Definitivamente, o ano de 2012 não foi um dos anos
mais felizes para os quadrinhos mundiais. Perdemos alguns artistas de gabarito,
dentre estes se foram: Joe Kubert, Sheldon Moldoff, Edmundo Rodrigues e
o
grande Fernando Dias da Silva. A matéria a seguir é um tributo a um dos
grandes
mestres dos quadrinhos brasileiros, que jamais deve ser esquecido,
seu nome
era...
FERNANDO
DIAS DA SILVA,
O
DESENHISTA QUE
CONQUISTOU
A AMÉRICA
(Homenagem
Póstuma)!
O INÍCIO
DE CARREIRA
Ele nasceu em São Luís, no Maranhão, no dia 25 de
junho de 1820.
Certo dia, decidiu vir tentar a sorte trazendo sua arte para o
Rio de Janeiro,
cidade que na época
ainda era a Capital Federal do Brasil. Morando na Cidade
Maravilhosa o
talentoso artista, após exibir seu portfólio, teve seu talento
reconhecido e
pouco tempo depois ele estava fazendo parte da equipe de
equipes de criação de
diversas agências de publicidade, como: J.W. Thompson,
McCann-Erickson e da
Grande Adversing, onde desenvolvia anúncios e
campanhas publicitárias. O início de sua carreira artística no mundo
das
HQs aconteceu em janeiro de 1938, data em que foi publicada sua
primeira história em quadrinhos, cujo título era: O Enigma das Pedras
Vermelhas. Essa HQ foi
editada pelo saudoso Adolfo Aizen, na edição
do Suplemento Juvenil # 48. Além
de Fernando, vários desenhistas nacionais
também passaram por aquela publicação:
J. Carlos, Monteiro Filho, Queiroz,
Théo, Santa Rosa, Yantok, a escritora Tarsila
do Amaral, Antonio
Euzébio, Carlos Thiré, Belford e Gutemberg Monteiro.
AS
AVENTURAS DO VINGADOR
Fernando Dias da Silva se estabilizou profissionalmente
e
financeiramente no Rio de Janeiro e ganhou notoriedade ao desenhar,
em 1940,
As Aventuras do Vingador, um herói oriundo do rádio, criado por
José Whitaker
Penteado e produzido por Péricles do Amaral.
Esse personagem causou muita
polêmica na época. Muito se falou,
que ele era uma cópia do The Lone Ranger (Zorro,
no Brasil), criação
Mor de Fran Striker,
Como o ranger mascarado americano, o mocinho
brasileiro também tinha um cavalo
branco chamado Blackie e um fiel escudeiro
índio, cujo nome era Calunga. Suas
aventuras eram transmitidas pela rádio
Tupi, de segunda a sábado, das 17h45m às
18 hs e o programa era patrocinado
pela poderosa Colgate\Palmolive (Unilever),
obviamente numa bela jogada
publicitária e promocional. O interessante é que aquele
vingador do Oeste tinha
um fã clube, com distintivo confeccionado em aço
esmaltado e em cores.
Além disso, os jornais da época publicavam um cupom, em
que os novos sócios
tinham que cumprir um juramento: “Juro ser sempre honesto e
defender os
fracos contra os fortes!” Também havia um jornalzinho mensal de
seis páginas
com as aventuras do vingador exclusivamente para os associados,
desenhadas por Fernando Dias da Silva. Nela, vinha incluso uma
senha secreta,
que permitia aos sócios se identificarem entre si, e
que era trocada todos os
meses. E mais: Quem colecionasse
dez embalagens (fitas) do sabonete
Palmolive ganhava um desenho
exclusivo do
herói.
