Bergman, Hitchcock, Chaplin, Billy Wilder, Woody Allen,
Welles, Ford, Glauber
Rocha, Huston, Truffaut, Miyazaki,
Stanley Donen e muitos outros que agora
me fogem à memória.
me fogem à memória.
Quanto
aos filmes da Globo, você me desculpe,
mas acho que embora de boa qualidade
quanto
Tony 21: Sim, também
acho alguns imbecilizantes.
Poucos são bons, mas a técnica equivale as
produções
americanas, eu acho. Mas, respeito sua opinião. Afinal,
você tem bom
gosto, basta ver os diretores que citou.
Só feras. Vamos nessa... Atores e
atrizes,
nacionais e internacionais?
FHAF: Fica difícil com tantos filmes citar atores
preferidos. Sempre vou esquecer de muitos.
Prefiro filmes com atores mais antigos.
Prefiro filmes com atores mais antigos.
Posso
citar: Orson Welles, Humphrey Bogart,
Edward G. Robinson, Claude Rains, Sean
Connery,
Ricardo Darin, Lawrence Olivier, Gene Hackman,
Marcello Mastroianni,
Denzel Washington, Othon
Bastos, Wagner Moura, Glenn Ford, Jose Wilker,
Ingrid
Bergman, Stefania Sandrelli, Tilda Swinton,
Catherine Deneuve, Juliette
Binoche, Helen Mirren,
Gene Kelly, Fred Astaire, Rachel Weisz, Leandra
Leal, Victorio
Gassman, Irene Jacob, Fernanda Torres,
Fernanda Montenegro, Dias Paes e muitos
mais...
Escolho
mais os filmes pelos Diretores.
Tony 22: Não há dúvida de que
a assinatura de alguns
diretores são sinônimo de qualidade cinematográfica...
mas o
povão não se liga neles, infelizmente. Autores de quadrinhos
favoritos, nacionais e
estrangeiros?
FHAF:
Também são muitos. Atualmente, poucos
americanos, bastante italianos e
franceses e muitos
espanhóis. Vou dizer algo que talvez possa chocar alguns:
não suporto mais super- heróis. Penso que eles sufocaram
as HQs atuais. As
histórias são pobres,
sem nenhuma criatividade, apenas porrada...
Uma produção maciça
que anulou o estilo dos desenhistas.
Os artistas atuais, tecnicamente, são
superiores à maioria dos antigos, no entanto estes tinham o que falta hoje:
estilo.
A
gente via um quadrinho e identificava na hora seu autor:
Raymond, Gould, Canniff, Foster, Kubert, Eisner e todos
os outros.
Agora fica difícil, são todos muito parecidos.
Tony
23: Concordo contigo... a coisa ficou pasteurizada.
Temos, hoje, uma porrada de
autores sem estilo.
É impossível distinguir pelo traço quem é quem...
É impossível distinguir pelo traço quem é quem...
FHAF: Gosto
dos trabalhos de
Italianos:
Toppi, Battaglia, Pratt, Manara, TaconnI,
Milazzo, Crepax, Bagnoli, Di Genaro,
Uggeri, Mastantuono,
Zaniboni, Caprioli,
Alessandrini. Franceses e belgas:
Giraud, Gillon, Poïvet, Hergé, Hermann, Gigi, Franquin,
Cuvelier, Mezieres,
Tardi. Espanhóis: Blasco, Victor De
La Fuente, Sió, Garcia, Fernandez, Pepe Gonzales,
Maroto, Ortiz, Bermejo, Font, Bernet, Carlos Gimenez.
Palacios, Bielsa, Clavé. Americanos:
A maioria dos desenhistas antigos (alguns deles citados acima) e hoje em dia
Sienkiewcz,
Neal Adams (que me parece meio decadente), Mignola, Lenil Yu,
Charest, (este parece que pulou fora...), Frazetta, McKean.
Gosto
também dos desenhistas filipinos entre os quais Niño.
Alcala, Nebres, De Zuniga,
Redondo, sem deixar de citar o
Tony:
Duvido que haja alguém, em sã consciência,
que não considere os feras citados
por você,
como genuínos mestres.
FHAF: Quanto aos nacionais não me sinto à vontade
para me referir a algum. Na minha opinião são todos
uns heróis, principalmente aqueles mais antigos que
abriram o caminho para a
geração atual. Seria injusto
citar apenas alguns deles. Queria entretanto
mencionar
grandes artistas que mesmo não sendo brasileiros
deram uma grande
contribuição aos nossos quadrinhos
e que não estão mais entre nós: LeBlanc,
Colonnese,
Cortez e Nico Rosso. Não posso, também, deixar de me
referir a
Monteiro Filho, um quadrinista pioneiro, nascido
em Portugal, a quem
conheci pessoalmente nas
minhas idas à
EBAL.
Tony:
De fato, esses gringos enriqueceram as HQs nacionais.
Quanto a Monteiro Filho,
bela lembrança... muito se fala de Jayme
Cortez, mas muitos se esquecem desse
outro grande mestre
lusitano da arte sequencial. Tanto Cortez quanto
Monteiro
eram geniais.
FHAF: Centenas
de outros artistas devem
ter sido esquecidos por mim...
Tony 23: Sem problema, grande guru... é impossível lembrar
de todos. Em nosso país surgiu muita gente boa de traço...
Caro bengala brother
(termo criado por mim que é uma alusão
as pessoas como nós, de certa idade
avançada, que ainda
mantém vivo o espírito jovem), dentre todos os desenhistas
que fizeram o Judoka, seu trabalho se destacou por seu
traço diferenciado e por
sua paginação moderna.
Sua arte tinha um “Q” de Guido Crepax, consagrado
autor
italiano de HQs cheias de erotismo, e que também
criou a famosa Valentina, um
grande ícone do quadrinho
erótico mundial. Sempre admirou os fumetti
daquele
italiano criativo e inovador?
FHAF: Quando li as primeiras aventuras de Neutron
de Crepax e depois Valentina,
fiquei impressionado.
Para mim foi uma descoberta nova em matéria da
linguagem
dos quadrinhos. Embora tecnicamente seu
traço não fosse dos melhores, era uma
narrativa diferente e inovadora. Depois de certo tempo, entretanto, acho que
Crepax deixou-se levar pelo erotismo e seu traço ficou
meio rococó. Paralelamente
a Crepax descobri também
Enric Sió com uma técnica bem mais apurada, com
quadrinhos nitidamente baseados em fotografias, mas com uma narrativa
semelhante a de Crepax, embora menos prolífico.
Tony:
Cacilda! Sió... belo resgate. Há anos não ouvia
falar mais desse grande mestre.
Maravilha... bem lembrado,
Fhaf... você tem um profundo conhecimento sobre HQs
e
seus autores. Genial.
seus autores. Genial.
FHAF: Alguns
desses artistas que citei podem ser
encontrados em álbuns que coloquei na minha linha
do tempo ou na de Marvie,
também no Facebook.
Tony 24: Boa dica. Vou lá conferir e sugiro que todos façam
o mesmo... Como era o sistema de trabalho implantado pela
editora (EBAL) na
época. Vocês, desenhistas, recebiam os
roteiros, pelo correio, em casa? Ou se
reunião com o
editor e o escriba periodicamente na
sede daquela bela casa editorial?
FHAF:
Eu trabalhava em casa. Inventava minhas
próprias histórias (não posso chamar de
roteiros... rs),
desenhava, escrevia as legendas, fazia as capas indicando
as
cores e depois de tudo pronto ia lá na EBAL apresentar as pranchas. Felizmente
nunca tive nenhum trabalho recusado,
nem mesmo aquele que seu Aizen pediu-me
para fazer com uma história de Pedro Anísio e que em minha opinião ficou
horrível... rs.
Tony 25: Confesso que esta que você fez em parceria
com o
Pedro eu não me recordo. Mas, duvido que tenha
saído uma porcaria, como você
mencionou... Você chegou a
conhecer ou a conviver com algum dos
demais desenhistas da serie?
demais desenhistas da serie?
FHAF:
Infelizmente não conheci nenhum deles.
Como trabalhava em casa e tinha muito
pouco
tempo disponível, isso não foi possível.
Tony 26: Ok. Dentre os bambas do traço que desenhavam o
Judoka, lembro-me de: Eugênio Colonnese, Eduardo Baron, Fernando
Ikoma, Mário
Lima, você, e... e...Putz! Deu um branco terrível!
Acho que meu “HD”, hoje, tá
saturado. Pifou (Rsss...).
FHAF:
Depois de passados mais de 30 anos e com
a minha idade, não recordo não. O
Alvarez sabe
o nome de todos de cor.
Tony 27: Dom Alvarez, por caridade, manda para a gente
o
nome dos demais colaboradores, please...
Quando foi que a serie acabou? E, você sabe
por que deram fim nela?
Quando foi que a serie acabou? E, você sabe
por que deram fim nela?
FAHF:
Não sei precisar quando acabou porque parei
de desenhar antes e com o trabalho
que tinha nem
revistas comprava mais. Acho que acabou quando
a EBAL naufragou.
Tony 28: Hmmm... esse naufrágio editorial traumatizou
muitos leitores, como eu, que colecionava diversos títulos
lançados por ela. Deu
para ganhar um bom dinheiro
na época, ou a coisa só deu status?
FHAF:
Não, rs... Era muito pouco. Por isso acho que nossos desenhistas são heróis.