SURGE
O CAPITÃO ATLAS
A partir da edição # 5, o mesmo artista assumiu a
direção artística da revista
Capitão Atlas, outro herói que surgiu num programa
radiofônico também
criado por Péricles do Amaral, fazendo algumas modificações
tanto no
herói como na revista. O Capitão Atlas é considerado o primeiro herói
brasileiro a ter a sua própria revista. Seu lançamento ocorreu no dia 28
de
fevereiro de 1951, pela editora Ayroza. O personagem foi criado
baseado em
Jungle Jim (Jim das Selvas), de Alex Raymond, e tinha
como companheiros de
aventuras sua namorada, Rainha, o índio Chico,
um cangaceiro chamado Tunicão e
um jovem chamado Quati. Todas as
histórias se passavam na floresta. Essa serie ficou
famosa e também
acabou passando pelas mãos de diversos artistas brasileiros,
como:
Getúlio Delphin, Ernesto Garcia, Luiz Vasquez, André Le Blanc,
Fernando
De Lisboa e por Fernando Dias da Silva.
RUMO
AOS ESTADOS UNIDOS
Em 1959, Fernando Dias da Silva, com sua família,
chegou na América,
pois sonhava em trabalhar para as agências e Syndicates
daquele país.
Assim, foi morar nos subúrbios do norte de Chicago. Aos poucos,
devido ao
valor de suas artes, foi conquistando admiradores e assim acabou se
tornando um ilustrador comercial e um pintor bem sucedido. Algum tempo
depois,
estava fazendo ilustrações para livros e HQs sindicalizadas.
Entre 9 de junho
de 1980 a 7 de julho de 1984 desenhou tiras para uma
serie chamada Rex Morgan M.D., assinando Da Silva.
Esse curioso personagem,
que teve diversos desenhistas,
foi
criado pelo psiquiatra Dr. Nicholas P. Dalls, sob o pseudônimo de
Dal Curtis.
Essas HQs giravam em torno do personagem central,
Dr. Rex Morgan, que, segundo
o roteiro, em 1948, após ter se mudado
para uma pequena cidade fictícia chamada
Glenwood, acabou assumindo
o lugar de um
amigo falecido. Para ajudá-lo com os diversos problemas
médicos que surgiam, ele
passou a contar com o auxílio da enfermeira June
Gale. Em 1955, Morgan e Gale
se casaram. Há quem afirme que
esse foi o primeiro casamento que aconteceu numa
serie de HQ.
Rex Morgan foi publicado no Brasil pela editora Garimar em 1959 e suas tirars sairam no jornal O Globo nos anos 60 e 70 |
ALEX
RAYMOND
Naquela época, desenhistas como Raymond, Foster, Hogarth,
Frazetta e
outros bambas dos comics ainda estavam a todo o vapor no mercado
editorial americano. Fernando Dias da Silva, se espelhava neles e,
principalmente, no estilo elegante e marcante de Raymond.
Em 26 de julho de 2004, o desenhista brasileiro, um
dos pioneiros a
conquistar o mercado americano de HQs, enviou uma carta para o
amigo Cid Magdar Marinho, contando entre outros assuntos, que
o grande Alex
Raymond , por encontrar-se sem tempo, tinha convidado
ele para desenhar as
páginas dominicais em cores de Rip Kirby
(Nick Holmes, no Brasil). Mas como ele
e família estavam com
visto de visitante nos Estados Unidos tiveram que
regressar ao Brasil,
para obter um visto de permanência definitiva em seus
passaportes,
sem o qual ele não poderia trabalhar nos Estados Unidos.
Assim, ele
decidiu retornar ao Brasil, na expectativa de ajeitar a
papelada. Foi nesse
entretempo que ele recebeu a triste notícia do
acidente fatal que vitimou Alex Raymond.
Lamentou o fato da morte
daquele grande mestre e ficou frustrado ao saber que
John Prentice
acabara de assumir a continuação das tiras de Rip Kirby.
Seus
sonhos de viver definitivamente fazendo HQs na América,
por alguns instantes,
se dissiparam.
Em Rip Kirby, Raymond mostrou um estilo totalmente novo, bem diferente das suas artes em Flash Gordon |
UM
HERÓI CHAMADO VIC BRETT
Apesar do impacto das últimas notícias que recebera
da América,
ele não desanimou. Ajeitou as papeladas e com um visto de
residência foi morar nos Estados Unidos, ciente de que aquele
era o país ideal
para viver de HQs. Em 1990, ele já estava morando
nos Estados Unidos. Assim, o desenhista brasileiro resolveu correr atrás
de seus ideais, apresentando seu portfólio.
nos Estados Unidos. Assim, o desenhista brasileiro resolveu correr atrás
de seus ideais, apresentando seu portfólio.