Sobreviver com esse trabalho
não é ou pelo menos não devia ser fácil. Quero
ressaltar,
entretanto, a honestidade e a seriedade do pessoal da EBAL que
cumpriam fielmente tudo que era combinado.
Até hoje sou grato ao seu Aizen,
Naumin,
Fernando e Paulo Adolpho.
Tony 28: Os caras eram profissionais de verdade...
Depois que
a revista do Judoka fechou, você fez
mais alguma HQ para outra casa editorial,
ou
abandonou o ramo?
FHAF: Não. Parei completamente. Há mais de 30 anos
não desenhava mais
nada. Agora no fim do ano é que
para desejar um Feliz Natal aos amigos do
Facebook
me atrevi a desenhar alguma coisa.
Tony 30: Ótimo... precisamos de gente talentosa
como você. Deus,
seitas, religiões e família?
FHAF:
Em princípio sou agnóstico, mas como dizem
alguns, “yo non creo em las brujas,
pero que las hay, las hay...”
Tony 31: Rssss... boa saída... Partidos e os políticos
deste país? O que pensa deles?
FHAF:
Sempre me alinhei com a esquerda. Na época
da ditadura, ao votar em algum
candidato, sabia que
uns dois a três meses depois da posse ele seria cassado.
Não falhou um... Os políticos daqui são... políticos.
Uma classe meio
desacreditada. Penso que não
entendem o papel importante que representam
numa
democracia. Uma pena isso.
Tony 32: Bota pena nisso... mas, vamos ser otimistas, daqui
a uns 200 anos esse país vai ser bom. Vejo o Brasil como
a América dos anos 30...
corruptos, mafiosos, crime organizado,
favelas etc...Dilma ou Marina Silva para
presidenta? (OBS: Esta
entrevista foi realizada antes das eleições presidenciais
de 2014).
FHAF:
No primeiro turno votei em Luciana Genro e
nos candidatos do PSOL. No segundo
em Dilma.
Tony 33: Nunca fui petista e nem em sonho votaria na Dilma,
Mas, por fim, ela se reelegeu. Acabei achando bom, porque
ela maquiou a
economia para ser reeleita e agora já está
segurando o rojão...não seria justo
outro candidato herdar
esse monte de merda que o os políticos do PT fizeram.
Esse
ano a barra vai ser dura... eles estão desmoralizados
e vão provar do próprio
veneno. Enfim, sentaram na
própria mandioca... Rsss. Quero ver como vão
consertar
a “casa”... mas sei que para variar quem vai pagar o pato
é o
cidadão. Mal o ano começou e a carga tributária aumentou,
falta água, energia
elétrica, o escândalo da Petrobrás etc.
Isso aqui tá um caos. Quero ver até quando eles vão
suportar as
manifestações populares. O bicho vai pegar,
com certeza. O país, aparentemente,
ia bem. De repente,
degringolou. Isso parece piada. Diga-me: quem é FAHF?
Um
desenhista frustrado, um sonhador, ou um
FHAF:
Olhando meu passado e vendo aonde cheguei
só posso me considerar uma pessoa
realizada e feliz.
Como desenhista fiz o que desejava e como engenheiro
participei de algumas das grandes obras do Estado.
Tony 34: Ainda desenha ou está apenas curtindo a
vida
desfrutando sua aposentadoria?
FHAF: Atualmente
não desenho não, embora de vez
em quando sinta falta, sinta alguma vontade...
Tony 35: Participar de uma serie que se tornou tão popular
no país, na década de 70, foi importante para sua carreira profissional?
FHAF:
Para minha carreira profissional não, porque
minha profissão era outra. Como
desenhista era apenas
um diletante, mas fazer o Judoka, para mim, foi
importante
Tony 36: Sem dúvida... Em se falando de arte, você
prefere
a escola européia de quadrinhos, ou a linha americana -
isso é o que chamo de pergunta idiota (Rsss...)?
FHAF: Pelo que você pode ver até agora acho que deu
para perceber
que atualmente prefiro mil vezes a escola
europeia. Como disse, acho que os
super-heróis arruinaram, soterraram, os quadrinhos americanos. E vem acontecendo
a mesma coisa com o cinema.
Tony 37: Concordo e assino embaixo... Mangás, quadrinhos
orientais, você gosta do estilo? Alguns títulos lançado no
Brasil, caiu no seu
agrado? Confesso que eu particularmente
apreciei Lobo Solitário, Akira (lançado
pela editora Globo)
FHAF:
Também acompanhei Akira e um outro cujo
nome começava por Mother “não sei o
que” (esqueci
o resto...), mas de um modo geral não gosto de mangás.
Aqueles
olhos grandes e os queixos finos não fazem
o meu gênero...
Tony 38: É duro, nós, os da velha guarda, aceitarmos esse
estilo esquisito... eu também gosto de Lobo solitário, Akira e
Vagabond, mas
acho o resto uma meleca... mas fazer o quê?
FHAF: Sonhos,
eu acho que devemos ter
durante toda a vida.
Tony 37: Sonhar é preciso... A mulher ideal...? Ela existe?
FHAF: Para mim existe: minha mulher. Uma pessoa
cuja bondade é fora de serie e a paciência infinita,
pois me atura há 60
anos... rs. Conhecemo-nos no
cursinho vestibular, cursamos a faculdade juntos
e
logo depois de formados, casamos.
Tony 38: Maravilha... isso é que é paixão declarada.
Hoje
em dia, infelizmente, esse tipo de paixão dura pouco...
FHAF, colher este seu
esclarecedor depoimento, só foi possível
depois que Dom Alvarez de La Mancha
(vulgo El Don Juan carioca) descobriu você e me passou o seu e-mail. Na
sequência vi
os papos de vocês no Face e só então criei coragem de
perguntar se
você topava dar um depoimento. Portanto, sou
grato a você e ao Alvarez, por
terem colaborado. Curiosamente,
o mancebo (Alvarez) nascido na Espanha é um dos cardeais da mais
poderosa e temida confraria que já existiu no Universo.
A horripilante e quase
secreta Bengalas Boys Club. A tal confraria, na verdade, não passa de um bando
aloprado de tiozinhos que
continuam se comportando como adolescentes
porraloucas. Rsss...).
Pois é, o cidadão, que também é um colecionador doido de
HQs, teve a brilhante ideia de escrever um livro sobre este grande ícone das
HQs de uma geração, o Judoka. Assim, nós, os malucos, que sempre admiramos a serie
e seus autores ficamos, obviamente, excitados
e doidos para ver o tal livro,
que ele está escrevendo, realizado –
será que vai demorar para entrar no prelo?
Alvarez, então,
decidiu ir atrás (pentelhar) todos aqueles que participaram do
Judoka, para entrevistá-los. É um dos principais alvos era você,
por causa do
seu estilo marcante de fazer arte seqüencial.
Como foi que o Alvarez o
localizou? Se conheceram pessoalmente?
Pelo que sei, você já concedeu um
depoimento falando sobre
o seu trabalho e sobre o personagem, pro Alvarez, que
deve sair
no livro, correto? O que você achou da ideia de lançar o livro
sobre
o herói nacional e seus autores?
FHAF: Não sei como me localizou. Um dia recebi um email dele dizendo que
queria me entrevistar. Eu concordei e quase um ano depois apareceu... rs.
Tony:
Um ano depois!? Tais brincando, mestre... Rsss.
O cara deve ter ficado
acanhado...
FHAF: Conversamos bastante na minha casa.
Acho
que seria ótimo ver o livro publicado.
Talvez o primeiro de uma serie sobre
desenhistas brasileiros...
chegando ao fim. Algumas considerações finais para seus
fãs, que se inspiram no seu traço dinâmico e paginação moderna?
Ou para aqueles que desejam também ver seus títulos e
personagens nas bancas de jornais deste país, um dia?
Ainda há mercado, espaço para o quadrinho nacional?
Há chance de surgir alguém que salve a Pátria do
quadrinho nacional, que anda em baixa?
FHAF:
Pelo que tenho visto no Facebook existe muita
coisa boa sendo publicada pelo
sistema de crowdfunding
(é assim que se escreve?), mas infelizmente são
publicações de pouco alcance. Com o tempo, entretanto,
penso que nossos
desenhistas atuais vão se impor.
Tenho visto desenhos incríveis! Só lamento que
fiquem batendo na tecla de super- heróis...
Tony: Crowdfunding? Sei lá... é tanto nome gringo na WEB...
nem parece que estamos no Brasil. Há muitas palavras
em inglês que usamos diariamente, um absurdo...
Ouço muito o pessoal falar em Cartase... ou coisa parecida.
Sei que é uma forma
de levantar fundos, com a colaboração
das pessoas, para tornar um produto
editorial ou cultural palpável...
Algum e-mail, fone, ou site para contato?
FHAF: fhaf98@superig.com.br
Tony 41: FHAF, você é uma simpatia e super atencioso.
Grato, pela oportunidade de poder
colher seu depoimento.
Até breve parceiro e muito sucesso, saúde, dinheiro e
paz. Fuiii!
FHAF:
Obrigado a você. Foi um prazer dar essa entrevista.
Tony: Fique plugado em nossos
blogs, mais depoimentos
incríveis vêm por aí, com outras feras das HQs
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2014\Tony Fernandes\Estúdios Pégasus –
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Paulo – SP – Brasil
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