Como
seus trabalhos já eram conhecidos no mercado americano não teve
dificuldade em
procurar a King Features e apresentar a eles um novo
projeto editorial. Em comum
acordo com o pessoal da King criou e
desenvolveu umas tiras de um personagem de
sua autoria chamado
Vic Brett, mas, por falta de sorte, os jornais da época já
não se
interessavam mais por publicar tiras de aventuras em continuação.
Preferiam
as series cômicas, cujas ideias eram fechadas em três
quadrinhos. Assim, o projeto foi cancelado.
Dotado de um
grande poder de determinação, ele não desanimou
e foi procurar outras casas
editoriais. Pouco tempo depois,
passou a colaborar com diversas editoras americanas,
inclusive para
a poderosa DC. Porém, já
não conseguia faturar tão bem
quanto antes visto que as tiras de jornais sempre
foram melhor
remuneradas. para ele, aos poucos, as histórias em quadrinhos
estavam se tornando coisa do
passado.
UM
ARTISTA A MENOS
NO
MUNDO DAS HQs
Fernando Dias da Silva, sempre foi um artista que gozava
de boa saúde.
Durante toda a sua vida se dedicava a pratica de exercícios
físicos.
Era fisiculturista. No Brasil,
exercitava-se no Clube Força e Saúde.
Os anos de treinamento lhe deram um belo
físico. Apesar disso, nesse
período em que residiu na América começou a sentir
os primeiros problemas
na coluna vertebral, tendo que se submeter a duas
cirurgias.
Após essas intervenções cirúrgicas, ele passou a ter dificuldade
para andar.
Devido a esse acontecimento inesperado, mudou
radicalmente sua forma
de viver, se isolou dos acontecimentos sociais e passou
a se dedicar quase
que exclusivamente a pintura. Mesmo assim, seus trabalhos
apareciam
regularmente na revista Playboy, na Enciclopédia Britannica, na World
Book
Encyplopedia e no jornal Chicago Tribune.
Apesar de continuar morando no subúrbio de Chicago,
continuou pintando
e expondo suas obras,
esporadicamente, em galerias de arte.
Era um trabalhador incansável e adorava
aquilo que fazia.
Fernando Dias da Silva, infelizmente, veio a falecer
no dia
5 de março de 2012, em Cape Coral, na Flórida, nos Estados Unidos.
Partiu dessa vida para a melhor, mas nos deixou um incrível legado.
Atualmente, há muitos brasileiros colaborando com
editoras da América.
Entretanto, naquela época em que a comunicação com o
exterior
era mais difícil, e que não existia Internet, eram raros aqueles que
conseguiam tal feito.
Ele foi, como já foi dito, um dos pioneiros que
conseguiu, graças ao
seu enorme talento, fazer as portas das editoras
americanas se abrirem
para os desenhistas brasileiros.
Como costuma dizer Tony Fernandes: “Que esse grande
mestre do traço,
os deuses o tenham em bom lugar, na morada dos gênios das HQs.
E, que a alma desse grande guerreiro, descanse em paz. Que assim seja!”
Amém!
Por Edno Rodrigues
Contato: rodriguesedno@ig.com.br
Fontes de pesquisa:
O Grupo Juvenil, Porto Alegre, ano 1, Nº 2, pág 17,
dezembro de 1983
E ano 2, nº 4, pág 16, agosto de 1984. Guia dos Quadrinhos\
Antonio
Luis Ribeiro, Portal do gibi Nostalgia\Coisas do
Barwinkel\José Queiroz\2012 e
Cid Magdar Marinho\Facebook.
Copyright 2015 – Edno Rodrigues\Tony Fernandes –
Redação\Pegasus Studios – Uma Divisão de Arte e
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OBS:
As
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